Twilight Aura lançou na última sexta-feira, 13, seu segundo álbum de estúdio, Believe. Sucessor de For a Better World (2022), o novo trabalho eleva ainda mais o nível ao apresentar uma paleta sonora expandida, sem perder a característica do grupo.
Com várias participações especiais, o disco foi co-produzido por Andre Bastos com Tito Falaschi, que também ficou responsável pela mixagem e masterização. As artes foram assinadas por Juh Leidl.
Believe é um lançamento Wikimetal Music (Brasil) e Psychomanteum Records (resto do mundo). O CD já está disponível pela Wikimetal Store. Ouça o álbum na plataforma digital de sua preferência.
Em entrevista ao Wikimetal, o guitarrista e fundador Andre Bastos fala sobre as expectativas do lançamento do novo álbum, processo de composição e planos futuros.
Twilight Aura e as expectativas do novo álbum
Wikimetal: O tão aguardado novo álbum, Believe, será lançado esse mês, juntando diversas influências do power metal old school e moderno. Quais as expectativas da banda para esse lançamento?
Andre Bastos: Estamos felizes demais com esse lançamento, essa parceria com a Wikimetal. Originalmente, começamos como uma banda de power metal old school lá nos anos 90. Mas muito tempo passou desde então. Então a gente tem músicas nesse álbum que foram escritas naquele tempo. A gente lançou recentemente o single “Loss of Life”, que tem até a voz do Andre Matos, tem o irmão dele também, o Daniel, que remete àqueles tempos, mas a gente tem umas coisas que são bem mais novas. A música que abre o álbum, “Real Roads”, não é o power metal de ficar cinco minutos com os dois bumbos o tempo todo. Tem quebradas, tem variações. A gente quis trazer uma paleta sonora mais aberta nesse álbum e estamos felizes, bastante felizes com o resultado.
WM: E como foi o processo de produção do disco?
AB: Cada um mora em um canto do mundo. Eu moro nos Estados Unidos, o baterista na Austrália, o tecladista na Inglaterra e os demais, que moram no Brasil, moram cada em um estado diferente. Então, tal qual no primeiro álbum, eu compus as músicas. Então, compartilho com o pessoal da banda, umas demos bem primárias das ideias das músicas, vamos pegando os inputs deles até que eu fabrico a versão final do que vai ser a música mesmo. Depois que a gente tem todos os inputs de todo mundo, a partir daí o nosso produtor que, é o Tito Falaschi, começa também a dar as opiniões dele e a gente fecha e cada um começa a gravar no seu no seu estúdio caseiro e a gente manda tudo para o Tito Falaschi. Então, ele mixa e faz o resultado final.
WM: O novo álbum traz participações especiais de Jeff Scott Soto, Felipe Andreoli (Angra), Fabio Caldeira, BJ e Andre Matos. Como foi cada parceria?
AB: Começando pelo Jeff Scott Soto, a gente se conhece há 10 anos, através de amigos em comum. E essa música a gente gravou há dois anos, mas só estamos lançando agora. Quando eu expliquei para ele qual era a proposta e mostrei a música que foi composta pelo nosso outro guitarrista, Rodolfo, o Jeff gostou muito da ideia. Já lançamos essa música como um single antes, mas agora a gente fez uma versão nova com teclados do nosso tecladista, o Léo, e também um dueto com a Daísa. Então você tem na mesma música o Jeff e a Daísa, uma música bem mais hard rock, ficamos bem felizes.
E quem apresentou o Jeff Scott Soto foi o BJ, o BJ, vocalista da banda Spektra, que faz parte da banda do Jeff também. Eu e o BJ somos amigos há trinta e tantos anos. Ele é um cara muito, muito legal. Nessa música seria muito legal ter a participação dele por causa do histórico da música. Eu expliquei pra ele qual é a história por trás da letra, ele gostou demais e topou participar. Eu estava até no Brasil, a gente foi gravar juntos no estúdio do Henrique Canale, que é o baixista da Spektra.
Já o Filipe Andreoli, ele é um músico fenomenal, ele toca qualquer instrumento muito bem. Não só o baixo, que ele é talvez o melhor do mundo, mas ele toca violão, toca guitarra, tudo. A gente estava no Cruzeiro, no 7000 Tons of Metal, a ideia veio, levantei a ideia pra ele, ele falou. ‘Gravar um solo de guitarra? Sim’. A gente voltou, mandei a música pra ele, ele gostou, topou, passou uns dias e já mandou o solo, pronto. Legal pra caramba.
