A cabeça roda, os neurônios explodem em sinapses aceleradas, o coração dispara, você perde o chão, até que vem ‘A Revelação’ e você finalmente entende o que está acontecendo”.

 

28 SEGUNDOS

Por Daniel Dystyler

Os americanos chamam de “Moment Of Revelation”. Em português, seria algo como “O Momento de Revelação”.

Acontece em vários momentos das nossas vidas, porém é no cinema que parece haver uma enorme facilidade para provocar isso. Existem vários filmes aonde essa sensação do “Momento de Revelação” acontece.

É uma sensação muito legal. Por 1 segundo, a cabeça roda, os neurônios explodem em sinapses aceleradas, o coração dispara, você perde o chão, até que vem ‘A Revelação’ propriamente dita e você finalmente entende o que está acontecendo e volta a pisar em Terra-Firme. É extasiante.

Essa sensação está presente em filmes como Clube Da Luta (Figth Club), O Sexto Sentido (The Sixth Sense), Os Suspeitos (The Usual Suspects), Janela Indiscreta (Rear Window. Aliás, Hitchcock traz “Momentos de Revelação” em quase todos os seus filmes), O Iluminado (The Shining, na famosa cena que a esposa olha o que o marido tem escrito), O Ilusionista (The Illusionist, na cena final com Paul Giamatti) e mais recentemente em Os Homens Que Não Amavam As Mulheres (The Girl Wth The Dragoon Tatoo).

Enfim, esses são alguns dos filmes que me lembro de cabeça aonde essa sensação de “Momento de Revelação” acontece. E tem um filme em particular que é incrível porque a sensação acontece várias vezes: Vidas em Jogo (The Game) com Michael Douglas.

Pois bem, esqueçamos por alguns minutos os tais “Momentos de Revelações” e mergulhemos na história que eu quero contar…

 

1. I REMEMBER NOW

“6:00PM. I Remember Now”

São 6 da tarde em ponto.

Nikki está internado em um hospital em estado catatônico olhando fixamente para o nada.

A TV do quarto está ligada, mas ele nem ouve o noticiário que fala sobre a onda de assassinatos de líderes religiosos e políticos que devastou a cidade nos últimos tempos. Uma onda de crimes que terminou de forma tão misteriosa quanto começou. Ninguém foi preso e nenhum grupo terrorista assumiu a autoria dos assassinatos.

Uma enfermeira entra no quarto e ministra as injeções e remédios que Nikki precisa. Ele nem se mexe. Nem pisca. E a enfermeira revela o que pensa dele:

“Tenha doces sonhos… Seu filho da puta…”.

Então mergulhamos na mente de Nikki e no que ele está pensando:

“Eu me lembro agora… Eu me lembro como tudo começou…Eu não consigo me lembrar de ontem. Eu só me lembro de fazer o que eles me mandaram fazer… O que eles me mandaram… Eles me mandaram…”

E assim começamos uma viagem pelas lembranças de Nikki, num flashback que vai falar de amor, revolução, sexo, corrupção, religião, morte, poder, traição, ganância e loucura.

E assim a história começa…

2. ANARCHY-X

“Do we have freedom? Do we have equality? (NO!)”

Estados Unidos. Crise. Políticos totalmente dominados pela corrupção. Caos. Sexo é usado como moeda de troca para conseguir alianças e favores e não mais algo que cria uma ligação íntima entre amantes. Desigualdade social. Raiva. Greves. Revolta. População cada vez mais desesperada.

E então, no meio desse caos, surge uma liderança… Um homem que faz discursos apaixonados, sobre como as coisas deveriam e poderiam ser diferentes. Discursos sobre liberdade. Sobre igualdade. Sobre como o mundo seria um lugar melhor se os políticos fossem dignos. E agora, só há uma maneira de conseguir esse mundo melhor: Uma revolução completa e devastadora é necessária.

Esse homem… Esse líder… Vamos chamá-lo apenas de Doutor X e ele está conclamando as massas para essa revolução. A Revolução contra o caos estabelecido.

 

3. REVOLUTION CALLING

“For a price I’d do about anything, except pull the trigger. For that I’d need a pretty good cause”

Nikki é um jovem que não tem emprego, nem formação e é viciado em drogas.

Sem esperanças de uma vida melhor ele atribui a sua situação a todo esse cenário de corrupção existente e caos político e econônico.

Então quando ele conhece o Dr. X que fala de um mundo melhor, um mundo aonde as pessoas podem ser livres e iguais, a esperança de dias melhores finalmente renasce no coração de Nikki.

Depois de muito tempo, ele consegue vislumbrar um motivo, uma causa. Algo para empenhar a sua vida, de corpo e alma.

