E eu acho que durante todos esses anos, Refuse/Resist não envelheceu”
Max Cavalera: Alô.
Wikimetal (Nando Machado): Alô, por favor, o senhor Max Cavalera.
MC: Tá falando.
W (NM): Oi Max, aqui é o Nando do Wikimetal, tudo bem? Tô aqui com Daniel, mais uma vez Max Cavalera. É um grande prazer falar com você mais uma vez, tudo bem aí Max?
MC: Beleza meu, como é que tá?
Wikimetal (Daniel Dystyler): Tudo joia, Max aqui é o Daniel. Na primeira vez que você participou do Wikimetal eu não pude participar, então pra mim é uma honra tá falando com você pela primeira vez. Na verdade não é a primeira vez que a gente se fala, porque a gente jogava bola junto lá na época que você morava lá em São Paulo, de vez em quando a gente jogava bola, mas entrevistando é a primeira vez, bem vindo ao Wikimetal.
MC: Valeu. Bom tá aqui, bom tá aqui.
W (NM): É na verdade a gente ouve esse papo do Max jogando bola desde o Parque das Hortênsias, você lembra quando você morava nesse prédio Parque das Hortênsias?
W (DD): Na Angélica.
MC: Na Avenida Angélica, é lógico. Perto da Barra Funda.
W (NM): Antes de você ir pra BH que tinha uma quadrinha lá que rolava um futebolzinho lá.
MC: É, eu não era muito bom, eu era meio perna… meio ralado assim né? Não jogava muito bem não, mas dava pra suar né? Pelo menos. Mas não era nada profissional não.
W (DD): Mas ainda bem que você achou sua vocação depois, né Max?
MC: É, ainda bem né meu? Porque eu jogava bola com o Igor, o Igor ficava puto quando perdia. O Igor não sabe perder, e quando ele perdia, eu chutava a bola no outro quintal, e levava a bola lá pra casa e ele não deixava mais ninguém jogar. E quando ele perdia ele entrava pra casa com a bola e não deixava mais ninguém jogar, acabava o jogo.
W (NM): Muito bom. Vamos começar?
MC: Vamo bora.
W (NM): Beleza, falando sobre o Soulfly, como é que tá a finalização do Savages e como foi a escolha do Terry Date pra produzir o disco?
MC: Ah, tá legal. Ele disse que vai sair agora em primeiro de outubro, primeiro ou dia 4, um dos dois, não sei direito. Mas foi super legal fazer o disco com Terry Date, o Terry Date é um super profissional meu. Eu já conheço ele desde a época que eu trabalhei com Deftones, com Around The Fur, que eu fiz a música Headup né? Que eu conheci ele, e nossa amizade continuou durante os anos, e ele sempre ia no show da gente em Seattle, ele foi já em dez shows diferentes do Soulfly já, e a ultima vez que ele teve no show, eu falei com ele, falei “Oh, vamos trabalhar juntos, todos esses anos passando aí”. Ele mixou Dark Ages né? E o Conquer, mas ele nunca fez uma produção inteira, aí eu resolvi convidar ele pra fazer a produção inteira do Savages. Foi muito legal, e pô… Ele detonou. E é o meu trabalho favorito que eu já fiz com qualquer produtor, pra mim é o Savages. Eu acho que é o mais legal, e foi o produtor mais legal que eu já trabalhei e acho que tem que tirar o chapéu pra ele, pelo som, pela calma que ele manteve no estúdio e as vibrações que chegou dele pra gente, pra banda, foram muito positivas e resultou no CD final, que pra mim tá bom pra caramba. Tá forte, tá um CD forte do Soulfly que muita gente vai gostar.
W (DD): Muito legal. E Max, o seu filho entrou pro Soulfly substituindo o David Kinkade, como foi esse processo, a aceitação dele pelo resto do pessoal, como é que foi?
MC: O Zyon tava… Já tinha levado ele pro Brasil né? Pela turnê do Brasil, no show de São Paulo, no Rio ele tocou com a gente. A gente gostou dele na bateria porque ele trazia bastante energia né? Ele é novo, ele tem 21 anos, então batera novo cheio de energia, cheio de sangue novo, então foi a ideia que eu tive de botar ele na bateria. Não funcionou com o David Kinkade, ele não conseguiu tocar as músicas antigas, ele era mais um baterista extremo que toca mais só Death Metal, então ele não conseguia tocar as músicas antigas. Então eu precisava de alguém que dava pra tocar tudo, e o Zyon consegue tocar tudo. Aí eu resolvi convidar ele pra fazer um CD novo comigo, o Savages, ele toca bateria. E pra mim é um sonho né? De qualquer pai gravar com filho assim, o coração do Zyon abre o CD do Chaos A.D. São vinte anos depois e ele tá tocando bateria num disco inteiro meu, pra mim é um sonho de pai. Então foi muito legal, e ele fez um trabalho muito bom, tô orgulhoso dele. Mas eu não quero tirar ele da banda que ele tá, que ele tem uma banda com o irmão dele, chama Lody Kong, que é mó legal. Então eu não quero atrapalhar a banda dele, então ele tá só emprestado mesmo pro Soulfly. Então assim… é só de “empresto” mesmo, ele fez o disco pra gente, daí a gente vai achar um baterista aí no futuro depois pra continuar no Soulfly.