E a ideia de ter o Andre Matos e o Daniel é um pouquinho maior porque é uma música que foi composta lá nos anos 90. A gente gravou uma demo com a voz do Andre, na época ele participou. E conseguimos recuperar a voz dele digitalmente, resolvemos lançar essa música nesse álbum, então recuperamos a voz dele. E já que ia ter o Andre, pensamos em chamar o Daniel, porque ia ficar lindo. Os dois irmãos Matos na mesma música. Chamamos o baterista, que é o irmão do nosso guitarrista, pra ele gravar também, que é o Fábio Elsas. Então ficamos muito felizes.
Também faltou só falar do Fábio Caldeira, o vocalista e tecladista da banda Maestrick, que recentemente lançou um álbum fenomenal. Eu e o Caldeira já nos conhecemos e instantaneamente nos conectamos, ficamos muito amigos. Eu mostrei a música pra ele, mostrei a ideia, ele topou na hora, ele fez um dueto com a Daísa. Quem gravou os violões e o baixo nessa música foi um amigo meu, Marcel Ribas, que mora aqui, onde eu moro, em Austin, no Texas. É o meu companheiro de banda, tem 18 anos aqui, em Austin. Então eu tô muito feliz com toda essa gente se juntando aos meus companheiros de 30 e tantos anos de Twilight, que agora estamos aqui em Twilight Aura.
Participação do saudoso Andre Matos
WM: O single “Laws of Life” traz vocais do Andre Matos, retirados da gravação de uma demo-tape no início de 1992. Pode nos contar como foi essa experiência de gravar com o Andre naquela época?
AB: Eu tocava em uma banda chamada Skyscraper e foi nessa banda que a gente fez essa música. Eu saí do Skyscraper em 91 para entrar no que viria a ser o Angra. No projeto novo que o Rafael Bittencourt tinha começado, o Andre entrou e virou o Angra. O Skyscraper foi gravar essa música numa demo, e eu perguntei para o Andre e para o Rafa se eles topavam fazer, ajudar na gravação. Eles toparam na hora. Então no dia da gravação, eu fui buscar o Andre no apartamento dele. A gente veio no carro, eu tinha escrito na partitura as partes que ele cantaria. Então ele batia o diapasão no carro e ia cantando as partes dele. Ele chegou no estúdio já pronto, com todas as partes já decoradas. Foi muito legal. O cara do estúdio nunca tinha visto o Andre cantar.
A hora que ele começou a soltar a voz lá, o cara do estúdio falou, que que esse cara, como tem alguém que canta desse jeito. Foi uma experiência única. Quem estava lá lembra desse dia com muito carinho, porque foi incrível. A banda Skyscraper lançou a demo, fez sucesso entre o pessoal do bar Blackjack, mas depois a música acabou ficando guardada. Quando a gente foi gravar esse álbum, o Nasa, que era do Skyscraper, deu a ideia de ressuscitar a música, eu gostei muito. Eu que tinha escrito, falei, ‘então tá bom, vamos refazer e lançar’. Conseguimos recuperar a voz do Andre e ficou essa combinação linda, a voz dele com a da Isa, ficou muito legal. Ficou perfeito.
WM: A música também contou com Daniel Matos, irmão de Andre e atual baixista do VIPER, que gravou os baixos e participou das linhas vocais. O que ele acrescentou de especial na faixa?
AB: O Daniel é um cara muito talentoso, de um bom gosto musical incrível, porque ele não é só de rock, ele toca vários estilos. Ele toca forró, samba, country. Ele tem um grupo de country. Então, quando eu fiz o convite, expliquei qual era a proposta, ele topou na hora. Eu mandei os arquivos da música pra ele aprender. Então foi primeiro na casa do Duny, ele mostrou as partes dele, eu gostei demais dos arranjos que ele fez, porque não é algo que um baixista de power metal faria daquele jeito, como ele tem uma paleta sonora mais expandida, ele veio com mais ideias e ficou muito legal. A gente foi gravar a parte dele no estúdio do Leandro Caçoilo, ele gravou uma parte vocal que ficou muito boa, eu fiquei feliz demais com o resultado.
WM: E agora, 33 anos após a gravação, como é para a banda retomar essa nostalgia e gravar o single?
AB: Então especificamente na banda Twilight não foi do jeito que a gente imagina porque essa música não era da banda Twilight, era da banda Skyscraper, que era a banda que eu tinha antes do Angra. Depois que eu saí do Angra eu fundei a banda Twilight. Então essa música a gente nunca tocou na banda Twilight. O pessoal da banda Skyscraper ficaram assim emocionados, tem vários comentários deles. A gente inclusive convidou o Anderson Bellini para fazer o lyric video da música. E o Anderson Bellini é o maior especialista de Andre Matos que tem hoje em dia.
