Poucas vozes podem representar a beleza da união entre luz e trevas tão bem quanto o canto angelical de Tarja Turunen. A finlandesa é a principal referência quando se pensa em metal sinfônico, desde os primeiros passos ao lado do Nightwish até a produtiva carreira solo, criando um legado abrangente e único. Prestes a retornar ao Brasil para celebrar o corpo de trabalho forjado nas últimas décadas, a cantora conversou com o Wikimetal sobre a coletânea Best Of: Living The Dream.

Lançada em dezembro do último ano, a coletânea reúne os principais sucessos da carreira solo de Tarja, iniciada com o disco My Winter Storm (2007). Para a tracklist, a artista fez uma seleção pessoal das faixas favoritas dos seis álbuns de estúdio lançados desde então. “A seleção das músicas para o álbum principal do Best Of foi bastante fácil, pois eu queria incluir as músicas que percebi serem as favoritas dos fãs em meus shows e que foram lançadas como singles dos meus álbuns. No entanto, lançamos diferentes versões da coletânea como edições limitadas e especiais, e nessas versões eu pude escolher minhas próprias músicas favoritas. Essas músicas são mais artísticas e progressivas. Para um verdadeiro fã, esses álbuns de edição especial sempre despertam muito interesse”, comentou a cantora. 

Ao ouvir a seleção de sucessos de Tarja, é inevitável refletir sobre o teor autobiográfico e as mensagens de superação recorrentes nas letras. Esse é o caso de “Diva”, parte do disco The Shadow Self (2016), na qual a cantora finalmente respondeu em música às acusações feitas no tumultuoso processo de demissão do Nightwish, quando foi pega de surpresa por uma carta aberta ao público na qual era descrita como uma pessoa de difícil convivência e uma diva, no pior sentido da palavra. 

Questionada sobre o equilíbrio entre a maldade com a qual foi taxada de diva e a posição de musa inspiradora para milhares, Tarja reitera o quão distante está dessa imagem de uma pessoa de nariz empinado e orgulhosa. “Me machucou profundamente quando minha reputação foi prejudicada por várias acusações falsas no passado, feitas por pessoas que não tinham outra maneira de seguir suas próprias vidas a não ser fazer isso. Mas eu escolhi ouvir meu coração e seguir meu sonho com a música”, explicou. “Adoro tocar a música ‘Diva’ em meus shows e, ao fazer isso, estou dizendo às pessoas que não devemos nos importar com o que os outros falam mal sobre nós, apenas porque suas próprias vidas são miseráveis, eles têm inveja ou querem ser como você. Cada um de nós é a diva de suas próprias vidas”. 

Essa mensagem de empoderamento é uma constante nos álbuns de Tarja, ainda que os conceitos mudem e explorem diferentes aspectos dos sentimentos e emoções. “Eu encorajo as pessoas a viverem seus sonhos, a seguirem suas paixões e a viverem suas vidas plenamente neste momento. Pode parecer um clichê, mas certamente não é. É muito difícil perceber que a vida passou sem ter uma única chance de viver verdadeiramente e fazer as coisas que você sempre quis fazer, talvez apenas porque você teve medo de fazer uma mudança. E se não houver amanhã?”, questiona. 

A história de Tarja com a música começou ainda na infância, quando os pais a matricularam no coral da igreja que frequentavam, e se tornou uma profissão ainda na juventude – ela tinha 20 anos recém-completados quando o Nightwish estreou com Angels Fall First, em 1997. Com a aproximação da marca de três décadas como uma das vozes mais reconhecíveis do metal, existem alguns conselhos que ela daria à Tarja do passado: “Com certeza, diria a ela para não permitir que as pessoas a usem como uma marionete e não aceitar coisas que a machucariam. Eu diria a ela para trabalhar duas vezes mais para aumentar sua força interior”. 

Nesse processo de revisitar as memórias e momentos marcantes da vida nos palcos, a vocalista se orgulha da constância com a qual manteve uma carreira internacional, com uma base de fãs bem estabelecida pelo mundo inteiro. Mas para além das lembranças felizes, Tarja se mostra animada para os próximos passos. “Sinto honestamente que o melhor ainda está por vir”, disse. 

Como parte da turnê internacional de divulgação do projeto, Tarja retorna ao Brasil em setembro de 2023 para uma série de shows voltados aos hits da carreira, passando por São Paulo, Curitiba e Limeira (veja mais detalhes aqui). A relação com o país começou há mais de 20 anos e nunca mais parou: de acordo com dados do Setlist.fm, somos o segundo país da América Latina com mais shows de Tarja, perdendo apenas para a Argentina, onde a cantora já morou com o marido, Marcelo Cabuli. 

Na expectativa para as apresentações pelo nosso país, Tarja finaliza a conversa com o Wikimetal falando de uma das outras paixões que tem pela cultura do Brasil (além dos fãs, é claro): Eu amo picanha! Não tem como eu visitar o brasil sem jantar em alguma churrascaria. Eu adoro a comida local de forma geral, então ter uma boa experiência culinária no país é um dever”, comentou. 

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