O Helloween, um dos pilares indiscutíveis do power metal, celebra seus 40 anos de carreira não com nostalgia, mas com a força vibrante de um novo capítulo. A banda está prestes a lançar seu mais novo álbum, Giants & Monsters, no dia 29 de agosto, um trabalho que promete consolidar ainda mais a poderosa formação “Pumpkins United”. Este novo registro representa o próximo passo na jornada da banda após o sucesso de seu álbum autointitulado, provando que a energia criativa gerada pela união de sete músicos lendários está mais forte do que nunca.
Para mergulhar nos detalhes deste aguardado lançamento e celebrar as quatro décadas de história, o Wikimetal conversou com Markus Grosskopf, baixista e membro fundador da banda. Em um bate-papo descontraído, o músico nos guiou pelos bastidores do processo criativo do novo álbum, abordando a dinâmica única de uma banda com uma formação tão robusta e talentosa. Ele também comentou sobre a jornada do Helloween e a forte conexão que eles mantêm com seus fãs ao redor do mundo, com um carinho especial pelo público brasileiro.
A conversa também navegou entre o passado e o futuro, trazendo reflexões de Markus sobre o imenso legado do Helloween e o que ainda move a banda após tanto tempo na estrada. Com bom humor, ele compartilhou sua visão sobre os próximos passos que seguem o lançamento do álbum e a grande turnê de aniversário, deixando claro que a banda alemã ainda tem muita energia para continuar sua trajetória de conquistas.
Confira na íntegra:
Wikimetal: Em relação ao processo criativo do novo álbum, quais foram os maiores desafios que a banda enfrentou? Adoraríamos ouvir sobre os “Gigantes e Monstros” que vocês tiveram que domar, tanto na fase de composição quanto nas gravações em estúdio.
Markus Grosskopf: Foi um processo muito, muito longo. Tivemos cinco ou seis compositores envolvidos, muitas discussões, e o desafio de montar este álbum. No final das contas, tínhamos todas essas faixas, todas essas ideias, todas essas músicas, sabe? E precisávamos decidir qual música entraria no álbum, qual talvez guardaríamos na manga, ou como iríamos arranjar essas canções. A maioria delas estava pronta, mas aí surgia a discussão: “Colocamos essa parte aqui ou não?”.
Foi um processo muito longo, especialmente quando se tem mais compositores do que a maioria das bandas, que geralmente têm dois. Estamos falando de cinco ou seis compositores, e é sempre um desafio reuni-los e colocar tudo na mesa para decidir quais músicas estarão no disco. Como estamos muito próximos de nossas próprias músicas, não conseguimos ser objetivos. Então, contamos com a gestão e os produtores, que dão sua opinião, ouvindo mais com os ouvidos de um fã, por assim dizer. E isso ajuda muito, sabe? Foi esse o desafio de montar este álbum dessa forma. (risos)
Wikimetal: Focando especialmente no baixo, como você abordou o som do seu instrumento em Giants and Monsters? Você procurou variar drasticamente seu timbre entre as faixas, ou o principal desafio foi encontrar um som único que unisse o álbum inteiro?
Markus Grosskopf: Foram as duas coisas. Eu queria um som que realmente se destacasse, mas que estivesse lá, construindo uma base junto com a bateria, sem atrapalhar todo o resto, sabe? Encontramos aquele som de baixo matador e cortante com o Dennis Ward. Ele simplesmente montou umas máquinas, sei lá o que ele fez, mas de repente tínhamos um som incrível e não mexemos mais nele. Nós nem precisamos usar muita equalização na mixagem final; já tínhamos aquele som. Usamos diferentes baixos que eu toquei, e o som simplesmente estava lá, sabe? E se encaixou em cada uma das músicas.
