Apesar dos problemas que nós tínhamos, nós criamos álbuns muito bons. Mas depois de 15 anos trabalhando juntos, depois de 10 álbuns, duas grandes sagas, nós decidimos tentar algo diferente.”
Wikimetal (Nando Machado): Oi, Alex, aqui é o Nando do Wikimetal, do Brasil, como você está?
Alex Staropoli: Oi, como você está? Eu estava esperando por você?
W (NM): Ah, obrigado, isso é ótimo. Então, só para começar, quais foram suas principais impressões quando você criou o Rhpsody?
AS: Foi o Luca e eu começando a… Escrevendo músicas imediatamente, sabe, nosso objetivo era criar algo novo e algo que nós gostássemos. Nós até analizamos o mercado musical da época, e nós percebemos que a música que nós queríamos ouvir não existia ainda. Então nós fizemos o que nós queríamos: criar uma banda de heavy metal com influências da música clássica e de trilhas sonoras. Então nós tivermos sorte de poder fazer o que nós amávamos e o que estava faltando no mercado, sabe. E foi um grande desafio, porque nós éramos uma banda de heavy metal italiana, sabe, então foi muito difícil fazer o mundo acreditar que nós conseguiríamos alcançar esse objetivo final. Nós tivemos muita sorte e nós trabalhamos muito para conseguir isso.
W (NM): Já que você mencionou, como era a cena de heavy metal e hard rock na Itália no começo dos anos 90?
AS: Era uma tragédia. Ser uma banda de heavy metal, uma banda italiana de heavy metal era algo… Um coisa ruim, sabe. E é por isso que foi um desafio, foi uma luta. Todo mundo ria de nós, sabe, todo mundo dizia “vocês nunca vão conseguir”, sabe. Mas nós trabalhamos muito, e eu me lembro desse período como um período muito estimulante, eu e o Luca trabalhando juntos, compondo música, e era fantástico saber que nós tínhamos nas nossas mãos uma coisa especial, nós sabíamos que tínhamos uma coisa que as pessoas poderiam gostar muito, sabe. Então nós investimos tempo e dinheiro, nós éramos muito jovens e humildes, e mandamos demos por toda a Europa e finalmente conseguimos um contrato e lançamos o álbum “Legendary Tales”. Foi um sonho, foi fantástico.
W (NM): E como você vê a cena de heavy metal e hard rock na Itália hoje em dia?
AS: Hoje em dia é muito melhor. Eu acho que há muitos, muitos músicos talentosos por todo o mundo, e na Itália há muitos. Talvez estejam faltando ideias, é difícil propor alguma coisa nova hoje em dia, sabe, isso é difícil, eu acho. Há muitos músicos bons, mas isso não é o suficiente mais, você precisa propor alguma coisa que capture o interesse das pessoas, alguma coisa nova, alguma coisa excitante.
W (NM): E quem você acha, mudando de assunto, Alex, quem você acha que foram os principais artistas que misturaram música clássica e rock?
AS: Ah, bom, há muitos nomes… Eu diria bandas como Deep Purple, Led Zeppelin ou Rainbow, eles fizeram coisas muito legais, sabe, e sem essas bandas não haveria nenhuma outra banda depois. Então eu acho que eles fizeram algo especial e começaram a fazer rock, metal conectado com um tipo de elemento cinematográfico, uma música que conseguia colocar imagens na sua mente, sabe. Então esse era o objetivo do Rhapsody of Fire desde o início, fazer o que era tradicional, mas fazer algo mais, adicionar trilhas sonoras, sabe.
W (NM): Excelente. Mudando de assunto novamente, Alex, nós temos uma pergunta clássica no nosso programa, que nós fazemos a todas as pessoas que nós entrevistamos, imagine que você está talvez dirigindo seu carro, ouvindo seu ipod no shuffle, e de repente começa a tocar uma música que faz você perder o controle completamente. Você pode escolher essa música para que nós possamos ouvi-la no nosso programa agora?
AS: Ah, bem…
W (NM): Uma música que faz você perder a cabeça completamente.
AS: Ah, tem muitas, mas eu diria… Eu diria “Red Sharks” do Crimson Glory.
W (NM): Me conte o que você se lembra das gravações com o grande Christopher Lee?
