Texto por Marcelo Gomes

A expectativa estava enorme depois do Sepultura anunciar sua despedida dos palcos em dezembro de 2023, pegando os fãs do mundo inteiro de surpresa. E não parou por aí, poucos dias antes de iniciar a turnê denominada Celebrating  Life Through Death, o baterista Eloy Casagrande deixou a banda para integrar o Slipknot. Superados esses desafios, foram longos 10 meses de muita ansiedade desde o anúncio até que o primeiro dos três shows esgotados no Espaço Unimed acontecessem.  A apresentação, que aconteceu no último dia 06, teve abertura do Torture Squad. 

Ao adentrar a casa, notava-se uma energia diferente, um sentimento diferente. A banda conseguiu tirar de casa muitos fãs que já não iam a um show havia bastante tempo e ganhou novos adeptos desejosos de testemunhar a despedida da maior banda de metal do Brasil. Algumas famílias levaram seus filhos, mantendo viva a tradição passada de pai para filho no que talvez seja o último capítulo dessa trajetória brilhante. O que se via era um mar de gente com camiseta da banda e, cá entre nós, goste ou não, o que os caras fizeram cravou seus nomes dentro da história do metal mundial. Todo esse apego é completamente justificável, afinal, trata-se de um patrimônio da música brasileira que declarou sua finitude.

O público ainda chegava quando o Torture Squad subiu ao palco. Com um setlist que incluiu faixas como “Flukeman”, “Warrior”, “Horror And Torture”, a banda misturou riffs agressivos, solos técnicos e vocais que foram do gutural a belas melodias culminando numa performance brutal, servindo de um belo aquecimento para o que estava por vir.

Com 30 minutos de atraso, Derrick Green (vocal), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Xisto (baixo) e Greyson Nekrutman (bateria) subiram ao palco do Espaço Unimed com uma produção grandiosa e contaram sua história por duas horas para um público devoto e sedento pela banda. A abertura matadora com “Refuse/Resist”, “Territory” e “Propaganda” incendiou o público de imediato, ganhando rodas e dando o tom da despedida. “Phantom Self”, que veio em seguida, não deixou por menos.  

Na primeira interação da noite, Derrick Green perguntou quem tinha o disco Roots e se surpreendeu com a resposta massiva. Tocaram três petardos do álbum para nenhum fã colocar defeito, “Dusted”, “Attitude” e “Spit”. A próxima parte do show focou na fase Derrick, abrindo esse bloco com “Kairos”, que já pode ser considerada um clássico. Nesse momento, Andreas não poupou elogios ao público que esgotou a primeira data rapidamente e aproveitou para apresentar o recém-chegado, Greyson Nektrutman. A tarefa de substituir Iggor Cavalera e Eloy Casagrande não é para qualquer um, no entanto, o carismático baterista tem se saído muito bem como visto na complexa “Means To An End”.  Continuaram com “Convicted In Life”, “Guardians Of Earth”, “Mind War”, “False” encerraram esse período com “Choke”, faixas que demonstram a versatilidade do quarteto e a evolução da música do Sepultura.

O ponto alto da noite, no entanto, foi a performance de “Kaiowas” com uma formação especial no palco que incluiu convidados especiais Jean Patton (ex-Project46), João Barone (Paralamas do Sucesso), integrantes do Torture Squad, Yohan Kisser (Kisser Clan) e fãs da banda. Essa colaboração resgatou a jam que faziam na turnê do Chaos A.D. em 1994 e trouxe uma energia única junto à brasilidade que sempre esteve no coração da música do Sepultura. 

Dos ritmos brasileiros à volta ao thrash de “Dead Embryonic Cells” e ao peso de “Biotech Is Godzilla”. Os fãs ensandecidos faziam rodas como se não houvesse o amanhã. Para acalmar um pouco os ânimos, tocaram a fantástica “Agony Of Defeat”, uma faixa mais lenta e rebuscada do Quadra que certamente poderia fazer parte de qualquer trilha sonora de um filme de drama. Mas a calmaria durou pouco, resgataram um cover de “Orgasmatron” do Motörhead e emendaram com “Troops Of Doom”, foi de tirar o fôlego. 

A parte final do show contou com as clássicas “Inner Self” e “Arise”, e para quem achava que os fãs estavam satisfeitos, se enganou. Chamaram pela banda que voltou para o bis com “Ratamahatta” e encerraram a noite com “Roots Bloody Roots”. Foi o ápice da noite com todos pulando e cantando o hino de uma geração que simboliza a história da banda e seu impacto no cenário mundial. 

A celebração do legado e o adeus ao Sepultura deram a sensação que a gente nunca sabe o valor de um momento até que ele se torne uma memória. A despedida em São Paulo foi emocionante, cada música remetia a um momento da banda, ao final era como se um filme estivesse passando em nossas mentes. E será que o filme tem fim sem Max e Iggor Cavalera? Ainda há esperança, Andreas Kisser revelou que gostaria que os irmãos participassem do show final. Só nos resta aguardar e, por ora, agradecer Sepultura por representar o Brasil tão bem!

Confira fotos exclusivas do show tiradas pelo nosso colaborador Wellington Penilha:

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