Eu nunca mais farei gravações de baixo sem o Dennis Ward. Ele é um produtor incrível e é baixista melhor do que eu. É ótimo ter alguém ali sentado quando tenho uma ideia, e ele diz: “Certo, é uma ótima ideia, mas mude apenas duas notas e ficará ainda melhor”. Então, ficamos trocando ideias para criar a linha de baixo certa para a música, porque cada canção pede por uma performance específica do baixo. E é isso que tentamos descobrir. Gostamos de fazer uns fraseados aqui e ali, mas não podemos exagerar a ponto de estragar a linha do refrão, por exemplo. A linha vocal é, claro, importante. E no refrão, você não quer destruí-la com notas demais ou notas muito estranhas. Mas ainda assim encontramos maneiras de dizer: “Olá, aqui é o baixista!” (risos). E soa ótimo, esse é o desafio.
Wikimetal: A turnê de 40 anos promete algumas surpresas, com dicas de que vocês tocarão músicas que não são ouvidas há muito tempo, ou talvez nunca tenham sido. Você poderia nos dar uma pista?
Markus Grosskopf: Eu não sei, ainda estamos ensaiando. Ainda estamos conversando sobre as possibilidades que temos, porque temos tantas músicas. E temos tantas músicas que não tocamos no passado. Mas vamos ver o que é possível agora com três guitarristas; é ainda mais complicado de fazer as músicas. Temos que encontrar um novo arranjo para a terceira guitarra. Essa é a parte em que eu fico sentado, entediado, enquanto eles tentam descobrir qual guitarrista toca qual linha… (risos). Mas isso também é um desafio. Estamos tentando dar o nosso melhor, sabe? Não é fácil, mas funciona muito bem, sim. Estamos bem no meio desse processo.
Wikimetal: Existe alguma música ou era em particular que você mais gosta e quer tocar?
Markus Grosskopf: Ah, não vou te contar! Vai ser uma surpresa, pelo menos para o primeiro show. Depois disso, vai para a internet e todo mundo vai saber de qualquer maneira. Mas quero manter o segredo para o primeiro show. (risos)
Wikimetal: Como baixista e membro fundador, qual você diria que é o seu papel específico na química da banda, especialmente considerando as diferentes energias criativas de Michael Weikath, Kai Hansen e Andi Deris?
Markus Grosskopf: Ah, isso é ótimo, sabe? Quer dizer, esses caras se dão muito, muito bem, como irmãos aqui e ali. E essa é a base de toda a ideia. Se eles não concordassem um com o outro, nada teria acontecido. Temos dois cantores que não querem atrapalhar um ao outro. Eles queriam fazer suas coisas sozinhos, mas são muito abertos. Eles dizem: “Ah, vamos cantar isso juntos”, ou o Mike diz: “Não, isso não é muito a minha praia, provavelmente é algo para a sua voz”. E o contrário também acontece. É ótimo ver como eles trabalham. É divertido, é a química… a coisa da química funciona, e é muito sincero, eles trabalham juntos com muita alma.
Wikimetal: O Helloween tem uma conexão incrivelmente forte e duradoura com os fãs brasileiros. Olhando para trás ao longo dessas quatro décadas, qual é o seu momento mais memorável de um show ou de uma interação com os fãs brasileiros que realmente exemplifica essa relação especial conosco?
Markus Grosskopf: É ótimo sair por aí, em bares por toda parte. E quando você chega aos hotéis, eles querem autógrafos e coisas assim. Eu digo a eles: “Certo, me dê um minuto, vou deixar minhas coisas no quarto e já volto para assinar suas coisas, sem problemas. Mas, quando eu voltar, quero que tenha umas cervejas geladas!” (risos). E então conversamos, bebemos e nos divertimos. Quero dizer, eles sabem como festejar, eles sabem como transformar um show do Helloween em um evento muito, muito especial. Eu vi pessoas quase chorando na primeira fila assistindo ao Helloween, sabe? Isso é tanta energia, e você consegue sentir isso no palco. Quanto mais energia você recebe das pessoas, mais energia você devolve. Torna-se uma unidade, uma coisa unida.
E teve aquele dia em que fui a um bar e havia uma banda cover do Helloween tocando todas as músicas do Helloween. Eu já estava um pouco bêbado, então eles me convidaram para tocar todas as músicas com eles. Mas eles tocaram músicas que nós nunca realmente tocamos ao vivo, que foram gravadas anos e anos atrás e eu nunca mais as toquei. Então eu tive que tocar aquelas músicas antigas… não conseguia lembrar de nada! (risos). Foi bem engraçado.
