Por Diego Cataldo

Ter seu nome gravado eternamente no mundo da música não é uma tarefa fácil e ela se torna mais complicada ainda caso seu estilo não faça parte do mainstream. Contudo, é inegável que dentro do heavy metal o nome de Clive Burr não seja eterno.

Mundialmente conhecido pelo seu trabalho nos três primeiros discos do Iron Maiden, o baterista, que faleceu em 13 de março de 2013, deixou um enorme legado para uma geração futura de músicos que, assim como ele, trilharam seu caminho no Metal.

Avesso à entrevistas — Clive sequer foi entrevistado para a biografia oficial do Iron Maiden — , o baterista impressionava pela sua “sensibilidade rítmica, principalmente porque seu forte eram as variações em ritmo de swing das big bands, que também inspiravam sujeitos como Ian Paice, do Deep Purple”, declarou Bruce Dickinson em sua autobiografia.

PRIMÓRDIOS

Nascido no dia 8 de março de 1957 em Londres, Clive Roland Burr decidiu que seria baterista desde garoto. Nos tempos da escola Clive montou sua primeira bateria artesanal para o terror dos seus vizinhos em Manor Park, na zona leste de Londres.

“Tudo que tínhamos pela casa, ele estava batendo com baquetas.” [Kiara Burr]

Ao descobrir o Deep Purple e seu fantástico baterista Ian Paice, Burr ficou obcecado pelo instrumento. Seu primeiro kit fora lhe dado por sua mãe quando ele tinha 15 anos. Clive foi autodidata, nunca frequentou uma escola de música, e tudo que aprendeu foi ouvindo seus bateristas favoritos.

“Era legal pra ele, mas eles [vizinhos] não tinham que ouvir aquilo. Eu costumava sair do apartamento com medo de olhar os vizinhos na cara por causa do barulho que ele estava fazendo.” [Kiara Burr]

Nos anos 1970 o músico começou a se aventura em bandas que tocavam em bares da região e assim foi desenvolvendo seu talento com as baquetas.

“Eu sempre quis tocar bateria. Naquela época, eu não tocava em uma banda regular, tocava em bares com várias bandas, mesmo não tendo a idade legal para entrar. Sempre fui louco por tocar bateria, mas só consegui graças a uma sucessão de oportunidades e encontros.” [Clive Burr]

Burr passou, então, a integrar uma banda local chamada Maya quando um convite lhe abriu as portas para o profissionalismo. Naquela época, um trio formado por Paul Samson (guitarra/vocal), John McCoy (baixo) e Roger Hunt (bateria) sofrera com mudanças no line-up. McCoy abandonou o barco alegando excesso de tarefas. Assim, Samson trouxe para o grupo o baixista Chris Aymler, que tocava com Burr no Maya.

Em 1977, Hunt também deixou o embrião primitivo do Samson e Clive Burr assumiu as baquetas.

SAMSON

A passagem de Burr pelo Samson foi curta, mas rendeu dois ótimos singles. Pouco tempo após assumir as baquetas na banda, Clive e seus colegas rumaram para o estúdio em março de 1978 para a gravação do single Mr. Rock & Roll/Driving Music” pela Lightning Records.

Em outubro do mesmo ano a banda entrou no Surrey Sound Studios, em Londres, para gravar seu segundo single intitulado “Telephone/Leavin’ You” novamente pela Lightning Records. A aceitação do compacto dentro na new wave of british heavy metal foi boa, mas aquém do que Paul Samson imaginava.

Enquanto Paul Samson sentia-se um pouco frustrado com sua banda, a sorte de Burr começou a mudar. A banda do guitarrista sofria com mudanças na formação até que, no fim de 1978, perdeu seu baterista. Por outro lado, um tal de Bruce Bruce assumia os vocais da banda …

“Clive havia tocado no Samson antes de mim e achado nossa justaposição altamente divertida. Era um sujeito muito aberto, acolhedor e amigável, adorava falar de bateria, mulheres e óculos escuros de marca.” [Bruce Dickinson]

IRON MAIDEN

Em 1979 o Iron Maiden se via numa encruzilhada. Com o sucesso estrondoso após o lançamento do EP The Soundhouse Tapes — que atingiu a importante marca de cinco mil cópias vendidas — o Maiden assinou contrato com a major EMI para o lançamento do seu primeiro disco. Porém, Doug Sampson, o baterista na época, mostrava-se pouco animado com o crescimento e a nova carga de responsabilidade. Desta forma, no fim de 1979 Sampson deixou o Iron Maiden.

