Em plena quarta-feira, 10 de setembro, a Burning House recebeu uma das noites mais pesadas do ano. A casa, já reconhecida por sediar apresentações de grande relevância no underground paulistano, abriu espaço para um encontro raro: as bandas Cancer e Pestilence dividiram o palco em sua turnê The True Faces of Death, que contou ainda com a abertura do grupo paulista Podridão

A tarefa dos brasileiros foi iniciar o ritual sonoro enquanto o público ainda chegava. Com riffs crus, vocais endiabrados e uma energia bruta, o Podridão cumpriu o papel de preparar o terreno. Aos poucos, o espaço foi se enchendo e o power trio conseguiu o respeito dos presentes.

O Cancer foi o primeiro nome internacional da noite, trazendo John Walker (vocal/guitarra), Robert Navajas (guitarra), Daniel Maganto (baixo) e Gabriel Valcázar (bateria). O começo, com “Enter the Gates” e “Until They Died”, encontrou uma plateia ainda observando, mas a resposta cresceu conforme vieram “Amputate” e “Into the Acid”. A entrega da banda era evidente: Walker, mesmo contido nas palavras, transmitia firmeza nos riffs, enquanto a cozinha segurava um peso que preenchia cada canto da Burning House.

Do meio para a frente, o set ganhou outra cara. “Ballcutter” e “Garrotte” incendiaram a galera, e a primeira roda se abriu na pista. A energia atingiu o ápice em “Hung, Drawn and Quartered” e no hino “Death Shall Rise”, que arrancou coro da casa inteira. Houve suor, mosh e gente sorrindo mesmo exausta. O Cancer conseguiu provar que ainda tem força para movimentar fãs de diferentes gerações, equilibrando a nostalgia dos clássicos e a brutalidade de seu material mais recente.

Na sequência, o palco foi tomado pelo Pestilence, liderado por Patrick Mameli (vocal/guitarra), acompanhado por Max Blok (guitarra), Michiel van der Plicht (bateria) e Roel Käller (baixo). Eles abriram com “Morbvs Propagationem”, “Deificvs” e “Sempiternvs”, abrindo as profundezas do submundo do death metal. A técnica do grupo impressionava, mas a plateia parecia segurar as forças. Até a metade do show, o público acompanhava mais com a cabeça do que com o corpo.

Foi com os clássicos “The Process of Suffocation” e “Twisted Truth” que a noite virou de vez. A roda se abriu no meio da pista e não fechou mais. O peso de “Chronic Infection” e “Prophetic Revelations” encontrou resposta imediata: gritos, braços erguidos, gente sendo carregada no mosh. Mameli, firme, deixava os riffs falarem por ele, enquanto Van der Plicht destruía na bateria com muita precisão.

Antes de “Out of the Body”, Patrick disse que “Jesus não estava feliz” com o pessoal do fundo que não agitava e clamou pelo caos. Parcialmente atendido, ironicamente disse que Jesus havia salvado aquela galera da destruição, mas que ainda tinham a última chance, “Land of Tears”, para a redenção. Era visível que a plateia já estava cansada após tantas horas de brutalidade, mas ninguém queria perder um segundo daqueles clássicos. Mesmo exauridos, todos se entregaram, alguns nas rodas, outros simplesmente batendo cabeça.

No fim, foi uma quarta-feira intensa: Podridão abriu com honestidade, Cancer trouxe brutalidade britânica e Pestilence encerrou com técnica e peso. Se a energia do público oscilou, entre cansaço e fúria, a entrega das bandas não deixou dúvidas, sendo uma noite de agressividade digna de ficar na memória do underground paulistano.

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Paulistano e apaixonado por rock desde os 10 anos, comecei a descobrir o universo da música pesada quando um amigo gravou uma fita K7 com Viper, Judas Priest, Metallica, entre outros. Na sequência, conheci o Black Sabbath e foi um caminho sem volta ... Frequentador assíduo de shows, já acompanhei centenas de apresentações das principais bandas de rock/metal e suas diversas vertentes. Nos últimos anos, tenho transformado minha paixão pela música em palavras, compartilhando resenhas sobre shows e permitindo que os leitores vivenciem a emoção de cada apresentação.