A Nervosa esteve no Brasil com um show único comemorando 15 anos de carreira, que aconteceu na última sexta-feira, 05, no Sesc Bom Retiro.
Aproveitando a passagem pela terra natal, a banda promoveu uma coletiva de imprensa na Galeria do Rock para anunciar com exclusividade o lançamento de seu novo álbum. Ainda sem data e nome revelados, o disco deve chegar na primeira metade de 2026 e terá seu primeiro single lançado já em janeiro.
Em entrevista ao Wikimetal, a vocalista e fundadora Prika Amaral revelou alguns detalhes sobre o disco, além de falar sobre a nova formação, turnês e o show de 15 anos.
Wikimetal: O que você pode nos contar sobre o novo álbum? Terá alguma participação especial?
Prika Amaral: Vai ser o primeiro disco da Nervosa que não tem participação de ninguém. E eu também estava tão empolgada com o lance do vocal que eu comecei a testar outras coisas e a gente acabou falando: ‘Meu, não dá. Temos que entregar’. Porque foi realmente uma loucura. Foi no meio de cinco turnês em seis meses que a gente gravou esse disco. Eu não sei como. Foi loucura, mas a gente conseguiu.
WM: A mudança de formação sempre chamou atenção na NERVOSA. O que você aprendeu com esse processo constante de renovação interna?
PA: Esse período de muita troca de formação veio por causa da pandemia. A Nervosa se desmanchou e eu tive que construir uma banda nova em pouco tempo, além do fato de que as mulheres nunca tiveram tanta oportunidade, elas não têm tanta experiência. Muitas vezes as meninas não sabem o que é viver de música na estrada. Elas pensam que é isso que elas querem e depois quando as coisas começam a acontecer, não é bem assim. Elas querem continuar sendo musicistas, mas talvez em outro formato, de um outro jeito. Então essa foi a minha maior dificuldade, mas ainda bem que agora a gente está com a formação mais estável, há mais de dois anos juntas, gravando o segundo disco com a mesma formação só com uma troca de baterista, mas já era previsto, na verdade.
WM: Em algum momento você sentiu medo de perder a essência da banda? Como trabalharam isso musical e emocionalmente?
PA: Eu acho que não. Porque eu sempre fui uma parte muito grande e importante na composição da Nervosa. Claro que eu nunca fiz nada sozinha, todas as meninas têm sua parte, sua importância. Mas muitos dos riffs, muitas das ideias vinham de mim. Então, eu acredito que parte da essência da Nervosa tá comigo. E eu sempre acreditei no talento de milhares de meninas que tem aí pelo mundo que tocam metal, de gerações de meninas que eu não conheço. Eu sempre acredito que as pessoas têm muito talento pra mostrar. Nós ainda somos uma banda nova, ainda em construção. Eu estava mais preocupada em continuar essa responsabilidade de manter a Nervosa viva e viver daquilo que eu amo.
WM: Atualmente, a banda é formada por 5 garotas. Como vocês descrevem a fase atual da banda em termos de sonoridade e propósito?
PA: Sobre a sonoridade… Eu sempre encarei a música como uma arte, uma coisa livre. Eu vou falar por mim, dentro do meu crescimento… Há muitos anos eu tinha outros tipos de pensamentos mais extremos e mais restritos, porque a cena metal de onde eu vim, cresci e aprendi era assim. Então eu me moldei muito, porque as outras pessoas vieram de uma coisa ainda mais restrita. É uma coisa que vai passando de geração para geração, porém a internet trouxe muito diálogo, abriu a cabeça de muita gente e mudou muitas coisas para melhor na cena.
Nesse aspecto de ser menos preconceituoso, de querer punir o outro porque não gosta do mesmo tipo de música ou de não respeitar um artista porque toca um outro tipo de música, porque canta limpo, ou porque toca guitarra limpa, porque não é tão pesado, porque não é extremo, essas coisas… Então, a gente trouxe muitos elementos para a Nervosa desde sempre, na verdade. Trouxemos essas coisas, mas do Perpetual Chaos pra cá a gente começou a se abrir para outros estilos além do thrash metal, mas mantendo as raízes. E nesse disco novo não é diferente. É um disco muito brutal da Nervosa, mas ao mesmo tempo traz uma melodia que a gente nunca trouxe. Trazem coisas que vão surpreender.