Parece que a reunião com o Sepultura não vai rolar nunca, os caras não querem fazer, então eu até tirei essa ideia da cabeça”
W (NM): Mas muito legal, eu fui no show de 2012 e ele tá tocando muito mesmo. Engraçado que ele é magrelinho, né meu e… desce a porrada né?
MC: É, ele toca bastante parecido com o tio dele, com o Igor né? Que é um dos bateristas preferidos do meu filho é o tio dele, o Igor, que ensinou muita coisa pra ele, e eu acho que até o estilo deles são parecidos né? Ele toca forte, bate forte, e desce a porrada na bateria mesmo. Então pra mim é legal esse tipo de batera, que o David não era assim né? O David tocava muito leve, quase não ouvia a caixa. Então quando tocava com o Zyon que mete a porrada na caixa, então eu tô mais acostumado com baterista assim, ou o meu irmão Igor, que também mete a porrada na bateria. É igual o Igor fala “se continuar batendo assim, ela confessa né?”.
W (NM): E Max, deixa eu te perguntar, você fez um vídeo há pouco tempo atrás falando sobre as manifestações aqui no Brasil, você foi provavelmente um dos primeiros artistas a se pronunciar, até irônico porque você não mora aqui faz tanto tempo, mas mesmo assim você tem essa opinião formada sobre os absurdos que a gente vive aqui, você conhece bem. Você acha que o rock perdeu um pouco o elemento crítico e falta mais envolvimento dos artistas ativamente nessas questões políticas?
MC: É, eu acho que um pouco. Foi uma coisa que eu quis fazer mesmo, eu tava acompanhando pela internet, e vendo o que tava acontecendo, e fiquei chocado e falei “pô, acho que seria legal fazer alguma coisa”. Daí teve a ideia de fazer um lance online, e botar na internet, botar no YouTube. E eu achei que foi legal, foi uma das primeiras pessoas que fizeram qualquer manifestação assim, e eu até falei o lance se o pessoal quiser fazendo protesto, se quiser usar a música que nem Refuse/Resist que é baseada em protesto, é música de protesto mesmo, pra mim, eu ficaria orgulhoso se usassem minha música como inspiração pro protesto né? E aí foi uma mensagem de coração mesmo, foi um lance bem feito do coração mesmo, não teve nada envolvido. Não teve dinheiro envolvido, ninguém me pagou pra fazer isso, foi uma coisa espontânea mesmo, do coração. De eu mandar uma mensagem pro pessoal mesmo, e uma mensagem do coração mesmo. Mesmo não morando no Brasil, eu to acompanhando os protestos, então eu achei legal e teve bastante repercussão boa, muita gente viu e gostou da mensagem que eu fiz né?
W (DD): E Max já que você citou Refuse/Resist, a gente tem uma pergunta que a gente faz pra todo mundo que participa aqui do Wikimetal, que é: imagina que você tá com seu iPod ouvindo música e tem milhões de músicas de Metal rolando, e de repente rola uma música que você perde a cabeça, que você tem que começar a bangear, independente onde você tá, você não consegue se controlar, você perde completamente o controle. Que música é essa, pra gente rolar ela aqui no Wikimetal?
MC: Olha, Refuse/Resist é uma dessas viu meu, um dos meus riffs favoritos que eu já fiz. Eu acho que o único que chega perto é o novo, que é o do Bloodshed, que é a primeira nova música do Savages, é outro riff que eu gosto pra caramba, que eu tenho orgulho de ter achado esse riff. Mas Refuse/Resist vai tá sempre no coração, a música é de protesto, é uma música de encrenca mesmo, quando eu fecho o olho eu sempre vejo só multidão mesmo, e confusão, e grito, e igual você falou, headbang tem que começar a balançar a cabeça já do começo mesmo né? Eu toco ela ao vivo até hoje, então é uma música preferida, tá sempre no setlist. Uma letra simples, mas tá bem no ponto mesmo da ideia né, dessa rebelião, desse lance de protesto mesmo. Então assim, é uma letra simples, mas forte. E eu acho que durante todos esses anos, a música não envelheceu, igual tem música que sai de moda, não rola mais, então não é o caso do Refuse/Resist. Acho que até hoje continua bem legal, bem contemporânea mesmo.
W (NM): E você acabou de lançar o vídeo de Bloodshed, você se envolve nessas estratégias de promoção dos lançamentos? Qual que é a diferença dessas estratégias de marketing dos lançamentos hoje em dia, pra aquela época de vinte anos atrás?
