Texto por Jéssica Marinho

Não há como negar que Titãs foi um dos nomes mais significativos da música brasileira. Quando anunciaram uma turnê comemorativa com todos os integrantes, já era de se esperar estádios lotados e momentos nostálgicos – sendo essa uma das cinco bandas capazes de lotar estádios no Brasil. Poucas bandas têm o poder de levar multidões para estádios durante sua carreira, e o Titãs sabe fazer isso com maestria, como aconteceu mais uma vez no show realizado no Allianz Parque, em São Paulo, na última quinta-feira, 21. 

Em mais de 40 anos de carreira, o grupo lançou hits memoráveis passeando por diversos estilos musicais, entre pop rock, new wave, punk rock, MPB e música eletrônica, provando uma diversidade típica do Brasil e se tornando a banda de pop rock mais bem sucedida no país.

No início, seriam dez shows no Brasil entre abril e junho, onde Arnaldo Antunes, Nando Reis, Paulo Miklos e Charles Gavin se reúnem a Branco Mello, Tony Bellotto, Sérgio Britto e Liminha (substituindo o guitarrista Marcelo Fromer, morto em um acidente em 2001), com o propósito de comemorar o 40° aniversário da banda. Essa foi a primeira vez que os sete integrantes originais se reúnem desde a morte de Fromer: Arnaldo deixou a banda em 1992, Nando saiu dez anos depois, Gavin em 2010 e Miklos em 2016. O grupo atualmente se refere como Titãs Trio e conta apenas como Branco, Britto e Bellotto como integrantes originais.

Com o sucesso, que já era esperado, a banda decidiu esticar a turnê com mais algumas datas pelo Brasil, retornando a São Paulo para mais três shows neste final de ano, realizados novamente no Allianz Parque. Com ingressos esgotados na primeira noite, o grupo paulistano subiu ao palco para mais um grande espetáculo e “pra dizer adeus” à mega turnê que virou marco na música brasileira. 

Os Titãs honraram mais uma vez o título de maior banda do pop rock nacional em um show de quase três horas, que conta com um setlist de 36 músicas e representa a magnitude de uma banda como essa, com seus hits atemporais que continuam passando a mensagem necessária e, por incrível que pareça, reproduzidos fielmente às versões originais presentes nos discos. Dividido em quatro atos, o setlist percorre quase todos os álbuns da banda – na verdade, para ser exato, a turnê intitulada Titãs Encontro, cobre dezessete anos da carreira do Titãs, de 1984 a 2001. 

Um fato que chama atenção é a estrutura do palco. Com telão gigante que foge do convencional, telas laterais que proporcionam uma imersão para quem estiver em qualquer lado do estádio, além do show de luzes. Sem dúvidas, quem viu a banda nos anos 1980 se surpreende ao ver essa magnitude hoje em dia.

Em um show só de hits, não há uma canção que o público não saiba cantar. Com direito a uma parte acústica para celebrar os sucessos dos anos 1990, Alice Fromer, filha do falecido guitarrista Marcelo Fromer, subiu ao palco para homenagear o pai e cantar as faixas “Toda Cor” e “Não Vou Me Adaptar”. Uma roda punk iniciou com a clássica música de protesto  “Polícia”, Branco Mello agradece ao público e desabafa sobre sua luta contra o câncer na laringe e brinca sobre mudanças na voz em “Tô Cansado”. 

O terceiro ato do show contou as músicas mais famosas, e se via um estádio inteiro pulando e cantando, não havia maneira melhor de encerrar a temporada de shows de 2023. O show acabou onde tudo começou, com  “Sonífera Ilha”, e teve a clássica coreografia que caracterizou o início da carreira do grupo.

Cada um dos integrantes comandou a plateia ao seu estilo – parece que a idade nunca chegou para os sete integrantes, era como se estivessem nos anos 1980 ainda. Arnaldo Antunes com suas danças irreverentes, Paulo Miklos e Branco Mello com suas performances teatrais, Charles Gavin e Tony Bellotto como adolescentes comentando seus instrumentos, Nando Reis dando um show à parte no baixo e Sérgio Brito com o espírito rock n roll de sempre. Para a banda Titãs, o tempo não passou. 

E é interessante ver a diversidade e personalidade dessas sete mentes brilhantes, que juntos deixam um legado que será lembrado por anos. Prova disso é o público, com cinquentões em sua maioria, mas também os jovens, que de alguma forma se apaixonaram pela banda. Uma turnê de reencontros, que está super na moda, junto com a necessidade de transformar shows em grandes espetáculos que vão além de uma reunião de banda, pode proporcionar muito mais do que uma homenagem ou dar chances para quem nunca pôde ver a banda ao vivo. Esse show proporciona momentos, emoções, recordações. Impossível não se comover ao ver nos olhos de cada um da plateia a emoção, impossível não ter uma música do setlist que traga recordações particulares.

A turnê Titãs Encontro faz uma viagem nostálgica e cheia de emoção, revisitando memórias, e lembra que apesar dos acontecimentos, distância e anos passados, é sempre necessário um momento de reencontro – na música e na vida. 

Titãs fará mais dois shows em São Paulo nesta semana, nos dias 22 e 23, além de estar escalado para o Lollapalooza 2024. Em junho, o Wikimetal também cobriu um show da turnê de reencontro da banda, leia a resenha aqui

Nossa colaboradora Leca Suzuki fotografou a noite, veja as fotos exclusivas na nossa galeria (se não conseguir visualizar, clique aqui).

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