Além de empolgar as massas imensamente com seus discursos, o Dr. X é um líder que tem uma maneira muito peculiar e direta de lidar com todos aqueles que se opõem à idéia da Revolução: Ele elimina essas pessoas.

Evidentemente ele não faz isso pessoalmente. Ele tem um pequeno e seleto grupo de pessoas que trabalham para ele como assassinos profissionais em prol da Revolução.

E é nesse grupo que Nikki vai entrar.

 

4. OPERATION: MINDCRIME

“It just takes a minute and you’ll feel no pain. Gotta make something of your life boy, give me one more vein”

Além do discurso de um mundo melhor e da causa que está sendo defendida, Nikki entra para a organização principalmente para ganhar livre acesso às drogas que ele tanto precisa para saciar seu vicio.

Essa é uma das formas que o Dr. X usa para controlar seu “hitman” que enfraquecido pelas drogas e por uma espécie de controle mental, reage com submissão total quando a expressão “Mindcrime” é ouvida, tal qual uma palavra-chave dita a uma pessoa hinpotizada.

Dr. X exerce um poder e influência enorme sobre Nikki que finalmente enxerga na “Causa” um motivo para devotar toda a sua vida. O poder de persuasão de Dr. X parece não conhecer limites, em especial sobre Nikki.

Mesmo por telefone, a simples citação da palavra “Mindcrime” fará com que Nikki execute qualquer sentença de morte emitida pelo Dr. X.

 

5. SPEAK

“Let’s tip the power balance and tear down their crown. Educate the masses, We’ll burn the White House down”

Depois de algum tempo, Nikki se torna o melhor assassino profissional que o Dr. X já teve e se transforma em uma máquina de matar.

Sua mente entorpecida pelas drogas em conjunto com o extremo poder advindo das execuções, faz com que Nikki acredite ainda mais na “Revolução” e megalomaniacamente ele se auto-entitula “Anjo da Morte” e “Novo Messias” que vai ajudar na “Causa” do Dr. X.

Nikki acredita que puxar o gatilho lhe deu tanto poder que ele agora consegue resolver todos os problemas do país. Se for preciso destruir a Casa Branca, ele o fará. Ele não tem dúvidas que a “Revolução” é o único caminho para um futuro melhor e quem se opor deve ser eliminado.

Mas deixemos por alguns momentos a história de Nikki e vamos conhecer Mary.

 

6. SPREADING THE DISEASE

“He takes her once a week, on the altar like a sacrifice”

Mary é uma menina bonita que aos 16 anos, após sofrer abuso sexual por parte de seu pai por muitos anos, decidiu fugir de casa e viver nas ruas. Para sobreviver, virou prostituta. Shows de sado-masoquismo, programas de 25 dólares, vários clientes na mesma noite. É se limpar e voltar pras ruas para aquilo que ela acha ser a sua única qualificação.

Aos 18 anos, foi descoberta e “salva” pelo Padre William que a transformou em uma freira: Irmã Mary.

Mas para não fugir do padrão de todos os homens que Mary conheceu em sua vida que sempre abusaram de seu corpo, Padre William também passou a cobrar o preço e exigir “serviços” de Mary. No altar. Como um sacrificio. Ele a pega toda semana.

Padre William é amigo muito próximo do Dr. X. Este, gostaria de agradecer a Nikki por toda a lealdade demonstrada até agora. Então como reconhecimento pelos excelentes serviços prestados, Dr. X e o Padre William pedem que a Irmã Mary passe a levar as drogas que o melhor assassino da cidade, Nikki, precisa.

E assim, quase 1 ano se passa.

 

7. THE MISSION

“I’ll wait here for days longer, till the sister comes to wash my sins away. She is the lady that can ease my sorrow. She brings the only friend that helps me find my way”

O que era novidade e dava uma sensação de poder absoluto, quase religioso, a ponto de fazer Nikki se sentir o Novo Messias, o Anjo da Morte, começa lentamente a pesar na consciência de Nikki.

Sua vida se resume a assassinatos e mortes por quase 1 ano e uma depressão profunda toma conta de Nikki que se tranca no escuro em seu quarto. Ele ascende velas para cada uma de suas vítimas.

Ao ver o Dr. X discursando na TV, a sensação agora é de desgosto pelo que a sua vida se tornou. A “Revolução” já não o motiva mais.

A única coisa que mantém Nikki ainda vivo e conectado com algum traço de humanidade é a sua relação com a Irmã Mary.

O que começou como apenas uma mensageira que lhe trazia as drogas, logo se transformou em amor. Estar com a Irmã Mary é a única coisa que faz Nikki sentir emoções dignas novamente.

