Os arquitetos do Hard Rock são o The Who, Purple, Zeppelin e Sabbath. E eu estive em duas dessas bandas, então eu tenho muita sorte de ser parte da História do rock.”

Glenn Hughes: Oi, Nando! Como vai?

Wikimetal (Nando Machado): Ótimo, Glenn. É muito bom falar com você, é uma verdadeira honra tê-lo no nosso show. Muito obrigado pelo seu tempo. Deixe-me te desejar um feliz aniversário amanhã.

GH: Ah, obrigado. Muito obrigado.

W (NM): Nós estamos aqui para falar sobre o lançamento de um álbum tributo, um dos melhores da história do rock, provavelmente, o “Machine Head”. Você se lembra onde você estava e o que você sentiu quando você ouviu esse álbum pela primeira vez?

GH: Bom, eu me lembro de uma vez em particular… Isso era quando o Deep Purple me assistia tocando no Trapeze, sabe, isso era quando o Ian Gillan estava meio que, sabe, tendo problemas na banda, e isso foi tudo na época em que eu vi o Deep Purple tocar nos Estados Unidos pela primeira vez. E eu realmente fiquei maravilhado com esse álbum em particular, esse foi o álbum que tornou a banda muito popular, então… Mas eu me lembro muito claramente de onde eu estava e de como era meu som, e era muito legal.

W (NM): E como você escolheu “Maybe I´m a Leo”, e como foi gravar com o Chad Smith?

GH: Sabe, quando esse projeto apareceu, há uns dois anos, eu tive a oportunidade de escolher todas as faixas que eu queria, sabe. E a princípio, o Black Country ia gravar “Highway Star”, mas a minha primeira escolha era “Maybe I’m a Leo”. Parecia meio que “O Glenn Hughes poderia fazer alguma coisa com essa música” se você ouvir mesmo a faixa, do jeito que eu fiz, parece muito com Glenn Hughes. Eu não achei que era apropriado soar exatamente como… Eu queria fazê-la com um pouco mais de groove. E, sabe, você tem o teclado, e o Luis Maldonado toca guitarra, e é claro, o Chad toca bateria, então é uma faixa com groove, e eu gosto muito dela, então…

W (NM): Na sua opinião, que outros álbuns de rock poderiam ou deveriam ter um tributo como eles?

GH: Sabe, é meio difícil fazer com que esses grandes álbuns tenham tributos, porque, sabe, quando você fala sobre Led Zeppelin, ou Deep Purple, ou The Who, Pink Floyd, Rolling Stones, eles são tão grandes… E, como você sabe, olhando para as pessoas envolvidas nisso, sabe, Metallica, Iron Maiden, e eu mesmo, e o Joe Satriani, e o Steve Vai, tem muitas pessoas que gostam do Deep Purple, e eu tenho certeza que muitas pessoas adorariam fazer um álbum legal do Led Zeppelin também. Mas é muito difícil fazer álbuns tributo de bandas que são muito populares, porque se você vai fazer um tributo, você tem que fazer de um jeito que não soe exatamente como o original, sabe. Eu acho que o Metallica tem um som muito legal fazendo “When a Blind Man Cries”, eu acho que é uma faixa muito boa, e eu acho que tem a cara do Metallica, sabe, seria besteira soar como o Deep Purple.

W (NM): Nós temos uma pergunta clássica no nosso programa, Glenn, que nós fazemos a todas as pessoas que nós entrevistamos: imagine que você está ouvindo música, e começa a tocar uma música aleatória, que faz você perder o controle totalmente, que música seria essa, para que nós possamos ouvi-la no nosso programa agora?

GH: Sabe, eu acho que os Beatles… Sempre foram os Beatles pra mim, então, sabe… Os Beatles sempre foram a melhor banda de rock’ N roll para mim, sabe. Então teria que ser uma música dos Beatles. Provavelmente “A Day in the Life”, bdos Beatles.

W (NM): Falando sobre a sua banda nova, Black Country Communion, como é estar em uma banda de tanto sucesso depois de uma carreira tão grande? E como você consegue se manter tão jovem e novo mesmo depois de 40 anos tocando música?

