Ainda me recuperando do meu décimo ou décimo primeiro show de Paul McCartney desde 1990. Ainda sob o forte impacto de um repertório magnífico de um dos artistas mais importantes dos séculos 20 e 21.
O show de Paul McCartney é realmente impressionante, não só por ter mais de duas horas e meia de duração com um repertório pleno de inúmeros sucessos, mas pelo fato de Sir Paul ter 81 anos e uma vitalidade de 30 e poucos. O show também impressiona pelo carisma, talento e simpatia de uma das maiores personalidades do meio artístico em todos os tempos. O carisma é algo inexplicável, intangível e nos faz questionar, como alguém pode nascer tão talentoso?
Uma verdadeira estrela, excelente músico, ótimo cantor e inigualável compositor, Sir Paul tem um magnetismo inexplicável. A gente se sente próximo dele, como se fosse alguém da família. O engraçado é que John Lennon também tinha isso, George Harrison também, e Ringo Starr também. Talvez seja isso que faz dos Beatles o maior fenômeno da música pop da história? Talvez, isso e as músicas, óbvio. Resumindo, um cara que deixa “Yesterday” de fora do repertório, sem ninguém sentir falta, só Paul McCartney. E ele ainda faz algumas mudanças no repertório: no sábado o show abriu com “A Hard Days Night”, no domingo com “Can’t Buy Me Love”.
No sábado ele tocou “She’s a Woman”, no domingo “Drive my Car”. No sábado ele tocou “I Saw Her Standing There”, no domingo “Day Triper”. As músicas dos Beatles são certamente os pontos altos do show, “Got to Get You Into my Life”, “I’ve Just Seen a Face”, “Blackbird”, “Getting Better”, “Lady Madonna” (destaque para as homenagens à mulheres incríveis, incluindo Greta Thunberg, no telão), “Sgt Pepper’s Reprise”, “Being For the Benefit of Mr. Kite”, “O-Bla-Di O-Bla-Da”, e as sempre presentes “Get Back”, “Helter Skelter”, “Let it Be” e “Hey Jude”.
Com “In Spite of all the Danger” ainda da época em que eram os Quarrymen, e “Love me Do”, Paul, e sua excelente banda, contam o começo de tudo. O dueto com John em “I’ve Got a Feeling” e a já tradicional homenagem ao George com “Something” são momentos que me levaram às lágrimas, literalmente.
Mas Paul é muito mais do que “só” um dos principais compositores dos Beatles, ele é o cara dos Wings, e os Wings também tiveram muitos sucessos, “Let ‘Em In”, “Let me Roll it”, “Live and Let Die”, Band on the Run”, “Jet” (justa homenagem ao recentemente falecido ex-companheiro de banda, Denny Laine), e “Nineteen Hundred and Eighty-Five”. “Maybe I’m Amazed”, do primeiro álbum solo, pré-Wings, é uma das mais bonitas, e “Golden Slumbers” me levou novamente às lagrimas mais perto do fim do show.
Um concerto que encerra com “The End”, não poderia ser mais perfeito, encerrando também a carreira dos Beatles lá em 1969. O que também impressiona é a capacidade que Paul tem de incorporar músicas mais recentes ao repertório histórico, a excelente “New”, do penúltimo álbum de estúdio, e a já manjada “My Valentine” homenagem à sua terceira esposa, Nancy Shevell e a ótima “Dance Tonight”. Não dá para esquecer de “Here Today”, mais um momento emocionante em homenagem à John Lennon, faixa de um dos melhores discos solo de Paul McCartney, “Tug of War” (o primeiro lançado depois da morte do “parça” John).
Além da simpatia e da tentativa de arriscar palavras em português: “Vou tentar falar um pouco de Português, só um ‘pouquinho’”, “O Pai Tá ON”, boa noite “meu”, meu “mano” George, meu “Parça” John, levando o público às gargalhadas, um dos pontos altos do show foi a volta de um naipe de metais de verdade: os excelentes Hot City Horns. O trio de Londres acompanha Paul McCartney desde o icônico show que ele apresentou na Grand Central em Nova York. A banda que o acompanha há mais de 20 anos também é extremamente competente, os guitarristas Rusty Anderson e o guitarrista/baixista Brian Ray fazem os arranjos originais, o sensacional baterista Abe Laboriel Jr. é um show à parte. E o mago dos teclados, Wix Wickens, que está com Paul desde os primeiros shows no Brasil, em 1990.
Paul é difícil de descrever em poucas palavras, os pensamentos que mais me veem à cabeça, após de assistir dois shows incríveis e perfeitos (sendo o último debaixo de um pequeno dilúvio): Como Paul consegue ser tão bom? Como ele consegue encantar tantas gerações? Como ele pode ser tão criativo e talentoso? Como essas canções nunca enjoam? Como pode alguém nascer com uma luz e uma estrela tão forte e brilhante? É realmente incrível a mistura de sensações que um show de Paul McCartney nos traz, desde o frio na barriga antes do início, e nós damos de volta, cantando suas músicas a plenos pulmões, e nos emocionando com suas letras, suas melodias e sua história.
Que sorte e privilégio temos em viver no mesmo período da humanidade que Paul McCartney e poder presenciar um dos maiores espetáculos da Terra, mais de uma vez. Essa é a sensação depois de acordar de um sonho que é ir ao show de Sir Paul McCartney.