Para Nikki, Mary é a sua salvação. Para Mary, é mais complicado. Estar com um homem sempre foi uma tarefa dolorosa e repugnante. Mas pela 1a. vez na vida, Mary não sente repulsa quando está com Nikki e sim, afeição e carinho por ele.

E por isso, eles nunca transaram: Ela, por só conhecer sexo como sendo algo horrível. E ele, por respeitá-la e não querer estragar nem perder a única relação humana que ainda tem.

 

8. SUITE SISTER MARY

“The only peace I’ve ever known. I’ll close my eyes and you shoot”

Dr. X decide que é hora de eliminar o Padre William e a Irmã Mary, uma vez que ambos sabem muito sobre ele e seus métodos, e evidentemente seu melhor assassino profissional é o escolhido para executar a tarefa: Nikki.

Nikki recebe a notícia e fica em estado de choque. A depressão, o amor por Mary, as drogas, a “Revolução”, a sensação de poder, o sentimento de culpa, a “Causa”, tudo vira um turbilhão na cabeça do confuso Nikki. Ele racionalmente luta contra o efeito da hipnose e das drogas que o estimulam a levar à cabo a sua missão.

Nikki vaga pelas ruas, na chuva, tentando se convencer que ele ainda é o “Novo Messias da Revolução” e à meia-noite vai até a Igreja aonde a Irmã Mary vive para consumar sua missão.

Mary abre a porta e se surpreende com Nikki ali naquele horário, tarde da noite, e o convida para entrar e se refugiar da chuva.

Frente a frente com Mary, após uma longa luta interna de sentimentos, Nikki percebe que não consegue levar à cabo sua missão e conta para Mary o que ele realmente foi fazer lá. Para sua surpresa, Mary não quer viver mais após tantos anos de sofrimento e abusos. E pede para que Nikki, acalme a mente dela com drogas e atire.

Nikki pede pra Mary ter forças e não desejar morrer. As coisas vão melhorar agora, uma vez que ele já matou o Padre William que abusava constantemente dela. Eles podem fugir, ficar juntos e ter uma vida nova. Sem mortes, Sem abusos. Eles se abraçam e pela 1a. vez fazem amor no altar.

Ele fica entorpecido e perdidamente apaixonado por ela. Nikki finalmente tem de Mary espontâneamente, o que ela sempre fora obrigada a oferecer aos outros.

Pela 1a. vez, Nikki entende que ambos foram usados, como ratos em laboratórios. Manipulados com drogas, hipnoses, dominação sexual e outros abusos pelo Dr. X.

A “Revolução” é uma desculpa que não se concretizará nunca. A “Causa” que vai tornar o mundo melhor, não existe. O que existe é a ascenção de Poder, ganância e o benefício próprio do Dr. X.

E Nikki decide que não quer mais essa vida. Quer parar essa loucura. Quer ficar com Mary. Começar uma nova vida. Sem mortes. Sem abusos. Ele quer ser feliz.

Essa decisão faz com que Nikki trave uma batalha interna violenta contra todo o domínio hipnótico ao qual esteve submetido por tanto tempo. A ordem foi clara: “Mindcrime: Matar Mary”.

Pela 1a. vez ele está desobedecendo seu mentor. Não é uma decisão fácil. Ele se debate, ainda com a arma na mão. Ele olha para Mary e aponta a arma pra ela. E então decide:

Chega de mortes. Ele quer ser feliz com ela.

Só que para isso, é necessário somente mais um assassinato. Para acabar com essa história de “Revolução”. Ele precisa parar essa loucura.

Apenas mais 1 morte. E acender a última vela.

 

9. THE NEEDLE LIES

“The needle keeps calling me back to bloody my hands forever”

Decidido a deixar pra trás a chamada “Revolução” liderada por Dr. X, Nikki volta para a sua casa para injetar mais uma dose antes de falar com Dr. X. Ele pega a sua arma e decide encontrá-lo para dizer que não aguenta mais e que está fora da organização.

Ele quer uma vida nova, ao lado de Mary. Ele quer sentir o que acabara de sentir ao ficar com ela no altar.

O telefone na casa de Nikki toca. Ele atende:
– “Alô”
– “Mindcrime”
– “Eu não quero mais! Eu estou fora!”
– “Eu tenho um monte de Mindcrimes ainda pra você”
– “Não”
– “Você nunca vai conseguir sair”

Nikki vai de encontro ao Dr. X e decide confrontá-lo dizendo que está fora da organização. Pra ele chega.

