Confira uma resenha do show do Metallica no Webster Hall em NY no dia 27 de Setembro, exclusivo para membros do fã-clube:

Lars não tem mais cabelo, James cortou o dele faz tempo e Kirk agora tem cabelo branco. Ainda assim, a banda aguenta a porrada do começo ao fim.”

Por Caio Maia

Talvez você que me lê não tenha a exata noção de que 1983 foi há 33 anos atrás mas quem já tinha idade pra gostar de Metallica em 1983, sabe bem. Dói primeiro o joelho, depois as costas e, no final, você já está achando que “esses caras estão tocando um pouco alto demais”.

Pois bem: alguém parece não ter informado isso a James Hetfiled e Kirk Hammett – falemos de Lars Ulrich mais pra frente. Ambos têm 53 anos, caras. Cinquenta e três anos. Se o cabelo de Kirk não estivesse ficando branco e se eu não soubesse que em 1983 eles já tinham idade para espancar guitarras alucinadamente eu diria que é mentira. Vendo ambos ao vivo, desconfia-se da natureza – quem acha que Mick Jagger é um fenômeno da natureza devia assistir Kirk Hammet, sério.

A banda entra no palco do Webster Hall, em Nova York, sorridente. Este é um show, vale lembrar, para o fã-clube, em um teatro em que cabem 1500 pessoas. James saúda o público, troca algumas palavras com os fãs e comenta: “Oito anos passaram voando! Talvez não para vocês.”

O show começa com uma porrada quase ininterrupta de três músicas: Breadfan, Hollier Than Thou e Battery. Sem respiro. James troca a guitarra e volta a conversar. “Estamos aqui hoje pra celebrar muitas coisas. Uma delas, é claro, é que o Metallica está vivo e bem! E, achamos, ainda kicking ass! Estamos celebrando também o disco novo. Aqui vai algo das antigas,” disse, e emendou Harvester of Sorrow.

Das 14 músicas do show, nenhuma saiu de “St. Anger” ou “Death Magnetic”. A banda tocou as duas do disco novo que já foram divulgadas e três músicas do Black Album – que não incluíram nem The Unforgiven, nem Nothing Else Matters, mas sim, além das previsíveis Enter Sandman e Sad But True, Hollier Than Thou. Fora isso, duas covers já consagradas (Breadfan e Whiskey in The Jar) e todas as outras foram músicas dos discos da década de 80. Ao invés dos hits, Orion, dedicada a Cliff Burton, morto há quase exatos 30 anos (e recebida pela platéia aos gritos de “Cliff, Cliff, Cliff!). Depois de Sandman as luzes se apagam e a banda faz um rápido intervalo. A platéia canta o riff (e o “canto” inicial) de The Frayed Ends of Sanity. A banda entra no clima, mas só toca o riff.

Na volta, a banda faz a opção corajosa de tocar Hardwired, o que acaba mostrando que a música é boa, bem boa, segura a onda de qualquer fã. Assim como Moth Into Flame, diga-se. Antes de encerrar com Seek and Destroy, James pergunta: “Mais uma? Qual?” A platéia tem diversas sugestões, mas “Seek..” domina. “Essa? Essa é velha. Tem 35 anos. Por que não tocamos uma mais nova?”, ele pergunta, mas já começa os acordes iniciais do clássico.

Não poderia ser mais simbólico do que estava ali: um encontro de gente que conhece aqueles caras há muitos anos. Uma platéia que cantou todas as músicas, sem exceção, e muitos dos riffs. Que podia ter vendido aquele ingresso por algo como mil dólares do lado de fora do teatro, mas sabia que estar lá valia mais.

Sobre Lars Ulrich, um intróito aqui: para mim, que nunca tinha visto o Metallica ao vivo até aqui, foi um choque descobrir que podem ser justas as críticas de que o cara não sabe tocar bateria. Em mais de um momento no show, especialmente em One, achei que eu é que não estava ouvindo direito. O cara simplesmente desencanou do bumbo e resolveu tocar só na mão. É ruim isso, acho, porque ele é a alma da banda. O problema é que baterista não pode disfarçar, certo? Se o James quiser contratar outro guitarrista, pode passar a só cantar. Mas o Lars não tem opção. E tem 52 anos. Se aos 20 já é difícil espancar a bateria daquele jeito, mais fácil é que não fica.

Lars não tem mais cabelo, James cortou o dele faz tempo e Kirk agora tem cabelo branco. Ainda assim, a banda aguenta a porrada do começo ao fim. O Metallica é a maior banda de rock do mundo há quinze anos e não é à toa. A julgar pelo show desta terça-feira – e pelas duas músicas novas – é provável que continue a ser por mais um bom tempo.

Set list:

Breadfan
Holier Than Thou
Battery
Harvester of Sorrow
Fade to Black
Moth Into Flame
Sad but True
Orion
One
Master of Puppets
For Whom the Bell Tolls
Enter Sandman

Bis:
Whiskey in the Jar
Hardwired
Seek and Destroy

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