Ele fez um vídeo lindo, pegou até cenas do Andre cantando, colocou no vídeo também. Para nós, que estávamos envolvidos com essa música desde o começo foi uma viagem no tempo com muito carinho. E essa música foi muito bem aceita. O streaming dela está com um número bom, o vídeo está com números muito bons. De muitos lugares que eu não imaginava que o Andre era tão popular. Ele está levando nossa música para mais longe.
Como a saga Crepúsculo atrapalhou o nome da banda
WM: Queria esclarecer uma curiosidade que eu li sobre vocês uma vez. É verdade que o nome da banda originalmente era Twilight, mas vocês precisaram adicionar o Aura por causa da Saga Crepúsculo?
AB: É muito doido, porque desde quando eu era mais novinho, eu sempre quis que as minhas bandas se chamassem Twilight, mas eu nunca tinha formado uma banda. Eu entrava nas bandas, aí na hora que ia combinar o nome, eu perdia essa. Inclusive no Angra, quando a gente montou, eu sugeri o nome Twilight e eles preferiram Angra, que acertadamente é um ótimo nome. Aí quando eu comecei a banda Twilight do zero, comecei a convidar o pessoal, falei assim, você quer entrar na banda Twilight? Eu não falei ‘vamos montar uma banda, vamos ver o nome’. Não, eu falei, ‘existe a banda, nome Twilight, quer entrar?’
O pessoal topou, então a banda foi com esse nome e eu já gostei. O porquê do nome Twilight? Tem uma banda chamada Electric Light Orchestra, que tem uma música chamada “Twilight”, que foi uma das primeiras músicas de rock que eu me apaixonei quando eu tinha 10 anos de idade. E a palavra é muito bonita, Twilight. Enfim, montamos, e na época a gente não sabia sobre registrar nomes. A gente não conhecia nada da parte de business. Fazíamos demo e tentamos bater nas gravadoras para tentar lançar alguma coisa.
A banda entrou no hiato e quando começou a história do MySpace, eu abri uma página chamada Twilight Brasil, e de repente, de um dia para o outro, começou a entrar um monte de gente. Entrava um monte de gente, assim, bem vampiresca, bem gótico, as pessoas falaram que isso não era o público do Twilight, o que está acontecendo? Foi aí que eu soube que tinha saído uma saga chamada Twilight e o pessoal do Twilight Brasil achava que essa página era relacionada ao filme. Tinha quase 15 mil seguidores em um fim de semana. Eu falei, ‘de onde apareceu isso’?
E quando resolvemos retomar a banda, entre 2020 e 2021, o Rafael Bittencourt, que estava ajudando com a parte de negócio, me colocou em contato com a pessoa que me ajudaria a registrar o nome, e ela me explicou. Ela fez uma pesquisa e mostrou que todas as categorias que têm de registro, todas tinham sido tomadas pelo pessoal do filme. Foi tudo tomado pelos vampiros. E eu não queria me desfazer do nome Twilight, pensamos em alguma outra coisa. E veio a ideia de colocar uma palavra depois, que a gente escolheu Aura. Porque Twilight começa e acaba com a mesma letra, T, e Aura também. Começa e acaba com A. Vai ficar um logotipo legal, soa bem. Até teve gente que falou, ‘nossa, parece nome de escola de yoga’. Mas tudo bem, colocamos o nome e conseguimos registrar.
A diferença em trabalhar com música nos anos 90e atualmente
WM: A banda fez seu retorno em 2021, após 28 anos desde sua formação em 1993. Você percebeu muita diferença nesses quase 30 anos, entre promover seu trabalho, ganhar destaque na mídia, lançar material?
AB: É um outro mundo, completamente. Naquela época a gente tinha que alugar algumas horas caras em estúdio, com poucos canais, fazer milagre enquanto estava lá. Tinha que chegar muito preparado pra gravar. E se naquele dia o cantor não estivesse bem, tinha que gravar do mesmo jeito, porque as horas tão contando. A gente gravava nossa demo no estúdio do Philip Kolodet, bem no comecinho dele. Hoje em dia o Philip é um nome internacional, super reconhecido. Muita gente gravou com ele, e a gente fazia fita cassete, duplicava as fitas, imprimia as capinhas e deixava na revista que tinha, no fanzine, na esperança de que alguém fosse conversar com a gente. Mandava pelo correio para vários lugares do mundo esperando que alguém fosse responder alguma coisa. Seria muito difícil considerar uma forma de se lançar sozinho, era muito difícil considerar isso.