Dr. X usa então, o seu grande trunfo, lembrando Nikki que estar na “Revolução” é a única forma de garantir acesso às drogas que ele tanto precisa e depende. Aonde ele irá conseguir a próxima dose ?

Frustrado e abatido, Nikki percebe o horror de seu vício e derrotado, reconhece que o chamado da agulha é simplesmente irresistível para ele.

Sem conseguir livrar-se do controle exercido pelo Dr. X, Nikki decide voltar à Igreja para encontrar Mary e tentar encontrar alguma solução para o dilema no qual eles se encontram.

Enquanto ele está à caminho, o telefone toca na Igreja. Mary que está extremamente preocupada com Nikki, corre para atender o telefone.
– “Nikki?”
– “Boa noite, Mary. É o Dr. X”
– “Que merda você quer comigo?”
– “Sinto muito por tudo isso. Você entende, não é nada pessoal. Só negócios”. Ele usa o tom de voz que hipnotiza as pessoas.
– “Aonde o Nikki está? O que você fez com ele?”. Ela pergunta, a voz já trêmula e insegura.
– “Eu quero que você faça exatamente o que eu te disser”, continua a voz hipnótica do Dr. X.

Mary entra em um estado de torpor, quase não dominando mais seus pensamentos…

– “Há uma caixa na mesa aí na sua frente. Abra a tampa e olhe dentro. O que você vê?”
– “Uma arma”
– “Isso mesmo, uma arma. Tire a arma da caixa e coloque-a em sua própria boca”
– “Não”. Ela suplica.
– “Sim. Você vai fazer exatamente isso e puxar o gatilho”
– “Não”. Ela chora.
– “Puxe o gatilho”

Mary tenta resistir, mas é como se a mão dela tivesse vontade própria e em alguns momentos a arma está em sua boca. Ela balança violentamente a cabeça como se estivesse lutando consigo mesma. E depois de alguns momento, o tiro é disparado. Sangue jorra no quadro que estava atrás dela e o corpo cai inerte no chão.

 

10. ELECTRIC REQUIEM

“Anybody home? Mary?”

Nikki entra na Igreja e encontra Mary morta em seu quarto.

“Mesmo na morte, você aparenta tristeza”, ele pensa. Desesperado, ele suplica para que ela não o deixe. Mas é inútil.

Então Nikki decide encharcar o corpo dela com a bebida alcóolica que estava bebendo e riscar um fósforo, queimando o corpo da única mulher que ele amou. Na mente de Nikki, talvez uma forma de libertá-la definitivamente do corpo que tanta dor e sofrimento lhe causou ao longo de sua vida.

E com esse ato, Nikki começa a sua viagem rumo à insanidade.

 

11. BREAKING THE SILENCE

 

“Nothing we shared means a thing without you close to me. I can’t live without you”

Sem conseguir lidar com a morte de Mary e sem ter a “Revolução” como motivo para viver, Nikki foge e vaga pelas ruas.

Completamente confuso e perdido, ele busca alguma coisa, algum sinal, que o ajude a retomar algum propósito em sua vida. Ele busca algum sentido para a sua existência.

Qualquer coisa que ele vê nas ruas, o fazem lembrar de Mary.

Esgotado e no limite de suas forças físicas de tanto vagar pelas ruas, Nikki decide voltar à Igreja, talvez para estar novamente no local aonde ele amou Mary. Seu estado mental já dá sinais claros de desequilíbrio.

 

12. I DON’T BELIEVE IN LOVE

 

“We know you did it. Why’d you do it?”

Ao entrar na Igreja, Nikki percebe que o local está lotado de policiais e investigadores. Dado seu estado de desorientação e sua óbvia ligação com Mary, a polícia o prende e o acusa, responsabilizando-o pela morte de Mary.

Não deixa de ser irônico o fato que a polícia prende Nikki pelo assassinato de Mary, um dos poucos assassinatos que ele NÃO cometeu.

Durante o interrogatório, o estado catatônico de Nikki se exacerba ainda mais e sua mente viaja longe. Enquanto os policiais perguntam detalhes do assassinato, Nikki pensa sobre o significado de amar e confiar, verbos que demoraram tanto para surgir em sua vida.

Por que ele teve que perder seu amor, justamente quando finalmente o encontrou?

Por que vislumbrar como a vida poderia ser maravilhosa, depois de anos de pesadelos e tormentos, se esse visão deixaria de existir para ser substituída pela eterna dor do que poderia ter sido, mas não foi?

 

13. WAITING FOR 22
14. MY EMPTY ROOM

 

“Now who will come to wash away my sins, clean my room, fix my meals, be my friend?”

