The Sisters of Mercy retorna ao Brasil em 2025. Dessa vez, a banda liderada pelo lendário Andrew Eldritch, se apresenta no dia 26 de setembro, em São Paulo, no Tokio Marine Hall. Os ingressos estão à venda no site da Ticketmaster.

Em uma conversa com o Wikimetal, o guitarrista Ben Christo falou sobre como é trabalhar com o The Sisters of Mercy, nostalgia, gravação de um novo disco e a paixão dos fãs brasileiros.

Wikimetal: The Sisters Of Mercy lançou seu primeiro registro em 1980 – no ano em que você nasceu. Como é fazer parte de uma banda com tanta história?

Ben Christo: É realmente estranho, porque a maioria das histórias do Sisters of Mercy, cronologicamente, ocorreram depois da última gravação. Então, digamos que de 1994 até 2024 são 30 anos da história da banda em que não havia trabalhos gravados. Então, é bastante fascinante que você esteja em uma banda em que o catálogo foi gravado, aconteceu nos primeiros, digamos, 10 a 15 anos da banda. E desde então foi baseado em apenas shows, da qual eu sou parte há 20 anos. Então é bizarro ser parte de algo que quase teve duas eras diferentes. E conectar essas duas em uma apresentação agora é o desafio que tentamos enfrentar. 

WM: Você faz parte da banda desde 2006. Como é trabalhar com Andrew Eldridge? 

BC: É interessante, muito interessante, porque ele é um indivíduo fascinante, um indivíduo muito inteligente, muito talentoso. E eu aprendi muitas coisas dele, eu aprendi muito sobre como escrever melhores músicas, como performar melhor ao vivo. E muito disso é sobre restrição e sobre segurar as coisas. Quando eu comecei a me juntar à banda, meu estilo de tocar e meu estilo de escrever ocupavam o meu tempo todo. Eu queria estar fazendo coisas o tempo todo. E se eu não estivesse tocando em uma parte de uma música, eu sentia que não estava fazendo nada. Agora eu entendo que pode ser muito mais poderoso simplesmente ficar no palco com duas ou três notas e olhar para o público, isso é muito mais efetivo do que tocar muitas notas e olhar para seus discos. Você pode ter uma conexão muito melhor com as pessoas se você mostrar restrição. Restrição no toque, restrição na escrita. 

Então, quando eu estou co-escrevendo com o Andrew, nos últimos anos, eu sei que para que uma música passe pelo filtro de ser aceita, geralmente precisam ser três ou quatro notas executadas efetivamente em um modo dramático, cinemático e intrigante. E isso é muito mais desafiante do que fazer muitas notas e dizer: ‘Olhe, fiz várias coisas’. Eu fiz três notas e acho que elas são bem boas. Ele definitivamente me ensinou muito sobre restrição. O que eu acho bem fascinante sobre o Andrew Eldridge é que se você olha para muitos dos outros artistas e os vídeos de música que eles estão gravando, eles são todos: ‘Ei, olha pra mim, eu sou incrível!’. Enquanto que a postura do Andrew é estar se escondendo, saindo da câmera, se consolando.

Pense em “Dominion” e “Lucretia My Refletion”, esses vídeos em que ele tem uma presença espectral que desaparece e é enigmática. Eu acho que essa é outra coisa que deu logenvidade à banda. É que ele mantém esse mistério. E até hoje, Andrew Eldritch não é um homem com presença na mídia social. Enquanto muitos dos parceiros de Eldritch têm suas próprias páginas no Instagram. E como um fã de algumas dessas outras bandas, às vezes me senti um pouco decepcionado que eu mantivesse essa pessoa em tão alto respeito, e agora eles estão postando sobre… O mistério se foi. 

Planos de lançar o sucessor de Vision Thing (1990)

WM: Ao vivo, o Sisters toca músicas nunca gravadas em seus álbuns, algumas bem conhecidas dos fãs como “Crash and Burn” que é executada desde 2000. Existem planos de lançar um novo álbum de estúdio?

BC: Eu tenho uma resposta política para essa pergunta. Como você pode imaginar, eu sou questionado muitas vezes. E a resposta de um político é que não há nenhum plano de gravar um álbum. Não há nenhum plano de não gravar um álbum. Então, vamos ver o que acontece. 

