O grupo paulistano Undo lançou seu álbum homônimo de estreia. Com uma sonoridade que remete aos anos 80 e composições repletas de lirismo, a banda consolida sua identidade musical ao mesclar de forma única elementos do pós-punk, rock alternativo e indie em algo altamente contemporâneo.

Formado por experientes e atuantes artistas intimamente ligados ao rock nacional, o projeto autoral é composto por André Frateschi nos vocais, Rafael Mimi e Johnny Monster nas guitarras, Rafael Garga na bateria e Dudinha Lima no baixo e na produção.

Em uma conversa com o Wikimetal, a banda falou sobre o conceito do álbum de estreia, parcerias, rock nacional e próximos passos.

Wikimetal: Como a UNDO nasceu e o que motivou vocês a criarem a banda?

André Frateschi: Só vale a pena estar vivo se a gente estiver fazendo o bom e velho rock and roll e se a gente estiver fazendo arte nesse lugar chamado Brasil. Bom, o Undo é esse filho atemporal que nasceu há pouco tempo, nasceu por conta de uma necessidade de todos nós, uma vontade muito grande de permanecer vivo e permanecer chutando, dando murro em ponta de faca, porque é o que a gente aprendeu a fazer durante toda a nossa vida, toda a nossa carreira. Só que agora, temos umas luvas bem maneiras para dar esses socos e tá melhorando a nossa pontaria e o nosso jeitinho! 

WM: Undo é uma banda que mistura diversos gêneros do rock, mas faz ênfase ao período mais gótico/alternativo da música brasileira. O que fez vocês escolherem se aprofundarem neste estilo?

Dudinha Lima: Eu acho que esse lance do pós-punk tem uma coisa que… É uma época que pegou todo mundo. Todo mundo ouviu muito aqueles sons. Todo mundo tem o DNA daquilo tudo impregnado. Então eu acho que talvez esse lugar seja o nosso ponto de encontro unânime da banda, de ter um lugar que a gente gosta da sonoridade, gosta da onda, gosta da aura, gosta dos temas, gosta do clima. Então, eu acho que é muito por causa disso.

Participações especiais no álbum Undo

WM: O disco conta com participações especiais de Leoni, e Dado Villa-Lobos. Como foi abordar estes artistas para participar do álbum?

Dudinha Lima: Bom, o André já toca há mais de 10 anos com o Dado, com essa nova formação da Legião Urbana, então acho que foi uma coisa natural. O Dado mandou uma música pra gente com um riff muito emblemático e a gente modificou a música pra ficar com a nossa cara, com a cara da Undo. E o Leoni chegou através de um grupo, no qual fazemos apresentações em hospitais, asilos e abrigos. E ele entrou para esse grupo e ficamos muito amigos.

Então, a relação se estreitou também com o André na composição. Fizeram uma letra e uma música juntos. A música “Aprender a Perder” tem uma letra fantástica. E ele adorou a gente, ele é um ídolo para nós. Um cara no qual somos fãs. Então foram aproximações muito espontâneas. A gente talvez não leva muito jeito pra… Ah, vamos fazer com aquela pessoa, porque vai dar um bom resultado aqui e ali. Acho que tem que ter proximidade. Tem que ter um match legal, estar na órbita.

WM: Na audição do álbum, falamos muito rápido com o Leoni, que falou um pouco sobre a sua participação na faixa “Aprender a Perder”. Como foi esta interação com um músico tão prolífico, sem perder o foco do que o Undo realmente queria com o primeiro disco? 

Dudinha Lima: Ele gosta da Undo. Eu acho que ele gosta. Quando ele ouviu os sons pela primeira vez, ele falou ‘pô, bom pra cá…’ Bateu pra ele. E aí eu acho que isso estimulou esse lance de fazer uma coisa junto, vamos fazer uma letra juntos… Ele entrou na nossa. A gente não emulou o som dele, ele entrou na nossa lá no estúdio, ele se matou cantando “Aprenda a Perder”, saiu vermelho do aquário. Ele arrasou e a música é muito boa, a letra é muito boa e a hora que ele entra cantando realmente é muito legal, porque a gente conseguiu colocar ele em uma situação um pouco mais rock do que tem na discografia dele. Então eu acho que fez bem para nós e para ele.

WM: Leoni também falou que Renato Russo foi um contador de histórias no mundo da música e que suas letras praticamente não rimavam. Qual é a sua opinião sobre esta fase da música brasileira? Undo é uma volta a esta fase ou é uma continuação?

André Frateschi: O que eu acho que talvez seja a nossa herança desse tempo é essa coisa das letras, a gente tem esse apego por letra boa. Obviamente que eu estou generalizando e estou falando excepcionalmente das músicas que têm maior alcance comercial, porque tem muita gente muito boa fazendo música para tudo quanto é lado, só que não tem o espaço que merecia e talvez a gente não conheça essas canções. 

Mas nos anos 80, esses caras que hoje estão dentro dos seus quartos estavam tocando no rádio, O Cazuza, o Renato, o próprio Leoni. São grandes… Tem essa coisa da letra e da canção como uma coisa importante. Nós temos um pouco essa pegada. Recentemente, nós lemos que não somos indie o suficiente. E talvez a gente tenha atingido o nosso objetivo, porque aqui todo mundo é indie desde os 16 anos de idade. Já passamos essa experiência. A gente queria mesmo tentar fazer um tipo de música que tivesse uma abrangência maior, uma coisa que não falasse só para o nosso círculo mínimo de pessoas e que conseguisse comunicar com mais gente. Então talvez seja essa a nossa herança, a nossa busca com relação a essas bandas que você citou.

