Por mais de 30 anos, o Planet Hemp se manteve como uma das bandas mais influentes do país ao unir rap, rock e crítica social. Os shows de despedida da turnê A Última Ponta consolidaram esse legado ao apresentar um panorama completo da carreira. E agora, chegou a vez de São Paulo presenciar e se despedir de um dos grandes nomes da música nacional. A banda lotou o Allianz Parque, na noite do último sábado, 15, e provou que, mesmo após o fim, seguirá atemporal.
O show começou cedo, pouco antes das 20h30, com fatos históricos mostrados no telão, entre acontecimentos no meio da música como o surgimento do Secos e Molhados e o disco de estreia de Chico Science e Nação Zumbi. Passando por fatos políticos como a Chacina na Candelária, vitória de Nelson Mandela, e até as vitórias da Seleção brasileira. Tudo isso, mesclado com fatos que contaram a trajetória da banda Planet Hemp.
Como uma celebração de carreira e último show da trajetória da banda, em São Paulo, Planet Hemp levou ao palco 37 músicas, divididas entre todas as fases do grupo, desde a estreia com Usuário (1995), que projetou a banda nacionalmente e gerou debates sobre censura e políticas de drogas, até composições do mais recente Jardineiros (2022), responsável por reconectar o Planet Hemp a uma nova geração. Também ganharam destaque faixas de Os Cães Ladram, Mas a Caravana Não Pára (1997) e A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000), álbuns que consolidaram a fórmula entre peso e lirismo direto.
A última ponta foi acesa em São Paulo
A recepção do público reforçou a dimensão histórica da despedida. Os fãs lotaram o Allianz Parque e responderam com intensidade aos clássicos dos anos 90, cantando em uníssono músicas como “Dig Dig Dig (Hempa)”, “Legalize Já” e “Ex-quadrilha da fumaça”. Nas faixas mais recentes, a reação se manteve forte, indicando que o grupo conseguiu preservar relevância mesmo durante os períodos de hiato. O público também cantou os hits atemporais dos convidados especiais, que marcaram a história do Planet Hemp e foram participar da despedida.
Os primeiros convidados, Emicida e Seu Jorge, foram ovacionados ao cantar “Nunca tenha medo”, seguido pela canção de autoria de Emicida, “AmarElo”. Seu Jorge também tocou flauta na faixa “Biruta”. Entre uma música e outra, os integrantes revisitaram momentos marcantes da trajetória, como episódios de repressão policial, controvérsias políticas e a influência que o grupo exerceu no debate público ao longo dos anos.
Após mais alguns hits, o Planet Hemp surpreendeu o público ao apresentar uma versão própria de “Admirável Chip Novo”, sucesso de Pitty, presente em Admirável Chip Novo (Re)Ativado, disco em comemoração aos 20 anos do álbum de estreia da cantora baiana. A releitura, mais pesada e marcada por batidas de rap rock, levantou a plateia quando Pitty subiu ao palco para cantar junto, seguida de outra canção da cantora: “Máscara”.
Planet Hemp convida João Gordo para encerrar o último show da carreira
Chico Science sempre foi uma figura aclamada, que inspirou Planet Hemp, e não poderia faltar uma homenagem e agradecimento devido. Por isso, a banda cantou “Samba Makossa”, enquanto B Negão segurava o icônico chapéu que Chico Science costumava usar. O show reviveu toda a trajetória do Planet Hemp, tendo homenagem aos que fizeram parte dessa história, como Marcelo Yuka e Fábio Kalunga. E claro, o show foi dedicado a Skunk, fundador do Planet Hemp que morreu de AIDS em 1994.
Chegando à reta final do show, mais um nome importante subiu no palco: Black Alien, ex-integrante do Planet Hemp. Ao som de aplausos da plateia, o rapper cantou três faixas de sua autoria com seus ex-companheiros de banda, como “Contexto”, “Queimando Tudo” e “Deisdazseis”. O ato final contou com uma participação surpresa que só foi revelada na hora do show, e se a intenção era surpreender, conseguiram. João Gordo chegou com tudo, para cantar a versão do Planet Hemp para “Crise Geral”, do Ratos de Porão. E a última música da história do Planet Hemp cantada em São Paulo foi “Mantenha o Respeito”, com a presença de João e Black Alien.
A Última Ponta finalizou de forma oficial uma história que ultrapassou o circuito musical e penetrou na formação crítica de diferentes gerações. Os shows de despedida não apenas encerram a carreira do Planet Hemp, mas reafirmam sua importância artística, política e social dentro da música brasileira contemporânea. O último show da carreira acontece na cidade natal da banda, no Rio de Janeiro, na Fundição Progresso, dia 13 de dezembro. E então, será acesa a última ponta.
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