Em 81 descobri o Metal, quando ouvi ‘Purgatory’ no rádio, e imediatamente virei um metalhead”

W (Nando Machado): Como foi o processo de escolher quais músicas fariam parte da compilação “The Best Of” que será lançada em janeiro?

Marcus Siepen (MS): Isso foi muito difícil, na verdade, pois teríamos que colocar mais músicas no álbum, mas obviamente tem um número restrito, senão teríamos que colocar todos os 5 ou 6 CDs. Então, fizemos nossas listas, demos sugestões e obviamente havia algumas músicas que tínhamos que colocar no “The Best Of”; por exemplo, não poderíamos lançar o álbum “The Best of Blind Guardian” sem colocar “The Bard’s Song”, os fãs iam nos crucificar, pois essa é uma DAS músicas do Blind Guardian, senão A música. Mas também queríamos colocar algumas músicas que nós mesmos redescobrimos ao passar pelo nosso velho catálogo. Músicas do “Follow the blind” acabaram no álbum, por exemplo, e também de “Somewhere far beyond”, que são músicas meio que esquecemos na nossa própria longa história. Elas não estavam realmente presentes para nós e ao passarmos pelos velhos álbuns nós as redescobrimos, redescobrimos suas qualidades. E por isso nós acabamos com as músicas que estão no álbum duplo e, como eu disse, é uma escolha difícil, pois adoraríamos ter colocado mais músicas no álbum, músicas que não acabaram lá. Por exemplo, às vezes fizemos uma escolha como… tínhamos “And Then There Were Silence” no álbum e também temos “Sacred Worlds”, por isso não escolhemos “Wheel of Time”, pois teríamos uma terceira música bastante longa, muito épica e muito orquestrada, então pensamos que este aspecto de nossa música já estava demonstrado nestas duas músicas. Por isso colocamos “Ride Into Obsession”, por exemplo, que representa um lado completamente diferente do Blind Guardian, um lado de Speed Metal bastante direto, entende? As velhas raízes da banda.

W (NM): Então, os bardos tocarão no Brasil logo e haverá um show com o Grave Digger em São Paulo. Qual a sua relação com as outras bandas alemãs de Power e Speed Metal?

MS: Ah, nós temos uma relação muito boa com praticamente todas as bandas que conhecemos em todos estes anos e também uma ótima relação com Helloween, Gamma Ray, Rage, Kreator, Sodom, Grave Digger, obviamente. Acho que a única banda com quem nunca tivemos nenhuma relação é Running Wild, pois nunca nos encontramos em shows e festivais. Mas temos uma relação muito, muito boa com todas estas pessoas que mencionei e é sempre ótimo quando tocamos em alguns festivais em que encontramos uma ou outra banda, sempre nos divertimos.

W (NM): Então, como você está dizendo, há tantas grandes bandas de Metal vindas da Alemanha, acho que a Alemanha provavelmente está com os Estados Unidos e a Inglaterra como um dos países mais importantes quando se trata de Heavy Metal. Vocês do Blind Guardian já pensaram em fazer um tour como o “Big four” fez, unindo todas as principais bandas de Metal da Alemanha em um show?

MS: Na verdade nós já falamos disso diversas vezes. Eu me lembro de estarmos sentados atrás do palco em algum festival, falando com o Mille do Kreator e estávamos falando “Nós devíamos fazer um tour nos EUA juntos”, “Sim, vamos fazer isso um dia”. E falando com os caras do Gamma Ray sobre isso e os caras do Helloween. O problema é que, no final, as agendas tem que ser combinadas, só faz sentido se todas as bandas lançarem um álbum ao mesmo tempo e estiverem disponíveis a fazer turnês, essa é a parte complicada. Eu adoraria fazer algo assim, pois acho que seria um pacote muito especial para os fãs se fizéssemos um “Big Four” do Metal alemão e acho que também seria muito divertido para nós, pois seria um monte de amigos juntos na estrada, então para mim parece algo muito divertido. E posso imaginar perfeitamente que isso vá acontecer um dia.

