Entrevista por: Nando Machado
Texto: Jéssica Marinho
Adrian Smith e Richie Kotzen (também conhecidos como Smith/Kotzen) lançaram no dia 04 de abril, via BMG, seu novo álbum de estúdio Black Light / White Noise — disponível em vinil splatter, vinil preto, CD digipak e plataformas digitais.
Gravado no The House, em Los Angeles (Califórnia), produzido pela própria dupla e mixado por Jay Ruston, Black Light / White Noise evidencia os talentos prodigiosos de Adrian e Richie como compositores, músicos e vocalistas. O álbum de dez faixas é uma verdadeira joia do rock, que se equipara ao melhor trabalho que ambos já lançaram.
Em entrevista ao Wikimetal, o vocalista Richie Kotzen falou sobre sua parceria com Adrian Smith, o processo de produção do novo álbum e uma possível turnê no Brasil.
A amizade entre Richie Kotzen e Adrian Smith
Wikimetal: Me desculpe perguntar isso de novo. Eu sei que você provavelmente já respondeu isso muitas vezes, mas pode dizer de novo como você e o Adrian Smith se conheceram?
Richie Kotzen: Eu conheci o Adrian através de sua esposa, Natalie [Dufresne Smith], na verdade. E a história é que uma noite eu estava saindo e, na volta, meu amigo e eu paramos em um lugar muito conhecido chamado Sunset Marquee. Nós estávamos descansando, não tinha muita gente lá, e meu amigo começou a falar com a Natalie. Nós não sabíamos quem ela era, era apenas uma conversa amigável. E, de alguma forma, a música apareceu, e meu amigo começou a falar sobre mim e minha música. Ele colocou um vídeo, mas ela não olhou o vídeo, ela ouviu ao vivo, e gostou e disse: “Isso é ótimo, meu marido está em uma banda, ele é um guitarrista”, e eu perguntei quem é ele.
E quando ela disse quem era, eu não podia acreditar, eu pensei, meu Deus, isso é incrível, porque eu era um grande fã. E então todos nos tornamos amigos. Adrian veio para a cidade, fomos jantar e nos tornamos muito amigos, Depois de anos de amizade, houve uma sessão de jams aberta em uma festa na casa de Adrian. E foi sugerido pela Natalie que Adrian e eu tentássemos escrever uma música juntos. E foi isso mesmo que inspirou a nossa reunião. Isso foi cerca de 17 anos atrás.
Wikimetal: Então demorou alguns anos até vocês tocarem juntos, certo?
Richie Kotzen: Sim, sim. Eu não estava casado na época em que conheci Adrian, isso prejudicou a minha união com a minha esposa. A boa notícia é que minha esposa está na banda. Então, nós somos muito próximos. Julia [Lage] e eu estamos juntos há 13 anos. Então, todos nós quatro temos uma grande amizade. Nós nos divertimos muito. E a Julia está na banda, então é perfeito. Isso é tão legal.
Wikimetal: E você se lembra de ouvir ou ver o Adrian como um músico? Quando foi a primeira vez que você o viu? Você se lembra de qualquer coisa em particular quando você percebeu seu talento?
Richie Kotzen: Bem, eu percebi que eu amava a música que ele fazia com Iron Maiden. E eu tenho que te dizer, quando eu era criança, eu ia para a escola de manhã, colocava The Number of the Beast e isso ditava o tom do meu dia durante todo o ano escolar. Eu era um fã desde o começo de Iron Maiden e cresci com isso, então ver o meu nome ao lado dele em um álbum é bem legal.
Wikimetal: E como foi para você se comportar como se ele fosse uma pessoa normal ao seu lado?
Richie Kotzen: Sim, claro. É fácil, porque eu não sou uma criança, não sou mais um adolescente. Então é fácil para mim entender isso. Tudo bem, estamos trabalhando juntos aqui, temos um objetivo comum. Eu não posso me comportar como um adolescente, senão ele me diria para me comportar. Eu não acho que ele gostaria disso.
