A cidade de Orlando, estado da Flórida, nos Estados Unidos, é conhecida principalmente pelos parques temáticos que atraem turistas do mundo inteiro, como a Disneyworld, e também pela impressionante quantidade de brasileiros por metro quadrado. Já a cena punk da cidade, normalmente não faz parte dos maiores destaques locais. Ainda assim, esse seria o cenário da próxima peregrinação musical na qual, junto com meu irmão e fotógrafo particular Rafael Beck, eu partiria para interceptar um show da inusitada turnê da trinca composta por The Black Tones, Surfbort e Me First and the Gimme Gimmes.

Orlando não é uma cidade muito amiga dos pedestres e o transporte público também não é abundante e nem prático, então atravessamos a cidade de Uber mesmo pra ir até o local onde acontecia o evento. Chegamos ao Ace Café (e mais precisamente ao pátio do Ace Café) e o show da The Black Tones já estava rolando.

No palco os gêmeos Eva e Cedric Walker, ela responsável por guitarra e voz, e ele, pela bateria, acompanhados por sua simpática mãe nos backing vocals e pelo baixista Ezekiel Lords. Eu não sabia muito a respeito dos gêmeos de Seattle com raízes na Louisiana, mas minha impressão foi bem positiva. A música que eles fazem é rock and roll “pero sin perder la ternura”. Tem protesto e tem sentimento e humor também. Eva canta muito e sabe fazer a voz vibrar de um jeito bem distinto e o irmão Cedric tem zero piedade da bateria.

O fato da mãe estar em turnê e no palco com eles diz muito a respeito da banda e sobre o clima família que tentam trazer pro show, apesar da música ser qualquer coisa, menos meiga. Ainda não tinha muita gente no local pra conferir o primeiro show mas nessa posição de banda inicial do trio dessa turnê, suspeito que não seja a primeira vez que The Black Tones passe por isso. Ao menos abalados com o público pequeno, não pareciam.

Na sequência veio a Surfbort, que era a razão pela qual caçamos essa pauta em Orlando pra começo de conversa. Tínhamos visto eles em um show histórico no Festival South by Southwest em março, que me rendeu uma experiência incrível fotografando do meio do povo mais furioso, bem na frente do palco. Caçadores de grandes imagens que somos, esperávamos repetir a dose em Orlando nesse que seria o primeiro show da história da banda no estado da Flórida.

Alguns minutos antes do início do show, não sei se vítima de algum mal súbito ou de emoção pura, uma mulher desmaiou bem em frente à grade que separa o público do palco e o resgate à desfalecida rendeu o melhor comentário de Dani Miller, a carismática vocalista da banda. Quando o caminhão dos bombeiros estacionou, ela disparou: “Nossa música é tão ruim que tiveram que chamar os bombeiros!”

Nada mais longe da verdade, claro. É que o exagero e a auto-depreciação são constantes das apresentações bem humoradas da banda, como confirma o slogan estampado no bumbo da bateria, “Surfbort ruined my life” (“Surfbort arruinou minha vida”, em tradução livre). O público durante esse segundo show já era maior mas ainda não era dos mais numerosos. Houve um cidadão que tentou começar um mosh pit sozinho mas não foi exatamente bem sucedido. Mesmo assim Dani Miller, sempre muito investida em fazer algo memorável para quantos quer que estejam assistindo ao show, desceu do palco, pulou a grade de proteção e convocou os presentes a mostrarem sua habilidade na dança. Sem querer estragar a surpresa mas já estragando: não eram muito impressionantes as habilidades do povo na dança não.

Da minha parte, eu preferia que esse meu segundo show da Surfbort tivesse sido em um inferninho escuro, com teto baixo e que a casa estivesse cheia, mas a gente aceita o que tem disponível. Mesmo no pátio aberto, sem muita personalidade, do Ace Cafe, eles ainda tocaram rápido, alto e sem desanimar. Mais ao final do evento todo ainda tivemos o prazer de trocar uma ideia com o baterista Sean Powell e o guitarrista Alex Kilgore, ambos grandes fãs do Brasil.

