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Parecem ter perdido todo o gás que vinham cultivando desde os primórdios com o Kill’ Em All

Por Eliberto Batista, WikiBrother

Não gosto de Load e Reload. Na verdade, todos ditos metaleiros deveriam odiar esses álbuns. Não, odiar, não-ódio é o extremo; digamos que poucos fãs de metal morrem de amor por tais criações. E não é para menos: os pais do Thrash Metal – convenhamos, é mentira. É só um rótulo distorcido dado pela mídia. O Metallica não é o pai do Thrash. O Metallica não o criou. O que há é que sua contribuição para esse gênero, bem como para outras vertentes do metal, é inegável – parecem ter perdido todo o gás que vinham cultivando desde os primórdios com o Kill’ Em All. Adicione os estranhos cortes de cabelo. O resultado foi um álbum controverso e sem a pegada típica do Thrash. Não satisfeitos, lançaram o Reload.

O fato é que de um tempo para cá venho dando chance para ouvir esses álbuns – motivado talvez por questões pessoais; sedento por uma música ora calma ora energética; canções com letras profundas – talvez até mesmo lições de vida. Acabei, pois, esbarrando, no Load. Minto, primeiramente, esbarrei com uma música desse álbum; a última, para ser mais exato: “The Outlaw Torn”.

“The Outlaw Torn” não é, de longe, o melhor material já produzido pela banda. Mas o que me cativou mesmo é que, com um pouco de pesquisa, vi que os caras a tocaram no Symphony & Metallica (bem controverso também, mas aqui não cabe analisar). Aliás, não só “tocaram”; James e companhia fizeram da música uma apresentação inesquecível. Mesmo assistindo pela tela do computador, sinto uma energia. Aliás, energia mesmo é no solo o qual começa bem tranquilo com a orquestra tocando baixinho e culmina em um Lars enfurecido descontando toda sua raiva na bateria enquanto os dedos de Kirk mal são vistos. Arriscaria dizer que a música – ou talvez só o trecho em questão – é progressivo. Chega a ser psicodélico. E psicodelismo é uma boa pedida para “viajar a mente”. Principalmente se o intuito for esquecer problemas- já disse: tudo isso em função de questões pessoais.

Após essa música, minha curiosidade a respeito de Load aumentou consideravelmente e me propus a buscar as outras canções. Acabei me deparando com “Ronnie”. A música é polêmica. Conta a história de um garoto que matou os colegas de classe. E, para piorar, um outro garoto chamado Ronald Pituch, matou a mãe e uma criança de onze anos pois entendeu que a canção era uma mensagem para ele.

Mas o que seria do rock e do metal sem uma polêmica? Enfim, “Ronnie” já começa com uma guitarra matadora. Não, não é um riff de um “Seek & Destroy” ou de um “Disposable Heroes”, mas é um arranjo instrumental, no mínimo, interessante. Soma-se a isso certos versos impactantes tais como: “But blood stained the sun red today”. Aliás, nessa parte da música o alcance de James ganha um ar diferente – um ar bom, mas não o habitual. É bom. E a passagem após o solo – uma narrativa em suma – termina com vários “down”. A sonoridade ficou impecável. Ronnie é uma das melhores, ao meu ver – e nunca tocada ao vivo, o que é uma pena.

Continuando minha cruzada, deparei-me com “Mama Said”. Não morro de amores. O Metallica sabe fazer baladas – diferentemente de outros metaleiros, sou fascinado em “Fade to Black”. Pegue, por exemplo, a apresentação dessa música em Moscou no ano de 1991. Não tem como expressar a grandiosidade dessa música ao vivo por meio de meras palavras – mas “Mama Said” não é uma balada. É mais um country. E aí está. Por mais que todos headbangers odeiem admitir, nos primórdios, o Heavy Metal esteve intimamente ligado ao country. Pesquisem a opinião do senhor Rob Halford para entenderem do que estou falando. Não sei se o Metallica apostou nisso ao compor tal música. Talvez não. Mas o fato é que dá pra ouvir e a letra traz uma reflexão – ultrapassada, é verdade, mas profunda: sair de casa, sair das asas da mãe. Faz parte do processo de amadurecimento. Acho que James e Lars cumpriram um papel mais de conselheiros do que de músicos. Meio ponto pra eles.

Por fim, vem “Bleeding Me”. É, de longe, a melhor do álbum. Juntamente com o solo de “The Outlaw Torn”, “Bleeding Me” é um tipo de canção que te dá asas à mente e te permite ignorar todos os problemas. O refrão é empolgante e muito profundo. Porém, mais uma vez, o que mais chama a atenção não é a música de estúdio, mas algumas versões ao vivo. Duas, em especial: a apresentação no Woodstock em 1999 – é épico a passagem de guitarra que antecede os versos: “I am the beast that bleeds the feast” – e, mais uma vez, em S&M. Acho que o alcance de James nunca esteve tão bom quanto nesse álbum, por isso me chama a atenção.

Load merece, sim, atenção. Diferentemente de Reload. Para falar a verdade, preferia o Load ao Reload. Mas, mesmo assim, há três músicas que merecem algum parecer: “Fuel”, “The Unforgiven II” e “The Memory Remains”. E as outras? Não, as outras não. Essas três possuem algo de diferente, algo chamativo.

Pegue, por exemplo, “Fuel” – é contagiante. Não é Metal, mas consigo ouvir no meu carro enquanto acelero. “The Unforgiven II” possui uma letra linda – não chega aos pés do primeiro, é verdade, mas ainda sim permite profundas reflexões. Quer letra mais bonita que: “speak the words I wanna hear to make my demons run”?

E, por último,”The Memory Remains”. O clipe, por si só, dispensa qualquer manifestação de minha parte. E, para não perder o costume, pegue o show do Metallica no México do ano de 2009. É lindo (penso que não há outra palavra para definir) quando a plateia entona vários “nana na nana” mesmo que a banda já tinha parado de tocar. Fascinante.

Enfim, falar de Load e Reload é tema batido. Não raras vezes textos que abordem esse tema são recheados de clichês. Mas penso que é interessante gastarmos um pouco do nosso tempo lendo textos sobre isso a fim de aumentarmos nosso discernimento entre o que é música “boa” e música “ruim”. Não gosto de Load e nem de Reload – mas consigo ouvir alguma coisa vindo deles.

*Este texto foi elaborado por um Wikimate e não necessariamente representa as opiniões dos autores do site.

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