Quando você pega uma música como Master Of Puppets, e isola a harmonia e a melodia, você vê quão grandes são esses compositores e porque fizeram tanto sucesso.”

Wikimetal (Daniel Dystyler): Oi moçada. Estamos começando mais um episódio do Wikimetal. Tô aqui eu, Daniel Dystyler e Rafael Masini aqui do meu lado. Oi Rafinha, beleza?

Wikimetal (Rafael Masini): Tudo bem?

W (DD): Mais uma semana com mais um programa, dessa vez muito interessante porque estamos com convidados ilustres aqui, um pessoal que faz um trabalho muito, muito bacana! É um trabalho um pouco diferente, os sons que a gente vai ouvir um pouco hoje alguns vão beirar Heavy Metal, outros são bem diferentes, mas eu acho que é um trabalho que tem que ser divulgado porque é muito diferente do que a gente já viu e vamos contar um pouco disso ao longo do programa, né Rafael?

W (RM): É. A gente escutou o som juntos, e dois excelentes músicos que na verdade trouxeram alguma influência da viola para o Heavy Metal, do Heavy Metal para viola. Na verdade eles vão contar isso para gente.

W (DD): A gente tá aqui com Ricardo Vignini e Zé Helder, que montaram um projeto que chama “Moda de Rock, Viola Extrema”. Bem vindos, muito obrigado por tarem participando aqui do Wikimetal, é uma honra pra gente estarmos com vocês aqui.

Viola Extrema (Zé Helder): Obrigado a gente.

Viola Extrema (Ricardo Vignini): Obrigado pelo espaço, eu acho interessante essa coisa do Heavy Metal porque eu tenho falado que eu acho que o público do Heavy Metal é muito parecido com o próprio público de moda de viola de raiz, que é um público fiel, consumidor da sua arte, seguidor daquilo. Tem lá seus radicalismos também nas duas áreas, e não tão na grande mídia. A primeira música que eu tive acesso na minha vida, quem tá falando é Ricardo Vignini foi o Heavy Metal. Eu lembro que quando escutei Master Of Puppets pela primeira vez eu falei é isso que eu quero fazer da minha vida, só não sabia que iria virar violeiro tocando isso.

W (DD): Conseguiu né?

VE (RV): Consegui, consegui. E eu acompanhei toda essa cena, meu irmão já trabalhava assim com uma das bandas precursoras do Heavy Metal aqui no Brasil que foi o Vírus, meu irmão trabalhou de roadie naquela época.

W (DD): Puta que legal, tava no SP Metal né?

VE (RV): Pois é, eu de garoto ia ver esse pessoal ensaiar. Eu lembro de ver show do Sepultura no Aeroviários, no sindicato dos aeroviários.

W (DD): Em frente a Congonhas né? O aeroporto. O Viper tocou lá.

VE (RV): Eu vi toda essa cena do Heavy Metal acontecer na época, e eu lembro que para você encher um show bastava um cartaz de Xerox na Galeria do Rock, que a galera tava lá.

W (DD): Lambe-lambe em poste.

VE (RV): Eu acho interessante. O Andreas Kisser ele falou uma coisa desse disco da gente que eu achei legal que ele falou que quando a gente gravou Kaiowas do Sepultura, e ele falou que quando eles gravaram Kaiowas foi uma música que foi influenciada pela viola e que hoje o Metal influência a viola. Eu acredito que sim. Tem algumas coisas que eu acho da viola caipira que são mais similares à guitarra do que o próprio violão. Um instrumento muito rítmico, e é um instrumento que cresce no Brasil e que da pra se tocar de tudo.

W (DD): Inclusive pegando um gancho do que você tá falando, até para o nosso público entender um pouquinho mais, os nossos dois ilustres entrevistados eles gravaram um CD que chama “Moda de Rock, Viola Extrema” e que tem um monte de sucesso, os tradicionais hinos do Heavy Metal gravados numa versão, num arranjo completamente diferente feito para viola. E disso que você está falando, que a viola tem coisas parecidas com a guitarra eu tava ouvindo, eu acho que foi em Aces High que tem o solo inclusive que vocês fazem e dá para ver os bends que são usados na guitarra e o que vocês fazem na viola para tirar uma sonoridade, não igual, mas que lembre o que, sei lá… o que o Adrian Smith está fazendo aquela hora no Iron.