W (NM): Mudando o assunto, há muitas bandas brasileiras que foram influenciadas pelo Power Speed Metal alemão. O que você sabe de bandas antigas como Viper, Angra, Shaman e o cantor Andre Matos? Você já ouviu esse tipo de música?

MS: Primeiro de tudo, sim, ouvi a música e nós tocamos com diversos deles. Fizemos uma turnê com o Angra no Japão em… 2007, acho. Fizemos uma turnê juntos e ficamos amigos dos caras. Andre Matos, é claro, conhecemos dos seus tempos no Angra e sempre fui grande fã do Sepultura, que toca uma música diferente, é claro, mas nós conhecemos sim as bandas de Metal brasileiras, há algumas muito, muito boas.

W (NM): Temos uma pergunta clássica no nosso programa. Se você pudesse escolher uma música que o faz perder a cabeça onde quer que esteja, talvez de alguma outra banda, uma música que, onde quer que você ouça você vai à loucura e quer headbanguear, que música seria? A banda pode ser tocada no programa.

MS: Eu escolheria Purgatory, do Iron Maiden, pois essa música me veio à mente esta manhã quando eu estava fazendo uma entrevista por e-mail e me perguntaram que música me iniciou no Metal e esta foi, de fato, exatamente a música que me fez um metalhead. Eu ouvi em 81 quando ainda era uma criança e o álbum Killers foi lançado. Ouvi algo no rádio e perdi a cabeça; depois desse dia foi a minha música preferida do Iron Maiden e eu simplesmente amo essa música, então sempre que ouço, penso em Metal.

MarcusSiepen_Entrevista

Quando ouvi pela primeira vez ‘Ride the Lightning’ do Metallica, eu não entendi muito bem o que diabos estava acontecendo. Me deixou maluco.”

W (NM): Falando do começo da sua carreira, como você começou a escutar Metal? E como você começou a pensar em tocar guitarra?

MS: Na verdade, tocar guitarra veio antes de ouvir Metal, no meu caso. Pouco tempo antes, pois quando eu tinha 10 ou 11 anos meus pais queriam que eu aprendesse um instrumento da minha escolha e escolhi a guitarra, pois era o que mais gostava das opções. Minha mãe sugeriu piano, clarinete ou violino e eu disse “Não, guitarra, por favor”. Eu comecei a aprender violão clássico em uma escola de música aqui e, como disse, em 81 descobri o Metal, quando ouvi “Purgatory” no rádio e imediatamente me fez um metalhead. Gravei essa música do rádio e daquele di em diante gastei toda a minha mesada em álbuns. Fui à loja de discos mais próxima no dia seguinte e trouxe tudo o que consegui do Maiden e aí em diante descobri todas as outras grandes bandas, como Sabbath, Thin Lizzy, Motörhead, Priest, tudo o que estava tocando na época, Rainbow, Purple, Uriah Heep, e daí, é claro, tudo o que saía eu escutava, como Metallica, Slayer nos primeiros anos, todas as grandes bandas. Então, Maiden me fez um metalhead e, com isso, é claro, veio a mudança. Perdi o interesse no violão clássico, comprei uma “flying V” e então queria ser um guitarrista de Metal. Isso veio junto à minha devoção ao Metal.

W (NM): Conte-me um pouco o que você se lembra da cena de Heavy Metal ou de música em Krefeld, uma pequena cidade na Alemanha.

MS: Era uma cena ótima nos anos 80, tínhamos muitos amigos. Havia um pub de Metal em que íamos pelo menos três vezes por semana, acho que era quinta, sexta e sábado, quando todos nos encontrávamos nesse pub e ouvíamos música a noite inteira e nos divertíamos. Íamos a shows juntos, vimos todos os grandes shows. Eu me lembro que fomos no show do Master of Puppets em 85, eu acho, fomos lá com 40 caras. Tínhamos seis ou sete carros. Íamos a todos os shows juntos, era muito divertido, íamos aos festivais, como “Monsters of Rock” ou “The Dynamo Open Air” nos Países Baixos, íamos para fora daqui. Era uma grande camaradagem, todos tocavam novas bandas para os outros caras, um cara comprava um álbum e era assim que descobríamos novas bandas. Foi uma época muito boa.