Wikimetal: Há alguma data ou mais shows no Brasil para a próxima turnê?
Markus Grosskopf: Claro! Estaremos aí em março ou abril. Faremos a América do Sul. Depois disso, faremos a América do Norte, ou vice-versa. É quando eu vou voltar e fazer tudo de novo. Vocês não vão se livrar de nós, continuaremos voltando!
Wikimetal: Na maioria dos álbuns do Helloween, sempre há momentos que se destacam para os próprios músicos. Agora, com Giants & Monsters, existe uma música ou passagem específica em que a linha de baixo que você criou te deixa particularmente orgulhoso?
Markus Grosskopf: A linha de baixo… oh, oh… Eu tenho que ouvir mais algumas vezes para descobrir de qual linha de baixo eu ficarei mais orgulhoso. Tem muita coisa boa, mas ainda não consigo decidir. Tenho que esperar para ver. (risos).
Wikimetal: A turnê “Pumpkins United” foi sobre reunião e celebração. O álbum Helloween foi a prova de que essa formação poderia criar algo novo e poderoso. O que a turnê de 40 anos e o álbum “Giants and Monsters” representarão para o legado do Helloween? Que mensagem vocês querem enviar ao mundo do metal em 2025?
Markus Grosskopf: A melhor mensagem que você pode dar às pessoas é simplesmente dizer e mostrar a elas: nunca desista. Sempre siga em frente, mesmo que haja momentos ruins em sua vida. Continue com o que é importante, descubra o que é importante na sua vida. E de vez em quando, vá a um ótimo show de rock e esqueça todas as obrigações e dúvidas, e divirta-se pra caramba. Mas no final do dia, você tem que passar por momentos de merda e tem que passar por bons momentos, por momentos ruins. Mas continue, continue sendo positivo. Essa é a mensagem que o Helloween gostaria de dar, que eu gostaria de dar às pessoas.
Wikimetal: O álbum Giants & Monsters será lançado em 29 de agosto, quando o Helloween celebra 40 anos. Olhando para trás, para o jovem Markus que gravou o Walls of Jericho, o que você acha que ele pensaria ao ouvir a complexidade e a produção deste novo trabalho?
Markus Grosskopf: Eu amo aquele jovem. Eu amo aquele cara jovem cheio de energia, cheio de testosterona, saindo pelo mundo aos 20 anos. Ainda me lembro daquelas histórias e ainda rio delas. Foram ótimos tempos, mas isso não significa que não tenhamos ótimos tempos agora. É diferente, sabe? Você fica um pouco mais velho, suas costas doem um pouco mais e tudo isso… (risos). Mas ainda assim, está indo ótimo. Estou me divertindo muito agora com o Helloween, tocando todos esses discos, saindo em turnê, me preparando para os shows ao vivo agora na sala de ensaio, ainda tocando todas aquelas músicas antigas como “Ride the Sky”, até com o Kai cantando. É como trazer de volta as memórias. É uma jornada, uma verdadeira e ótima jornada no tempo. Você se lembra de quando era o garotinho Markus. (risos). Sim, é ótimo, me faz sentir muito, muito bem.
Wikimetal: Ao longo de quatro décadas, a indústria da música mudou drasticamente, da era do vinil e das fitas cassete para o streaming. O Helloween não apenas sobreviveu a todas essas mudanças, mas parece estar mais forte do que nunca. Na sua opinião, qual foi o ingrediente secreto que permitiu ao Helloween manter uma base de fãs tão leal e apaixonada por quatro décadas, independentemente das tendências e tecnologias do momento?