“Ele [Doug] começou a reclamar que estava sempre cansado nas turnês, e não estava mais aguentando. Mas estávamos fazendo apenas dois ou três shows por semana, e comecei a pensar que as coisas não ficariam nem um pouco melhores dali para frente, e imaginei o que aconteceria quando começassem a a acontecer seis shows por semana durante um ano.” [Steve Harris]

O primeiro contato entre Clive e o Maiden se deu por intermédio do então guitarrista Dennis Stratton. Os dois, que não se viam há cinco anos, encontraram-se em um pub londrino. Numa rápida conversa, Stratton contou que havia entrado no Iron Maiden e Burr perguntou se eles não estava precisando de um baterista. E estavam.

Por ser um novato na banda, Stratton demorou para falar com Steve que conhecia alguém que pudesse substituir Sampson. Quando o disse, Harris pediu para que Stratton contactasse Burr.

“Um dia recebi um telefonema de Dennis Stratton que me disse que o Maiden estava procurando por um novo baterista. Steve Harris e Rod Smallwood vieram me ver neste pequeno pub onde estava tocando na época. Eles queriam me conhecer para que pudessem ver por eles mesmo como eu tocava. Depois de alguns dias recebi outra ligação deles, desta vez para me pedir para ensaiar com eles. Então eu conheci a banda toda e tudo correu tão bem que eu consegui o emprego.” [Clive Burr]

Clive Burr era o baterista certo para a banda certa naquele momento e a empolgação pôde ser medida nas palavras do amigo Stratton:

“Lembro-me que Clive foi até o estúdio e tocou ‘Phantom Of The Opera’, e todos viram que ele seria o cara!” [Dennis Stratton]

Em janeiro de 1980 Burr entrou em estúdio com seus novos companheiros de banda para a gravação do debut autointitulado do Iron Maiden. Antes do lançamento, a EMI colocou nas prateleiras o primeiro single chamado “Running Free”, que vendeu 10 mil cópias na sua semana de lançamento e ocupou a 44º posição no chart britânico. Como prêmio, a banda foi convidada para tocar no programa Top Of The Tops, da BBC.

Iron Maiden chegou às lojas em abril de 1980 direto no 4º no chart vendendo incríveis 60 mil cópias e rendendo à banda seu primeiro disco de prata. Aproveitando o bom momento, a gravadora disponibilizou os singles “Sanctuary” e “Woman In Uniform”, sendo este último o primeiro videoclipe do Maiden.

Como lado B em “Woman In Uniform”, a banda regravou a música “Invasion”, originalmente gravada por Sampson no The Soundhouse Tapes, com uma atuação monstruosa de Burr na bateria.

A carreira de Clive dentro do Iron Maiden crescia exponencialmente. A banda saiu em turnê pela Inglaterra com o Judas Priest e depois rodou a Europa com o Kiss. O ponto alto, porém, foi o Maiden escalado como co-headliner da edição daquele ano do Reading Festival.

>> Ouça o Iron Maiden no Reading Festival ‘80

No fim de 1980 Clive Burr viu seu amigo Dennis Stratton ser demitido da banda e dar lugar para Adrian Smith. Com essa formação, o Maiden entrou em estúdio para a gravação do seu segundo álbum intitulado Killers.

Apesar da recepção não ter tão calorosa quanto no lançamento do primeiro álbum, Killers, lançado em fevereiro de 1981, rendeu ao Iron Maiden sua primeira turnê fora da Europa com datas nos Estados Unidos, Canadá e Japão. A passagem pela Terra do Sol Nascente originou o EP ao vivo Maiden Japan, numa clara referência ao álbum Made In Japan do Deep Purple.

>> Assista o Iron Maiden na TV alemã em 1981

Em maio de 1981 o Maiden pôs no mercado o seu primeiro home video chamado “Live At Rainbow”. Gravado em dezembro de 1980, o vídeo mostra toda a energia da banda em suas apresentações ao vivo. Todos puderam pela primeira vez acompanhar toda a exuberância de Burr em músicas como “Phantom Of The Opera” e “Transylvania”.

Mas nem tudo eram flores pelos lados da banda londrina. No fim de 1981 o vocalista Paul Di’Anno foi demitido do Maiden devido aos excessos que prejudicavam seu desempenho com o microfone durante as turnês. Para o seu posto, um velho conhecido de Clive Burr foi contratado: Bruce Dickinson, ex-Samson.

“Perguntei a Clive como poderia dar um jeito de criar minha roupinha de boneca*. Ele me contou. Casaco de motociclista, camiseta listrada, tênis branco de cano longo… o problema era só a calça jeans elástica.” [Bruce Dickinson]

[Nota*: Em sua autobiografia, Bruce Dickinson conta que em sua época de Samson ele e seus companheiros tiravam sarro de Burr dizendo o Maiden se vestia com “roupinhas de boneca”.]

