Texto e entrevista por Matheus Jacques

Como falamos por aqui, o festival baiano Dopesmoke chega em 2021 em sua terceira edição, a primeira no formato digital. Radicada em Feira de Santana, na Bahia, a produtora Dopesmoke Heavy Music Produtions vem desde 2017 trabalhando para fomentar o cenário de shows independentes.

Hoje, a produtora é responsável pelo festival e também atua como selo, pouco a pouco se firmando no circuito nacional de metal e colocando seu nome marcado de forma inegável, tendo inserido durante as duas primeiras edições de seu festival bandas como Brujeria, Pesta, The Mist e Ratos de Porão em anos passados.

Nesse ano, o festival terá sua primeira edição online de 28 de abril a 2 de maio devido à pandemia, e a respeito disso converso um pouco com Joílson Santos, músico, promotor cultural e integrante da Dopesmoke. Confira a entrevista na íntegra logo abaixo e clique aqui para acompanhar o evento.

Wikimetal: Obrigado pelo tempo e atenção. Gostaria que você contasse um pouco a respeito de sua trajetória e participação no cenário underground baiano e sobre as frentes em que vêm atuando ao longo de sua trajetória. 

Joílson Santos: Olá, gostaria de agradecer o espaço. Eu atuo aqui em Feira de Santana a mais de 15 anos na produção de shows e eventos ligados a música independente. Produzo o Feira Noise Festival desde 2009 e em 2017 junto com alguns parceiros criamos a Dopesmoke Heavy Music Productions um coletivo voltado pra produção de eventos de música pesada mas também que atua como selo. Em 2019 decidimos realizar a primeira edição do festival em Fevereiro e no mesmo ano realizamos uma segunda edição em Novembro com Brujeria e The Mist como Headlines. 

WM: A Dopesmoke HMP vem se firmando como uma marca forte no Nordeste e principalmente na Bahia, atuando tanto na parte de lançamentos, como selo, quanto na parte de organização de eventos, com o forte Dopesmoke Festival se consolidando edição após edição. Em que momento surgiu o conceito e a idéia da origem do festival? Veio primeiro o segmento do selo ou da produtora de eventos?

JS: A produtora de eventos veio primeiro, a gente já produzia uma série de eventos com bandas que estavam em turnês pelo estado e bandas da região, já produzimos shows de bandas como Nervochaos, Torture Squad, Mystifier, Drearylands, entre outros, e realizávamos também um evento mais focado no Doom Metal chamado Haze of Doom que inclusive na primeira edição foi marcado pela presença da lendária The Cross, banda fundamental do Doom Metal no Brasil e que na época estava retomando as atividades. 

A ideia  do festival veio em seguida, a gente tinha muitas dificuldades com os eventos menores e público pequeno sempre. Há um esvaziamento de público nos shows já a um tempo e a ideia de criar um festival era de potencializar essas ações, ampliar e renovar o público e também aproveitar essa característica de Feira de Santana de ser um entroncamento rodoviário, passagem obrigatória de bandas em turnês e também de fincar o nome da cidade no mapa das tours nacionais e internacionais pensadas para região nordeste. O Conceito do Festival está diretamente ligado ao conceito do selo/produtora, que é de potencializar através dos shows essa cena de música pesada brasileira e também baiana bem como de ser este espaço de conexão das cenas, que aproxima imprensa especializada, bandas, público, selos, enfim, é um caminho longo que temos pra percorrer mais com 3 edições temos dado bons passos nessa direção.

WM: Como promotor cultural e músico, como você vem observando o movimento musical e de eventos em seu Estado, em questão de organização, crescimento e reconhecimento? Acredita que a Dopesmoke vem estando devidamente integrada ao restante do circuito na região e estabelecendo um caminho reconhecido, valorizado?

JS: No formato do Dopesmoke, mais voltado para o metal, temos diversos eventos acontecendo, mas eu citaria dois que acontecem no interior da Bahia,  Ruídos no Sertão de  Poções/BA, fest que já conta com algumas edições realizadas e cresceu muito além de também ser um evento reconhecido pela organização e por oferecer ótima estrutura para as bandas, o outro é o Jequihell Fest em Jequié.  Além desses mais segmentados temos muitos outros com programação mais diversa, voltado pra música autoral e independente, que envolvem diversos estilos mas que também abre espaço para o rock/metal,  todos seguem se consolidando apesar das dificuldades como o que realizo aqui, Feira Noise Festival que acontece a 10 anos, também o Festival Big Bands em Salvador, Suiça Bahiana em Vitória da Conquista, Ressonar em Lençóis. Estes festivais são fundamentais para impulsionar a cena musical em todo o estado e ainda falta um cuidado e preocupação das políticas públicas para que estes eventos ocorram anualmente e sigam existindo e promovendo essa rede de conexões. Porque um festival além de promover shows, ele movimenta a economia de uma cidade, conecta produtores, artistas e público, gera empregos temporários e renda, cria espaços de formação, promove  circulação e garante a fluidez de diversos produtos culturais. 

WM: Me fala um pouco agora sobre a atual edição, que é a primeira edição em versão online devido à situação pandêmica. Temos uma forte escalação totalmente local, com nomes seminais como Headhunter D.C e Mystifier. Quais foram os principais critérios para seleção das bandas e quais suas expectativas para esse formato tão fora da realidade habitual do festival?

JS: A gente no início de 2020 já vinha planejando a edição presencial que seria a 3 edição quando fomos surpreendidos por todo esse caos e inclusive chegamos a cancelar 2 eventos previstos para o primeiro semestre. Quando veio a ideia de fazer online pensamos nessa formato de show mesmo com estrutura para as bandas se apresentarem ao vivo, alguns festivais que ocorreram no formato online tinha essa coisa meio de apresentar um clipe, poucas canções, para diferenciar deles pensamos nessa coisa do show de 40 minutos para cada banda. A ideia dessa edição era de celebrar a música pesada feita na Bahia, daí o título de “Metal com Dendê” convidamos bandas que já tinham uma historia na cena, algum material lançado e que estivessem em atividade. Diversos nomes importantes ficaram de fora por uma série de motivos, quase todos ligados a contexto de pandemia, mas acredito que conseguimos montar uma programação que vai cumprir o papel do festival que é trazer um recorte de como esta a cena baiana atualmente. 

WM: O festival também apresentará algumas atividades fora do campo musical, certo? Fale um pouco sobre essa parte, o que vai rolar além das apresentações de bandas?

JS: Então, como citei la atrás acredito que os festivais podem contribuir de outras formas para cena e uma delas é com espaços de formação. Conseguimos preparar uma oficina de fotografia voltada para shows que trás uma série de dicas e informações para fotógrafos com uma profissional de alto nível que é a Duane Carvalho. Além da oficina teremos dois espaços de debate, um que vai discutir e apontar também soluções para se produzir no interior da Bahia bem como de avaliar todo esse contexto da pandemia e pensar no futuro da cena, o outro espaço vai debater a importância dos fazines para divulgação e sustentação do underground. 

WM: Agradeço sua atenção e deixe sua mensagem final aqui, suas expectativas sobre toda nossa situação e o futuro dos eventos presenciais e festivais. Sucesso para o festival!

JS: Agradeço demais pelo espaço, seguimos trabalhando da forma que é possível e torcendo para que a vacina chegue logo para toda a população, o futuro de toda uma cadeia produtiva que atua no setor cultural depende muito disso. Acredito que não da pra retomar atividades presenciais de um festival sem que seja 100% seguro para equipe, bandas e público e por isso seguimos na torcida para que a vacina chegue!