VE (ZH): O barato é que ao mesmo tempo em que é uma coisa parecida, a gente tá usando ritmos tradicionais de música de viola, e técnica de viola. Então a viola tem uma coisa rítmica muito rica que é o pagode de viola, o batuque, o cururu, cateretê. Tem um monte de levada de mão direita que a hora que gente colocava aquilo numa música de Heavy Metal casava, ficava divertido e acabava completando a rítmica de duas violas e servia pra expressar aquela música tão bem quanto a guitarra e o peso todo. A melodia ficava mais valorizada às vezes.

W (RM): E deixa eu te falar uma coisa já que você falou que tem o jeito mesmo de tocar, o ritmo próprio da viola. Posso falar uma bobagem tá, e daí vocês me ajudam. Um dia um amigo meu falou assim “Meu, você devia tocar viola porque é um instrumento que só de você bater já está afinado”, aí eu falei “Ai que beleza, me empresta a viola”, falei “deixa eu pesquisar na internet para ver se eu toco alguma coisa porque eu acho o timbre muito bonito”. Ai começou aquela coisa de “Que afinação você quer? Rio abaixo, rio acima?” Aí eu já desisti. Eu falei “Pera ai, eu não sei nem por onde começar”. E logo que eu vi ontem, alias o Dany falou da música do Iron e eu fiquei na Master “eu quero ver a parte do meio, quero ver a parte do meio”, que ficou muito, muito legal e eu fiquei pensando: vocês usaram alguma afinação tradicional ou vocês tiveram que criar uma afinação para tocar essas músicas?

VE (ZH): Deve ser uma afinação tradicional, a gente usa uma afinação cebolão que é a afinação mais comum aqui do centro-oeste. A afinação tá muito ligada a regiões do Brasil, e é um barato que eu sou professor de viola também.

W (DD): Aliás os dois tem um pedigree de música fantásticos né?

VE (ZH): Nós dois ensinamos viola. E o legal é que quando você vai ensinar, eu sempre falo pro iniciante na viola, falo “cara, o único instrumento que tem nome de afinação, nome de levada, sabe?” Esse tipo de coisa é um universo próprio, um instrumento fascinante, muito ligado à cultura brasileira.

VE (RV): Tem uma coisa que é bem interessante que quando você pega uma música, por exemplo, Master Of Puppets, e você isola a harmonia e a melodia, você vê o quanto grande são esses compositores e porque fizeram tanto sucesso. Então assim, você agrega toda essa molecada toda do rock e do Heavy Metal, mas tem uma coisa também que é interessante que o público que gosta de viola quando ele escuta isso, para ele soa como belas músicas instrumentais de viola, ele não pensa nem que aquilo foi rock um dia, sabe? Então você quebra todo esse lance mostrando que como é interessante a estrutura harmônica e melódica desses caras né?

W (DD): Muito legal. No nosso programa, além do bate-papo, a gente vai ouvir algumas músicas e eu queria fazer primeiro a pergunta para o Ricardo e depois eu vou perguntar para o Zé Helder. Imagina que você tem um MP3 player com shuffle com umas cem músicas daquelas épocas de Heavy Metal tal. Qual música que quando cai, de repente você estava assim e sem querer ligou no radio, ou por algum motivo você ouviu e que você fala assim “não consigo evitar de balançar a cabeça nessa música, essa música tem muita energia e eu queria ouvir ela agora, é uma música que realmente”…

W (RM): Que você pode olhar e pensar assim “é a próxima que eu vou tirar na viola”?

VE (RV): Putz… É “A música”. A música é muito complicada né?

W (DD): Eu sei que tem umas cem que você queria falar. Fala a primeira que vier na cabeça.

VE (RV): Talvez a própria Kashmir, uma música que marcou muito a minha vida, e o Jimmy Page marcou muito assim porque o Jimmy Page foi ali que eu descobri o que era afinação aberta. Antes eu tive acesso a essa música, antes de ter acesso a música de viola né? Então talvez Kashmir do Led eu posso falar como outras músicas do Led, ou posso falar também do próprio Metallica. Eu assisti o Metallica aqui pela primeira vez que veio no Brasil.

