Mesmo décadas após suas saídas, o legado dos irmãos Max e Iggor Cavalera no metal continua tão forte quanto quando formaram o Sepultura há mais de 40 anos. A banda de Belo Horizonte se tornou um gigante, e o impacto de seus fundadores no cenário global permanece inquestionável.
Recentemente, em uma entrevista à revista Hammer, o lendário baterista Iggor Cavalera falou sobre o legado da banda, a importância de se manter aberto a novas músicas e relembrou o início de tudo. O gancho para a conversa foi a participação de Iggor em um show da banda Overthrust, de Botswana, durante sua primeira turnê no Reino Unido.
A Conexão com o Metal Global
Questionado sobre uma conexão inerente com bandas do sul global, Iggor foi direto ao ponto, comparando a cena de Botswana com suas próprias experiências no Brasil.
“Crescendo em um lugar como o Brasil – e eu ficaria surpreso se não fosse o mesmo em Botswana, culturalmente sempre houve um sentimento de ‘Ah, eles [os estrangeiros] fazem melhor’. Mas nós sempre pensamos: ‘F*da-se isso. Nós vamos fazer tão forte quanto qualquer banda nos EUA, Reino Unido ou em qualquer outro lugar’”, relembrou.
Para Iggor, essa foi uma das principais motivações. “É uma das coisas de que mais me orgulho em minha herança, poder ver bandas de todo o mundo fazendo músicas incríveis.”
Ele contou que conheceu o Overthrust através de pesquisas no Bandcamp e por indicação de amigos. Para ele, a atitude da banda o fez lembrar do começo do Sepultura. “No Brasil, especialmente no início dos anos 80, tudo era sobre samba – ninguém falava de metal. Tocar metal no Brasil naquela época era algo inédito.”
O Início do Sepultura e o Tape Trading
Iggor também compartilhou memórias sobre como o metal chegou ao Brasil, destacando que o rádio não teve papel nisso. O movimento foi construído na base da troca de fitas cassete.
“Era principalmente troca de fitas – você conseguia uma fita, trocava com amigos e, através disso, descobria toda uma nova cena de bandas”, explicou. “Às vezes, você pegava uma fita que tinha sido copiada duzentas vezes, então o som era uma m*rda, a qualidade ficava cada vez mais baixa a cada cópia, até soar maligno. Na verdade, às vezes era decepcionante ouvir a gravação original! ‘Minha fita soa melhor que isso!’”
Ele ainda compartilhou uma história curiosa: “Alguém copiou o EP Haunting The Chapel, do Slayer, para nós, e fez na velocidade errada. Deveria ser 45 RPM e fizeram na velocidade normal. Então soava tão lento que, por meses, pensamos que o Slayer tinha virado doom metal ou algo assim!”
Ao falar sobre o orgulho de o Sepultura ser creditado por ajudar a impulsionar o movimento do metal global, Iggor foi enfático. “Isso é o que me orgulha; que as bandas possam seguir o que fizemos. Não apenas musicalmente, mas também em atitude. Esse é o futuro da música. Pessoas que só ouvem coisas antigas são preguiçosas.”
Ele concluiu reforçando a importância de manter a mente aberta. “Quando saímos do Brasil pela primeira vez, as pessoas ficavam tipo, ‘Que p*rra é essa?’ Estávamos empurrando os limites da música. E eu ainda estou fazendo isso agora. (…) Trata-se de conexão. Estávamos conectando o Brasil ao Japão, a todos os lugares. Eu quero manter minhas antenas abertas para coisas novas.”
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