Os próximos passos serão passos de gigantes

WM: Durante a audição, conversamos sobre o videoclipe gravado no topo do edifício Copan, que será lançado nos próximos dias. Como foi essa experiência? Pode dar um spoiler do que podemos esperar desta aventura?

André Frateschi: Esse videoclipe foi uma parceria que a gente fez com a Karen Aquino, que é a pessoa que toma conta de todos os espaços no Copan, e que está fazendo com que se torne um lugar que vai abrigar todo tipo de coisa. Eu tive uma reunião com ela, e ela me sugeriu essa possibilidade de fazer o videoclipe lá. E aí nos apresentou o John Porciúncula, que é o nosso diretor, que entendeu exatamente qual era a atmosfera da música. A Undo é uma banda muito metropolitana, muito da megalópole. Nada melhor para traduzir São Paulo do que aquele lugar.

O videoclipe foi rodado todo em Preto e Branco, então tem uma reminiscência berlinesa também do Wim Wenders, do Tão Longe Tão Perto [filme alemão de 1993]. Tem muitas referências nesse sentido que acabaram fazendo a música ainda maior do que ela é. Ela já é uma das nossas músicas preferidas do disco. E o vídeo conseguiu traduzir ela de uma maneira incrível. Estamos muito ansiosos para lançar esse videoclipe, nesta terça-feira, 18. Esperamos tocar ele na televisão, essas coisas todas. Estamos muito ansiosos mesmo porque ficou uma bonita tradução da música em imagens.

WM: Como a banda está se sentindo com o lançamento do álbum? Como está o feedback do público e da imprensa?

Rafael Garga: Estamos muito felizes de ter lançado o disco, um compilado de músicas e a gente tem recebido feedbacks incríveis, muito legais. Eu às vezes acompanho um pouco das redes sociais da banda e  respondo mensagens de várias cidades do país, ontem mesmo tinha uma pessoa do interior da Bahia dizendo “tô espalhando pra todo mundo aqui quanto tempo que eu não ouço uma banda que traduz os meus sentimentos, assim”. 

Então, óbvio, há quem goste e há quem não goste também, mas eu tenho visto, escutado, coisas muito bonitas sobre o disco. Eu sou o cara que entrou na banda por último. Eu acho que eu consegui ouvir as músicas, assim como o Dudinha também, ouvi um pouco de fora. Quando o Johnny [Monster, guitarrista] me mandou umas demos falando sobre a banda, eu liguei pra ele e falei, “nossa, eu topo, topo agora, vamos tocar”, porque eu achei as músicas, como o Dudinha falou, tem uma onda e as letras do André são incríveis. Acho que tá muito mais positivo do que negativo o balanço geral do lançamento do disco, e é só começo. Ainda vamos trabalhar muito esse começo de 2026, provavelmente esse primeiro semestre vai ser de divulgar bastante o disco ainda.

WM: Há alguma faixa que tenha um significado especial para vocês?

Rafael Garga: Eu acho que não tem uma faixa específica para mim, não sei se para os outros tem… Acho que cada uma traduz um pouquinho alguma história, alguma coisa, e tem uma onda muito legal para mim. Eu, Rafael criança, não imaginaria fazer uma música com Dado Villa-Lobos, então isso é muito legal.

André Frateschi: “Prazer em Recomeçar”, a primeira letra que surgiu, que fala muito dessa nossa vontade e da nossa atitude de retomar. É uma música que fala disso, dessa coragem de estar num lugar já meio confortável e de abrir a porta e deixar o vento entrar e sair pra ver o que vai ter ali na frente, um pouco dessa nossa aventura de montar uma banda a essa altura da vida.

Dudinha Lima: Eu acho que o André falou tudo, eu gosto muito dessa também. Tem um significado bem profundo de término de coisas que, de repente, não tem mais tanta importância e de abrir essa porta que o André está falando, e é o que a gente tá querendo fazer. E ela emociona, ela tem aquele final assim retumbante, apoteótico. Eu particularmente gosto de canções fortes que tem um conteúdo emocional e essa tem.

Johnny Monster: Eu gosto de “Kill Bill”, porque é aquele dedo na ferida, um assunto super atual. A gente fala dos bilionários, daquela situação toda que todo mundo fala… Poderia ser mais justo. E essa música, eu curto muito tocar ela, e curto falar sobre esse assunto, que eu acho de extrema relevância.

WM: Quais os próximos passos da banda? Algum show marcado?

André Frateschi: Os próximos passos serão passos de gigantes. A gente tá, na verdade, com essa vontade, mas dando passo de formiguinha todo dia. É um pouco disso, ter uma banda de rock, essa altura é isso. Acho que em qualquer altura, na verdade. Você está todo dia dedicado a fazer alguma coisa acontecer, a falar com alguém, convencer alguém a te responder o whatsapp, é um pouco isso.

A gente tem certeza do que a banda pode ser, isso é uma coisa comum entre nós todos, a gente sabe, as experiências que nós tivemos ao vivo foram muito importantes para nós, por exemplo, quando a gente teve abrindo o show da Fresno na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Foi uma resposta surpreendente para nós, quer dizer, a gente viu que a banda… As pessoas entram na onda da banda mesmo sem conhecer as músicas. Se a gente tivesse um pouquinho de dinheiro, acho que as coisas seriam mais fáceis. Mas a gente vai no difícil mesmo, não tem problema.

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