WM: Como você se sente sobre o fato da banda não lançar novos álbuns?

BC: Eu acho que inicialmente eu estava um pouco desapontado, porque nós escrevemos algumas ótimas músicas juntos e seria maravilhoso recebê-las gravadas e poderia ser um ótimo processo de gravação. Mas com o passar do tempo, eu percebi que é bem libertador poder escrever novas músicas sem ter que gravá-las e lançá-las, e ainda poder ser criativo. Porque a razão pela qual muitas bandas escrevem e gravam álbuns é para que as pessoas venham e vejam o show ao vivo. Nós não precisamos fazer isso. As pessoas já vêm ver o show do The Sisters of Mercy.

Nós tocaremos em qualquer lugar do mundo e 2.000 pessoas aparecerão. Então nós não temos que colocar essas músicas em um disco. E o processo de gravar um álbum é extremamente demorado, mentalmente, emocionalmente e fisicamente demorado, e muito caro. Nós não temos que fazer isso, nós podemos apenas escrever as músicas. E também não existe um sistema de filtro, não existe uma gravadora dizendo: “Nós não queremos que você faça essa música, ou nós queremos que você lance essa música. A nova foto promocional deve parecer assim, nós queremos que essa pessoa faça o trabalho de arte para você, ou isso deve ser o solo”. Nós podemos escrever coisas e apreciá-las sem qualquer limitação. Então temos muita certeza de que não precisamos gravar um álbum para que as pessoas ainda venham ver os shows.

Sucesso entre o público jovem

WM: “No Time To Cry”, clássico do First And Last And Always, está na trilha sonora da nova temporada da série ‘Wandinha’ da Netflix. A banda tem percebido algum impacto após entrar na trilha sonora de uma série famosa?

BC: Eu acho que aumentou o nível dos fãs mais novos e jovens que temos. Nós tocamos agora shows com público de 18 anos, até pessoas de 60 anos, que é uma coisa ótima. Eu acho que talvez um número desses novos fãs tenham aprendido sobre a banda através de coisas como trilha sonora, eu acredito. A música “Never Land (A Fragment)” foi usada na série American Horror Story: Hotel. Então essas sincronizações da música da banda com a televisão moderna, eu acho que ajudou. E também ilustra a natureza inesperada da música, da letra de Andrew e da voz dele, para que quando as pessoas escutam essa música pela primeira vez, adolescentes escutando essa música pela primeira vez, de quase 40 anos atrás, eles achem incrível! E não há esse aspecto de “O que é isso? Isso é música antiga, isso é o que minha mãe e pai gostam, eu odeio isso”. Há um elemento de excitação ainda, inspirado pela mágica, que o Andrew é capaz de impactar através de seus vocais e suas letras. 

WM: The Sisters Of Mercy é cultuado no Brasil e está sempre se apresentando por aqui. Você e Andrew tem noção desse verdadeiro ‘culto’ à banda em nosso país?

BC: Que ótima pergunta. Quando a gente toca no Brasil, a resposta que recebemos é bem diferente de, digamos, na América do Norte, na Austrália, na Europa, na Europa do Oeste. Eu acredito que as pessoas têm o mesmo nível de paixão pela música em todo o mundo. Eu acho que o amor pela música, não importa de onde você é, ou qualquer coisa assim. A música é uma medicina para curar as pessoas, onde quer que estejam. Eu acho que as pessoas só expressam esse amor de maneiras diferentes. E o que nós vimos, particularmente nesta parte do mundo, é que essa paixão é mostrada muito visualmente e muito vocalmente, por pessoas gritando e gritando e se sentindo tão animadas em ver a banda. E eu acho que estamos definitivamente conscientes desse nível de euforia e quase histérica que acontece nessa parte do mundo. Mas, por que você acha que o jeito que vocês respondem ao rock e metal é tão apaixonante e tão vivo de uma forma diferente de outros lugares do mundo? 

WM: O povo brasileiro tem muita paixão e são fiéis ao estilo, nós colecionamos discos, vamos aos shows, queremos conhecer o artista. 

BC: Então como é que você descobriu sobre The Sisters of Mercy? Porque você é muito jovem para ter crescido com isso, certamente quando os discos estavam saindo. Então você deve ter descoberto isso através de algo mais. 

