Há quase 30 anos, o Springbok Nude Girls vem se consagrando como uma das bandas mais premiadas e reconhecidas da África do Sul. Construindo uma extensa discografia desde 1994, o grupo lançou seu novo álbum, Partypocalipse, em setembro; um divertido e poderoso disco de rock com riffs cativantes de guitarra e letras contemplativas, provocando uma sensação literal de festa durante o fim do mundo.

Apesar de ser finalizado durante a pandemia, o Partypocalipse começou a ser escrito em 2019. Este foi o primeiro disco do Springbok masterizado pelo guitarrista Theo Crous, que falou mais sobre o projeto em entrevista ao Wikimetal. Crous se recorda que mesmo antes da pandemia haviam grandes preocupações da sociedade que causavam essa iminência de catástrofe, mas que eram deixadas de lado enquanto seguíamos com nossas vidas.

“A música de onde veio o nome Partypocalipse, “SA Tan On The Beaches”, é mais como um reflexo de para onde a sociedade estava se encaminhando e continua se encaminhando, independente do COVID,” reflete. “Se você pensar nos problemas ambientais, é como se o mundo estivesse seguindo em frente mesmo que existam esses outros problemas que nós deveríamos resolver, mas não nos importamos. É quase como se ignorássemos os grandes problemas da sociedade para dar uma festa.”

Para além das questões ambientais como a disputa por óleo e a escassez de água, Theo também aponta o cenário sociopolítico da época como algo importante, mencionando reflexos da gestão Trump na África, como a falta de liberdade dos cidadãos sul-africanos para viajar para os Estados Unidos. “Você praticamente tinha que implantar um chip em si mesmo [para entrar no país]. Agora o Joe Biden reverteu grande parte dessas medidas, mas a África do Sul continua na lista vermelha de viagens por causa da COVID,” comenta.

Somado às preocupações envolvendo o COVID, o cenário político e os vários temas sociais emergentes também estava a falta de investimento no meio artístico durante a pandemia, especialmente na música. De acordo com Theo, a maior parte da fonte de renda mundial de músicos parte dos shows ao vivo e essa área do entretenimento se manteve fechada pelos últimos dois anos. “A indústria da música é muito pequena em termos globais, então ninguém se importa com os músicos e com a fonte de renda deles,” conta.

Felizmente, enquanto o cenário mundial apresenta uma melhora e as bandas ao redor do globo voltam lentamente a se apresentar ao vivo, Theo Crous expressa sua vontade de vir ao Brasil pela primeira vez assim que for possível, não só para tocar ao vivo, mas também para surfar nas praias. Ele diz gostar de praticar o surf e também revela que é um grande fã de Gabriel Medina

“Mal posso esperar para fazer shows no Brasil porque nunca tivemos a chance,” diz. “Eu gosto de surfar, então eu adoraria surfar no Brasil. Sou muito fã do Medina. Não tanto do Ítalo [Ferreira]. Eu gosto do Ítalo, mas gosto mais do Medina, especialmente nesse último ano. Ele demonstrou muito crescimento como pessoa e como ser humano, e eu gosto muito do jeito dele de surfar. Entre todos os surfistas brasileiros, eu gosto muito dele.”

Com o Partypocalipse, o Springbok Nude Girls completa 27 anos de estrada, mas, de acordo com Theo, os integrantes da banda ainda se tratam como se tivessem 21 anos, e é assim que se sentem em “seus corações”. O processo de gravação do disco é descrito pelo guitarrista como “divertido”, mas também marca uma breve despedida dos membros originais Adriaan Brand (teclados/trompete) e Arno Blumer (baixo), que por estarem em países diferentes não poderão sair em turnê com o grupo.

Theo reflete que ao longo dos anos, o Springbok Nude Girls encontrou algumas dificuldades porque algumas de suas canções carregam elementos da música sul-africana, o que algumas gravadores interpretaram como difíceis de “entender” e promover. Ao longo de sua carreira a banda combinou gêneros como punk, metal, reggae, funk e jazz, mas construiu em Partypocalipse um disco mais nichado no rock, fazendo faixas divertidas de dançar como “Emerging Submarines” e “Best Friends, Best Enemies”, mas também adicionando um peso extra em “Rolling Thunder” e “Something About The Neighbors”.

Como denuncia o próprio nome, Partypocalipse é o disco perfeito para uma festa no fim dos tempos, promovendo uma diversão momentânea enquanto ainda há vida, ao mesmo tempo em que também nos mantém conscientes do peso do mundo ao nosso redor.

jornalista musical há 4 anos e atual social media do Wikimetal. entusiasta de metalcore, nu metal e post-hardcore. fã de cultura pop e cinéfila de twitter e letterboxd.