Texto por Maykon Kjellin
Estávamos felizes e ansiosos por estarmos a caminho de um show do Sepultura e ao mesmo tempo tristes por ser, até então, o último em terras catarinenses.
O ambiente da Arena Opus no último dia 23 era extremamente aconchegante, com uma ampla estrutura de bares, área para fumantes, acessibilidade para deficientes e tudo contribuía para uma despedida extremamente digna.
Chegamos ao evento já passava das 20:30 e o show, previsto para as 21:00, começou com poucos minutos de atraso. Contrariando as expectativas de muitos, eles não tocaram “Polícia”, sua versão do grande sucesso dos Titãs que ficou apenas no sistema de som, iniciando com toda a energia com “Refuse/Resist”, “Territory” e “Slave New World”, uma trinca que levou o público da Arena às alturas.
Houve um pouco de lamentação entre os fãs pela inesperada mudança na formação para esta despedida, mas uma coisa precisa ser dita: o que Greyson Nekrutman toca é simplesmente incrível. Apesar de toda a sua habilidade na bateria, o baterista ainda adiciona pequenas notas a mais que, para alguns, podem passar despercebidas, mas para outros fazem toda a diferença do quanto o músico se importou em acrescer um pouco da ‘sua cara’ nas músicas.
Mantendo as raízes da banda, o telão exibia constantemente clipes de indígenas, assim como soldados em um tabuleiro de xadrez, com fumaças e crânios em areia movediça. É icônico pensar que uma banda com a performance como a do Sepultura, mesmo após 40 anos, tenha uma data para finalizar seus trabalhos, as vezes parece mentira que talvez não teremos outra oportunidade de desfrutar mais alguma apresentação.
Andreas Kisser demonstrava entusiasmo com a apresentação e interagiu bastante com o público, até mais do que estava previsto no setlist. Ele relembrou uma passagem pela capital catarinense junto ao Ramones em 1994. Enquanto muitos na plateia gritavam e aplaudiam interagindo sobre o fato acontecido em 1994, Andreas brincou com o fato de boa parte do público que lembrou estar um “pouco velho”.
No entanto, a noite foi de celebração pela excelente carreira da maior banda de metal do Brasil. Ainda no embalo do set, músicas como “Phantom Self”, “Dusted”, “Attitude”, “Kairos”, “Cut-Throat” e “Escape to The Void” incendiaram a noite. Chegando em “Kayowas”, tivemos uma demonstração dos primórdios da banda, com muita percussão no palco, continuando com “Sepulnation” e participações de outros tambores acompanhando Derrick Green e Greyson, sendo uma festa para o público que não ficou de fora, participando com muitas palmas ritmadas.
Houve raros momentos de pausa entre as músicas, em uma delas Andreas pediu para o público aplaudir Greyson Nekrutman por ter aceitado um desafio e ter cumprido com maestria. Alguns tentaram um coro de elogios para Eloy Casagrande, mas foram engolidos por aplausos gerais pela execução de Greyson durante todo o espetáculo.
O encerramento foi impactante, com uma sequência do clássico “Biotech is Godzilla”, a mais recente “Agony of Defeat”, a colossal “Troops of Doom” e uma viagem ao passado com “Inner Self”. Quando Derrick agradeceu anunciando a fase final do show e Andreas incentivou os moshes a serem mais intensos dizendo que os que viu ainda estavam tímidos, hora de viver o show com intensidade e com os primeiros acordes de “Arise” tendo sequência com “Ratamahata” e “Roots”, o show terminou com gritos de “Sepultura” e muitas palmas que pareciam não ter fim.
Nesse momento, Greyson desceu do palco e se aproximou da grade, agradecendo, abraçando e apertando a mão de todos, jogando baquetas e até tirando fotos, mostrando que está ali para aproveitar cada apresentação do Sepultura.
É impossível não associar a fase em que o metal nacional se encontra hoje com tudo o que o Sepultura fez pelo cenário. A banda basicamente trouxe influências da nossa cultura para o som pesado nos anos 80, quebrando barreiras sobre como o metal deveria ser. As saídas dos principais fundadores, a falta de empatia de boa parte dos fãs na época, as perdas de gravadoras e a superação de tudo isso, mantendo-se no topo até os dias atuais, são resultados do trabalho sério e profissional da banda, que com certeza deixará um vazio no nosso cenário.
Foi uma noite de grandes memórias a serem lembradas no futuro, pela atmosfera da Arena Opus, pelo excelente espetáculo da maior banda do país e pelo público que estava completamente envolvido com a banda. Que seja um até logo e que tenhamos mais datas no Brasil. Caso contrário, obrigado por tudo Sepultura, a “Sepultura do Brasil”.
A turnê tem produção de 30e e os ingressos para os shows em São Paulo estão disponíveis no site da Eventim.
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