AS: Ah, sim, foi fantástico. Nós estávamos em Londres e nós o conhecemos no estúdio, nós estávamos lá esperando por ele e ele veio, ele entrou na sala e foi incrível, sabe, porque… Não apenas por causa do seu aspecto físico, porque ele é muito alto e grande, sabe, ele é tão grande… Depois de cinco minutos nós começamos a conversar, conversar sobre música e tal, e nós ficamos muito felizes de perceber que estávamos no mesmo nível de comunicação. Então depois de três dias de narração – e foi muito emocionante, muito excitante ouvir o Christopher Lee narrando as palavras que o Luca escreveu, em relação à saga e tudo mais, foi fantástico – depois no final, ele saiu do estúdio e disse “sim, sim, isso é ótimo, eu adoro, mas todo mundo quer que eu narre, eu quero cantar” ele disse, sabe. A voz dele era muito alta no estúdio, sabe, e nós perguntamos “Você realmente quer cantar?”, e ele disse “Sim, vamos fazer uma música juntos, eu quero cantar junto com o Fabio”. Foi ideia dele cantar em uma música, e então nós fizemos a “The Magic of the Wizard’s Dream”, é uma música que nós íamos tocar ao vivo, nós tocamos essa música ao vivo e todo mundo vai à loucura, sabe. E o fato de que nós tivemos a oportunidade de ter um dos atores mais famosos do mundo cantando conosco foi um sonho mesmo.
Foi um sonho pisar no palco depois da introdução e ver essas 5 mil pessoas gritando, da primeira fileira até a última, todo mundo com as mãos para cima, eles faziam tanto barulho que eu não conseguia nem ouvir a nossa própria música”
W (NM): Excelente. Então você gostaria de escolher uma música do Rhapsody of Fire da qual você se orgulha muito, para que nós possamos ouvi-la no nosso programa agora?
AS: Ah, meu Deus… Essa é a pergunta mais difícil que você poderia me fazer. Tem tantas, tantas músicas ótimas que eu gosto… Vamos tocar “Dawn of Victory”.
W (NM): Quem teve a ideia de gravar a “The Magic of the Wizard’s Dream” em quatro línguas diferentes, e como foi esse processo?
AS: A ideia foi do Christopher Lee’s idea, sabe, porque ele fala tipo doze línguas.
W (NM): É mesmo?
AS: Ele fala inglês, espanhol, francês, italiano e alemão, ele fala grego, russo, ele fala muitas línguas, então ele estava nos forçando a cantar a música em muitas línguas diferentes, então nós fizemos em quatro línguas. E eu me lembro do Fabio falando todas as noites antes dessa música, explicando que o Christopher Lee gostava muito dessa música e queria cantá-la em nove línguas diferentes, sabe… E o processo, na verdade eu não estava lá, mas o Fabio estava e foi muito difícil, sabe, porque o Christopher Lee não estava acostumado a usar fones de ouvido ou cantar na frente de um microfone, ele queria cantar no meio da sala, no ar, sabe, ele achava que conseguiriam captar a voz dele magicamente. E então nós dissemos “não, não, você tem que usar fones, vocês tem que ouvir a música pelos fones” e tudo mais. Então levou alguns dias, mas no final o resultado ficou ótimo. É realmente uma honra ter trabalhado com alguém como ele.
W (NM): “From Chaos to Eternity” representa o final de uma era, o final de uma saga. Quais são os próximos planos para o Rhapsody of Fire no futuro? Qual será o próximo projeto?
AS: Ah, bem, em primeiro lugar eu decidi trazer o Rhapsody of Fire de volta ao palco, voltar a fazer turnês, porque nós temos basicamente dois novos membros da banda, o Oliver Holzwarth e o Roberto De Micheli, que é um grande amigo meu, e nós já tocamos juntos, eu, o Luca Turili e o Roberto De Micheli, nós tocamos juntos no início, antes de o Rhapsody começar, sabe, então e o conheço há 20 anos. E o Roberto foi colega do Luca, eles começaram a tocar guitarra juntos, então foi por isso que eu o trouxe para a banda, sabe, ele é uma pessoa muito legal. Então esse é o motivo pelo quando eu decidi voltar a fazer turnê, para apresentar os novos membros da banda e para mostrar ao mundo que o Rhapsody of Fire continua forte, uma banda estabelecida. E nós tocamos na Europa, agora nós tocamos na América do Norte, na América Latina, e em breve nós vamos voltar para a Europa para fazer mais shows. Depois nós vamos começar a trabalhar em músicas novas, eu estou com algumas ideias na cabeça, e eu já falei com o Fabio e nós realmente queremos fazer algo incrível, algo especial, algo único, porque é um passo muito importante para o Rhapsody of Fire, que tipo de música, que tipo de álbum de estúdio nós vamos fazer? Então o próximo plano depois desses últimos shows é sentar e escrever música.