W (RM): No Parque do Ibirapuera. No Parque não, no Ginásio do Ibirapuera.

VE (RV): É no ginásio, no ginásio.

W (DD): Na turnê do ‘… And Justice For All’.

VE (RV): Então dali eu posso falar alguma coisa, mas é muito grande.

W (DD): Vamos ouvir Kashmir que é uma excelente pedida. Beleza? Kashmir!

Andreas Kisser nos falou que Kaiowas foi uma música influenciada pela viola e que hoje o Metal influência a viola”

W (DD): Então isso aqui foi Kashmir, a original do Led e quem quiser conferir a versão feita pelo Matuto Moderno pode acompanhar as músicas no site que tem disponível para ouvir todas as músicas e a gente como todas as bandas que a gente tem divulgado aqui no Wikimetal, a gente recomenda fortemente que o pessoal compre o CD, prestigie as bandas, compre camisetas, vá no show, prestigie porque é o jeito da gente garantir que essas pessoas que a gente tá realmente admirando o trabalho, que elas perpetuem e continuem na ativa. O disco de vocês, a gente está aqui com Ricardo Vignini e Zé Helder do Matuto Moderno, eles lançaram o disco “Moda de Rock, Viola Extrema” e é muito bacana porque eles fizeram uma seleção que se eu fosse fazer um playlist meu, eu acho que iam sair essas músicas. Master do Metallica, Aces High do Iron, Mr. Crowley do Ozzy, Kashmir do Led, Hangar 18 do Megadeth que é uma puta música! Sepultura que você já falou (Kaiowas), Nirvana, e aí tem coisas mais rock n’roll tipo Beatles, que eu acho que é Norwegian Wood que vocês pegaram, Pink Floyd, Jimi Hendrix. Então é um prato cheio mesmo, só que num estilo completamente diferente, com arranjo muito bacana feito para viola, muito legal. Queria que vocês falassem um pouco do seguinte, você falou um pouquinho Ricardo no começo e a gente tava batendo um papo fora do ar e que você pudesse complementar, a gente entende que o que vocês estão fazendo é uma espécie de quebra de paradigma, que vocês realmente estão atravessando uma fronteira de um estilo, cruzando com outro e a gente acha que os estilos têm coisas semelhantes e é muito bacana esse trabalho que vocês estão fazendo. Eu queria perguntar para vocês se essa quebra de paradigma que por trás disso tá derrocado dos preconceitos, para mostrar que a cultura caipira não é uma cultura menor ou mais pobre ou mais burra do que qualquer outra, e que o Heavy Metal também não é, se apesar disso, vocês sofrem algum tipo de preconceito do tipo assim “Pô… mas vocês tão colocando Heavy Metal nisso” ou do ponto de vista de um metaleiro falando assim “você tá ouvindo viola caipira agora?”. Como é que vocês vêem essa questão do preconceito nessa coisa que vocês estão fazendo que é uma espécie de andar no fio da navalha, quebrando paradigmas?

VE (ZH): Ah cara… Isso é uma das coisas, eu acho que é uma das coisas mais interessantes. Se tem uma coisa que eu acho que tem um grande valor esse disco, esse trabalho que a gente fez, é essa quebra de paradigma. Eu acho que a gente tá na verdade, encurtando um caminho que a gente já viveu né cara? A gente já passou pelo Metal, descobrimos a viola e tal, e se você for ver a origem do rock tá no blues que é uma música rural americana, e todo mundo paga um pau para a música rural americana e não conhece a música rural brasileira, que é… os caras são os mesmos, o estilo de vida é o mesmo, a música é a mesma.

VE (RV): Afinação.

