No último domingo, 26, São Paulo testemunhou um daqueles momentos que já nascem históricos: a lendária banda Integrity, um dos pilares do hardcore norte-americano, finalmente fez sua estreia em solo brasileiro. O palco escolhido foi o da Burning House, casa que há tempos se tornou refúgio para a cena underground da capital paulista. O local, conhecido por abrigar eventos pesados e alternativos, recebeu um ótimo público, e o evento contou com as aberturas das bandas brasileiras Infortuno e Obsoletion.

Os brasileiros do Infortuno e do Obsoletion prepararam o terreno de forma impecável, mostrando a força e a diversidade do hardcore nacional. O Infortuno entregou um set pesado e agressivo, com letras em português e uma presença de palco intensa, agradando ao público que ainda chegava à casa. Já o Obsoletion manteve o clima tenso e sombrio, explorando influências do metal e do sludge com seu dark hardcore punk cult. Abriram com “Symptom of the Universe”, do Black Sabbath, e tocaram músicas de seu álbum de estreia, Obsoletion (2024). Ambas as apresentações destacaram a força da cena underground brasileira, mostrando que o metal nacional está mais vivo do que nunca.

Quando o Integrity finalmente entrou em cena, a expectativa era a maior possível. O set começou com uma “Intro (instrumental)”, que trouxe peso e preparou o terreno para o caos. Logo em seguida veio “Vocal Test”, uma faixa que, como o próprio nome indica, testa o vocal, mas que rapidamente se transformou em um grito de guerra, levando o público à loucura. Sem pausas, o grupo disparou “Hollow” e “Psychological Warfare”, mesclando violência sonora com o melhor da atitude hardcore. Era um culto à intensidade, no qual todos participavam com devoção. Os riffs rápidos, a bateria implacável e os vocais agressivos fizeram o público responder com um mosh pit feroz, e a energia da Burning House explodiu, provando que o Integrity sabe como entreter uma plateia, mesmo em sua primeira visita ao país.

A intensidade só crescia: “Sarin” e “Hymn for the Children of the Black Flame” formaram uma sequência densa, quase sufocante, em que o peso das guitarras e o vocal insano de Dwid Hellion criaram uma atmosfera apocalíptica. O público oscilava entre rodas e stage divings, especialmente durante “Taste My Sin” e “Incarnate 365”, dois clássicos que sintetizam perfeitamente a mistura única de hardcore e metal que define o Integrity.

Um dos pontos altos da noite veio com “Systems Overload”, que o vocalista Dwid dedicou aos irmãos Cavalera e ao Sepultura, afirmando que cresceu junto com Derrick Green (vocalista do Sepultura) e que Iggor Cavalera (ex-baterista da banda) foi seu vizinho por alguns anos. Ressaltou ainda que é amigo dos dois lados e que a música fala sobre divisão, não de bandas, mas de pessoas que tentam colocar umas contra as outras. Nesse momento, a banda arriscou um trecho de “Refuse/Resist”. O público adorou o gesto de reverência aos ícones do metal brasileiro.

A sequência com “Rise” e “Diseased Prey Within Casing” manteve o ritmo implacável. “Judgement Day” e “Micha: Those Who Fear Tomorrow” elevaram o show ao limite da exaustão física, enquanto “Jagged Visions of True Destiny” coroou o set principal com intensidade quase transcendental, em um verdadeiro ritual sonoro conduzido pelo frontman Dwid Hellion, que continua sendo uma entidade do hardcore quase três décadas após o lançamento de seu primeiro álbum. Ainda houve espaço para duas surpresas no bis: uma versão explosiva de “Hybrid Moments”, clássico do Misfits, injetando punk rock tradicional no set e demonstrando a versatilidade do grupo. Encerrando com “Straight Edge Revenge”, o Integrity deixou o palco em chamas, com o público cantando junto e pedindo mais. Foi um setlist equilibrado, que navegou entre o agressivo e o reflexivo, mantendo a energia alta do início ao fim.

No fim, restou a sensação de ter presenciado algo especial. A Burning House provou ser o palco perfeito para esse tipo de evento, com som potente e atmosfera underground que amplificaram a intensidade do show. Além da performance impecável da banda, a interação genuína com o público transformou a apresentação em uma experiência coletiva, lavando a alma dos fãs brasileiros que aguardaram por décadas por esse momento. 

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Paulistano e apaixonado por rock desde os 10 anos, comecei a descobrir o universo da música pesada quando um amigo gravou uma fita K7 com Viper, Judas Priest, Metallica, entre outros. Na sequência, conheci o Black Sabbath e foi um caminho sem volta ... Frequentador assíduo de shows, já acompanhei centenas de apresentações das principais bandas de rock/metal e suas diversas vertentes. Nos últimos anos, tenho transformado minha paixão pela música em palavras, compartilhando resenhas sobre shows e permitindo que os leitores vivenciem a emoção de cada apresentação.