A LOSERVILLE TOUR, idealizada pelo Limp Bizkit, a atração principal, transformou o Allianz Parque, no último sábado, 20 de dezembro, em uma verdadeira experiência da música pesada, experimental e urbana no final de 2025. O formato de mini-festival reuniu nomes que cruzam gerações, indo do metal britânico ao reggae-rock americano, do alt-rock inovador ao trap-metal e hip-hop excêntrico, oferecendo ao público um panorama sonoro entre o oldschool e o contemporâneo em um mesmo line-up.
Slay Squad começa apresentando seu estilo ghetto metal
Abrindo o festival, a performance do Slay Squad trouxe energia para o público que chegava ou circulava pelo Allianz Parque nas primeiras horas. A banda californiana é conhecida por seu estilo agressivo, que funde elementos de um gênero chamado ghetto metal, uma mistura de metalcore, hardcore, trap, hip-hop e elementos industriais, criando uma sonoridade crua e implacável que instantaneamente provocou reações no público que logo iniciou um mosh.
No palco, o Slay Squad enfatizou um som que é tanto visceral quanto brutal, com vocais agressivos, guitarras distorcidas e batidas que lembram a ferocidade do metal mas com a atitude do rap – nitidamente inspirados por Body Count. Como mostra a atitude hip hop, essa fusão do Slay Squad não é apenas estética, como também é representativa, com atitude e letras de protesto, onde fronteiras de gênero são constantemente desafiadas e remixadas para criar experiências ao vivo memoráveis.
Embora sem a mesma longa trajetória de alguns de seus colegas de festival, a banda já tem presença em palcos importantes nos Estados Unidos, com dois álbuns lançados Stick to the Plan (2016) e Souls For The Feast (2016), que solidificaram sua identidade sonora agressiva. O grupo apresentou um show impactante e inesquecível, especialmente para fãs que buscavam intensidade máxima antes do headliner da noite.
Riff Raff traz irreverência mas não cativa o público
O segundo artista a subir no palco, foi o que menos agradou o público presente. Depois de uma energia pesada e atitude deixados por Slay Squad, o rapper texano Riff Raff trouxe ao LOSERVILLE um contraste vibrante e inesperado com sua estética extravagante e lirismo irreverente. O artista mistura hip-hop, trap, EDM e uma vibe synth, com um senso de humor curioso. Sua presença no palco é boa, marcada por momentos raros de alta energia e performances que incentivaram a participação do público, mas isso não foi o suficiente. Apesar da plateia ser receptiva, o show foi morno.
Talvez pela sonoridade que está bem distante do rock ou metal – estilos dominantes nesse festival. Riff Raff representou o lado mais experimental do evento, com um som que até agradou quem gosta de sintetizadores e uma vibe de jogos dos anos 80, mas ainda assim, o artista fez o show menos agradável do festival. O festival é uma celebração da diversidade sonora, mas talvez pesaram a mão na escolha deste artista – que se encaixaria bem melhor em outros festivais para um público mais jovem do trap e hip hop.
Ecca Vandal: A revelação do rock alternativo contemporâneo
A apresentação de Ecca Vandal foi um dos momentos mais aguardados. A artista sul-africana (que começou sua carreira na Austrália, para onde se mudou quando criança) tem se destacado por sua abordagem do rock alternativo, mesclando a atitude punk, com sons de música eletrônica, hip-hop e soul para construir um som que é ao mesmo tempo bruto e original. Sua carreira começou a ganhar atenção com o álbum de estreia Ecca Vandal (2017), gravado de forma independente e elogiado por sua energia crua e originalidade.
Pela primeira vez no Brasil, Ecca Vandal trouxe uma presença de palco contagiante, conquistando o público ao usar uma camiseta do Sepultura (estampando a icônica capa do Roots) e dizendo que adora as bandas brasileiras. A sua voz poderosa tem grooves inesperados, muitas vezes carregadas de atitude política e pessoal. A plateia já esperava sons mais pesados e agressivos, mas foi surpreendida com o visual e atitude da artista.
A artista representa a renovação do gênero, incorporando elementos modernos sem deixar de lado as raízes do estilo e sua influência. Ecca entregou uma das melhores performances do festival, com seu som original e seu poder de conquistar o público.
311 prova o poder de ser veteranos em um festival jovem
Quando 311 subiu ao palco, o clima mudou para um som mais nostálgico, principalmente para fãs de Sublime, Red Hot Chilli Peppers e Faith No More. Banda americana formada em Omaha em 1988, o 311 construiu uma carreira sólida misturando rock alternativo com reggae, rap rock, funk e outros elementos, algo que os diferencia no cenário alternativo há mais de 30 anos.
Pela primeira vez em São Paulo e com uma discografia que inclui 14 álbuns, sendo o mais recente Full Bloom (2024), o grupo entrou um setlist de 10 músicas que explorou essa diversidade sonora, alternando novas músicas ao mesmo tempo em que revisitou clássicos do repertório, principalmente The Blue Album (1994), responsável pelos hits da banda. O ponto alto foi a famosa versão da canção “Love Song”, do The Cure.
Com grooves relaxados com momentos de intensidade rítmica que convidaram o público a dançar e cantar em uníssono, a performance evidenciou a habilidade do 311 em “fazer o público se sentir parte do som”, graças à presença carismática do vocalista Nick Hexum e o DJ/vocalista SA Martinez.
Além da relevância histórica como uma das bandas que expandiram os limites do rock alternativo para incluir influências jamaicanas e funk, o grupo trouxe ao Brasil o frescor único da da nostalgia dos tempos da MTV dos anos 80 e 90, unindo gerações de fãs.
Bullet For My Valentine comemora 20 anos do álbum de estreia
O show do Bullet For My Valentine na LOSERVILLE foi aguardado como um dos pontos altos da noite. Escolhidos para substituir YUNGBLUD, provaram que deveriam estar no lineup desde o início – e grande parte do público concordou com essa afirmação. Em entrevista ao Wikimetal, o guitarrista e membro fundador Michael “Padge” Paget confirmou: “Se a oportunidade aparece, temos que fazer isso pelos fãs, é a coisa mais importante. Não importa o sacrifício”. Formado em 1998 no País de Gales, o grupo é um dos pilares do metalcore moderno, embora também seja uma veterana na noite. Conhecido por riffs pesados, refrões melódicos e letras intensas que exploram temas emocionais.
A banda apresentou na íntegra o disco The Poison (2005), obra que os consagrou, celebrando os 20 anos da estreia. Bullet For My Valentine tem levado essa celebração ao redor do mundo, introduzindo em seus shows fãs novatos e os de longa data que tiveram a adolescência marcada pelo peso melódico que é a marca registrada do grupo. Nesse disco, os maiores clássicos como “Tears Don’t Fall” e “Waking the Demon”, que ajudaram a construir uma base de fãs fiéis em festivais ao redor do mundo. Além de consolidar sua reputação como uma das forças mais consistentes do gênero.
No palco do LOSERVILLE, a presença do Bullet For My Valentine foi marcada pela energia visceral e fãs devotos. Os integrantes entregaram uma performance que ainda dialoga com o público contemporâneo, mesmo após mais de duas décadas de carreira. A escolha da banda para o festival foi certeira, reunindo muitos fãs que ajudaram a criar a atmosfera nostálgica e a vibe única desse festival.
Confira fotos exclusivas da nossa colaboradora Marcela Lorenzetti:
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