Nikki é julgado e condenado. E como ele perdeu sua sanidade mental ele é declarado “non compos mentis”, ou seja, incapacitado mentalmente e portanto, Nikki é internado em um hospital psiquiátrico.

Nikki passa os dias sentado em seu quarto, dividindo o tempo entre a loucura completa e as tentativas de entender quem ele é, o que realmente aconteceu e qual é a razão da tragédia que a sua vida se tornou.

Por milhares de vezes ele volta e se imaginar na Igreja, ao lado do corpo inerte de Mary, tentando imaginar o que iria ser da vida dele, depois de tudo isso que aconteceu.

É aqui que o nosso Flashback começou e é aqui que ele termina. Estamos de volta ao presente.

 

15. EYES OF A STRANGER

 

“And I raise my head and stare into the eyes of a stranger. I’ve always known that the mirror never lies”

Todas as noites no hospital psiquiátrico, os pesadelos voltam à atormentá-lo. Ele acorda sobressaltado sempre com a imagem do rosto de Mary.

Nikki se pergunta se é somente isso que restou de sua vida: Camisas-de-força, sedativos, pesadelos, remédios e nenhum dos finais felizes que eles sempre prometeram.

De bom, só as memórias do que ele teve em mãos por momentos tão efêmeros e que se foram.

Ao olhar a sua imagem no espelho do quarto, Nikki percebe que não consegue mais reconhecer a imagem refletida. Ele se tornou um completo estranho. Nem consegue olhar no espelho, com medo de saber o que se esconde por trás do olhar desse estranho.

E assim, termina a história que eu queria contar.

AO menos, termina a 1a. parte da História. Teremos que avançar 18 anos no tempo, até o dia que Nikki receberá alta do hospital psiquiátrico e iniciará a sua jornada para reencontrar o Dr. X.

Uma jornada de vingança. Uma jornada em busca de algo que preencha o vazio que ficou em sua alma. Uma jornada que eu contarei algum outro dia (o Queensrÿche esperou exatamente 18 anos para lançar a segunda e última parte da envolvente história de Nikki e Dr. X. Eu espero não levar tanto tempo assim).

Mas para concluir a primeira parte da História, uma coisa sempre me intrigou muito no final do “Operation: Mindcrime”:

Por que a banda se deu ao trabalho de incluir aquela sequência de 28 segundos no final do álbum ? São 28 segundos que basicamente recontam a história inteira do álbum de forma super acelerada. Dá pra ouvir os principais momentos da história nesses 28 segundos com referências a praticamente todas as faixas do álbum: “Mindcrime!” “Speak!” “And welcome…” “Revolution calling!” “Do we have freedom? (NO!)”.

Sempre fiquei pensando, o que isso queria dizer. Por que se dar ao trabalho de colocar esses 28 segundos finais ? Qual o motivo ? Ninguém se dá ao trabalho de fazer essa montagem sem nenhuma razão específica. Qual a mensagem que eles queriam que eu enxergasse que não estou vendo ?

E aí, olhei o encarte do Livecrime e vi uma coisa escrita… 3 números e 2 letras. E aí finalmente aconteceu: O meu Momento de Revelação… A cabeça rodou, os neurônios explodiram em sinapses aceleradas, o coração disparou e finalmente entendi. Lá estava escrito, depois da última música:

6:01PM

A narrativa da história começa às 6:00 em ponto e termina às 6:01. Todas essas memórias, organizadas de forma tão detalhada e cronológica eram os pensamentos de Nikki durante 60 segundos no Hospital. Toda a nossa viagem pelo flashback de Nikki, o caos, a revolução, os crimes, os discursos, Mary, a missão, o amor, a igreja, as mortes, o interrogatório, as drogas, tudo se passou na cabeça de Nikki, em 1 minuto.

E é aí que o verdadeiro horror da situação de Nikki nos é revelada. Ele está condenado, a viver todos os seus minutos, trancado em sua insanidade, repetindo essa história continuamente em seu cérebro. Na mesma sequência, da mesma forma, com os mesmos detalhes. De novo, e de novo, e de novo, e de novo. 1 vez por minuto. Revivendo continuamente a história que destruiu sua vida.

6:01PM
I Remember Now

 


1. I REMEMBER NOW
2. ANARCHY-X
3. REVOLUTION CALLING
4. OPERATION: MINDCRIME
5. SPEAK
6. SPREADING THE DISEASE
7. THE MISSION
8. SUITE SISTER MARY
9. THE NEEDLE LIES
10. ELECTRIC REQUIEM
11. BREAKING THE SILENCE
12. I DON’T BELIEVE IN LOVE
13. WAITING FOR 22
14. MY EMPTY ROOM
15. EYES OF A STRANGER

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