Quando retornamos em 2021, embora estivéssemos cada um num canto do mundo, a possibilidade de poder fazer por conta existe, é muito mais fácil. E eu acesso a informação do que você tem que fazer, qual a parte de business envolvida nisso, é muito mais fácil. Quando começamos a conversar com o pessoal do Wikimetal, para fazer essa parceria, não dá para imaginar fazendo isso lá naqueles tempos atrás. A forma de poder trabalhar juntos, de fabricar, de distribuir, hoje em dia é muito mais clara, muito mais possível e mais democrática, digamos. Mas também a concorrência é bem maior. Todo dia a gente recebe bombardeio de músicas novas. Como é que você vai escolher o que você vai ouvir? Então essa parte a gente ainda está descobrindo como mostrar para as pessoas: ‘Olha, quer ouvir música nova? Ouve a nossa aqui’. E para isso a gente trabalha junto com gente que sabe, que nem vocês.
WM: Vocês que acompanharam a transição da forma de consumo de música, da era analógica para digital, da digital para o streaming. Quais as mudanças mais drásticas que vocês perceberam na forma com que o público interage com vocês?
AB: O músico, antigamente, era um ídolo que a gente não tinha acesso. Era muito difícil saber o que estava acontecendo. Digamos, eu era muito fã do Helloween, e não sabia o que estava acontecendo com o vocalista, Michael Kiske. Eu tinha que esperar sair o álbum, comprar, ouvir no vinil. Ouvia no carro ou no Walkman, gravava numa fitinha pra ir ouvindo. E era isso. E o número, media-se o sucesso de um lançamento tendo o número de cópias vendidas, ou vezes que a música tocava nas rádios, depois na MTV. Do jeito que é hoje, em dia, humanizou-se muito mais os artistas.
Eles são menos heróis, muito mais humanos, até mesmo porque eles estão aparecendo nas mídias sociais e os próprios artistas estão sempre colocando como que é a vida deles. Então são muito mais acessíveis. E sobre o consumo, hoje em dia dificilmente alguém ouve um álbum do começo ao fim, da primeira música até a última. Então existe toda uma ciência, que música vai no começo do disco, que música vai ser a última do lado B, que música vai ser a primeira do lado B. Hoje em dia a gente faz um pouco disso pra tentar seguir uma sequência, sabendo que é bem capaz de alguém pegar uma música, ouvir e passar pra outra banda. Então é a realidade atual, é com isso que temos que trabalhar. Temos que fazer todas as nossas músicas sabendo que se alguém ouvir aquela música, talvez não ouça a próxima.
WM: Uma curiosidade do público é ver apresentações ao vivo do Twilight Aura. A banda já tem shows marcados
AB: Juntar pessoas de quatro continentes diferentes para chegar num palco e se apresentar é um desafio para poucos. Não vamos falar não, nunca vamos fazer isso. Mas não temos planos no momento. Inclusive, recebemos convites para alguns festivais bem legais. Não quero por o nome aqui ainda pra não atrapalhar se acontecer, mas estamos considerando com carinho. Mas vamos lembrar que juntar esse pessoal pra fazer uma apresentação, digamos, num lugar que vai pouca gente, o prejuízo é muito grande, você basicamente destrói a moral da banda.
Então, estamos muito felizes em gravar e lançar, para fazer um show, é uma história que ainda temos que desenvolver. Vamos promover bastante esse lançamento. Vamos continuar lançando música. Temos até mais coisas gravadas que pretendemos lançar em algum momento, não muito distante. Nãp conseguimos parar de fazer música. Então vamos continuar produzindo, gravando, lançando, esse é o mínimo.
Pode deixar uma mensagem para os leitores da Wikimetal?
AB: Pessoal, estou feliz demais com essa parceria que estamos fazendo. Queria mandar um abraço pro Dani e pro Nando, que começaram esse projeto lá atrás, em 2011. Eu lembro quando começou. E começou a lançar música de muita qualidade. Me sinto honrado de ter o nome da banda Twilight Aura associado ao Wikimetal. Vamos continuar apoiando esse veículo de comunicação do metal, de divulgação e de música boa em geral.
Espero que vocês comprem a cópia física do CD também, porque a arte tá linda. Vocês vão poder ter acesso a toda a arte que a Juh Leidl fez, que está maravilhosa. Ah, mas não tem onde ouvir o CD? Não é pra ouvir mais CD hoje em dia. Compra a mídia física, faz a sua coleçãozinha, curte porque é muito legal, completa a experiência artística. Dá uma chance pra gente. Tomara que vocês gostem.
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