Texto por Rust Machado

Tentando emplacar sua turnê sul-americana desde os idos tempos de isolamento social, o Sonata Arctica finalmente retornou ao Brasil para um extenso giro, contemplando 8 cidades em território nacional. A banda celebra 25 anos, alimentando nos fãs a expectativa de um show recheado de clássicos do power metal moderno. 

Na quarta-feira de 15 de março, próximo das 19h50, a noite inicia no palco do bar Opinião com a banda Firewing, que recentemente fez barulho na cena de metal melódico com o lançamento de Ressurrection (2021). O disco rendeu bons comentários no Brasil e fora, e agora o quarteto acompanha o Sonata Arctica na perna sul da tour. Diferente do disco, no palco vemos a banda muito mais crua. Se a superprodução em estúdio lança questões sobre como se produzir um bom disco de melódico nos dias de hoje, ao vivo as escolas de speed e prog metal ficam evidente na entrega dos músicos. O vocalista Jota Fortinho é realmente um achado do estilo, trazendo agudos viscerais e um domínio técnico invejável. No repertório, faixas do debut como “Obscure Minds” e “Demons of Society” surpreenderam os gaúchos positivamente, principalmente esta segunda, com suas múltiplas levadas, blastbeats e uma melodia vocal de alto nível. A banda veio sem o teclado, tão presente no álbum, mas o instrumento não fez falta nenhuma, deixando show menos pretensioso e mais direto e pesado. 

Era natural imaginar que o Sonata Arctica viria com um som muito superior que os brasileiros, mas mesmo assim é nítido, pela qualidade do som, que o Firewing está no caminho certo. Guitarras timbradas, um baixo muito presente, integrado a uma cozinha de respeito, trazendo arranjos desafiadores para quem toca e impressionantes para quem ouve. A banda mostrou diversos temas de seu disco, encerrando a noite com “Last Gasp”, seu último single, de fevereiro. Após essa ótima abertura, ficou no ar um clima entre o Firewing e os gaúchos. 

A partir das 21h, o bar Opinião festeja com humor a chegada dos finlandeses ao som de “Bright Side of Life”, hino do grupo Monty Phyton, que antecede a chegada do Sonata Arctica no palco. Sobem ao palco Tommy Portimo (bateria), Henrik Kingenberg (teclado) , Pasi Kaupinen (baixo) e Elias Viljanen (guitarra), seguidos pelo icônico frontman Tony Kakko, e lançam “The Wolves Die Young” numa versão repleta de vivacidade, pegada e em altíssimo volume. As marcas do tempo, visíveis nas faces outrora joviais de um Sonata Arctica de 2 décadas e meia, soma ainda mais peso e credibilidade ao quinteto. Com 3 membros clássicos (Kakko, Portimo e Klingenberg, que juntou-se ao grupo ainda no início da discografia), o som e a voz do Sonata Arctica despertam sentimentos de nostalgia nos mais velhos, mesmo ao som de hits mais modernos, como “Days of Amazing Grey” e “Story of the Armada”, que ao vivo se tornam viciantemente pesadas. 

No próximo bloco, um retorno à primeira década, com “Paid in Full”, seguida de “Sing in Silence”, com sua ambientação narrativa em uma introdução digna de musical, e o show de agilidade de “Kingdom for a Heart”. A banda puxou a ótima “Caleb”, e então o vocalista invoca as criaturas bestiais que habitam no público, convocando-os a cantar “Closer to an animal”. Ao final, lembra aos fãs de que esse animal pode ser qualquer um, de pássaros a elefantes, entre outros citados. O texto é o gancho para anunciar mais que um animal, uma surpresa no setlist para os gaúchos, e uma de suas faixas favoritas dos fãs, “Black Sheep”. O público entregou-se por inteiro aos finlandeses, apreciando cada nota deste clássico do metal nórdico.

A banda ainda mandou “I Have a Right”, e “Broken”.  Na clássica balada “Tallulah”, Kakko indagou se havia alguém entre os presentes nascidos em 2003, fazendo fanfic sobre os filhos de relacionamentos consumados ao som da balada do EP Successor (poucas pessoas pegaram a piada). Para o final, é claro, encerraram o set com a execução impecável de “Full Moon”, levando a casa a baixo.

 A banda deixa o palco ovacionada, retornando rapidamente para entregar “The Cage”, outra favorita e uma aula de virtuosismo e power metal. Tony Kakko se despede da cidade que frequenta desde o início da carreira, lembrando-nos do privilégio de se ver um show presencialmente, e agradecendo ao público por manter de pé a paixão pela música ao vivo. A banda se despede com “Don’t Say a Word”, emendando uma interação bem-humorada e despretensiosa com o público. Antes de saírem, o vocalista ensina aos presentes quando e porquê gritar a palavra “vodka”, e banda e público viram uma coisa só para promover o sucesso desta etílico e divertido encerramento. 

Ao vivo, Tonny Kakko dá uma verdadeira aula de autoestima, mostrando uma técnica invejável, mesmo trajando as indumentárias mais aleatórias possíveis. O Sonata Arctica é seu maior legado, há 25 anos (para arredondar), aportando sua dedicação, sua ambição e seu sucesso. Destaque também para Tommy Portimo, que mesmo na mais rápida viradas, não tira o sorriso do rosto. Infelizmente 14 músicas não são o suficiente para uma visada do que a banda é capaz, sacrificando clássicos como “Wolf and Raven” e “Replica”. 

Ainda assim, uma banda para se ver sempre que possível, para que se possa apreciar a ação do tempo sobre sua ampla discografia, sobre os ciclos da cultura metal, e sobre nossos próprios desfechos pessoais, tão caro à lírica destes célebres finlandeses.

Nossa colaboradora Alessandra Felizari também esteve por lá e registrou a noite. Confira fotos exclusivas do show logo abaixo.