Com o novo vocalista, o Iron Maiden rumou para o Battery Studios, em Londres, para a gravação do álbum que mudaria a história da banda e seus integrantes. The Number Of The Beast foi o primeiro disco do Maiden a vender mais de 1 milhão de cópias lançando seus músicos ao estrelato e dedicação total à música.

Clive Burr aparece como coautor em duas canções do disco: “Gangland” e “Total Eclipse”. A primeira, com uma linha incrível de bateria, entrou no álbum. A segunda foi escolhida como b-side em um single.

“A primeira música que gravamos era para ser um lado B. Chamava-se Gangland, e Clive Burr ganhou um crédito de coautoria, com base no fato de a bateria ser um elemento tão integral à música quanto os riffs de guitarra.” [Bruce Dickinson]

Já “Total Eclipse” é apontada pelo vocalista como um “labo B inesperadamente bom”.

Com o álbum vendendo de maneira extraordinária ao redor do globo, as obrigações com a banda também aumentavam — e os shows não paravam. O ritmo intenso de viagens, shows, ensaios e demais compromissos — além do estrelato — mexeu um pouco com a cabeça de todos.

“Éramos levados para o local do show, depois levados de volta para o hotel antes de sermos levados para a próxima cidade e assim por diante… Não tínhamos tempo para parar e pensar no que estava acontecendo. Tudo estava indo tão rápido, era uma agenda louca: hotel, show, hotel, show… Quando chegamos a um local, tudo já estava preparado e tudo o que tínhamos a fazer era subir no palco…” [Clive Burr]

Mesmo com todo o bom momento vivido pela banda musicalmente, internamente os problemas com Clive Burr preocupavam Steve Harris e o empresário Rod Smallwood. O baterista, assim como o vocalista anterior, começou a apresentar problemas, segundo Steve, devidos aos excessos. Teve início a queda de Burr no Iron Maiden.

“Eu não bebo e não uso drogas, e não tenho nada contra quem o faz, desde que não atrapalhe seu trabalho quando está no palco. Lembro-me de um show em que Clive passou o tempo todo vomitando em um balde ao lado da bateria, e aí comecei a preocupar-me se conseguiríamos chegar até o final daquela turnê.” [Steve Harris]

Burr foi demitido do Iron Maiden ao término da turnê do The Number Of The Beast, que somou quase 190 shows pelo mundo. O baterista, contudo, nega ter sido desligado do Maiden pelos problemas citados pelo baixista.

“A decisão provavelmente foi tomada pela banda, ou, para ser mais preciso, pelo homem que sempre liderou o Iron Maiden. Claro que estou falando de Steve Harris. Sempre foi a banda dele desde o início e, você sabe, eu nunca cheguei um dia dizendo “É isso, chega, vou embora. Eu simplesmente aceitei a decisão como era.” [Clive Burr]

Enquanto a banda excursionava pelos Estados Unidos promovendo o álbum, Burr recebeu a notícia do falecimento do seu pai. O baterista conta que foi liberado pelo Maiden para que ficasse junto com sua família e quando retornou sentiu que havia algo estranho no ar.

“Eu voltei e podia sentir que algo não estava certo. Houve uma reunião e a atmosfera estava tensa. ‘Achamos que está na hora de uma pausa’, eles disseram.” [Clive Burr]

Bruce Dickinson tentou explicar a demissão do amigo:

“A questão não foi a bagagem nem as farras ou as mulheres, pois todos nós fomos culpados por isso em algum momento ou outro. O termo ‘diferenças artísticas’ daria peso indevido à sua contribuição criativa. A frase mais próxima que consigo chegar seria ‘discordâncias irreparáveis autorrealizáveis’. A ruptura de relacionamento entre um baterista e um baixista é algo bem crucial, em especial quando o baixista, por acaso, é o principal compositor e líder da banda”. [Bruce Dickinson]

E Burr completa:

“Eu acho que se você vai despedir alguém, despedir essa pessoa logo depois dela ter perdido o pai não é o melhor momento pra fazê-lo… eu acho que eles tinham as razões deles. E foi isso. Houve um período de luto — eu senti pelo meu pai e eu senti pela minha banda — e daí eu me levantei e continuei.” [Clive Burr]

Fora do Iron Maiden e sem emprego, Burr só queria voltar a tocar o mais rápido possível nem que isso fosse feito pelos pubs londrinos.