VE (ZH): A afinação é a mesma do blues pra música caipira. Eu acho que o Ricardo podia até falar disso porque ele teve uma experiência interessante com alguns blues men americanos, Bob Brozman e o …

VE (RV): E o Woody Mann, são pessoas que tem o blues, porque assim… O Blues, quando você começa escutando Metallica, que foi o meu caso, você fala “o que o cara do Metallica escuta?”, “ah, o cara do Metallica escuta Sabbath”. “O que o cara do Sabbath escuta?” Você vai cair na música rural. E por que assim com o nosso rock não pode ter essa influência da nossa música rural né? Eu acho também que o que levou pra esse universo da música caipira é por eu estar de saco cheio da indústria do rock, que se tornou careta demais, virou uma coisa que era muito careta, muito arrumadinho, muito certinho. Eu lembro que para tirar um som de guitarra que nem você tinha do Metallica naquela época, nossa… não tinha pedal no Brasil, não tinha nada. Você tinha que misturar um som do pedal com outro… aquela coisa. Hoje em dia virou preset de videogame né? E eu acho legal essa história do videogame também porque muita molecada tá descobrindo um som legal pelo videogame. Mas já não tem mais uma contravenção, essa coisa da rebeldia… Eu acho que se perdeu um pouco. Então eu fiquei meio brochado na época com o rock por causa disso, e foi da onde que eu me apaixonei por esse sistema da viola. Tem alguns violeiros que a gente conviveu como Índio Cachoeira, a Helena Meireles, que são uns caras que são rock n’roll para cacete.

W (DD): São Metal, né?

VE (ZH): Soliveira.

VE (RV): Soliveira, Ducati. Você vê um pontilhado Ducati. As letras cara, as próprias letras do Tião Carreiro, que eram do Dorival dos Santos são umas letras de Heavy Metal. São bem interessantes.

W (DD): Muito legal. Eu vi o disco de vocês e ele foi masterizado no Abbey Road né? Vocês tiveram algum contato com isso? Como é que foi essa experiência?

VE (RV): Olha…Você poderia fazer esse trabalho hoje em dia no Brasil porque tem muita gente boa que faz isso, mas a gente queria pegar um espiritozinho. Vê se passava alguma coisa pra gente, e por ser o fato de ser um disco de viola caipira tocando rock n’roll… tinha a ver. E daí “poxa, vamos fazer lá” e a gente ficou muito feliz com o resultado e essa coisa hoje virtual da internet ajuda a gente fazer isso aí de um jeito que não seja tão caro. Então foi bem bacana.

W (DD): Bacana. Nos seus shuffles Helder, que música que cai que você fala assim “puta…voltei aos seus tempos de metaleiro, precisava bater a cabeça aqui”?

VE (ZH): Cara, eu acho que vou até responder sua pergunta de outra maneira, porque quando você me falou eu já penso em um monte de música do Led Zeppelin também né? Que é uma coisa que eu ouvi bastante, só que o Led é uma música muito adaptável, sabe? Aqueles mandolin, e aqueles violões de doze cordas, aquele monte de coisa e que aquilo da pra fazer com tudo que você pensar, né cara? Mas eu acho que o que foi mais desafiador fazer nesse disco foi Hangar 18, o Metallica, que tem uma quebrada rítmica interessante no começo lá que a melodia é tocada em cima de um groove rítmico totalmente quebrado que eu tive que adaptar um pagode de viola ali em cima quebrado, que não é o pagode do jeito certo. Acho que essas foram as mais interessantes de fazer, as mais desafiadoras, as mais complicadas.

W (DD): E qual que você quer ouvir agora? Vamos ouvir qual das duas, Hangar 18 ou…?

VE (ZH): Acho que Hangar 18.

W (DD): Esse foi Hangar 18, muito bacana. E você comentou da quebrada no começo de Master, e eu tenho uma banda que a gente só brinca, uns amigos que a gente se junta para tocar e a gente faz um showzinho uma vez por ano, e esse ano a gente decidiu fazer uma espécie de Metallica Tributo. Então a gente só tocou Metallica. E Master era a mais desafiadora pra gente, então a gente falou “vamos tirar Master no próximo ensaio?”, “Vamos”. Então todo mundo tirou a música, chegou no próximo ensaio e falou assim “Vamos tentar e vamos ver até onde vai né” Beleza… Um, dois, três, quatro… Tã!

VE (ZH): Só a primeira parte.

W (RM): Isso aconteceu no videozinho do YouTube de vocês também tem isso, não tem? Vocês vão começar com Master e se enrolam, não é isso?

