O Summer Breeze Brasil começou na última sexta-feira, 26, no Memorial da América Latina, em São Paulo. Trazendo uma alta quantidade de artistas, a segunda edição do festival se estende ainda pelo final de semana, nos dias 27 e 28.

Confira aqui as resenhas dos shows de Flotsam & Jetsam, Edu Falaschi, Tygers Of Pan Tang, Exodus, Sebastian Bach, Mr. Big e Gene Simmons.

Nervosa

Após uma estreia em grande estilo, o segundo dia iniciou-se cedo, no mesmo horário que no anterior. Às 11h, a Nervosa subiu ao palco do Ice Stage, com uma plateia maior do que visto na sexta-feira. Uma coisa em comum foi o calor. O sol do horário não dava trégua, mas nem isso atrapalhou o show da banda.

Já muito reconhecida dentro da cena de thrash metal, a banda feminina é famosa por seu som pesado, com instrumentistas verdadeiramente talentosas. O show foi intenso, do início ao fim, com poucas pausas para respirar, mesmo que com problemas técnicos, como a frontwoman Prika Amaral disse em determinado momento do show. Um momento especial da performance, foi quando a banda chamou a vocalista Mayara Puertas, do Torture Squad, ao palco para uma participação especial antes de “Kill The Silence”, do Downfall Of Mankind (2018), um ponto alto do setlist, que traz um riff de guitarra veloz, com linhas de bateria potentes e técnicas.

Outra amostra do talento das instrumentistas da Nervosa, é “Venomous”, que mesmo antes de tocarem, um fã já gritou o nome da música. 

Em determinado momento, a corda da guitarra da vocalista estourou e, como ela não tinha outra, continuou o restante do show apenas com vocalista. Isso foi um problema? Definitivamente não.

Atualmente formada por Amaral (vocais e guitarra), Helena Kotina (guitarra), Hel Pyre (baixo) e a mais recente integrante, Gabriela Abud (bateria), a banda traz uma performance excepcional, empolgando os fãs e provocando cantos do nome da banda no meio das músicas.

Mas não apenas isso. É possível ver que elas entendem muito bem do que estão fazendo, sendo um dos melhores grupo de thrash metal do Brasil, já entrando, também, para a história do metal internacional. 

Este foi mais um show do Summer Breeze que poderia durar mais tempo. Encerrando da mesma maneira explosiva que iniciaram, a banda se despediu do público.

Gamma Ray

Antes do show do Gamma Ray, aconteceu, no palco gêmeo, ao lado do Ice Stage, a performance do Forbidden. De volta ao mesmo palco da Nervosa, a banda alemã iniciou a sua performance às 13:10, abrindo o setlist com a boa “Land Of The Free”, que fez o público cantar junto.

“Rebellion In Dreamland” também foi muito bem recebida. Contando com poderosas linhas de bateria, além dos bons riffs de guitarra. A música levou as pessoas a cantarem durante o coro, dividindo os vocais com Frank Beck e os solos de Henjo Richter, que faz o público querer bater cabeça, em um ritmo melódico e cadenciado.

O show do Gamma Ray traz tudo de mais clássico dentro do power metal e as coisas que os fãs do estilo mais gostam. Os elementos da banda se alinham e complementam, em músicas extremamente melódicas e harmoniosas. Quando a banda se junta para fazer os backing vocals, resulta-se em um trabalho agradável de se ouvir.

“The Silence”, do Heading for Tomorrow (1990), é uma linda balada, e um exemplo disso, quando Hansen é o responsável por fazer as partes mais graves, enquanto o vocalista principal solta a voz, de maneira emocionante, em uma performance na qual todos os elementos se alinham da mais perfeita forma.

A dupla de guitarristas merece ser exaltada. Trazendo riffs icônicos e solos grandiosos, eles trabalham de maneira unida e entregam acordes muito bons.

“Heaven Can Wait”, também do Heading for Tomorrow, merece destaque dentro da performance da banda. É uma música alto astral, com uma levada animada e um solo fenomenal.

O show do Gamma Ray pode ser definido como popular. Power metal é um estilo que não há grandes ramificações ou elementos diferentes, mas ainda assim, não é cansativo. Em um show que durou em torno de 1h e 15 minutos, a banda soube administrar bem seu tempo e demonstrou todo o poder do metal clássico.

Angra

Continuando no power metal, o show do Angra veio em seguida, mas agora, no Hot Stage. O intervalo entre os shows dos dois palcos principais é de cinco minutos, mas isso não é um problema, já que eles se localizam um ao lado do outro.