Markus Grosskopf: Eu acho que um dos segredos, que na verdade não é segredo nenhum, é um método que meio que seguimos: tentamos ser nós mesmos. Nós não subimos no palco fingindo: “Oh, temos que ser maus, temos que ser metal, temos que parecer maus e agir de forma má”. Não, isso nós nunca fizemos. Nós vamos lá e somos o Helloween. Somos nós mesmos. Não estamos fingindo ser algo diferente ou outra pessoa, não estamos atuando. Digo, no palco e fora do palco, somos uns caras engraçados que tomam umas cervejas. Não, nós somos o que somos. E acho que é isso que as pessoas realmente gostam e acreditam. Não estamos fingindo ser nada além do Helloween. Os sete caras que você vê são como os sete caras no palco e fora dele. Não estamos interpretando um papel, é o que somos. O que você vê é o que somos. E é isso que as pessoas talvez apreciem. Acho que elas querem algo real em suas vidas. (risos)
Wikimetal: Com a adição do Beast in Black como convidado especial na turnê européia, a banda mostra que está atenta à nova geração do metal. Além deles, que outras bandas mais novas chamaram sua atenção e que você acredita estarem carregando a tocha do power metal, para o futuro?
Markus Grosskopf: Ah, eu não sei. Eu não ouço com tanta frequência coisas muito novas porque estou muito ocupado com nossas coisas, comigo mesmo, com amigos e tudo mais, sabe? Então, não estou realmente tão inserido nessa cena. Não mergulho tão fundo na cena para ficar observando o que está acontecendo, onde estão os novos talentos ou qual é a nova onda. Não tenho a menor ideia. Na verdade, sou um velho gagá. (risos).
Wikimetal: A formação “Pumpkins United” conta com três guitarristas e três vocalistas, criando uma parede sonora massiva. Como isso afeta seu papel como baixista em Giants & Monsters? Você e Dani Löble tiveram que abordar a seção rítmica de forma diferente para dar espaço a todos, sem perder o peso e a melodia que são sua marca registrada?
Markus Grosskopf: Bem, isso mostra a você, e a mim, que você pode ter quantos guitarristas quiser, e soa muito interessante, poderoso. A variedade dos três caras tocando de maneiras muito diferentes dá uma abordagem muito distinta às músicas, uma variedade que as torna muito interessantes. Mas também te diz que eu só preciso de um baixo para dar conta do recado, para construir a base fundamental junto com a bateria. E isso é legal. Não tem ninguém vindo do meu lado para tocar um segundo baixo, seria como nadar nas profundezas (risos). Você só precisa de um baixo sobre o qual todos possam construir. E eu gosto desse trabalho, é a minha praia como um jogador de equipe. Eu estarei lá, serei o concreto, e todos podem pular em cima de mim e fazer o que quiserem. E eu encontro maneiras de tocar tipo: “Olá, sou eu, estou aqui!”. De modo que se encaixe na música. Você não fica “fritando” demais quando há uma linha de refrão matadora vindo dos vocais, porque você não quer estragá-la. Mas eu encontro minhas maneiras de executar meus truques de liberdade, por assim dizer.
Wikimetal: Após o novo álbum e a turnê mundial de aniversário, muitos podem pensar em desacelerar, mas o Helloween parece mais energizado do que nunca. Além dos planos já anunciados, qual é o próximo “gigante” que Markus Grosskopf pessoalmente ainda sonha em conquistar com a banda?
Markus Grosskopf: Bem, nós fazemos tudo de novo e apenas sobrevivemos. E fazemos isso de novo e de novo, e faremos enquanto pudermos. E com sorte, seremos headliners de novo, e com sorte… eu não sei o que ainda há para alcançar. Talvez tocar um pouco mais em shows britânicos ou algo assim. Faremos o Hammersmith Odeon de novo, sabe? Onde gravamos o Live in the U.K…. aquele engraçado com a foto desenhada na capa. Isso foi feito no Hammersmith Odeon, e é para lá que vamos voltar. Quero dizer, é só continuar voltando e conquistando o mundo inteiro! É isso! (risos).
Wikimetal: Vocês já fizeram quase tudo, todos os festivais…
Markus Grosskopf: Gostaríamos de tocar na Antártida! (risos). Na frente de alguns milhares de pinguins. Seria legal, daria para fazer um DVD.
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