O Fabrique Club recebeu no último sábado, 11, uma verdadeira celebração de caos sonoro e ironia política com o retorno do Brujeria ao Brasil.

A banda mexicano-americana, famosa por misturar death metal, grindcore e humor negro com críticas afiadas à política e à sociedade, voltou ao país pela primeira vez sem o icônico Juan Brujo, seu vocalista fundador, e sem Pinche Peach (ambos falecidos em 2024), o que gerou uma mistura de nostalgia e curiosidade entre o público. Para preencher esse vazio, Jeff Walker, o lendário vocalista e baixista do Carcass, juntou-se ao grupo sob o codinome El Cynico, assumindo o baixo e parte dos vocais. O lineup atual contou ainda com El Sangrón nos vocais, El Sativo na bateria e El Criminal nas guitarras.

Apesar do atraso de 25 minutos, a introdução foi, no mínimo, hilária, contando com três músicas tradicionais mexicanas antes de mergulhar no setlist pesado. Isso foi o suficiente para arrancar risadas e até incentivar alguns fãs a arriscarem passos de dança, criando uma atmosfera descontraída que contrastaria com o que estava por vir. O atraso inicial, em vez de frustrar, pareceu apenas aumentar a ansiedade, transformando o Fabrique Club em um caldeirão prestes a explodir. Essa escolha para o início destacou a identidade cultural da banda, que sempre incorpora elementos mexicanos em suas letras e performances, servindo como um lembrete de que o Brujeria vai além do mero metal extremo.

Quando finalmente a banda subiu ao palco e abriu com “Brujerizmo”, a casa virou um pandemônio. O público reagiu de imediato, com rodas se formando ao som pesado que tomava conta do ambiente. El Cynico, que já havia feito parte da banda em outro momento, mostrou total domínio da persona e da energia do grupo, alternando entre sarcasmo e brutalidade com a confiança de quem entende a essência do Brujeria. A sequência com “El desmadre” e “Hechando chingasos (Greñudos locos II)” manteve a intensidade em alta, e já nas primeiras músicas estava claro: a banda pode ter mudado de rosto, mas não perdeu sua alma.

O setlist foi uma viagem pela discografia e pela história da banda. Clássicos como “Anti-Castro”, “La migra (Cruza la frontera II)”, “Ángel de la frontera” e “La ley de plomo” mostraram o lado mais político do Brujeria, com letras que continuam atuais, tratando de fronteiras, violência e opressão. Infelizmente, temas que ainda ressoam em 2025.

A dinâmica entre os músicos estava impecável; para comprovar isso, despejaram pedradas como “Desperado”, “Colas de rata”, “División del norte” e “Revolución”, que colocaram ainda mais fogo no público. Antes de “Consejos narcos”, última faixa antes do encore, El Sangrón perguntou se havia maconheiros na plateia e se alguém teria maconha para a banda. Com a resposta positiva, o guitarrista tocou um trecho de “Sweet Leaf”, coroando o momento e encerrando de maneira épica o set regular, deixando o público sedento por mais.

O retorno ao palco veio com o peso histórico de “Raza odiada (Pito Wilson)”, que colocou o Fabrique em um estado de pura catarse. O vocalista El Sangrón não poupou críticas a Donald Trump e Jair Bolsonaro. E, para encerrar, não poderia faltar “Matando güeros”, hino absoluto do Brujeria e um dos momentos mais intensos da noite. A execução foi brutal, servindo como um lembrete de que, mesmo com as trocas de membros e os anos que se passaram, a essência e o espírito provocador da banda seguem intactos.

No fim, o show do Brujeria no Fabrique Club foi uma celebração de resistência e identidade. Com menos de uma hora de duração, a apresentação, direta e visceral, comprovou que o grupo ainda é uma força viva dentro do metal extremo mundial. Mesmo sem Juan Brujo, a presença de El Cynico trouxe um gás novo à banda, e o público paulistano, mais uma vez, respondeu à altura, mostrando que o Brasil segue sendo um dos territórios mais apaixonados pelos bruxos do grindcore latino. 

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Paulistano e apaixonado por rock desde os 10 anos, comecei a descobrir o universo da música pesada quando um amigo gravou uma fita K7 com Viper, Judas Priest, Metallica, entre outros. Na sequência, conheci o Black Sabbath e foi um caminho sem volta ... Frequentador assíduo de shows, já acompanhei centenas de apresentações das principais bandas de rock/metal e suas diversas vertentes. Nos últimos anos, tenho transformado minha paixão pela música em palavras, compartilhando resenhas sobre shows e permitindo que os leitores vivenciem a emoção de cada apresentação.