GH: Eu acho que para mim, Nando… Eu acho que é importante… Eu sou muito competitivo, e eu também gosto muito de estudar a voz e a guitarra, e eu acho que você me conhece bem o suficiente para saber que eu tenho uma grande fome de tocar ao vivo e gravar discos. Eu não sou preguiçoso, eu trabalho duro. E eu também acredito em progressão espiritual, e eu também acredito que as coisas acontecem no seu próprio tempo. Muitas pessoas me dizem “Nossa, cara, se você não tivesse feito esses trabalhos, você poderia ter sido uma grande estrela nos anos 80, e blá blá blá”. Mas, sabe, a minha hora é agora, eu acho que a minha hora é agora. E eu acho que nos próximos 10 anos, você vai ver mais Glenn Hughes do que você viu nos últimos 20 anos, então eu estou muito, muito feliz de estar onde eu estou agora.

W (NM): Isso é ótimo de ouvir, Glenn. Nós estamos muito, muito felizes com o Black Country Communion. Como vocês se juntaram, e vocês tem algum plano de vir para o Brasil em breve?

GH: Sim, nós adoraríamos ir para o Brasil, sabe, nós nos juntamos há três anos, bem, há quase três anos, e nós fizemos três álbuns. O novo álbum vai chegar no dia 30 de outubro, deve vir para o Brasil no dia 30 de outubro. Sabe, eu espero que haja uma turnê no ano que vem, e eu também estou fazendo uma coisa nova esse ano que vai ser anunciada nos próximos três meses. Vai ser uma coisa nova que eu vou fazer, e vai ser muito, muito grande. Uma coisa nova que eu estou fazendo, eu não posso falar mais do que isso, mas eu prometo que eu dou uma exclusiva.

W (NM): Ah, isso é ótimo, cara. Isso é ótimo. Bom, eu espero que nós possamos falar com você, ou talvez com um dos outros caras, sobre o lançamento do álbum novo depois.

GH: É, eu adoraria fazer uma entrevista com vocês. Sabe, eu posso fazer talvez em setembro.

W (NM): Mudando de assunto, Glenn, nós ficamos todos muito tristes alguns dias atrás, com o falecimento do grande Jon Lord. O que você acha que o Jon representava para a música e para o mundo de hard rock?

GH: Bom, o Jon foi o originador do Hammond… Do som muito pesado do Hammond, sabe… O Jon foi o criador original. Ele foi o Jimmy Hendrix do órgão Hammond, sabe. Mas o que eu gosto que as pessoas se lembrem sobre o Jon Lord, é que ele era um homem adorável, muito gentil e doce. Ele era como um pai para mim, no Deep Purple, e eu sinto muita falta dele como amigo. Nós todos sentimos sua falta, obviamente, musicalmente, mas para as pessoas que o conheciam pessoalmente, foi realmente trágico. O Jon era realmente um grande homem, sabe.. O Jon Lord era o Jimmy Hendrix do órgão Hammond.

Eu sou muito competitivo, e eu também gosto muito de estudar a voz e a guitarra. Acho que você me conhece bem o suficiente para saber que eu tenho uma grande fome de tocar ao vivo e gravar discos. Eu não sou preguiçoso, eu trabalho duro.”

W (NM): Me corrija se eu estiver enganado, mas você tem muitos amigos brasileiros. Qual é a sua relação com o Brasil, e o que você sabe sobre música brasileira?

GH: Sabe, eu venho para o Brasil com bastante frequência, e eu não conheço muito grupos de rock, claro que eu conheço o Sepultura. Mas eu não conheço muitas bandas. Eu venho muito para o Brasil, e eu tenho muitos amigos aí, e eu sei que há uma cultura de música diferente aí. Mas eu também entendo que a cena de metal e de rock no Brasil é muito, muito grande, e é por isso que é um prazer imenso ir para aí, seja em turnê, seja com o Black Country, seja com uma nova banda que eu esteja tocando. Então a parte mais legal dos fãs brasileiros é que eles realmente amam música, e eles são muito apaixonados pela sua música, e é uma honra para mim tocar aí.