Smith/Kotzen, a combinação perfeita
Wikimetal: Eu estava ouvindo o álbum e é a combinação perfeita de um guitarrista americano e um inglês. É uma mistura de diferentes estilos e um trabalho muito sofisticado de vocês dois, mas o seu estilo é bem nítido. Como você balanceia esses dois estilos? É algo que se torna completamente normal ou natural? Ou vocês falam “Isso é mais minha coisa, ou esse é mais o estilo do Adrian?”
Richie Kotzen: Sim, nós temos muito em comum, mas nós somos dois indivíduos diferentes, é claro. A nossa música é baseada no que temos em comum, coisas que nós gostamos e interesses que compartilhamos. Por outro lado, Adrian tem um lado dele que é único para ele e eu tenho uma parte de mim que é única para mim, musicalmente, e então essa combinação inteira é o que faz o som de Smith/Kotzen. Não existiria sem a influência do outro, então é uma coisa muito legal, é interessante, é uma ótima oportunidade. Algo que eu estou muito orgulhoso de fazer parte.
Wikimetal: E vocês planejam fazer uma turnê com esse projeto?
Richie Kotzen: Nós adoraríamos. É uma questão de tempo, mas eu acho que é mais provável do que menos provável.
Wikimetal: E sobre a banda, os músicos que gravaram com vocês… É difícil não prestar atenção em vocês dois com as guitarras no álbum, mas também tem outros ótimos músicos. Pode me falar um pouco sobre como eles foram escolhidos ou quem são?
Richie Kotzen: Sim. Eu tocando a guitarra base em metade do álbum e a Julia está tocando na outra metade, e foi decidido que nós queríamos tê-la, porque ela é parte de uma banda [Vixen] ao vivo, e ela é uma fantástica guitarrista. Não só uma fantástica musicista ao vivo, mas ela também é ótima em estúdio. Havia uma oportunidade para ela tocar no álbum, então fizemos isso acontecer. Eu toquei bateria na maioria do disco, mas tem duas músicas que o Bruno Valverde tocou. Ele também é parte da banda e eu estou muito feliz com o que ele fez.
Tem outra música no álbum que meu amigo Kyle Hughes toca. O Kyle foi meu baterista na última turnê que eu fiz em 2024. Um jovem muito talentoso e ele fez um ótimo trabalho com a música “Life Unchained”. O que aconteceu foi que o Bruno não estava por aqui na época, e o Kyle estava. Então eu disse: “Vem aqui e toque bateria nessa música”. E ele fez. Então, algumas dessas decisões são feitas, obviamente, no coração você escolhe pessoas que você acha que vão fazer um bom trabalho e que serão boas para a música. Você também tem que levar em consideração quem está disponível e se o seu estilo se conecta com o que você está fazendo.
Wikimetal: Você lançou seu álbum solo, Nomad ano passado. Como é o processo de composição para você? Como isso funciona em sua cabeça? Como você escolhe as músicas que vão estar no seu solo? E com o Adrian, como você decide em que projeto cada música será usada?
Richie Kotzen: Isso se decide por si mesmo, porque as coisas que eu escrevo, que eu termino sozinho, são minhas, então eu apenas as uso por mim mesmo. O que acontece com o Adrian é que eu posso escrever algo e pensar “Eu acho que o Adrian pode gostar disso”, então eu guardo e quando ele chega à cidade eu deixo ele ouvir, vejo o que ele pensa. É bem simples. Quando esse disco foi feito, eu tinha 5 ou 6 músicas que pensei que ele poderia gostar e ele escolheu 3 ou 4 que ele gostou e nós trabalhamos nelas. E é assim com a música dele também. Ele entrou com algumas canções, me mostrou, e nós trabalhamos com as que pensávamos que iriam funcionar bem.
