Texto por Marcelo Gomes
O terceiro projeto de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá teve sua estreia em São Paulo no último sábado, 7. O reencontro dos remanescentes da Legião Urbana aconteceu para uma turnê inédita chamada As V Estações que celebras dois álbuns icônicos da banda, As Quatro Estações (1989) e V (1991), e mais uma vez, o público não decepcionou e compareceu em peso no Espaço Unimed.
Dessa vez, Dado e Bonfá não utilizaram o nome da Legião no projeto, talvez para evitar problemas judiciais, mas o fato é que isso não interferiu em nada e mostrou que o legado da banda é muito maior do que qualquer polêmica. Acompanhados por André Frateschi (vocal), Lucas Vasconcellos (guitarra), Mauro Berman (baixo e direção musical) e Pedro Augusto (teclado), o simpático Dado vai ao microfone dar boa noite e as boas vindas à apresentação da turnê, As V Estações. O show teve início com “Há Tempos” seguida por “Meninos e Meninas” e “Sereníssima”. Os fãs dão seu show cantando os longos textos do Renato Russo com afinco numa sinergia surreal.
André fala que é muito bom tocar em casa antes de executarem “Eu Sei” que é acompanhada de imediato pelos fãs. Nem mesmo o jogo de cartas marcadas no quesito repertório tirou a espontaneidade e até o ineditismo para muitos que estavam presenciando a execução daquelas músicas pela primeira vez. Em alguns momentos, Dado assume os vocais como no caso de “Sete Cidades” e em outros, Bonfá em “Teatro dos Vampiros” e “Por Enquanto”.
O setlist foi montado com muito cuidado. A sequência que veio a seguir deu a oportunidade aos fãs de reviverem momentos que certamente ficaram eternizados em suas vidas e a nostalgia tomou conta em “Tempo Perdido”, “Índios”, “Será”, “Faroeste Caboclo” e “1965 (Duas Tribos)”. Os arranjos, a performance da banda, as belas imagens no telão e o publico fazendo um grande coral transformaram esse em um dos momentos mais marcantes da noite.
O lado teatral aflora em “Soldados” quando Frateschi desafia Dado com seu kilt como numa tourada, Villa-Lobos responde simulando ataques com a guitarra até que Andre cai no chão e suplica por sua vida. Marcelo volta aos vocais em “Se Fiquei Esperando”. Aproveitam o momento para apresentar a banda que foi muito bem recebida pelos paulistanos. Mas quando André apresenta a dupla indispensável para que tudo isso estivesse acontecendo, a casa vai abaixo. Dado se mostra feliz e surpreso com o número de crianças presentes. Diz ainda que é bom ver que mesmo após quatro décadas, a música da Legião ainda tem relevância e angaria novos fãs.
Após o momento caloroso e sob os gritos de “uh é Legião”, Dado assume novamente os vocais em “Quando O Sol Bater” e faz um excelente trabalho. O show vai chegando ao fim com “Pais e Filhos”, que é mais uma que o público praticamente canta sozinho. Se despedem com “Monte Castelo”. A volta para o bis foi emocionante, André surge com uma bandeira nas mãos com a imagem do Renato Russo, Dado, Bonfá e Renato Rocha (Negrete) e ressalta a importância da presença dos legionários. Fala ainda que Renato além de estar presente nas letras e melodias da banda, hoje é raio, trovão, o verdadeiro sopro do dragão que está acima deles. Grita: “Viva Renato Russo!” O público responde gritando o nome do ex-cantor incessantemente. O momento é interrompido quando sem anunciar, se despedem com a épica “Metal Contra As Nuvens”, uma das mais aguardadas do show.
Infelizmente, dois integrantes (Renato Russo e Renato Rocha) da fase clássica da banda não estão mais entre nós mas isso não impede que a dupla continue a celebrar o material que fizeram parte. Desde que foi anunciada essas comemorações aos discos da Legião Urbana em 2015, os fãs têm apoiado o projeto com um imensa devoção, sem fazer qualquer questionamento sobre a legitimidade das turnês. O que se viu no Espaço Unimed comprova que as músicas são atemporais e que transcenderam aos próprios criadores. Não existem palavras que descrevam com perfeição a experiência de se presenciar um show desses. Pareceu um encontro de almas em sintonia, uma verdadeira catarse num sonho feliz!