W (NM): Isso é ótimo, Glenn, nós te amamos muito. Eu era uma criança no Brasil, há quase 30 anos, e eu me lembro como se fosse ontem de assistir o Deep Purple´s California Jam no cinema. Eu fiquei fascinado com o modo como você cantava e tocava. O que você se lembra desse festival?

GH: Bom, eu me lembro que estava muito quente, e o festival aconteceu mais cedo, sabe, por isso que nós tivemos que ir para o palco antes do pôr do sol, sabe. Porque originalmente, não era para nós tocarmos até o pôr do sol. Mas foi meio que… O que eu gostava do Deep Purple quando eu estava na banda, a banda era muito boa, era como um lugar, se você tivesse no palco do Deep Purple, havia uma grande chance de que você fosse atingido por alguma coisa. Sabe, havia muita agressão no palco, o que nós não vemos muito hoje em dia, então o que acontecia… Quando você olha para o California Jam, você percebe que nós éramos como cinco guerreiros lá, e era… Era quase como um evento esportivo, sabe, e eu me lembro que era muito agressivo e muito poderoso.

W (NM): Quando eu soube que eu iria te entrevistar, eu comecei a ouvir alguns dos seu álbuns mais antigos, e álbuns recentes também, e eu pensei “Meu Deus”. Eu ainda fico arrepiado quando eu ouço o álbum “Burn”, por exemplo. Em 74, você provavelmente fez um teste, ou alguma coisa assim. Como foi ouvir o álbum todo naquela época, e como você se sentiu? Você sabia que você estava lançando um dos melhores álbuns da história do rock, quando você ouviu tudo?

GH: Sabe, eu estava falando com o Dave Grohl sobre essa mesma coisa, sobre quando eles fizeram o seu primeiro álbum, sabe. Nós falamos sobre… Eu falo com muitos artistas que eu admiro sobre como foi quando eles fizeram o seu primeiro álbum, antes dele ficar famoso, e nós todos meio que sentimos a mesma coisa, nós todos sentimos que quando nós fizemos nosso primeiro álbum que se tornou grande, nós sabíamos que estávamos com algo muito especial nas mãos. Então, é claro, quando eu estava fazendo o “Burn”, com o Blackmore, o Paice, o Coverdale, e o Lord, nós sabíamos que estávamos criando uma grande bomba, então foi bem especial.

W (NM):  Eu sei que isso vai ser difícil para você agora, mas você poderia escolher uma música da sua carreira que você se orgulha muito, para que nós possamos ouvi-la no nosso programa agora?

GH: Bom, honestamente, você tem que ouvir a música “Soul Mover”, porque como música solo, eu acho que é muito forte, e eu também acho que a música que eu fiz com o Iommi, “Dopamine”, do Fused é uma música muito forte. Eu estou falando de rock agora, músicas de metal, eu acho que a “Dopamine” do Iommi é uma música muito, muito grande, e a “Soul Mover” do meu álbum é ótima.

W (NM): Glenn, nosso programa é um programa de hard rock e heavy metal. Então, como você é uma parte tão importante da história do hard rock, quem você acha que inventou o heavy metal?

GH: Bom, sabe, eu acho que os arquitetos teriam que ser o Sabbath, Purple, Zeppelin e The Who. Essas quatro bandas: Sabbath, Purple, Zeppelin e The Who são os arquitetos do hard rock. E é claro, mais trade veio o Priest e o Maiden, Metallica e AC/DC. Mas os arquitetos são o The Who, Purple, Zeppelin e Sabbath. E eu estive em duas dessas bandas, então eu tenho muita sorte de ser parte da história do rock.

Se você tem a habilidade de se tornar um músico, por favor acolha esse dom, porque é o maior dom que Deus poderia te dar.”

W (NM): Falando sobre o início da sua carreira, Glenn, você teve muita influencia do R&B, como todo mundo sabe. Como você acha que essas influências te ajudaram a criar um modo tão único de tocar e cantar?

