Sete anos após sua última visita, o Pierce The Veil finalmente retorna ao Brasil para uma apresentação única em São Paulo no dia 09 de abril. O show, que inicialmente foi agendado no Carioca Club, precisou ser movido para a casa de show Audio, que tem o dobro da capacidade, devido à alta demanda dos fãs. Ingressos ainda estão disponíveis no site do Clube do Ingresso.

O grupo formado atualmente por Vic Fuentes [vocal, guitarra base], Jaime Preciado [baixo] e Tony Perry [guitarra principal], também lançou recentemente seu primeiro álbum em sete anos, The Jaws of Life (2023). Conversamos com o baixista Jaime Preciado sobre o novo disco, o retorno ao Brasil e uma possível colaboração com a artista pop Lizzo.

Confira a entrevista na íntegra:

Wikimetal: O Pierce The Veil tem um show agendado no Brasil muito em breve e vocês precisaram mudar o local da performance para uma casa de shows maior por conta da alta demanda. Você esperava esse tipo de recepção?

Jaime Preciado: Essas coisas são muito imprevisíveis, especialmente para nós que ficamos afastados por tanto tempo. Sinceramente, não fazemos ideia do que esperar. Não achávamos que não conseguiríamos fazer shows por um bom tempo durante a pandemia e tudo o mais. Não fazíamos ideia do que iríamos fazer em relação aos shows, então foi bem assustador.

Então, saber que temos esse tipo de problema – precisar ir para um lugar maior porque muitas pessoas querem vir ao show – é um ótimo sentimento. Você nunca se cansa de ouvir isso. Estamos muito animados. Já faz tempo demais desde que fomos para a América do Sul e tocamos no Brasil e está na hora. Acho que nesse momento estamos muito animados e nos sentimos reenergizados como uma banda completamente nova. Sentimos que isso é incrível.

WM: Como você disse, vocês ficaram um bom tempo sem lançar nada novo e sem vir para o Brasil. Qual é a sensação de ver que o seu público na verdade cresceu nesse meio tempo?

JP: É muito incrível. Nós somos muito gratos. Somos muito felizes e gratos por podermos nos afastar por um tempo para lidar com as nossas questões e poder voltar sentindo que a banda está maior que nunca, como você mencionou. Não subestimamos isso, sabe? Significa muito para nós.

Ainda mais hoje em dia, que as músicas são muito rápidas e você precisa manter a atenção de todo mundo por conta das redes sociais. É chocante pra mim que as pessoas ainda se importem [conosco]. Acho que é uma prova dos nossos fãs.

Eles têm sido leais desde o primeiro dia. Eles sempre nos apoiaram e crescer junto com eles sempre foi algo incrível, então isso não é diferente. Estamos muito animados e, obviamente, animados para conhecer os novos fãs. Para nós, como eu disse agora há pouco, nós nos sentimos como uma nova banda e também estamos tocando para muitas pessoas novas. Então queremos fazer o melhor e maior show que pudermos. Isso é muito importante para nós.

WM: Quero falar um pouco mais sobre isso porque, obviamente, o Pierce The Veil é um dos nomes mais importantes da cena emo que surgiu nos anos 2000 e um tempo atrás houve uma insurgência de “King For A Day” no TikTok e nas redes sociais, o que eu acredito que tenha chamado a atenção de novos fãs. Você sente que o Pierce The Veil cresceu em popularidade nos últimos anos por conta desse chamado “emo revival”?

JP: Acho que com certeza tem um pouco disso. Toda a movimentação nas redes sociais, ver tantas pessoas participando, foi incrível. Lembro de descer as escadas e minha esposa dizer: ‘Ei, a Lizzo está cantando sua música’. Coisas assim foram meio: ‘Calma, o que foi isso? Que loucura.’ Foi muito especial para nós, especialmente porque estávamos começando a lançar novas músicas, então o timing foi perfeito. 

Mas acho que, novamente, a maior parte disso vem dos fãs. Acho que eles nos ajudaram muito a alcançar isso e tudo o que fizemos ao longo dos anos. É impossível dizer isso o bastante. Estamos muito felizes, somos muito gratos. Nos sentimos como criancinhas de tão animados [risos]. E agora vem a parte divertida, que é tocar essas músicas para todo mundo ao redor do planeta e nós com certeza não queremos esperar tanto assim para lançar novas músicas de novo. Não queremos esperar tanto para viajar ao Brasil e à América do Sul. Estamos tentando voltar à ativa e acho que as pessoas merecem ouvir música.