Sean nos falou do episódio curioso quando queridos amigos brasileiros o convenceram a tatuar na bunda uma certa frase em português (que não cabe compartilhar aqui) e Alex, por sua vez, nos falou da vontade de voltar ao Brasil e de alguns amigos famosos com quem circulou nos anos 90 como Caetano Veloso e Carlinhos Brown. Fica a dica aí pra galera que promove toda essa miríade de novos festivais que surgiram nos últimos tempos no Brasil. Além de ser um baita show, pelo menos dois membros da Surfbort, (da qual ainda tinha faltado mencionar o baixista Nick Arnold e o guitarrista Matt Picola) gostam muito do nosso país.

Curiosamente, a atração principal da noite era uma banda de covers. Mas não qualquer banda de covers. A Me First and The Gimme Gimmes se autointitula “a maior banda de covers do mundo”, e de uma certa forma isso pode muito bem ser verdade. Talvez por conta do repertório, que é composto por inspiradas versões punk para sucessos de nomes tão diversos quanto John Denver, Elton John, Barry Manilow, Paula Abdul e Gloria Gaynor.

Ou então pode ser o fato de que a banda é formada por integrantes e ex-integrantes de grandes bandas punk formadas há algumas décadas, o que dá aos Gimme Gimmes com frequência o rótulo de “supergrupo”. Originalmente formada nos anos 90 por integrantes da NOFX, Lagwagon, No Use for a Name e Swingin’ Utters, a formação da banda varia bastante e quem vimos no palco em Orlando foi Spike Slawson nos vocais, Andrew Pinch na bateria, C.J. Ramone no baixo, Swami John Reis em uma das guitarras e Jake Kiley na outra.

O show destes reis do cover é bem divertido, muito por conta de Spike Slawson que domina o palco como frontman e como mestre de cerimônias, encarnando uma versão exagerada de um crooner meio estrelão, que esquece o nome da cidade onde está se apresentando e exige aplausos entusiasmados do público, ainda que volta e meia fazendo piada com o fato de que o que estão tocando ali são sucessos de outros artistas.

Dá pra sentir que eles estão se divertindo no palco, sem a pressão dos shows de suas bandas de material original e livres pra brincarem de “banda de baile”, dos coloridos figurinos combinando aos discursos de Slawson entre as músicas ou à uma ou outra brincadeira ensaiada. Recomendo o show para o casamento ou formatura de qualquer um que tenha cacife para arcar com a contratação desse time de peso.

Ao final da noite, a coisa toda já estava com muito mais cara de um show de punk rock dos mais divertidos, mas aí a Corona latão custando a bagatela de 16 dólares me trouxe rapidamente para a realidade um tanto inóspita do Ace Café e pouco tempo depois de soaram os últimos acordes da maior banda de covers do mundo já estávamos dentro do Uber que nos carregaria uma vez mais através da cidade Orlando, aquela que não gosta de pedestres.

Confira as fotos de Rafael Beck logo abaixo (arraste para os lados para ver as outras fotos ou clique aqui caso não esteja vendo a nossa galeria).

Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
The Black Tones em Orlando. Crédito: Rafael Beck
The Black Tones em Orlando. Crédito: Rafael Beck
The Black Tones em Orlando. Crédito: Rafael Beck
The Black Tones em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
The Black Tones em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
The Black Tones em Orlando. Crédito: Rafael Beck
The Black Tones em Orlando. Crédito: Rafael Beck
The Black Tones em Orlando. Crédito: Rafael Beck
The Black Tones em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Surfbort em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
Me First And The Gimme Gimmes em Orlando. Crédito: Rafael Beck
The Black Tones em Orlando. Crédito: Rafael Beck
previous arrow
next arrow