Texto por: Stephanie Souza

Ousadia seria uma boa palavra para definir a banda sueca de post-hardcore Refused. Inovação, intensidade e ideais caminham lado a lado no álbum The Shape of Punk to Come, lançado em 1998 pela Burning Heart Records. O álbum rompe convenções jurássicas do gênero ao incorporar elementos de música eletrônica, jazz e post-hardcore numa grande salada experimental, que também não deixa a desejar no peso e nas críticas sócio-políticas, tema central da obra. 

A abertura do álbum em “Worm of the Senses / Faculties of the Skull” e “Liberation Frequency” criam a fusão perfeita entre caos, manifestação política, berros e muito peso instrumental. “The Deadly Rhythm” brinca com uma das muitas influências de gênero do álbum, usando elementos do jazz em meio a potência da bateria de David Sandstrom. “Summerholidays Vs. Punkroutine” cria uma dicotomia lírica entre uma vida domesticada e conformista em detrimento do espírito rebelde e político no ethos do punk rock. 

“Bruitist Pome #5” é um interlúdio eletrônico que constrói expectativa até a explosão de “New Noise”, clássico e hino definitivo da reinvenção que o álbum se propõe a fazer. A canção alterna passagens eletrônicas com pausas dramáticas e um grande senso de urgência que se inicia a partir do momento em que o vocalista crava “Can I scream?” na memória dos ouvintes. A ideia aqui é romper com a mesmice estética e ideológica em uma cena que havia se tornado previsível em tudo que se propunha a criar. 

Ao escrever sob o leque de um forte espírito anticapitalista (Dennis Lyxzen, vocalista, já se definiu como socialista diversas vezes em diferentes entrevistas) músicas como “The Refused Party Program” e “Protest Song 68” constroem críticas acerca do sistema vigente enquanto também evocam um sentimento de manifesto e ação direta. Manifesto esse que, aqui, se expressa de forma completamente coesa mas também sonoramente imprevisível. 

Pode se dizer que “Refused Are Fucking Dead” funcionaria como um foreshadowing ao fim abrupto da banda, que aconteceria meses após o lançamento desse álbum – que teve uma recepção morna em seus primeiros meses de vida. O reconhecimento do TSOPTC só viria anos após o fim da banda, quando o clipe de “New Noise” passou a ser exibido na MTV, atraindo um novo público que finalmente estava pronto para compreender e abraçar a dimensão criativa do grupo. Enquanto o hibridismo sonoro parecia deslocado tanto para o punk rock e o mainstream nos anos 90, nos anos 2000 ficou claro que a banda não apenas criou algo único e original, mas também antecipou tendências de forma visionária, influenciando bandas como Linkin Park, Anthrax e Paramore.

O reconhecimento tardio do Refused ajuda a reforçar a mística embrionária que cerceia a banda, que se desafiou criativamente a dar novos ares a um gênero que precisava urgentemente de renovação. Sempre à frente do seu tempo, o que antes havia sido rejeitado, hoje ganha o título de cult, se tornando um dos álbuns mais importantes da cena hardcore dos últimos 30 anos. 

Em despedida definitiva dos palcos marcada para o ano de 2025, o Refused vem ao Brasil para show único no dia 31 de outubro, no Terra SP, em São Paulo. A turnê, ironicamente (ou não) nomeada como Refused Are Fking Dead – And This Time They Really Mean It é uma oportunidade única de vivenciar todo o sentimento incendiário e caótico da banda. A realização é da Powerline Music & Books em parceria com a Balaclava Records.

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