“Eu só queria tocar. Quando eu vim pra casa da Alemanha, depois do Maiden, eu costumava prender meu cabelo num chapéu, pôr um par de óculos escuros e tocar com qualquer pessoa que me quisesse, nos bares por Londres. Eu só queria tocar bateria.” [Clive Burr]

Em 1983, um telefonema recolocou o músico de volta na cena…

TRUST e STRATUS

A banda francesa Trust movimentou seu line-up graças às mexidas no Iron Maiden. O Trust perdeu Nicko McBrain para o Maiden e, para substituí-lo buscou Clive Burr.

“O Trust entrou em contato comigo. Como meu pai faleceu, fui ver minha mãe e visitar alguns parentes na Alemanha. Fiquei lá por um tempo e, não sei como, recebi um telefonema do Trust me pedindo para ir para Paris ensaiar com eles. Então peguei o carro e os encontrei lá. Nós tocamos e eles me pediram para gravar seu novo álbum.” [Clive Burr]

Com o Trust, Clive tocou nos discos Idéal (1983) e Man’s Trap (1984). Contudo, a participação do baterista se deu apenas pelo trabalho em estúdio. Burr não saiu em turnê com os franceses.

Neste mesmo período Burr montou seu projeto solo chamado Clive Burr’s Escape que, posteriormente, mudou de nome para Stratus e lançou o álbum Throwing Shapes em 1984. A música “Run for Your Life” recebeu críticas positivas e integrou a trilha sonora de um filme. Também nesse período teve uma brevíssima passagem pelo Alcatrazz que, segundo Burr, acabou rápido demais.

GOGMAGOG

Em 1985 Burr entrou no barco furado chamado Gogmagog. O projeto liderado pelo produtor britânico Jonathan King não rendeu o esperado mesmo contando com Burr e Di’Anno, ex-Maiden, Pete Willis, ex-Def LeppardJanick Gers, na época integrante do White Spirit, e Neil Murray. O resultado dessa reunião foi o EP I Will Be There.

“Devo dizer que era meio como: ‘Está é a próxima banda, algo que se tornará grande, enorme…’ e assim por diante. Estávamos condicionados a alcançar este objetivo. Tínhamos acabado de gravar nosso primeiro EP, mas nossos empresários não nos apoiaram com unhas e dentes. O mesmo aconteceu com a nossa gravadora, eles não fizeram um trabalho de divulgação digno da banda em nenhum país. É uma pena, porque era basicamente uma boa banda.” [Clive Burr]

DESPERADO

>> Assista Clive Burr em um ensaio com o Desperado

Em 1988 Burr juntou-se ao projeto Desperado, capitaneado por Dee Snider, vocalista do Twisted Sister. No início dos anos 1990 saiu a demo Demo I + III. O álbum de estreia da banda que tocava um Hard N’ Heavy americanizado chamado Bloodied But Unbowed foi lançado somente em 1996 pela Destroyer Records. Nos anos 2000 o disco foi relançado com o nome Ace.

“Esta também era uma boa banda. Bernie Tormé estava nela. Mas acabei chegando em uma situação em que não havia dinheiro suficiente investido na banda. Além disso, os executivos da gravadora decidiram de repente que não produziriam mais álbuns de bandas de rock. Então, obviamente, tudo acabou.” [Clive Burr]

ELIXIR

No mesmo período em que se juntou ao Desperado, Burr também tocou com o Elixir, banda formada em Londres no início dos anos 1980 e integrante da New Wave Of British Heavy Metal. Junto com Paul Taylor (vocal), Phil Denton e Norman Gordon (guitarras), e Mark White (baixo), Burr gravou os álbuns Lethal Potion (1990) e Sovereign Remedy, lançado somente em 2004.

PRAYING MANTIS

A última empreitada musical na qual Clive Burr se envolveu foi o Praying Mantis, banda oriunda da NWOBHM. Em 1995/1996 Burr substituiu Bruce Bisland e gravou o álbum ao vivo Captured Alive in Tokyo City ao lado do também ex-Iron Maiden Dennis Stratton (guitarra), Tino Troy (guitarra), Chris Troy (baixo), Gary Barden (vocal) e Michael Scherchen (teclado).

TRAGÉDIA PESSOAL

Enquanto tentava se recolocar na música pulando de banda em banda, Clive Burr começou a sentir um certo formigamento nas mãos, sua principal ferramenta de trabalho. Burr achou que logo passaria. Mas não passou. O formigamento só aumentava e a preocupação de Clive também. Sem um diagnóstico preciso, o músico achou que aquilo era por causa da bateria. Isso foi no fim dos anos 1980.

O formigamento persistia e Burr começou a sofrer com aquilo. Segurar suas baquetas virou uma tarefa difícil.