Equilíbrio entre cantar e tocar guitarra
Wikimetal: Em sua cabeça, você se considera mais um guitarrista ou um cantor?
Richie Kotzen: Bem, se eu não cantasse, eu acho que eu seria… Cara, eu não sei, é uma pergunta difícil. Cantar é uma grande parte do que eu faço. Eu sinto que se não fosse por cantar, minha vida seria muito diferente. Então, eu acho que a voz substitui a guitarra de um jeito estranho. Eu cheguei na cena como guitarrista e cantar mudou o estilo de vida para mim. Se eu fosse apenas um guitarrista, eu não viveria a vida que eu vivo. Seria um estilo de vida muito diferente. Mas porque eu canto e porque eu escrevo músicas com palavras que outras pessoas escutam e cantam junto, é uma coisa totalmente diferente.
Wikimetal: Mas você começou como guitarrista e depois se tornou cantor, certo?
Richie Kotzen: Sim, eu acho que você pode dizer isso. Inicialmente, quando era jovem, comecei como cantor porque eu queria me divertir. Eu costumava tentar me divertir com a família e eu não sabia como tocar a guitarra, então eu cantava. Então eu aprendi um instrumento, que era o piano, mas depois eu mudei para a guitarra. E então, na minha adolescência, eu estive em uma banda com muitos caras que eram ótimos cantores. Eles me divertiam quando eu tentava cantar e me diziam que eu tinha uma voz terrível. Eu não cantava. Quando eu fiz meu segundo álbum, eu escrevi músicas que tinham palavras. E a gravadora disse, “Se você vai fazer músicas com palavras, você tem que cantá-las”. E eles me convenceram que eu tinha uma boa voz. E foi assim que eu me tornei cantor.
Wikimetal: Eu tenho que agradecer a esses caras, porque você é um cantor fantástico. Quando o Chris Cornell morreu, eu estava tão deprimido que pensei que nunca poderia ouvir alguém cantando com uma voz tão alegre. Eu não sei, eu acho que é um complemento, mas você me lembra de Chris Cornell às vezes. Você ouviu isso antes, eu suponho.
Richie Kotzen: Não até agora, mas eu vou te dizer, eu vou levar isso como um elogio. Ele é um dos maiores cantores que já conhecemos. Então, um grande elogio, obrigado.
O amor pelo Brasil e uma possível turnê pelo país
Wikimetal: Quais seus projetos para o futuro? Alguma coisa que possamos ter boas expectativas sobre?
Richie Kotzen: Bem, eu acho que agora o foco está no Smith/Kotzen, estou muito animado com ele. Eu não toco no Brasil há algum tempo, talvez eu volte com o meu trio, com a minha banda. Nós estávamos falando sobre algumas coisas e tivemos esse assunto nas últimas semanas, então há a chance de isso acontecer. Mas, você sabe, eu amo o Brasil, minha esposa é brasileira, eu amo a comida, eu amo as pessoas, eu amo ir lá. Então, talvez eu vá como Richie Kotzen ou com Smith/Kotzen, eu estou ansioso para as possibilidades.
Wikimetal: Eu gostaria de agradecer pela música e originalidade, que não é fácil de encontrar hoje em dia. Nós precisamos de mais Smith/Kotzen. Nós precisamos de mais Richie Kotzen e Adrian Smith. Não há tantos por aí, mas nós precisamos de mais desses. Como podemos ter mais desses?
Richie Kotzen: Eu não sei, talvez educação musical em escolas. Você sabe, isso vem dos caras como você, fazendo as pessoas conscientes. Você está fazendo essas entrevistas e está falando com as pessoas e obrigado por abrir a porta para a gente ter um canal para falar sobre nossa música. E é assim, nós fazemos a música e você deixa as pessoas saberem sobre ela. É uma coisa boa. Absolutamente. É nossa missão. Essa é a nossa missão. E estamos juntos nisso. Muito obrigado. Vejo vocês no Brasil um dia.
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