Na noite de terça-feira, 11, a Arena Mané Garrincha não sediava apenas mais um show, sediava um veredito. Após passagens aclamadas por Curitiba (05/11) e São Paulo (08/11), a turnê brasileira do Linkin Park chegava ao fim.
Contudo, uma pergunta pairava no ar úmido da capital, mais densa que a fumaça dos palcos: “Como será?”. Não era uma dúvida sobre a qualidade técnica da banda, uma das máquinas de rock mais precisas das últimas duas décadas, mas sim, uma pergunta sobre o sentimento, sobre o luto e sobre a legitimidade de um recomeço.
Para preparar o terreno para este veredito, a noite foi aberta pela cantora Poppy. A artista americana, conhecida por sua intrigante e polarizante fusão de metal industrial e performance art, subiu ao palco com um pouco de atraso. Seu show estava focado em seu recente álbum, Negative Spaces. Poppy entregou uma performance coesa, pesada e visualmente hipnótica. Seu estilo, mais focado na performance artística do que na interação direta com o público, cumpriu o papel de aquecer a multidão e preparar o espírito para a catarse que estava por vir.
O Rito de Passagem de Emily Armstrong
Após 11 longos anos desde sua última passagem pela capital federal, e 7 anos após a trágica perda de Chester Bennington, o Linkin Park subiu ao palco não para um tributo, mas para um teste de sobrevivência. O que as dezenas de milhares de pessoas testemunharam foi mais do que um show, foi uma catarse coletiva e a inequívoca declaração de que a banda renasceu.
Assim, este show final era o capítulo decisivo na introdução de Emily Armstrong ao público brasileiro, que abraçou a nova formação de forma histórica. Ela não pisa no palco para imitar Chester, qualquer tentativa nesse sentido estaria fadada ao fracasso. Em contrapartida, ela entra para honrá-lo, trazendo uma energia própria, que mescla o grunge, o punk e uma vulnerabilidade que se encaixa perfeitamente ao lado da calma e do controle de Mike Shinoda.
Hinos de Sobrevivência: O Passado e o Futuro
O setlist foi uma obra-prima de equilíbrio, sem dúvidas. Contando com músicas do novo e elogiado álbum From Zero, como a explosiva faixa de abertura “The Emptiness Machine” e a melódica “Over Each Other”, que mantiveram a intensidade do show no nível máximo, sendo recebidas como clássicos instantâneos, provando que a nova formação tem mérito criativo próprio.
Claro, a noite também foi definida pelos hinos, e foi aí que a genialidade da nova dinâmica brilhou. Mike Shinoda, mais do que nunca, assumiu o papel de âncora emocional regendo a multidão, descendo do palco para abraçar fãs na grade (com direito a receber o boné autografado pela banda) e, ao lado de Armstrong, reimaginando os clássicos. “Numb” e “In the End” transformaram-se. Elas deixaram de ser canções de dor e se tornaram hinos de resiliência, cantados em uníssono por dezenas de milhares de vozes que pareciam curar feridas abertas.
Os momentos de maior peso, os guturais que eram a assinatura de Bennington, foram onde Armstrong mais brilhou. Em “Points of Authority” e “Crawling” ela entregou uma performance visceral, ganhando o respeito até do fã mais cético. Além disso, Poppy retornou ao palco para uma performance da música “One Step Closer”, dividindo os vocais com Emily.
O Veredito: O Legado do Linkin Park Está Seguro
Visualmente, a passagem do Linkin Park por Brasília foi um espetáculo de pirotecnia, luzes e confete que preencheu o gigantismo do Mané Garrincha. Mas o maior efeito especial da noite foi a conexão. Viam-se pais e filhos, fãs da “velha guarda” e novos ouvintes compartilhando um espaço de nostalgia e, ao mesmo tempo, de novidade.
Ao final de “Faint”, música que encerrou a noite, com a banda exausta e visivelmente emocionada, a pergunta inicial havia sido respondida. O Linkin Park de 2025 não é uma banda cover de si mesma. Não é um ato de nostalgia, é uma banda de sobrevivência. Uma banda que olhou para o abismo, sentiu o luto e decidiu dar um passo à frente. Brasília não foi apenas um show, foi a formatura de Emily Armstrong e o batismo da nova era da banda.
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