Conhecido como o “Pai do Rock Brasileiro”, Raul Seixas nasceu em 28 de junho de 1945 em Salvador. O artista viveu apenas até os 44 anos, encontrado morto em 21 de agosto de 1989 devido à uma parada cardíaca.
Raul Seixas marcou – e continua marcando – gerações, com seu espírito criativo, inovador e místico. Tornou-se ícone ao misturar o rock com ritmos populares, como baião e samba. Entretanto, além de ritmos, o cantor e compositor se destacou pela sua postura de contestação e suas letras profundas, com reflexões místicas, sociais e filosóficas.
Definitivamente, não há como esquecer que algumas letras são fruto da grande parceria entre Raul Seixas e Paulo Coelho. Os dois se conheceram em maio de 1972, após Raul ler um artigo do escritor na revista A Pomba, especializada em ufologia. Mas foi em 1974 que nasceu a música mais famosa dessa parceria: “Sociedade Alternativa”.
O que foi a Sociedade Alternativa de Raul Seixas?
Mais do que uma canção, Sociedade Alternativa foi um movimento de consciencialização que chamou a atenção para a possibilidade de viver fora de um sistema opressor. Raul e Paulo construíram o projeto de uma comunidade utópica com a faixa lançada em 1974 no álbum Gita – que lhe rendeu um disco de ouro e é considerado seu álbum de maior sucesso.
A dupla se inspirou no bruxo inglês Aleister Crowley e na sua famosa obra Livro da Lei, além do princípio central da filosofia e religião da Lei de Thelema. Fundada por Aleister Crowley no início do século 20, a Lei de Thelema tinha como lema: “Faça o que queres pois é tudo da Lei”. A dupla foi apresentada a essa filosofia por Marcelo Ramos Motta, um thelemita brasileiro bastante conhecido.
Segundo o portal Segredos do Mundo, Raul e Paulo se basearam nos pilares da ética Thelêmica para criar a sua sociedade alternativa. “Alguns pilares foram usados da mesma forma em questões éticas. Eles reforçaram o dever para consigo mesmo, para com os outros, para com a humanidade e também para com todos os seres e coisas”.
A sociedade alternativa tinha como intuito ser uma sociedade que pregava o amor e a liberdade, chegando a ser registrada no cartório entre 1972 e 1976. A sede era o próprio apartamento de Raul Seixas, no Rio de Janeiro. No entanto, o projeto da Sociedade visava algo muito maior: a construção da “Cidade das Estrelas”.
A ideia da sede física nunca saiu do papel, embora tenha sido anunciado um terreno para sua construção, que ficava em Minas Gerais, segundo o jornal Estado de Minas. Embora muitos associem a cidade de São Thomé das Letras como o local da Sociedade Alternativa, não há fatos que comprovem a localização real de onde seria a “Cidade das Estrelas”.
O fim da sociedade e sua eternização
A Sociedade Alternativa também ia contra o sistema político da época, a Ditadura Militar. Segundo o canal Júlio Ettore, a música “Sociedade Alternativa” chegou a ser aprovada pela censura, mas depois foi considerada subversiva: “A letra de ‘Sociedade Alternativa’ foi aprovada pela censura, que não viu problema algum. Mais tarde, entretanto, a censura ficou incomodada com essa letra porque ela tinha um pé no misticismo, mas também no questionamento de alguns valores da sociedade.”
“Embora não fosse uma organização marxista. Essa história de ‘Faze o que tu queres, pois é tudo da Lei’ pareceu algo subversivo para os militares. Prenderam o Raul Seixas e o Paulo Coelho para saber quem eram as pessoas da sociedade alternativa, achando que era um lugar onde eles iriam formar novos guerrilheiros”.
Os dois foram presos pelo DOPS, torturados e obrigados a se exilar nos Estados Unidos. Ficaram por pouco tempo, pois o álbum Gita começou a fazer tanto sucesso que eles voltaram aclamados para o Brasil.
A Sociedade Alternativa não teve um fim formal, mas sim um desdobramento e transformação ao longo do tempo devido às perseguições da ditadura militar e por experiências pessoais de seus criadores – o entusiasmo de Paulo Coelho acabou após uma “bad trip” em 1974 em que o escritor alega ter encontrado o próprio Diabo. O ocorrido também prejudicou a parceria com Raul.
Apesar de não ter se concretizado como uma entidade física, o conceito de Sociedade Alternativa permaneceu vivo na obra e no imaginário de Raul Seixas, influenciando gerações. Por exemplo, Bruce Springsteen surpreendeu o público no Rock in Rio 2013 ao abrir seu show com uma versão de “Sociedade Alternativa”.
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