Texto por Marcelo Gomes

Ícone dos anos 80, a banda canadense Exciter desembarcou no Brasil para celebrar os 40 anos do clássico Heavy Metal Maniac. Com três shows marcados por aqui (Belo Horizonte, Brasília e São Paulo), a capital paulistana encerrou a parte brasileira da turnê e contou com a participação dos americanos do Bat e dos brasileiros do Inferno Nuclear e Hellway Train. O evento aconteceu na Jai Club e o público paulistano mais uma vez representou, esgotando os ingressos. 

Logo na entrada da casa, o que se via eram fãs usando couro, cheio de patches que pareciam ter vindos diretos dos anos 80. Se o visual remetia a essa época, com o som não foi diferente e coube ao Inferno Nuclear abrir a noite. Eles vieram de bem longe, do Pará para mostrar que no Brasil, toda região tem banda boa de metal. Fazendo um thrash em português com várias críticas sociais, os paraenses conseguiram mandar seu recado ainda com o público chegando. Destaque para a música “Anarquia”, faixa do álbum Diante De Um Holocausto.

Quando os mineiros do Hellway Train subiram ao palco, o público já estava em maior número. Sem cerimônias, o vocalista Marc Hellway surgiu de máscaras acompanhado por Vinicius Thram na guitarra, Chris Maia no baixo e Filipe Stress na bateria, dando uma breve checada nos instrumentos ao som de “Metal Gods” do Judas Priest. Com tudo pronto, deram início à apresentação com “Hell On Earth” e “Born To Rock Hard”. Só pelo visual dos caras, não restava dúvidas sobre as fortes influências do Priest. Todos incorporam o estilo e apresentam o melhor do metal oitentista. 

Marc ressaltou a importância do metal nacional e destacou a participação do Inferno Nuclear. Estranhamente, no PA estava rolando “Otherside” do Red Hot Chili Peppers que foi prontamente rechaçado pelo vocalista. Logo após, uma introdução errada para “Out Of The Cellar” foi disparada, Marc visivelmente irritado, pede para cortar e seguem sem problemas. Apesar dos contratempos, a recepção foi muito boa e depois de “Bounded To Devour”, incluíram “Jawbreaker” do Judas Priest que não estava prevista no set. Fecharam com “Bomberman” deixando a sensação de que a água de Minas Gerais tem algo de especial.

O público parecia não conhecer muito o Bat, mas isso não fez muita diferença na hora que o som começou a rolar. Com dez anos de carreira e dois integrantes do Municipal Waste, Ryan Waste (baixo e vocal) e Nick Poulos (guitarras), o trio americano, que tem Chris Charge na bateria, entregou uma performance para lá de eletrizante. Logos nos primeiros acordes de “Ritual Fool”, ficou claro que não tinha como ficar parado. Músicas curtas e rápidas incendiavam os presentes sedentos por um som visceral e sem firulas. 

No set, “Master Of The Skies”, “Code Rude”, “Will Fever” e “You Die”, que fazem parte do álbum Wings Of Chains (2016) e do EP Axestasy (2019), fizeram a Jai Club tremer. A ótima aceitação do público deixou a banda confiante para apresentar duas músicas novas, “Rite For Exorcism” e “StreetBanger”, faixas do álbum Under The Crooked Claw que será lançado em maio de 2024. “Cruel Discipline” e “Total Wreckage” colocaram fim a excelente apresentação do trio americano que certamente angariou muitos fãs por aqui. Nada mal para sua estreia no Brasil.

Enfim era chegada a hora das estrelas da noite e o Exciter provou porquê é tão querido entre os headbangers. Com a lotação máxima da casa para receber os canadenses, Allan Johnson (baixo), Dan Beehler (bateria/vocal) e Daniel Dekay (guitarra) chegaram para entregar o melhor dos anos 80 e celebrar os 40 anos do álbum Heavy Metal Maniac num show alucinante. Já na introdução, os fãs old school quase que obrigaram quem estava com os celulares para cima a guardarem. E os pedidos foram atendidos por livre espontânea pressão. Como o palco da Jai Club é baixo, até que o pedido não foi tão descabido. 

O show começou com “Stand Up And Fight” e “Heavy Metal Maniac”, ambas do álbum a ser celebrado. Cantadas desde o início e com rodas bem em frente ao palco, a banda retribuía com energia extra a recepção calorosa dos fãs. Apesar da comemoração dos 40 anos, a banda não se prendeu a isso e tocou clássicos de diversas fases da banda. Um bom exemplo disso foi “Break Down The Walls” que foi intercalada com “Iron Dogs” e “Evil Sinner”. A energia da banda era incrível, o lugar parecia transpirar o espírito dos anos 80. Os presentes respondiam cantando e batendo cabeça numa comunhão perfeita com a banda.

Na sequência veio “Feel The Knife” com seus riffs matadores e finalmente foram ovacionados. A casa veio abaixo, Beehler se levantou da bateria com a mão no peito para agradecer a calorosa recepção. Falando em riff matador, o de “Die In The Night” foi até cantado, assim como seu refrão grudento. Uma das coisas legais do Exciter é que eles vão mudando o set durante a turnê. O groove de bateria logo entregou “Living Evil” que foi uma grata surpresa no show. 

A parte final contou com os petardos “Pounding Metal” seguida por um solo de guitarra matador de Dekay, “Beyond The Gates Of Doom”, “Violence & Force” e “Long Live The Loud” que chegaram ao ápice de energia da noite. Os ânimos se exaltaram em alguns momentos, mas graças a turma do deixa disso, a situação foi contornada com sucesso. Para a noite ficar eternizada, tocaram “Iron Fist” do Motorhead com a participação especial do Ryan Waste dividindo os vocais com o Beehler. O encerramento foi apoteótico com Ryan e Daniel fazendo stage diving para coroar esse momento inesquecível. 

O evento todo foi como uma viagem no tempo, um verdadeiro resgate dos anos 80. Capitaneados pelo Exciter, todas as bandas da noite contribuíram para que essa noite nostálgica trouxesse os momentos áureos de uma época em que o metal era mais que um estilo musical, mas um estilo de vida. A depender das bandas e dos fãs, certamente essa fase jamais terá fim.

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