WM: Existe algum mercado que vocês ainda não alcançaram, mas que está nos planos?
PA: Meu sonho, acho que atualmente, seria tocar na África. Nunca tocamos na África. Eu, com a Nervosa, fiz as contas e já tocamos em mais de 60 países. Foram 62, se eu não me engano. E esse ano tocamos na China pela primeira vez. É muito difícil, pouquíssimas bandas foram pra lá, é um mercado mais fechado, tá começando a se abrir agora. E eu queria muito conhecer a África porque é um território que não se fala muito e tem uma cena lá. Eu conheço bandas, inclusive, só de mulheres na África, de outros lugares, e eu tenho essa vontade de explorar esses territórios desconhecidos.
Comenoração de 15 anos da Nervosa
WM: A banda vai fazer um show comemorando 15 anos de história. Qual é a importância desse show pra vocês?
PA: Quando eu comecei a Nervosa… Parece que foi ontem. Não parece 15 anos. É muito louco como o tempo passa rápido. E eu me dei conta de que iria ser 15 anos no final do ano passado, e pensei ‘a gente tem que fazer alguma coisa especial’. E eu fiquei muito feliz que a gente conseguiu fazer o primeiro show da turnê de comemoração de 15 anos em São Paulo. Eu estava tentando fazer isso acontecer e foi meio que um acaso junto com um empurrãozinho, vamos dizer assim. Falei assim: ‘seria muito massa se a gente conseguisse encerrar em São Paulo também’. Mas ficou só assim, só joguei pro universo.
E aconteceu. Então, a gente chegou a fazer um show no Japão, fizemos cinco shows em Tóquio. A gente tinha que fazer cinco setlists diferentes, é muita criatividade. Ter cinco setlists diferentes. Então, eu pensei ‘a gente está em uma turnê de 15 anos da Nervosa, vamos contar a história da banda e fazer um setlist mais ou menos cronológico, alguma coisa assim. Fizemos mas foi muito improvisado. Mas rolou legal. E então, deu certo da gente fazer o último show deste ano e o último show da turnê em São Paulo. Eu falei, ‘vamos fazer esse show, só que mais bem elaborado’.
A gente vai estudar melhor o que vai fazer, o que vai falar… E construímos isso, nós vamos tocar em um teatro, no Sesc Bom Retiro, é todo mundo sentado, então faz muito sentido fazer esse tipo de formato. Então a galera não vai poder ficar agitando muito, que é uma pena, mas eu vou estar ali também pra gente tocar as músicas, fazer um revival aí da Nervosa e contar a história também. Tem várias coisas que eu nunca contei, como que a gente gravou, que chegamos a gravar um disco nos Estados Unidos, então tem várias coisinhas que eu vou tentar trazer de informação nova, talvez, que os fãs nunca escutaram. Vai ser isso, um show com stand-up, mas não comédia.
WM: Na coletiva você falou um pouco sobre o show de comemoração dos 15 anos da Nervosa. Em algum momento você pensou em convidar ex-integrantes para a comemoração?
PA: Com certeza, eu convidaria todas na verdade, mas eu acho que ainda a gente é uma banda muito nova, 15 anos ainda, acho que é cedo para isso. Mas eu tenho muita vontade, daqui alguns anos, fazer uma coisa assim, acho que faria mais sentido.
Agora é uma comemoração de 15 anos só pra não passar em branco. Pois 15 anos passaram muito rápido, tem muitas histórias, e eu achei legal trazer um pouco alguns detalhes, contar a história da banda, tanto que a gente vai fazer o show amanhã no Sesc, e vai ser contando a história, igual fizemos no show do Japão. Vamos fazer aqui também e acho que é uma coisa legal.