VE (RV): É. A primeira versão dela. A primeira versão que foi gravada tá meio assim bagunçada porque aqueles vídeos… Esse trabalho a gente começou fazer meio de brincadeira. Tinha dois objetivos claros. Primeiro era canonizar os alunos da gente e o segundo era por diversão própria. Então no começo a gente nem levava muito a sério esses arranjos. “Ah… vamos fazer aí”. E na hora de gravar que se tornou mais sério, a brincadeira ficou séria. Então no começo a gente não tinha tanta preocupação com a execução total, era mais por diversão.

W (DD): Legal. E vocês enxergam alguma continuidade misturando com Heavy Metal aí pra frente? Que vocês vêem pro futuro?

VE (RV): Como tá dando uma repercussão muito grande isso dai, eu acho que daqui a algum tempo é capaz de sair um volume dois dessa história. E porque dá para fazer um disco inteiro só de Metallica, dá para fazer um disco inteiro só de Iron Maiden, dá para fazer um disco inteiro só de Led Zeppelin, dá pra fazer um disco inteiro só de Beatles.

W (DD): Que é um pouco da linha do Apocalyptica, que fez uma coisa assim também, fizeram um disco misturado e depois fizeram tributos. Uma ideia completamente diferente da de vocês, mas também transgredindo entre o clássico e o Metal.

VE (ZH): Tem uma coisa. O cara que deu o nome do disco pra gente inclusive, que foi um jornalista que faleceu recentemente, o Toninho Spessoto que é um cara que a gente tem uma gratidão inclusive né. Ele falou, ele que era um cara super envolvido com música e tal, e ele chegou a falar pra gente: “Esse trabalho vai alavancar as outras coisas que vocês fazem”. E chama atenção para o resto, porque o trabalho com o Matuto Moderno na verdade sempre foi isso aí que nós fizemos só que era um trabalho autoral.

W (DD): E com certeza isso é uma coisa que vai puxar. O pessoal já está indo no site de vocês, vai ouvir no Wikimetal e vai lá para conhecer e vai ver os outros CDs e tudo mais. Muito bacana.
Qual vocês acham que foi a música mais desafiadora do disco, a mais difícil tanto do ponto de vista de fazer o arranjo como depois de tocar mesmo?

VE (RV): No meu caso, eu acho que foi Mr. Crowley.

W (DD): Mr. Crowley?

VE (RV): É. Porque aquele solo do Randy Rhoads ele já é foda para guitarrista.

W (RM): Eu já achei difícil a introdução. Quando eu falei “puta, os caras puseram introdução?”.

VE (RV): A introdução ela é mais violeira, né? Mas aquele solo… Porque foi assim, quando a gente começou a fazer esse disco, a gente foi atrás primeiro das autorizações pra gente não ter aquela frustração de fazer mil horas de estudo e depois não poder gravar. E quando chegou todas as autorizações, a gente falou “meu deus, onde é que eu fui amarrar meu burro, né?”

O que foi feito pelo Heavy Metal influencia qualquer música hoje da Terra”

W (DD): Bem que podia barrar Mr. Crowley, né?

VE (RV): Podia barrar e pegar uma mais facinha, né? Mas ai rolou, e exigiu algumas semanas de muita dedicação para tirar aquele solo direitinho. E Hangar 18 também foi difícil.

VE (ZH): Acho que outra música que foi difícil, porque Mr. Crowley foi difícil pro Ricardo por causa do solo, porque a minha parte é mais tranquila nessa música, mas Aqualung também é uma música genial, e a gente vai tocar, a gente percebe o tanto que é genial o negócio. O negócio é todo atonal.

VE (RV): A harmonia é muito sofisticada.

VE (ZH): É um negócio muito sofisticado.

W (DD): Jethro Tull tem um monte dessas né?

VE (RV): Uma coisa que também a gente questionou quando a gente tava gravando Aqualung, a gente falou “Poxa, Aqualung foi um grande sucesso. Se tornou um sucesso mundial pra música, e quantos minutos tem a versão original? Sete minutos?” Sei lá, poxa antigamente o cara fazia uma música de sete minutos altamente sofisticada e tocou em tudo quanto é radio…

W (DD): E virava hit né?

VE (RV): E virou hit.

W (RM): E toca até hoje né?

VE (RV): É. Mas na época virou pop aquilo. Tocou no mundo todo, uma música altamente sofisticada que só conseguiu um espaço pela qualidade musical, então eu acho que era uma época que ainda apesar de existir o jabá, e tá enraizado tudo, a coisa se mantinha pela qualidade musical. Isso é uma coisa interessante.