“Eu vivia deixando as coisas caírem. Eu não conseguia segurar nada direito. Eu mal podia segurar minhas baquetas.” [Clive Burr]

Clive procurou um médico e uma quantidade expressiva de exames foi realizada até que no meio dos anos 1990 o diagnóstico lhe fora dado: Esclerose Múltipla Agressiva, uma variação, como o nome indica, mais agressiva da esclerose.

Burr saiu de cena e sua condição física era desconhecida até o início dos anos 2000. Procurado para falar sobre a gravação do álbum The Number Of The Beast para o documentário Classic Albums, Clive expôs sua situação.

“A empresa que produz esses vídeos entrou em contato comigo. Recebi uma carta através da União dos Músicos, da qual sou membro, porque ninguém sabe o meu endereço. A carta dizia: ‘No momento estamos preparando um vídeo sobre a produção de The Number Of The Beast. Você concorda em participar e dar algumas entrevistas?’ Eu concordei ansiosamente.” [Clive Burr]

Foi através deste contato entre Burr e a produtora do vídeo que o Iron Maiden soube da situação vivida pelo seu ex-baterista.

“Eu dei essas entrevistas para o vídeo e perguntei à produção se eu poderia inserir uma pequena nota dizendo: ‘Olá, aqui é Clive Burr. Atualmente, estou sofrendo de esclerose múltipla’. Eu queria fazer isso para que os fãs soubessem e tentei tornar a mensagem o mais curta possível. Quando o editor enviou o produto final a Steve Harris para validar o projeto, ele encontrou minha nota. Foi assim que ele soube da minha saúde. Steve então me ligou, assim como o empresário da banda. Eles decidiram fazer algo para me ajudar.” [Clive Burr]

Na época, o Iron Maiden estava de férias depois de todo o sucesso com o retorno de Bruce e Adrian e o álbum Brave New World. Para ajudar o ex-baterista, a banda se reuniu e agendou três apresentações na Brixton Academy, em Londres, em 2002 e criou o Clive Burr MS Trust Fund. Todo o dinheiro da bilheteria foi repassado para este fundo assim como os royalties do single “Run To The Hills” que fora relançado.

Em números, o fundo arrecadou aproximadamente 250 mil libras somando o valor arrecado e royalties. Outras 60 mil libras foram doadas para que o ex-baterista conseguisse manter sua casa — Burr corria risco de perdê-la. Cerca de 10 mil libras foram doadas para que Clive viajasse para a Bélgica para realizar tratamento. Entre outras coisas, o Iron Maiden deu um carro maior para que Burr pudesse acomodar sua cadeira de rodas e instalou um elevador na sua cara para melhor locomoção.

“Nós os chamamos [o carro] de Clivemóvel. É um Volkswagen Caddy com vidro fumê. É como um carro de gângster americano. Eles colocaram um elevador nas escadas de nossa casa. Algumas vezes eu subo as escadas olhando pros discos de ouro e platina na parede.” [Clive Burr]

Diante da sua tragédia pessoal, Burr e sua ex-banda se reaproximaram. O ex-baterista sempre era chamado no palco quando o Iron Maiden tocava em Londres e era visto em fotografias com seus ex-companheiros. Afinal, apesar do distanciamento, para Clive não havia mágoas entre ele o Maiden.

“Toda vez que eles tocam em Londres, Clive sabe que tudo que ele tem a fazer é pegar o fone e ele tem os dois melhores ingressos do lugar. Pode não parecer muito, mas pra Clive, é. No fim das contas, pra ele, é como seus feitos — quem ele é e o que ele fez — estão sendo reconhecidos.” [Mimi Burr]

MORTE

Na manhã de 13 de março de 2013 um comunicado foi postado nas mídias do Iron Maiden com a triste notícia: Clive Burr havia falecido aos 56 anos de idade.

“Estamos profundamente tristes em informar que Clive Burr faleceu ontem à noite. Ele sofreu graves problemas de saúde por muitos anos depois de ter sido diagnosticado com esclerose múltipla e morreu tranquilamente durante o sono em sua casa.”

O mesmo comunicado trazia palavras de Bruce e Steve lamentando a morte do ex-companheiro de banda e o reverenciando como “uma pessoa maravilhosa e um baterista incrível” e “bem humorado e irreverente”.

O mundo da música prestou homenagens a Burr. Nomes como Dee Snider, Charlie BenanteDave LombardoAquiles PriesterMike Portnoy e outros falaram sobre o legado deixando por Clive no Heavy Metal.

O funeral de Clive Ronald Burr aconteceu no dia 25 de março no cemitério City Of London, em Londres, e seu corpo foi cremado.

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