GH: Bom, sabe, cada artista que você entrevistar no seu programa, cada um vai falar uma coisa diferente. Quer dizer, se você entrevistasse o Rob Halford, ou se voce entrevistasse o Robert Plant ou, sabe, o Ronnie James… Cada um teria uma resposta diferente sobre quem eles cresceram ouvindo… Eu sei que o meu amigo Robert Plant foi muito influenciado pelos blues de Mississipi, e eu e o David Coverdale fomos influenciados pela música de Detroit. Sabe, nós viemos dos anos 60, então quando você entrevista as pessoas, eu não sei, como o James Hetfield, ou o Bruce Dickinson, eles provavelmente tem outro tipo de resposta. Mas para mim, era o que vinha dos Estados Unidos, era negro, era ou blues ou soul, era sobre a vida, sabe. Essa época foi muito difícil para os americanos, e muitas das minhas influências vocais vem da reza e, sabe, vem de dentro. Então a minha voz é… Eu sou um homem branco, que foi abençoado com essa habilidade de controlar os meus sentimentos dentro de uma sensibilidade negra.

W (NM): É, eu adoro isso. Eu também gosto muito de Motown, e sabe, Sam Cooke, e todos esses grandes cantores… Marvin Gaye, e eu acho que é ótimo ouvir rock cantado com esse tipo de sentimento, como você faz. Eu espero que o Ritchie Blackmore não me escute falando isso, um dos melhores guitarristas do mundo, você tocou por um curto período de tempo com o grande Tommy Bolin. O que você acha que o mundo perdeu após essa morte tão prematura?

GH: O Tommy também era… Ele amava música brasileira, e ele também adorava reggae, e ele amava jazz, e ela gostava muito de música do mundo todo. O Blackmore, como você sabe, influenciou muitos guitarristas. O Blackmore curtia uma música mais medieval. Se o Tommy Bolin ainda estivesse vivo hoje, eu não acho que ele estaria tocando rock, ele estaria tocando algo completamente diferente. Tommy Bolin, Ritchie Blackmore, duas pessoas completamente diferentes.

W (NM): E ele era um músico que não tinha barreiras, ele tocava todo tipo de música. Você concorda comigo?

GH: Eu concordo 100%, ele não tinha… Como eu disse, sabe, ele gostava de música brasileira, e, sabe, folk e jazz e reggae e também rock. Eu realmente admiro pessoas que conseguem se expressar em vários gêneros musicais.

W (NM): Glenn, nós estamos quase acabando aqui. Em primeiro lugar, deixe-me te agradecer muito, porque, sabe, nós já entrevistamos muitas, muitas lendas do rock, e eu sempre fico um pouco emocionado quando eu falo com os meus heróis do rock N’ roll, e você certamente é um deles.

GH: Eu amo vocês aí, e eu espero vê-los novamente em algum momento do ano que vem.

W (NM): Sim, muito obrigado, Glenn, e só para encerrar, nós normalmente pedimos aos nossos convidados para deixar uma última mensagem para um garoto que está começando uma carreira musical. O que você diria para ele?

GH: É isso que eu diria para os jovens brasileiros: se você tem a oportunidade de começar a aprender a tocar um instrumento, seja cantar, ou tocar bateria, ou guitarra, baixo, teclado, ou, sabe, saxofone… Se você tem a habilidade de aprender a tocar um instrumento, e você se sente conectado a esse instrumento, e sua alma te diz “Essa é a coisa certa a fazer”, eu quero que você tenha esse sonho, e sonhe e nunca perca o sonho de se tornar um artista. Porque quando você se torna um artista musical, você é livre, é quase como uma liberdade… É como os grandes jogadores de futebol, é uma forma de arte, uma liberdade maravilhosa. Então o meu presente para os jovens brasileiros ouvindo hoje, é que se você tem a habilidade de se tornar um músico, por favor acolha esse dom, porque é o maior dom que Deus poderia te dar.

W (NM): Excelente, Sr. Glenn Hughes no Wikimetal. Novamente, foi uma honra falar com você, e eu espero poder vê-lo quando você vier para o Brasil na próxima vez, e conte conosco para promover tudo o que você fizer com a sua banda, ou com uma nova banda, ou com o Black Country Communion, nós sempre estaremos aí.

GH: Bem, muito obrigado, eu estou ansioso para ver vocês.

W (NM): Muito obrigado, Sr. Glenn Hughes no Wikimetal.

GH: Obrigado, Wikimetal, nós te amamos! Rock N’ Roll!

 
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