W (RM): E já que os dois tem esse passado Heavy Metal…

VE (ZH): Ou presente, né?

W (RM): Ou presente… Como foi chegar nesse repertório?

W (DD): Da onde veio a escolha das músicas?

W (RM): Porque eu tenho a impressão que pra criar um setlist dá vontade de até sair na mão de tanta música boa que tem.

W (RM): É difícil mesmo, mas prevaleceu as que a gente conseguia deixar elas mais violeiras, eu acho. Mas assim como eu te falei, dá para deixar isso aí Metallica… É impressionante como Metallica funciona nessa história. Dá para tocar várias do Metallica. E o que foi feito pelo Heavy Metal influencia qualquer música hoje da Terra, eu acho. A pegada que foi feita, aquelas guitarras pesadas, hoje em dia você vê até na publicidade, você vê até em um cantor tal… e aparece aquele negócio sabe? E foi legal pra gente. Eu acho até que o tanto que eu toquei esse estilo me ajudou no resto das coisas que eu desenvolvi na minha vida. Iron também. Poxa, a versão do Iron…depois eu escutei outras coisas do Iron e falei “Pô… pode ter essa, pode ter essa..”. Eu acho que vai dar mais trabalho para fazer um próximo.

W (RM): Vai dar. Vai dar.

W (DD): Fora que a barra ficou lá em cima agora.

VE (ZH): Isso que você perguntou, até me lembrou de outra coisa. Teve a música do Jimi Hendrix, que a gente fez May This Be Love… Essa música a gente quando estava escolhendo Jimi Hendrix tinha dezenas de coisas legais, mas você vai ouvir o Jimi cantar, cara? Tem hora que ele quase fala. Aquela melodia é meio… Sabe? Não tem aquela nota muito bem definida. É aquele negocio totalmente blue note, todo de música negra mesmo. Aquilo era muito difícil de você fazer soar igual a Jimi Hendrix, sabe? Convencer. Então essa música a gente chegou nela e falou “Olha, essa tem uma melodia legalzinha e tal…”.

VE (RV): E Jimi Hendrix também tem uma coisa interessante que assim… Poxa, eu sou canhoto e eu toco Hendrix, sei lá… Vinte anos que eu vejo tocar Hendrix, e sempre toquei brincando e na hora de chegar e vou gravar um Hendrix, puta… aí é responsa, né?

W (DD): Uma coisa é brincar né?

VE (RV): Uma coisa é brincar… Tomara que esteja ele onde estiver, que ele não vá puxar meu pé.

W (DD): Eu acho que em um dos vídeos que esta no YouTube, você fala assim “O cara toca tudo errado”, “toca errado né?”, que o cara toca com a mão errada…

VE (ZH): Com a mão errada.

W (RM): E tem a coisa que vocês ainda tocam a melodia da voz, né? Então tem tudo isso.

VE (RV): É, tem umas coisas assim, por exemplo, na Aces High geralmente aqueles duetos de guitarra, são duas guitarras fazendo a quinta. No nosso caso, sobra para um fazer os dois duetos, fazer as duas, e outro vai ter que fazer a base, a voz, a bateria, o baixo e o caramba. Rola esse trabalho todo.

W (DD): Muito bacana. Muito obrigado pela presença de vocês aqui no Wikimetal, foi realmente uma honra ter vocês, muito legal.

VE (ZH): Uma honra para nós também.

VE (RV): Obrigado vocês. Espero que vocês colham muitos frutos disso ai, e consigam registrar bastante coisa, e divulgar para molecada… Molecada e não molecadas que o Heavy Metal é uma coisa interessante, é uma música tão séria como outra qualquer.

W (DD): Legal. Muito obrigado e quem tiver ouvindo o programa pode entrar em contato através do nosso site www.wikimetal.com.br, através do nosso Twitter @wikimetal, facebook, enfim… vocês sabem todos os caminhos. Muito bacana e para terminar Master, né?

VE (ZH): Opa pode ser. Grande.

W (DD): Ricardo e Zé Helder brigadão. Master Of Puppets

VE (RV): Valeu.

W (RM): Obrigado.

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