Após problemas técnicos na introdução, o grupo brasileiro iniciou o show um pouco depois do previsto, e nos primeiros acordes, é possível compreender porque o Angra é a maior banda nacional dentro do estilo. A bateria de Bruno Valverde pulsa como um verdadeiro coração, potente e precisa, assim como o baixo de Felipe Andreoli, que juntos, fazem o chão tremer na mais pura potência do metal.

Mas não são apenas os dois músicos que são exemplos de técnica e experiência. A dupla de guitarras Rafael Bittencourt e Marcelo Barbosa — que a cada solo e riff, criam uma experiência diferenciada — além do vocalista Fabio Lione, entregam uma performance também de altíssimo nível.

Em momentos de balada, como em em “Tide Of Changes – Part II”, do mais recente álbum da banda, Cycles Of Pain (2023), a voz de Lione torna-se um grande destaque, sendo suave em alguns momentos e potente em outros.

Valverde mostrou mais uma vez a sua força na primeira faixa do álbum Secret Garden (2013), “Newborn Me”.

“Vida Seca” é uma música com um grande diferencial e que esteve presente na setlist. A parceria com Lenine traz elementos brasileiros, aliados ao metal, em uma explosão de musicalidade ainda mais bonita ao vivo.

Quem não gosta de clássicos? “Rebirth”, do álbum de mesmo nome, de 2001, começou com Bittencourt fazendo a belíssima introdução, e assim que o trecho cantado se iniciou, quem dominou mesmo, foi o público, cantando a faixa a plenos pulmões.

Impossível não se empolgar com “Carry On”. Hit absoluto do Angels Cry (1993) a faixa empolgou o público, e foi seguida por “Nova Era”, do álbum Rebirth, finalizando assim, a passagem do Angra pela segunda edição do Summer Breeze Brasil.

O quinteto entregou uma boa performance, que verdadeiramente impressiona pela precisão.

Lacuna Coil

A potência do metal italiano, Lacuna Coil levou as atividades de volta ao Ice Stage, com o sol brilhando em seus rostos. Donos de  um visual memorável, a banda animou o público no momento em que pisou no palco.

Um detalhe sobre o som que o grupo faz, é o fato de contar com os dois vocalistas Cristina Scabbia e Andrea Ferro.

Enquanto a voz dela é suave e atinge agudos impressionantes, a dele é um gutural, áspero e forte, como em uma experiência de completos opostos, mas que se encaixam e tornam as faixas únicas.

 “Trip the Darkness”, do Dark Adrenaline (2012) é uma ótima faixa para estar no setlist, assim como “Apocalypse”, do Black Anima (2019) que, além da dinâmica entre os vocalistas — que trazem muita emoção — conta também com um belo solo de guitarra.

Mas nada comparado a “Heaven’s A Lie”, do Comalies (2002), quando Scabbia utiliza-se mais uma vez de toda a emoção que pode, em uma balada harmoniosa.

Antes de tocarem “Our Truth”, a vocalista provocou o público com o marcante “oh-oh”, que é fácil de se reconhecer. Mais uma vez, sua performance impressiona, em especial no trecho anteriormente citado, quando ela tem total e completo controle de sua voz. Outro destaque, também, é o poderoso riff de baixo executado por Marco Coti Zelati.

O Lacuna Coil entrega um show potente e poderoso, com músicas pesadas mas que, ainda assim, são melódicas e agradáveis de se ouvir. 

A banda tem uma série de belíssimas baladas, marcantes por não perderem a identidade deles. O grupo traz  uma verdadeira experiência, repleta de poder, com uma ótima combinação de seus instrumentos e elementos que conversam bem entre si.

Os fãs brasileiros tiveram a oportunidade de ouvir “In The Meantime”, nova música da banda, pela primeira vez ao vivo. É uma bela faixa.

Há quase vinte anos, eles lançaram uma versão cover de “Enjoy the Silence”, originalmente do Depeche Mode. Em uma versão mais lenta, poderosa e menos alegre, essa vai para aqueles que não conhecem a banda, já que é uma música mundialmente conhecida.

Além de ser uma excelente banda em estúdio, o Lacuna Coil é tão bom quanto ao vivo. Com certeza, é um show essencial para qualquer fã de metal, entregando performances fiéis a o que se ouve em estúdio. Cristina Scabbia é um completo ponto fora da curva. Sua voz é belíssima, ainda mais emocionante de se ouvir ao vivo.

Nossa colaboradora Leca Suzuki registrou os shows com fotos exclusivas que você pode conferir na galeria abaixo.