Ontem, em pleno dia dos namorados, o mundo brasileiro underground ficou em choque ao ver ninguém menos do que a Pabllo Vittar, um dos grandes nomes do pop atual, vestindo a camiseta da banda de hardcore crust Manger Cadavre?.

Em stories em seu Instagram e então replicado pela banda, a artista exibiu seu merch para milhões de seguidores. 

Em outras ocasiões, Pabllo foi acusada de apropriação e de ser “poser” ao vestir camisetas de bandas de metal do mainstream. Entretanto, conforme os anos passaram, a diva postou fotos e diversos conteúdos com bandas consideradas underground e da cena extrema. Algumas desta, por sinal, que muitos “headbangers reais” não conhecem.

O que levou os fãs a ficarem surpresos foi que até então, a Pabllo ainda não tinha aparecido com nenhuma “brusinha” de bandas brasileiras, ao menos não da cena independente. O acontecimento fez com que fãs da cena underground nacional irem ao delírio.

Uma das razões para isso é o fato de que Manger Cadavre? é uma banda liderada por uma mulher, Nata Nachthexen, conhecida por seus vocais extremos. Além disso, o grupo se posiciona politicamente à esquerda e deixam isso claro em suas músicas já há 10 anos.

Ainda, não é novidade para os fãs que o underground nunca foi tão conservador como agora. O leque vai do anarcocapitalismo aos headbangers de extrema direita assumidos. A comunidade LGBTQI+ dentro da cena é frequentemente atacada por esse segmento que também é misógino.

Em todo caso, o fato é que Pabllo Vittar optou por apoiar uma banda do underground. Com todas as opções mais mainstreams, como Sepultura, Krisiun, Ratos de Porão, entre outros, o que por si só já seria um grande feito, a escolha foi diferente. Dessa forma, a artista aponta para milhares de fãs que ela apoia o movimento independente, além de curtir o som e o posicionamento político.  

A conversa sobre inclusão no movimento não é nova, mas a resistência dos “fãs de verdade” é inegável. Talvez a cena tenha envelhecido e não se renovado por não haver diálogos com o público jovem, que tem a cabeça mais aberta para questões progressistas e para um gosto musical amplo, ouvindo em uma mesma playlist pop e thrash metal. 

Com o ato de Pabllo Vittar, é possível ver que o amor ao metal pode andar paralelamente ao pop e quaisquer outros estilos que se queira ouvir e se aprecie. Ninguém é menos headbanger por ouvir outros tipos de som, muito pelo contrário. Ganhar referências sobre outros gêneros faz com que o ouvinte tenha um repertório maior e aprecie ainda mais os detalhes sobre aquilo que ele gosta. 

Não há mais espaço para bases de fãs que escolhem agir de forma superior, sendo purista com a própria música e que só respeitam conservadorismo e apoiam políticas de extrema direita. Há uma gama de bandas que fazem um trabalho essencial para recuperar o underground para os valores libertários e revolucionários.

Ontem, Pabllo Vittar fez mais pela cena que o headbanger que bate no peito conhecer 300 mil bandas do subsolo, mas que não compra um merch, não divulga nenhuma delas, ridiculariza ações de mulheres e LGBTQI+ na cena, não comparece aos shows entre tantas outras ações. 

Confira os stories da artista replicados em post do Instagram da Manger Cadavre?:

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