W (NM): O que você se lembra do período em que o Power e Speed Metal estavam sendo criados? Você se lembra que havia algo em especial acontecendo ou foi algo que veio naturalmente?

MS: Era muito emocionante. Como eu disse, “Purgatory” foi uma música bastante rápida e agressiva para os padrões do Maiden. Mas me lembro quando ouvi pela primeira vez ‘Ride the Lightning’ do Metallica, eu não entendi muito bem o que diabos estava acontecendo. Era tão rápido e intenso, tão pesado, me deixou maluco. Definitivamente me influenciou como músico e definitivamente influenciou o Blind Guardian, pois obviamente começamos como uma banda de Speed Metal melódico. Éramos muito rápidos, só queríamos as melodias lá dentro, mas a velocidade e toda a excitação na música também estava presente.

W (NM): Quais são suas melhores memórias do período em que você foi para o serviço militar com o André?

MS: Na verdade, nem eu nem o André fomos para o exército, aqui na Alemanha você tem a escolha de servir no exército ou…

W (NM): Serviço comunitário.

MS: Sim, sim. Eu trabalhei em um asilo, o que era bastante difícil às vezes, mas foi uma experiência muito boa, pois o engraçado era que… obviamente eu tinha cabelos longos, tinha minha jaqueta de couro, eu era um metalhead típico na época. E todos os idosos e eu zuávamos os caras arrumadinhos que trabalhavam lá. Nós tirávamos sarro deles e eles riam comigo, o que era algo que eu achava muito legal, pois muitas pessoas pensam que idosos nunca aceitariam um cara cabeludo com brincos, jaqueta de couro preta, calça jeans apertada, etc. Mas eles tinham a cabeça bastante aberta, alguns deles até pediam para eu tocar minha música para eles; eles não gostavam muito, mas eles estavam abertos a isso e isso era muito legal.

W (NM): Mudando de assunto de novo, você pode nos contar um pouco sobre o projeto orquestral de “O Senhor dos Anéis”?

MS: Sim, a informação mais importante: não é mais sobre “O Senhor dos Anéis”. Nunca fixamos as letras antes, estávamos pensando em diferentes opções. “O Senhor dos Anéis” era uma opção, obviamente, mas há muitos problemas de direitos autorais envolvendo a obra e temos que lidar com a família do Tolkien, etc. Então, no final uma oportunidade diferente se abriu para nós. Há um escritor muito bom na Alemanha chamado Markus Heitz, que é um dos melhores autores de fantasia da Alemanha e acontece que ele é fã do Blind Guardian. E faremos um tema em colaboração para este álbum; ele vai escrever um romance para este álbum, em que as letras das músicas serão baseadas. Então ele pode criar o universo para este álbum, o que é muito especial para nós, obviamente, já que somos grandes fãs desse cara. E sobre a música, é a típica música do Blind Guardian, só que sem a banda de Metal, então você terá as linhas melódicas, todos os arranjos tocados, mas por uma orquestra clássica e com o Hansi cantando. Então, soa como Blind Guardian por um lado, mas por outro lado soa completamente diferente, mas é bem emocionante para nós, é o máximo, já gravamos cinco ou seis músicas e também pensamos em fazer uma versão mais pesada mais tarde, envolvendo a banda. Temos que ver se podemos adaptar para a banda de Metal também, mas primeiro vamos fazer uma coisa puramente clássica com o Hansi cantando, como eu disse.

W (NM): Então, vamos escolher uma música de novo. Você pode escolher uma música do Blind Guardian a qual tem muito orgulho de ter sido parte, para podermos tocar no programa agora?

MS: Sim, eu diria “Somewhere Far Beyond”, pois foi minha primeira música redescoberta. Nós estávamos procurando por música para colocar no álbum “The Best Of” e eu sabia, sempre soube que eu gostava dessa música, mas quando nós passamos pelas gravações e eu ouvi as nossas coisas antigas, eu realmente redescobri quão boa é essa música. Acho que ela tem uma das melhores letras nossas e quanto à música, em minha opinião, é um dos pontos altos da nossa carreira.

Um dos pontos altos para todos do Blind Guardian foi tocar no Brasil.”

