Texto escrito pelo WikiBrother Leonardo Orletti

No penúltimo mês do século 20, quatro jovens e amigos de infância californianos entravam em estúdio em Hollywood para gastar o pouco dinheiro e tempo que tinham para gravar o primeiro álbum de sua banda recém-formada, o Avenged Sevenfold, batizado de Sounding The Seventh Trumpet.

O contexto não era muito animador. Além do pouco tempo de estúdio, consequência do pouco dinheiro que tinham, todos os músicos tinham, no máximo, 20 anos de idade (na verdade não consegui saber a idade do baixista Justin Sane), portanto, pouca ou nenhuma experiência. E a Good Life, pequena gravadora que havia apostado nos meninos, não tinha condições financeiras de ajudar em muita coisa.

O registro foi lançado, aproximadamente, oito meses após a gravação, em julho de 2001. O nome da banda e do álbum são baseados em contextos bíblicos, mesmo a banda nunca ter se declarado católica ou algo parecido. No álbum de estreia não há nenhum questionamento religioso nem sequer alguma citação relacionada ao assunto, pelo menos de forma clara. Em momentos posteriores o tema apareceria nas composições, mas neste momento, ainda não vem ao caso.

Pouco tempo após a gravação do disco, a banda ganhou um novo membro, o guitarrista Synyster Gates, que já era amigo da banda. O quinteto gravou uma nova versão da primeira faixa do disco e relançou o álbum no início do ano seguinte, já incluindo na formação da banda o novo guitarrista e o novo baixista Dameon Ash, que substituiu o baixista original Justin Sane antes da turnê de divulgação do álbum.

A tal faixa de abertura chama-se “To End The Rapture”. Originalmente é quase uma faixa solo do vocalista Matt Shadows, já que ele é o compositor da letra e único músico envolvido na execução da mesma. Shadows canta e toca teclado. A regravação ganhou uma roupagem heavy metal com guitarras, baixo, bateria e até backing vocals. Essa é a única aparição de Synyster Gates no disco.

A partir da segunda faixa, “Turn The Other Way”, o Avenged Sevenfold mostra a que veio. A primeira faixa é apenas uma introdução não muito reveladora. O instrumental pesado e vocais gritados anunciam a chegada de mais um grupo de metalcore no cenário. Entre o fim da década de 90 e início dos anos 2000 surgiram várias bandas grandes do estilo, principalmente nos EUA. Os vocais variam entre o gritado e o limpo e o peso das guitarras é mesclado com passagens melódicas presentes em toda a música.

“Darkness Surrounding” é mais rápida e pesada ainda. Os recursos utilizados são parecidos com os da faixa anterior, mas dessa vez tudo com uma dose maior de criatividade. O prodígio baterista Jimmy Sullivan, citado nos créditos como “The Reverend Tholomew Plague”, é, de longe, o destaque. A música tem até solo de bateria.

Em “The Art Of Subconscious Illusion”, M. Shadows começa cantando limpo, mas por pouco tempo. Por um momento ele se arrisca até no vocal gutural. Essa seria uma boa trilha sonora para um mosh pit. Aqui vai mais um destaque pra conta do batera que, além de fazer malabarismo com as baquetas, dá um suporte nos vocais de apoio. Nos discos posteriores, The Rev amadureceria muito nessa função.

A quinta faixa chama-se “We Come Out At Night” e pode ser analisada de duas formas. Seria uma gritaria só (não muito diferente do restante do disco) se o refrão não fosse um dos mais suaves e melódicos, senão o mais. Até aqui as letras do Avenged Sevenfold são sempre homogêneas. Tratam de medo, mistério, revolta, sempre de forma muito agressiva. A propósito, quem responde por todas as letras do álbum é o vocalista.

“Lips Of Deceit” é a mais pesada de todas. Aqui a banda se arrisca abandonando o feeling e o pouco de melodia presente nas outras músicas. São dois elementos importantes, mesmo até no rock ou metal mais extremo. Música descartável.

“Warmness On The Soul” é o nome da única balada do disco. Depois de uma canção com zero sentimento, M. Shadows e companhia fizeram o contrário, mas acabaram passando do ponto. A música chega a lembrar o glam oitentista de Los Angeles. Tem uma melodia grudenta e cheia de melancolia. Não é exagero dizer que a letra é insuportável de tão melosa. “Warmness On The Soul”, definitivamente, não cabe num disco como esse. 

Em “An Epic Of Time Wasted” o som do A7X retorna ao clima de pandemônio, de onde não deveria ter saído. Após uma quebrada de ritmo, a música fica melhor. É interessante a mescla de estilos vocais no refrão. Shadows reveza entre o gritado e o limpo repetidamente. Bom trabalho do vocalista, que na parte final da música, lembra Corey Taylor, do Slipknot.

“Breaking Their Hold” e “Forgotten Faces” são músicas parecidas. São faixas pesadíssimas e representam o verdadeiro hardcore raiz, apesar de também contar com o refrão melódico e limpo. Mas aqui as letras vão na contramão do peso. Desde a sétima faixa (aquela balada sem sentido), Matt Shadows passa a cantar letras mais complexas e românticas, deixando de lado o lado agressivo da coisa.

Em “Thick And Thin” letra e música voltam a se aliar, tudo de forma pesada, mas nem tanto. “Mr. Sombras” até que começa cantando entre o limpo e o rasgado, mas logo ele passa para sua zona de conforto e mais uma vez atinge o gutural, mesmo que por pouco tempo. A faixa também tem seu lado melódico, sempre acompanhado dos vocais mais contidos do vocalista.

Na penúltima faixa, a chamada “Streets” o Avenged Sevenfold traz influências do Sepultura e do nu metal, mais precisamente baixo e bateria, comandados por Dameon Ash e The Rev. Os vocais rápidos e novamente mais contidos que o normal e a guitarra de Zacky Vengeance lembram o punk, e toda essa miscelânea de influências se transforma numa boa música.

“Shattered By Broken Dreams” é a canção típica de um encerramento de álbum. É a mais longa do disco e, não só por isso, se diferencia, mesmo que não muito, das outras músicas. A banda se aventura em mais de uma nuance e mudanças de ritmo repentinas. É meio balada e meio gritaria hardcore, e digo mais. Se fosse uma balada de verdade, seria honesta e alinhada com o contexto do disco.

A qualidade da última faixa faltou no conjunto da obra. O resultado final é um álbum perdido, com músicas soltas. A produção não conduziu a banda a um determinado rumo. Parece que o objetivo do Avenged Sevenfold muda a cada faixa. A temática das letras muda sem muito sentido. Quando o álbum está se desenvolvendo de uma forma, entra uma balada totalmente diferente de tudo que se poderia imaginar. Mas enfim, com o tempo, a banda provaria que a falta de equilíbrio seria um ponto de destaque não só no início da carreira, já que, com 20 anos de história, o grupo ainda vive fazendo coisas muito diferentes a cada lançamento.

A produção não é das melhores e os músicos, pouco experientes, não foram capazes de consertar as coisas. Mesmo com todas as dificuldades, pouco tempo depois do lançamento de seu primeiro disco, a banda assinou contrato com uma gravadora maior e ganharia fama internacional. Na minha opinião os vocais versáteis do vocalista e o potencial do baterista da banda foram os pontos de destaque do disco que chamaram a atenção da indústria e levaram o Avenged Sevenfold ao patamar que ele ocupa nos dias de hoje.

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