WM: Eu tinha 13 anos quando conheci a banda e ainda hoje eu me identifico com a música. Sempre gostei do estilo sombrio, gótico, então me apaixonei pelos vocais sombrios de Andrew. E eu conheci algumas pessoas que também são fãs que me mostraram muitas outras coisas sobre a banda.

BC: Bom, isso é bom. Foi uma conexão imediata. Eu acho que muitas pessoas têm isso. Quando ouvem primeiro The Sisters of Mercy?, imediatamente amam ou não estão interessados. É muito um ou o outro. E eu acho que muitos artistas têm essa qualidade divisiva, onde você escuta e você ou ama ou não é para você. Enquanto se algo te faz sentir como ‘Isso não é necessariamente uma obra de arte vencedora’, porque não te fez realmente sentir nada. E eu acho que a reação que as pessoas têm ao  The Sisters of Mercy quando ouvem a primeira vez, é o seguinte: ‘O que é isso? É incrível’. E essa foi a minha reação quando eu tinha 14 anos e ouvi a banda pela primeira vez. Eu me lembro escutando, eu me lembro da música, do momento, e pensando, isso é incrível, isso me fala, eu me conecto com isso, isso é significativo. 

Projetos além do The Sisters of Mercy

WM: Você possui outros projetos e fez parte do Ghost por um período, gravando o álbum ao vivo ‘Ceremony And Devotion’. Como faz para conciliar esses projetos e como foi fazer parte de uma banda com maior apelo como o Ghost?

BC: Eu não posso confirmar ou negar que eu estive nessa banda. Eu posso falar de outras bandas que eu estive. Eu toquei com uma banda chamada Ricky Warwick & The Fighting Hearts, e Ricky Warwick é um cantor que estava em uma banda, The Almighty, que eu amava quando eu era jovem, e ele também tocou em Blackstone Riders e Thin Lizzy por um tempo. Então eu realmente gostei. 

Eu comecei a trabalhar com ele quando eu era fã e, nos últimos anos, eu estou desenvolvendo minha própria banda chamada Diamond Black, que é uma combinação da década de 80, com alguns elementos mais escuros, sintéticos, e eu realmente gostei de trabalhar com isso também. Tudo pode ser bastante demorado, tocando em projetos diferentes, e então eu acho que o que está acontecendo no momento é que eu tenho The Sisters of Mercy, que é um projeto, eu tenho a minha própria banda, Diamond Black, que é um projeto de paixão, mas nós estamos realmente construindo isso. E depois eu toco ocasionalmente com outros artistas que… Às vezes a razão pela qual eu toco com eles é porque eles são heróis e a honra e a alegria de poder tocar com esses artistas que eu cresci ouvindo, é um presente. E para mim, se você puder definir sucesso de qualquer forma, não é sobre dinheiro, não é sobre fama, é sobre trabalhar com pessoas que você admira e obter a validação que eles querem trabalhar com você.

WM: O que os fãs podem esperar dessa nova apresentação em nosso país no próximo mês?

BC: Nós decidimos o setlist bem perto do show, então eu ainda não posso dizer nada sobre o que pode estar na setlist, mas eu posso dizer, baseado nos shows que nós acabamos de fazer. A setlist provavelmente será um bom equilíbrio entre os discos lançados e as novas músicas que escrevemos nos últimos 5 a 6 anos. 

WM: Você pode deixar uma mensagem para os leitores do Wikimetal

BC: Oi, aqui é o Ben Cristo, do The Sisters of Mercy, desejando a todos os fãs, leitores e ouvintes do Wikimetal um dia muito, muito feliz. E estamos animados em te ver e nos conectar com você através da música. Então, muito obrigado.

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Categorias: Entrevistas

Repórter e Fotógrafa em cobertura de shows, resenhas, matérias, hard news e entrevistas. Experiência em shows, grandes festivais e eventos (mais de mil shows pelo mundo). Portfólio com matérias e entrevistas na Metal Hammer Portugal, Metal Hammer Espanha, The Metal Circus (Espanha) Metal Injection (EUA), Wikimetal e outros sites brasileiros de cultura e entretenimento. Também conhecida como A Menina que Colecionava Discos - [email protected]