MC: Ah, eu continuo envolvido né? Fazer vídeo é legal pra mim, eu acho que os jovens hoje em dia que vêm YouTube, que muita gente vê os vídeos, então um tempo atrás você fazia o vídeo e não saía em lugar nenhum, então até alguns vídeos que a gente fez que acabou não rolando nada. Mas hoje em dia tem internet, então o pessoal gosta de procurar os vídeos, e assistir. Eu acho que é legal que tenha um veículo pra você poder ver os vídeos. E aí a gente fez o vídeo novo da Bloodshed que vai ser bem legal, que foi a gente vestido de guerreiros da guerra civil americana aqui, que é um período bem sangrento mesmo na história aqui dos Estados Unidos, então a gente arrumou uns uniformes dessa guerra civil e a gente tá com uniforme tocando a música Bloodshed, e o meu filho Igor tá na música, que ele canta comigo né no refrão. E eu acho que vai ficar um vídeo legal, vai ficar diferente, vai ficar umas imagens diferentes, e é um vídeo com a banda, que o ultimo vídeo que era o World Scum não tinha banda nenhuma e era só uma…foi feito meio que um filme né? Então é legal ter um vídeo junto com a banda de novo, a gente tocando a música, batendo a cabeça, sentindo a energia da música. Igual eu falei, Bloodshed é um dos meus hits favoritos que eu já escrevi na minha carreira inteira, o começo dessa música pra mim é muito forte, e acho que quem ver o vídeo, quem ouvir a música que vai ser o single, que é o primeiro single do Savages, sente já na hora a força dessa música, o poder da música. Então eu tô bem animado mesmo com o CD novo, eu acho que vai ficar bem legal, e tem muita coisa legal no disco, tem uma música com a galera do Clutch, Napalm Death, música em português que é El Comegente, em espanhol e português, e tem tudo. O CD completo mesmo. Então acho que o pessoal vai curtir o Savages mesmo.
W (DD): Beleza, e eu vou pedir pra você escolher mais uma música, agora uma música… bom, que nem a primeira você também escreveu, mas agora eu queria especificamente que você escolhesse uma que você escreveu, que você tem muito orgulho de ter escrito essa música.
MC: Do Soulfly, pra mim ó meu, uma das músicas que eu mais gosto do Soulfly é Eye For An Eye que ela fecha todo show, é a música oficial de fechamento de show, e a gente sempre toca ela na ultima e é muito legal. Eu gosto da simplicidez da Eye For An Eye, porque a verdade se você tiver uma corda só na sua guitarra, dá pra você tocar Eye For An Eye, com uma corda só na guitarra. Então acho que isso que é legal da Eye For An Eye. É super simples meu, é simplicidez ao máximo, é quase punk né? A música inteira são três acordes, não muda muito, mas o refrão que é forte né? Eye For An Eye todo mundo canta junto né meu? É muito forte. E foi a primeira música que eu escrevi depois que eu saí do Sepultura, então pra mim isso aí também é um fato histórico, a primeira música que eu escrevi quando eu senti toda aquela… tudo o que eu tava sentindo naquela época, meio que raiva, tristeza, tudo né junto. Então bastante emoção né cara? Acabou sendo feito nessa música Eye For An Eye, que pra mim uma das músicas preferidas até hoje do primeiro CD do Soulfly.
W (DD): E agora a gente vai ouvir Eye For An Eye, e você citou que essa foi a primeira música que você escreveu depois que você saiu do Sepultura, na ultima vez que a gente conversou, você deixou claro que toparia uma jam com o Sepultura. Teve alguma sinalização, rolou alguma desde então ou não?
MC: Rolou nada meu, essa história é embaçada mesmo, eu já to até meio de saco cheio de ouvir isso de reunião, reunião que não vai rolar. Parece que não vai rolar nunca, que os caras não querem fazer, então eu até tirei essa ideia da cabeça já meu, acho que pra mim não vai rolar e não vai rolar. A vida continua, tenho outras coisas pra fazer, tenho o Soulfly que eu to ocupado, tem o Cavalera Conspiracy que eu vou fazer o CD novo no próximo ano, e tem o livro que eu vou sair em setembro, tem outro projeto que eu to fazendo com o Greg do The Dillinger Escape Plan e o Troy do Mastodon. Então eu tô ocupado, então não tenho nem tempo pra fazer reunião pra falar a verdade. Então pra mim não importa mais.
W (NM): Beleza Max, tá esgotando o tempo que a gente tem pra falar com você. Queria primeiramente te agradecer por tudo o que você tem feito desde, sei lá, 83 provavelmente. Então é uma honra pra gente tá falando com você, as portas do nosso modesto podcast, do nosso site, estão sempre abertas pra você. Queria que você deixasse uma ultima mensagem aí, pro seu gigantesco público brasileiro.
MC: Pô meu, um abração pra todo mundo. Que eu não vejo a hora de tá aí no Brasil, nós vamos detonar tudo, show em Manaus, em Brasília, no Circo Voador, vai ser muito legal. Não vejo a hora de tocar a música nova Bloodshed, tocar tudo o que o pessoal quer ouvir, coisa antiga, coisa nova e um abração mesmo pra galera. Galera, valeu pela força e pelo apoio.
W (NM): Beleza. Dia 25 tamô lá no Carioca e boa viagem aí, e um abraço pra todo mundo aí na sua casa e tamô junto aí velhão.
MC: Valeu meu, um abraço.
W (NM): Valeu Max. Tchau, tchau. Valeu.
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