W (NM): Vocês sempre tiveram uma forte carreira no Brasil. Como era sua relação com o país?

MS: Sempre foram os melhores momentos aqueles em que conseguíamos tocar no Brasil. Eu me lembro quando tocamos no Brasil pela primeira vez em 98, não fazíamos ideia do que esperar, nenhum de nossos amigos tinha tocado no Brasil. Então não tínhamos ideia do que ia acontecer e no primeiro show em que tocamos, acho que foi em São Paulo, havia seis ou sete mil pessoas. Mas elas foram a loucura, cantando tocas as músicas junto com a banda. E a energia que vinha do público era extasiante e desde então, esse foi um dos pontos altos para todos do Blind Guardian, tocar no Brasil. Pois os fãs são tão devotos e tão entusiasmados e também muito simpáticos, quando encontramos pessoas fora dos shows, andando pela cidade, ou quando sentamos em um café, tomamos algo, etc. Quem quer que seja que a gente encontre é sempre ótimo! Conversamos um pouco, tiramos algumas fotos, damos autógrafos e todo mundo está sempre de bom humor, isso é uma coisa muito legal. Além disso, minha mulher é brasileira, então eu tenho uma relação muito especial com o país de qualquer jeito.

W (NM): Sério, de onde ela é?

MS: De João Pessoa.

W (NM): João Pessoa? Legal.

MS: Na verdade é uma pena que nossas turnês ficam só no sul, por São Paulo, Rio e Porto Alegre. Acho que seria ótimo se nós pudéssemos espalhar mais nossos shows pelo Brasil. O problema é que o Brasil é um país enorme e todo transporte de equipamento, acho que isso é o que causa o problema. Mas estávamos mais felizes de poder tocar mais no norte do Brasil agora.

W (NM): Ok, mudando de assunto completamente de novo, como vai o seu skatismo?

MS: Eu tenho que esclarecer isso de uma vez por todas, porque há os rumores mais loucos na internet sobre mim e skatismo. Eu nunca fui skatista, eu andei de skate uma vez na vida por duas horas e tudo correu tranquilamente até eu quebrar minha perna em cinco lugares e essa foi a última vez que toquei em um skate. Não planejo recomeçar isso, nunca mais andaria de skate, pois, para ser honesto, eu morreria de medo. Eu pratico esqui desde que tinha três anos, eu faço isso muito bem, nunca me machuquei. Também ando de patins muito bem, também sempre andei desde criança, nunca me machuquei. Skatismo foi só uma ideia estúpida pois meu filho tinha um skate e ele estava andando pela casa e um dia disse “Você não quer se juntar a mim?” e eu disse “Por que não?. Então fomos à cidade, eu comprei um maldito skate, voltamos para casa, andei por duas horas e caí daquela coisa e quebrei a perna. Nunca faria isso de novo.

W (NM): Então, onde você mora agora?

MS: Ainda em Krefeld.

W (NM): Ah, você ainda mora na Alemanha Oriental, certo?

MS: Sim, toda a banda ainda mora na Alemanha. Hansi, André e eu somos de Krefeld e ainda vivemos aqui. Só Frederik não é desta região, ele é de uma área próxima a Wiesbaden, que é mais ao sul, a umas duas horas e meia daqui.

W (NM): Você pode mandar uma última mensagem para os fãs brasileiros e convidá-los para ver o Blind Guardian no Metal Open Air em São Luís e no show em São Paulo com o Grave Digger no dia 21 de abril?

MS: É claro, gostaria de agradecer a todos pelo apoio por todos esses anos. A primeira vez que fomos ao Brasil foi há treze anos e sempre que voltamos é o máximo para nós. Nós acabamos de ir ao Brasil há alguns meses e foi ótimo. Espero ver todos vocês quando tocarmos no Metal Open Air e também no show em São Paulo com o Grave Digger. Vamos fazer uma grande festa de novo e espero vê-los logo.

W (NM): Certo, obrigado, Marcus Siepen. Muito obrigada pelo seu tempo.

MS: De nada.

W (NM): Tchau, tchau.

Categorias: Entrevistas

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