Texto por Ana Clara Martins

No Maracanã lotado, milhares de corações vibraram com a final da Libertadores. Ainda na zona norte do solo carioca, não precisava ir muito longe para ver outros inúmeros corações vibrando, mas ao som de Red Hot Chili Peppers. 

O grupo californiano se apresentou no Estádio Olímpico Nilton Santos no último sábado, 04, e, apesar de ter marcado presença no penúltimo Rock In Rio (2019), esse espetáculo estava sendo aguardado há mais de uma década. Isso porque a turnê Unlimited Love sinaliza o retorno de John Frusciante, que não tocava com a banda no Brasil há 21 anos. Trata-se de um momento único para qualquer fã: aos que cresceram vendo os solos marcantes do guitarrista nos clipes do Red Hot na MTV e eram novos demais para comparecer no show de 2002, aos que acompanham o grupo desde os anos 80 e carregavam uma saudade enorme de ver os improvisos de John no palco e a nova geração, que tem a chance de acompanhar em tempo real o seu retorno.

Com apenas 3 minutos de atraso, a banda ocupa o palco introduzindo uma grande jam. Chad Smith (bateria) mostra o seu ritmo e a sua velocidade, Flea (baixo) o seu groove e os cultuados slaps e John Frusciante (guitarra), em sua Fender relicada, mostra as suas melodias delicadas, mas ao mesmo tempo viscerais. Após a improvisação, Anthony Kiedis se junta a banda e emenda uma trinca de clássicos: “Can’t Stop”, “The Zephyr Song” e “Snow ((Hey Oh))”. Logo no riff inicial de “Can’t Stop”, o público grita em uníssono e acompanha Frusciante em seu backing vocal. Diga-se de passagem, os backing vocals do guitarrista se concretizam como um ponto alto do show, uma vez que os seus agudos ecoam de maneira angelical. 

Em “Here Ever After”, do álbum que nomeia a turnê em questão, Flea, conhecido por sua animação nas apresentações, expressa a sua energia com os seus pulos e interações emocionadas com John. A banda segue o repertório com “Otherside”, que surpreendeu muitos, uma vez que a música ficou de fora do setlist do show da Costa Rica. Outra surpresa foi a faixa “Suck My Kiss”, que foi um belo banquete aos fãs das fases mais funkeadas do grupo.

O público demonstrou o seu amor intenso por John Frusciante em diversas ocasiões, sobretudo gritando “John Fruscianteee, John Fruscianteee!” nos intervalos entre as músicas. “John, você é a razão por eu ter começado a aprender a tocar guitarra”, estampava o recado presente em uma folha erguida por uma fã. 

Em alguns desses intervalos, a banda se reunia em frente a bateria e cochichava entre si. Será que estavam discutindo o repertório? Será que estavam combinando alguma jam? Nunca saberemos, mas é possível que a segunda pergunta seja pertinente, uma vez que as improvisações foram destaque da noite, incluindo até mesmo um momento só de John e Flea. 

O baixista e o guitarrista se posicionaram um de frente para o outro e apresentaram um improviso digno de lágrimas da plateia, em que somente os instrumentos de corda se comunicavam entre si de modo íntimo, apesar das milhares de pessoas no local. 

O repertório não só seguiu recheado de outros clássicos, como “Californication”, “By the Way” e “Under the Bridge”, mas também de lançamentos mais recentes – que foram igualmente cantados aos berros pelo público-, como “Black Summer” e “The Heavy Wing” – essa última despertando um entusiasmo gigante entre a plateia. Isso porque os vocais de John Frusciante ficam majoritariamente restritos aos backing vocals das canções e, em “The Heavy Wing”, é o vocal do guitarrista que comanda o refrão. 

Nos telões laterais, foi possível observar a filmagem em tempo real do show em determinados padrões de efeitos e cores que remetiam a algo entre as animações do “Windows Media Player” e a capa do disco Wired (1976), do guitarrista Jeff Beck. 

Flea foi o integrante que mais interagiu com o público, desejando boa noite e agradecendo a presença de todos. O espetáculo foi encerrado de forma vigorosa com a dançante “Give It Away”, com Flea tocando em cima de um dos amplificadores. Ao final da apresentação, Anthony, que quase não falou durante o show, agradeceu ao público, enquanto Chad e John se comunicavam de maneira mais próxima da plateia, distribuindo baquetas e palhetas. 

Após o fim do espetáculo, muitas pessoas reclamaram de sua duração, que contou com menos de 2 horas. No entanto, seria  rigoroso dizer que o show não valeu a pena: dançante, cheio de energia e fluidez, mesmo com as diversas pausas. A presença de Frusciante é algo à parte. Todos falavam dele e aguardavam ansiosamente por seus solos e vocais. Tudo que esperamos  é que ele não demore mais 20 anos para retornar!

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