WM: Quero falar um pouco sobre o novo álbum, The Jaws of Life. Senti um elemento bastante nostálgico no disco, mas também tem muito de quem vocês são agora e do quanto amadureceram. O que esse álbum representa pra você?

JP: Engraçado, eu disse algo semelhante na última entrevista, mas eu sinto que esse álbum é uma imagem muito boa de nós naquela época. Passamos por muita coisa naquele momento e, obviamente, todo mundo precisava lidar com a pandemia, o que foi insano. 

Mas, para nós, naquele meio tempo nós casamos, nosso vocalista é pai agora… Muitas coisas aconteceram e isso é algo importante para nós, sabe? Nós aumentamos a nossa família. Mas não só isso; acho que também nos aproximamos muito mais uns dos outros durante esse álbum quando nos juntamos depois da pandemia e moramos em uma casa em New Orleans por quase dois meses. Acho que isso foi especial.

Acho que não tínhamos notado o quanto precisávamos estar juntos no mesmo ambiente para nos sentir conectados. E acho que esse álbum foi esse tipo de conexão para nós. Poder trabalhar nas músicas e trazer coisas novas, mas que não eram exatamente novidade para nós porque parecia certo – parecia com as coisas que estávamos ouvindo e curtindo. Foi muito especial e nunca vou me esquecer disso.

Para mim, isso foi quase tão especial quanto as músicas que nós fizemos. Foi o tempo que passamos lá e os momentos em que, [por exemplo], o produtor ia pra casa e nós ficávamos acordados até tarde só conversando sobre a vida. Coisas assim foram muito especiais pra nós. 

WM: Quando foi que vocês decidiram que era a hora de fazer músicas novas e começar um novo álbum?

JP: Acho que nós finalizamos a turnê em 2018 ou 2019 e imediatamente começamos a desenvolver ideias e pensar no que queríamos fazer. Nós já tínhamos o nome The Jaws of Life. Partimos dessa ideia e começamos a criar partes aleatórias e sons aleatórios. O Vic [Fuentes, vocalista] viajou um pouco, foi pra Seattle trabalhar em algumas coisas, e nós ficávamos enviando ideias e trechos um para os outros.

Nós só começamos a trabalhar de verdade nisso depois da pandemia, quando nos juntamos e fizemos algumas jams. Aconteceu meio assim, nós só tínhamos várias ideias. Aparecemos com várias músicas, trabalhamos com o nosso produtor, Paul Meaney… Obviamente, ele é do Mutemath e nós nunca tínhamos trabalhado com um artista como ele antes. Foi algo novo para nós.

Começamos a navegar [nossas ideias] e tentar encher o quadro com canções que pensávamos que estariam no álbum. Foi uma parte interessante porque você fica tentando escolher quais são suas músicas favoritas, quais são as favoritas de todo mundo, ideias para torná-las maiores e melhores do que aquilo que você quer. Foi meio assim que começou. E, claro, trabalhar todos os dias em uma casa em New Orleans por dois meses também foi legal.

WM: Muitos artistas comentam que quando eles passam um tempo juntos é quando o trabalho se torna mais interessante e empolgante. Que legal que vocês tenham isso.

JP: Você cria algo novo todos os dias. Sempre tem algo empolgante acontecendo e agora podemos celebrar isso porque o álbum está pronto. Já temos ele em nossas mãos, o mundo inteiro tem. Então agora podemos tocar nossas músicas favoritas do álbum e isso vai ser ótimo. Essa é a razão pela qual fizemos o que fizemos. Estamos empolgados.

WM: Qual sua música favorita no álbum?

JP: Essa é uma ótima pergunta. O último entrevistador também fez. Ai cara… É como perguntar ‘Quem é seu filho favorito?’ [risos]. Eu gosto da primeira faixa do álbum [“Death Of An Executioner”]. Acho que ela é ótima, mas me sinto mal porque foi isso que eu respondi da última vez, então vou mudar [risos].

