Foto: Gabriel Gomes

Formado no Rio de Janeiro, o Radio Front traz os elementos angustiantes do grunge ao Brasil

O grunge foi um dos movimentos mais influentes dos últimos tempos. Com suas flanelas, cabelos longos, atitude despojada e, claro, as letras repletas de angústia, a música grunge surgiu como um subgênero do rock alternativo em Seattle, no final da década de 80, se consolidando na década seguinte e dando vida a grandes bandas como Nirvana, Pearl Jam e Alice in Chains – para citar apenas algumas. O sucesso dessas bandas levou o rock alternativo e o grunge ao mainstream, ocupando o espaço do hard rock.

Um movimento tão denso e forte não poderia se concentrar apenas em uma cidade dos Estados Unidos e não se dissiparia tão fácil também. Com uma cultura tão diversa e cheia de influências alheias, era quase impossível o grunge não afetar os brasileiros. Aqui, nós vamos te apresentar uma banda que navegou entre os mares angustiantes e apáticos do grunge e saiu com uma sonoridade repleta de referências apresentando a originalidade e modernidade que a indústria sempre busca.

ARadio Front nasceu no Rio de Janeiro quando o guitarrista Bruno Moreira e seu irmão Marcelo (baixista), conheceram Felipe Nova, um cantor que durante uma busca em aperfeiçoar seu talento, viajou à Califórnia para estudar na School of Rock. “Lá ele aprendeu as técnicas já cantando em inglês”, conta Bruno durante uma entrevista exclusiva ao Wikimetal.

Com a adição do guitarrista Victor Larcher e do baterista Leonardo Bourseau, que entrou na banda para gravar uma demo e acompanha os cariocas até hoje, a Radio Front lançou seu disco de estreia, Into the Rain em agosto deste ano. As doze faixas do trabalho revivem o grunge da década de 90, uma grande inspiração para eles. “Eu tenho muita influência no blues. O B.B. King mudou completamente o jeito que eu toco guitarra. O Felipe provavelmente falaria Pearl Jam, o Victor falaria Red Hot Chili Peppers, o baterista é mais do metal, ele curte Faith No More. As influências são bem variadas, mas quando junta tudo, dá isso aí, uma mistureba danada”, ele revela.

As músicas são inteiramente cantadas em inglês, algo que Bruno acredita ser indispensável ao gênero, “Eu acho que nosso estilo pede para ser tocado em inglês. A origem é americana e acho que a gente faz o nosso som em inglês porque o som, o grunge, pede isso. Acho que se cantássemos em português, seríamos outra banda.”

E Bruno tem razão, a voz intensa e o estilo de Felipe carregam lembranças de grandes cantores como Eddie Vedder e Chris Cornell e as letras em inglês, o aproxima ainda mais deles. Porém, o vocal e a melodia não são os únicos elementos grunge que a Radio Front carrega. Para o disco de estreia, eles escolheram Chris Hanzsek, engenheiro e produtor musical, para masterizar as faixas. O americano já trabalhou com o Soundgarden e o The Melvins e foi uma importante peça para o movimento.

O grupo reconhece a resistência do público em ouvir uma banda brasileira cantar exclusivamente em inglês, “Sempre tem alguém que pergunta se não vamos cantar alguma coisa em português”, mas o guitarrista conta que não há planos de mudança, pois o grupo espera atingir um público internacional ao longo da carreira.

“A cena no Rio tá um pouco fraca. Normalmente casas de show pequenas não abrem espaço para as bandas, elas que tem que alugar as casas pra fazer show. É difícil encontrar lugares para tocar com estrutura boa e é difícil ter retorno também. A gente trabalha muito aqui e ganha pouco”, ele confessa.

Entre casas de shows sem estrutura, resistência do público com o idioma e a necessidade de divulgar seu trabalho, a Radio Front encara uma barreira a ser derrubada. Porém, tudo isso nos traz de volta ao grunge, aos músicos que precisam enfrentar seus próprios demônios e os alheios para conquistar seu espaço. Por aqui, não há moleza e os cariocas do Radio Front sabem. Pesado e aflito, Into the Rain mostra essa garra e força que é preciso no mundo do grunge – principalmente o atual.