Texto por: Rust Machado

Quem andou acompanhando as andanças do Masterplan nos últimos anos pode se surpreender com a notícia de um retorno dos alemães ao Brasil. Sem álbuns lançados desde o PumpKings – releituras de temas do Helloween assinados por Roland Grapow, que aproveitou para surfar a onda da reunião das abóboras em 2017 -, a perspectiva de uma turnê fora da Europa poderia parecer pouco provável. Mas Grapow e cia se jogaram contra as expectativas e surgiram com uma lista de datas espalhadas pelas Américas, contemplando 4 cidades brasileiras.

Em Porto Alegre, a banda encerrou a gira nacional no dia 02 de novembro, já completamente à vontade para celebrar sua vida junto aos fãs que, na capital gaúcha, já são de longa data. Afinal, a primeira visita do Masterplan ao bar Opinião foi no longínquo ano de 2003, ainda em sua memorável formação com Jorn Lande e Uli Kusch, e de quebra dividindo a data com o Gamma Ray. Tudo isso rolou 2 meses depois do Helloween vir à cidade trazendo seu álbum Rabbits Don’t Come Easy. Mais “Helloweenverso” do que isso, só mencionando a visita de 2001, quando Grapow e Kusch, ainda membros do Helloween, traziam The Dark Ride ao mesmíssimo bar Opinião. Que fase!

Dessa vez, o Opinião abriu cedo para receber duas bandas para a abertura da noite. Às 19h, foi o Tierramystica, grupo já tradicional na cena gaúcha, que cruza um poderoso metal melódico com música andina. Com o público ainda chegando, o show serviu ao propósito de recepcioná-los com uma ótima energia. Na sequência, o Phornax – também local – deu segmento à abertura com um show pesadíssimo. Cristiano Poschi (vocal) entreteve o público com sua espontaneidade, e aproveitou para divulgar o terceiro Phornax Fest, evento organizado pela banda para a promoção da cena local e nacional, e contará em dezembro, dentre outros nomes, com a presença de Edu Falaschi na edição de dezembro.

Finalmente, Masterplan!

Já passava das 21h quando Alex Mackenrott (teclado), Jari Kainulainen (baixo), Roland Grapow (guitarra), Rick Atzi (voz) e o brasileiro Marcus Dotta (bateria) – convidado nesta tour – subiam ao palco, com a casa já bastante preenchida por fãs das várias eras da banda. A banda entrou com “Rise Again”, single que soltaram no ano de 2024. A música foi o tempo necessário para os ajustes sonoros, e então começou a fila de clássicos: “Spirit Never Dies”, “Enlighten Me”, “Lost and Gone”, “Crimson Rider”.

Após esse passeio pelos sucessos de seus 3 primeiros discos, eles já tinham o público na mão. Além de um controle vocal excepcional, a comunicação ficou a cargo de Atzi, que, no entanto, reportava-se a Grapow em quase todas as suas falas. Além de mediar a dinâmica público-banda, parecia também certificar-se de que o chefe estava feliz com o longevo sucesso do Masterplan no além-mar. Para a alegria do público, o setlist foi ficando cada vez mais interessante, trazendo a excelente “Kind-hearted Light” e, na sequência, a pesadíssima “The Time of the Oath”, faixa-título do sétimo álbum do Helloween, e de autoria de Grapow.

Em conversa com o público, confusão nas informações: Roland Grapow não parecia se lembrar de ter tocado em Porto Alegre (a banda passou pelo Brasil em 2015, mas deixou a capital gaúcha de fora naquele ano), mostrando-se perdido na história da própria banda. Mas para os gaúchos, a época em que todas as bandas gringas visitavam Porto Alegre é inestimável.

A banda seguiu com “Keep Your Dream Alive”, a única do set lançada já com Atzi nos vocais. Fora ela, a banda seguiu dedicando a apresentação ao seu disco de estreia. “Uma música que toca na história de Roland, e dos alemães em geral” foi a introdução para a excepcional “Crystal Night”, que veio seguida pela cadenciada “Soulburn”. Apesar da atmosfera densa dessas canções, a banda seguiu em interações leves e bem-humoradas.

Para a próxima canção, Gui Antonioli, vocalista do Tierramystica, volta ao palco com os headliners para um dueto em “Heroes”, originalmente gravada por Michael Kiske. O vocalista aproveitou para brilhar ao lado dos mestres, cantando esse grande clássico e mostrando seu poderoso alcance vocal.

A banda inicia as despedidas com mais Helloween, dessa vez com a primeira contribuição de Grapow no quinteto de Hamburgo. “The Chance” emocionou os presentes, que cantaram o icônico refrão alto. Antes de partir, “Crawling from Hell” encerrou o set do Masterplan em altíssimo nível. A banda aproveitou-se de uma pausa que há na música para uma demorada apresentação dos músicos, com direito a alguns solos individuais, dentre os quais o brasileiro Marcus Dotta acabou entregando até mais do que os veteranos.

Para o gran finale, a banda conta com “The Dark Ride”, a arrebatadora faixa-título do último disco de Grapow com o Helloween. Rick Atzi retorna ao palco vestindo uma camisa da seleção brasileira. O público aprecia o encerramento e saúda a grande noite, e ainda é agraciado com a notícia de que haverá um novo álbum do Masterplan. Apesar da ótima noite de música e alguma nostalgia, vive-se também uma boa dose de informalidade.

O Masterplan entrega muito ao vivo, mas também deixa-se levar pela brincadeira. Para um guitarrista formado no virtuosismo e autor de criações memoráveis, não há rigidez alguma na forma de Roland Grapow tocar seus solos. Para quem ainda se importa com execução, instrumental e guitarrística em geral, ele tocou solto, priorizando a diversão. Mas se esta tour foi um teste de sua própria popularidade fora da Europa, isso justifica todos os sorrisos no palco: o quinteto sai convencido de que os gaúchos não perderam o interesse, e de que o sonho pode se manter vivo por um bom tempo.

Nossa fotógrafa Alessandra Felizari também esteve no show e registrou a noite. Confira nossa galeria de fotos:

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