O lendário ilustrador Derek Riggs, responsável por criar o mascote Eddie e pelas capas do Iron Maiden até o álbum No Praying for The Dying, falou com o Wikimetal, em Los Angeles.

Derek raramente concede entrevistas, e no bate-papo com a jornalista Jéssica Marinho, revelou alguns easter eggs em suas artes, viagem ao Brasil, trabalho atual e sua opinião sobre as capas atuais do Iron Maiden. 

Além do Iron Maiden, Derek Riggs trabalhou com bandas como Budgie, Gamma Ray, Stratovarius, Impellitteri e White Wizzard, entre várias outras.

Wikimetal: Como você vê o processo de criação de arte digital hoje em dia? A AI dificultou seu trabalho?

Derek Riggs: É praticamente a mesma quantidade de trabalho. Ambos têm lados bons e ruins. Às vezes, coisas que seriam muito difíceis de pintar são muito fáceis no digital. E às vezes você pega algo que é muito fácil de pintar e tenta fazer no digital e fica horrível. Então é só mais uma ferramenta, na verdade. Às vezes é bom, às vezes é terrível. Mas os pincéis são a mesma coisa, mas às vezes você tem que jogá-los fora [risos]. Foi por isso que comecei a pintar com o digital em primeiro lugar, porque cansei de tentar encontrar bons pincéis e fazer a tinta funcionar o tempo todo. Às vezes funciona e às vezes meio que não.

WM: Como foi o processo de criação do personagem Eddie? 

DR: Eddie… O Iron Maiden me dava uma… Geralmente era o título de uma música ou de um álbum. Eles diziam: “O nome é esse” e “é sobre isso”. Sabe, eles me davam o assunto e então cabia a mim criar uma imagem. Normalmente, a melhor imagem é a primeira, porque é a mais óbvia e a mais direta. E você pode desenvolver mais depois, se quiser. Mas geralmente a primeira ideia, o primeiro conceito, é o melhor. Se você ficar enrolando muito, não funciona.

Easter eggs nas artes de capa do Iron Maiden

WM: Você sempre colocou alguns easter eggs nas capas, por exemplo, no Somewhere in Time somente há pouco tempo que se descobriu que está escrito Kim (nome da sua esposa). E também o céu fazendo o formato dos olhos do Eddie. Tem algum que ninguém nunca percebeu? 

DR: Sim, mas o ‘Eddie Eye’ foi um acidente.Todo mundo está falando sobre isso agora, mas foi um acidente. Eu só pintei nuvens.

WM: Sério?

DR: Sim. Tem coisas por toda parte. Tem figurinhas nas vitrines do [álbum, de 1981] Killers. E ao fundo tem um sex shop excêntrico. A placa está um pouco escondida. E também tem uma loja Letraset. Letraset eram “letras de esfregar” que designers gráficos costumavam usar [eram folhas de letras e símbolos transferíveis por decalque a seco, usadas antes da era digital para criar layouts e projetos]. Então, coloquei isso porque precisava de algo na vitrine.

E tem gatos nos telhados e demônios voando para longe. Se você ver o “Twilight Zone” [single do álbum Killers], tem um Mickey Mouse pulando de trás do quadro da Eddie. Todo mundo dizia: “não coloque o Mickey Mouse em alguma coisa. A Disney sempre processa”. Então, coloquei o Mickey Mouse e eles não processaram. Eu simplesmente não contei a ninguém que fiz isso. Se você olhar pela janela, tem pequenos morcegos e coisas voando lá fora. Relógios explodem em “2 Minutes to Midnight” [single do álbum Iron Maiden, de 1984], ou algo assim, porque esse é o horário do Bruce. Tudo acontece no mundo do Iron Maiden aos 2 minutos para a meia-noite. 

WM: Você participou de algumas convenções nos Estados Unidos, e em 2019 havia rumores de sua ida ao Brasil para a Horror Expo, mas não aconteceu. Há planos de ir ao Brasil?

DR:  Ah, eu não tenho nenhum plano. Nós descobrimos sobre uma convenção e tentamos conseguir um convite [para participar] e depois vamos até lá. Nós tentamos ir para o Brasil uma vez, mas realmente não funcionou muito bem. As pessoas nos convidam para a Europa, mas é um longo caminho para um evento de só dois dias, e eu não quero fazer isso.

A opinião de Derek Riggs sobre as artes atuais do Iron Maiden

WM: Atualmente, você trabalha com artes de capas?

DR:  Eu trabalho com muitas coisas. Pinto quadros, faço desenhos. Às vezes faço música eletrônica. Um dia, faço alguma música que outra pessoa possa querer ouvir. Comecei a me mexer com modelagem 3D, não com realidade virtual (VR), mas a física, porque existem mercados onde você pode vender esse tipo de coisa. E eu estava pensando em fazer algo junto com isso. E também estava brincando com a ideia de fazer uma grande história em quadrinhos. Não era sobre o Eddie. Embora eu tenha uma história para o Eddie.

WM: Os leitores do Wikimetal elegeram suas artes de capa as melhores do Iron Maiden. O que você acha das capas do Iron Maiden atualmente?

DR:  Mais ou menos. Eu realmente não olho para elas. A maioria das que vi são cópias meio fracas de algo que eu fiz. Ou eles pintam algo e colam o rosto do Eddie, e é como se não combinasse. Por que você não pinta outra coisa? Mas não, eu não sei. Eu realmente não gosto muito da maioria deles. Não gosto muito dos que eu vi.

WM: Pode deixar uma mensagem para seus fãs brasileiros?

DR: Quantos amigos eu tenho no Brasil? Eu não tenho certeza. Olá, Brasil. Não me faça gritar. Essa é a linha errada, não é? “Screaaam for me, Brazil!”. Ou grite para o Bruce. Ou apenas grite. Scream, Brasil!

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Repórter e Fotógrafa em cobertura de shows, resenhas, matérias, hard news e entrevistas. Experiência em shows, grandes festivais e eventos (mais de mil shows pelo mundo). Portfólio com matérias e entrevistas na Metal Hammer Portugal, Metal Hammer Espanha, The Metal Circus (Espanha) Metal Injection (EUA), Wikimetal e outros sites brasileiros de cultura e entretenimento. Também conhecida como A Menina que Colecionava Discos - [email protected]