Eu diria “Shared Trauma”. Essa é uma das minhas favoritas. Ela não ia ser uma música do Pierce The Veil, era só algo em que eu estava trabalhando… Nesse mesmo computador, na verdade. Aí o nosso vocalista ouviu e disse: “Eita, o que é isso? Gostei do som”. E nós meio que gravamos uma demo, mas não achamos que estaria no álbum. Era só algo divertido que soava legal.

E então nosso produtor ouviu e disse: “Uau, o que é isso? Isso é muito legal. Deveríamos desenvolver isso. Isso tem que estar no álbum”. Então nos arriscamos e tentamos fazer algo diferente do que fazemos normalmente, mas ainda é meio que o mesmo. Vou dizer [“Shared Trauma”] por causa do quão diferente ela é para nós. Mas ela mora no meu coração, com certeza. Tem uma vibe muito legal. Amo o som da voz do Vic nela. É tão diferente. Eu sempre quis fazer um som meio lo-fi com batidas programadas e acabou ficando muito legal.

WM: Não vou entrar em detalhes sobre isso, mas nesse álbum vocês trabalharam com uma formação de banda um pouco diferente, agora com 3 integrantes dos 4 originais. Eu queria saber qual foi a maior diferença entre o processo de fazer esse álbum e fazer os outros álbuns que vieram antes? 

JP: Acredito que nós, independente de sermos 3 ou 4, sempre estamos tentando fazer algo diferente, tentando melhorar e não necessariamente fazer a mesma coisa que fizemos sempre. Então toda vez que entramos no estúdio é diferente, nunca é exatamente o mesmo. Dessa vez não foi exceção.

Estamos trabalhando com alguém com quem nunca trabalhamos antes, o Paul Meaney, que, como eu disse, é um artista, então foi divertido ver como o lado criativo dele funciona. E isso foi desafiador em várias coisas porque ele tem opiniões muito fortes e nós queríamos que ele tivesse opiniões fortes. Foi muito legal porque nos impulsionou.

Trabalhamos com Brad Hargreaves, ele tocou bateria no álbum. Ele era o baterista do Third Eye Blind. Nós também nunca tínhamos trabalhado com ele em um disco antes, então também foi algo inédito para nós e foi muito empolgante. Ver ele tocar e fazer o que ele sentia que era natural e dar algumas sugestões… E ele é tão profissional, tão incrível, que foi muito divertido. Diferente, mas ainda o mesmo tipo de coisa nova e divertida. E isso é o que queremos, sabe? E o próximo álbum que fizermos provavelmente vai ser muito diferente desse em termos de como nos preparamos para ele e o que faremos.

Estou animado para ver o que vai acontecer e como tudo vai se encaminhar. Mas toda vez que fazemos um álbum é um pouco diferente e é isso que queremos, sabe?

WM: Você mencionou a Lizzo fazendo um cover de uma das suas músicas, então fiquei me perguntando se vocês consideram trabalhar com algum artista que seja completamente fora da sua esfera? A Lizzo cantou uma música do Rammstein recentemente.

JP: Se qualquer artista quiser trabalhar com um bando de mexicanos de San Diego tocando rock, nós estamos sempre disponíveis. Nós amamos nos juntar a artistas diferentes de gêneros diferentes. Amamos quando as pessoas cantam nossas músicas, gostamos de cantar músicas de outras pessoas às vezes. Depende do que parece certo e do que faz mais sentido.

Eu não tenho necessariamente nenhuma colaboração dos sonhos, mas acho que não me oponho a nada. Essa é a beleza da música, sabe? Você pode misturar várias coisas e fazer o que parece certo e o que soa certo. O céu é o limite, você pode fazer o que quiser. Mas é isso… Lizzo, se você estiver livre, nós poderíamos usar um pouco de flauta. Ela toca flauta muito bem. Podemos colocar no álbum.

WM: Por último, mas não menos importante: O que podemos esperar do show no Brasil? O que o Pierce The Veil vai trazer para nós?

JP: Vamos tentar trazer o The Jaws of Life para a América do Sul e tentar fazer o melhor e maior show que conseguirmos. Já faz muito tempo, tempo demais, e nós estamos tentando montar o melhor show possível e vai ser muito divertido. Estou animado.