Mas acho que ainda não é o momento pra trazer todo mundo. É uma logística muito maior, de trazer todo mundo, porque o Nervosa tem integrantes no mundo inteiro, então vai ser bem complicado combinar a agenda de todas também. Todas estão muito ativas, com muitas bandas, muitos projetos, todo mundo em turnê. E seria meio chato trazer algumas e não trazer outras. Então isso é uma coisa mais pra frente.
Nervosa definida em duas canções
WM: Nesses 15 anos de banda, qual seria a música que melhor definiria a Nervosa?
PA: Eu não posso escolher uma música para definir a Nervosa, porque a Nervosa tem várias fases. Se eu escolher uma música atual, eu vou estar sendo injusta com a história da Nervosa no passado. Então eu posso eleger uma música para cada fase da Nervosa.
Se a gente for falar da fase onde a Fernanda [Lira] era a vocalista, eu escolheria “Kill The Silence” pelo significado dela, que foi uma letra que eu escrevi pensando em apoiar as mulheres principalmente, mas qualquer pessoa que sofreu algum tipo de abuso, seja psicológico ou físico, para não ter medo de falar sobre isso. Eu acho que essa é uma música que tem uma importância histórica na banda e até para as outras meninas, outras pessoas que sempre chegam pra mim e falam: “Essa música salvou a minha vida, essa música me ajudou”. Então é uma coisa muito importante.
Agora, a nervosa atual, eu diria que é a “Jailbreak” como música da fase atual da Nervosa porque também foi uma música que a gente criou para o metalhead, o headbanger, a pessoa que gosta de metal, de rock, porque muitas vezes a sociedade sufoca a gente. Ela pede para não usarmos uma camiseta de banda no trabalho, você tem que se adequar e você se esconde. É como se você tivesse que vestir uma fantasia para ir para o seu emprego. Mas você tem que ser orgulhoso de quem você é. É a sociedade que tem que perder o preconceito. A gente tem que lutar contra isso. Então, a música “Jailbreak”… A gente gosta de música com raiva, mas usamos isso de uma maneira positiva. Acho que esse significado também é bem legal.
WM: Qual seu top 3 álbuns lançados em 2025 ou algum show ou artista que chamou sua atenção este ano?
PA: Ah, eu estou meio por fora. Esse ano foi tão corrido. Nós fizemos 5 turnês em 6 meses. Foi um absurdo de correria. E eu não tive muito tempo de escutar música. Porque como a gente trabalha com música o dia inteiro, quando eu tenho tempo, a última coisa que eu vou fazer é escutar música. Eu começo a voltar a escutar música quando temos nossas férias. Por exemplo, agora no final do ano, a gente vem pro Brasil, dezembro, janeiro, eu fico mais em casa, tento descansar e começo a voltar a escutar música de novo. Mas imagina, a gente faz passagem de som, assiste bandas, fica o dia inteiro com música extremamente alta. Você precisa até descansar o teu ouvido, então…
WM: Mas tem alguma banda que você viu o show, que você conheceu esse ano e gostou?
PA: Ah, isso tem várias! Por exemplo, a gente fez a turnê agora com o Testament, o Obituary e o Destruction. E são todas bandas muito lendárias. E foi sensacional a experiência. Todo mundo entregando um show incrível de qualidade sonora, de músicas boas. O Testament acabou de lançar um disco. O disco saiu enquanto a gente estava em turnê junto com eles. E é maravilhoso ver os artistas se reinventando, saindo fora da caixinha, que é o caso, por exemplo, do Testament, que é uma das minhas bandas favoritas, estão no top 5 de bandas favoritas. E foi uma experiência incrível.
Sobre bandas novas, eu tenho seguido muito o Brat, que até foi mencionado aqui hoje. Eu acho muito interessante, acho muito legal. Traz uma energia nova, uma coisa diferente. A vocalista, Natalie Miller, eu acho ela incrível. Tanto cantando, na performance, de não ter vergonha de ser quem ela é. Isso é maravilhoso.
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