W (NM): Eu sei que vocês ainda tem uma relação muito boa com o Luca? Como foi exatamente a sua saída da banda? É verdade que vocês ainda são muito amigos? E é verdade que a banda quase se separou depois que ele saiu?
AS: Não, não. A questão é que ele não saiu, nós – o Luca e eu – decidimos nos dividir, separar, sabe, então ninguém saiu de nenhuma banda. Ele resolveu criar a sua própria e eu resolvi criar a minha, mantendo o nome, mantendo o Fabio e o Alex Holzwarth, e ele foi fazer sua própria coisa, então nós só nos separamos amigavelmente, sabe. E sim, nós moramos na mesma cidade, nós nos conhecemos desde que éramos muito jovens, então apesar de não trabalharmos juntos mais, nós continuamos bons amigos, ainda temos muito respeito um pelo outro. Então a amizade não foi o problema aqui, o problema foi conseguir continuar a trabalhar de uma forma estimulante, eu, ele e o Fabio, nós três juntos, estava muito difícil de trabalhar nesse último período, sabe. Às vezes, quando você não tem vontade de trabalhar junto, você ainda consegue criar música boa, porque esse tipo de pressão, esse tipo de problemas ás vezes podem te levar a criar música, e esse foi o caso de álbuns anteriores. Apesar dos problemas que nós tínhamos, nós criamos álbuns muito bons. Mas depois de 15 anos trabalhando juntos, depois de 10 álbuns, duas grandes sagas, nós decidimos tentar algo diferente.
W (NM): E você já esteve no Brasil uma vez, o que você sabe sobre música brasileira?
AS: Sobre música brasileira? Não muita coisa. Eu tenho que falar a verdade. Eu não ouço muita música no final das contas, além de Rhapsody e algumas trilhas sonoras. Eu não quero ser influenciado por nenhuma outra música, especialmente nesse período, que é muito importante para mim, que eu quero criar uma música nova. Então é importante para mim me manter limpo e não ouvir heavy metal ou outras bandas que poderiam ser, talvez, mesmo inconscientemente, que poderiam me influenciar. De qualquer forma, eu amo o Brasil, eu amo a sensação que nós temos quando estamos aí, é um lugar que eu gostaria de passar as minhas férias com certeza. Essa foi a sensação que eu tive da última vez, quando eu vim para São Paulo, eu fiquei “Meu Deus, eu gostaria de ficar duas, três semanas aqui, só ficar aqui”, porque a energia no ar era tão especial, e as pessoas são muito especiais também. E nós somos italianos, então nós somos latinos e somos parecidos. Nós realmente estamos muito ansiosos para tocar para essa plateia, que é talvez uma das melhores plateias do mundo.
W (NM): Você acha que os latinos são diferentes das outras pessoas do mundo?
AS: Bom, todo país é diferente, sabe, todo país tem algumas especialidades. Mas com certeza, eu diria… Eu me lembro de quando nós tocamos aí, em 2001, pela primeira vez, em São Paulo, nós tivemos 5 mil pessoas, e foi um sonho. Foi um sonho pisar no palco depois da introdução e ver essas 5 mil pessoas gritando, da primeira fileira até a última, todo mundo com as mãos para cima, eles faziam tanto barulho que eu não conseguia nem ouvir a nossa própria música no palco, sabe. Isso é uma coisa que me dá arrepios só de pensar, e foi há mais de onze anos, sabe… e sem, com isso na memória, nós queremos voltar e tocar no Brasil. Nós sabemos como os fãs são malucos, é fantástico. É uma sensação muito boa pisar no palco e ter essa reação, sabe, você toca melhor, você toca com mais energia, é muito legal.
Todo mundo ria de nós, todo mundo dizia vocês nunca vão conseguir, sabe. Mas nós trabalhamos muito.”
W (NM): Isso é ótimo, Alex. Antes de terminarmos, eu gostaria de te agradecer muito pelo seu tempo, eu espero que você se divirta muito no Brasil, e tudo o que vocês lançarem ou precisarem de nós, nós estaremos aqui para apoiar o Rhapsody of Fire sempre, OK?
AS: Obrigado. É a sensação que nós temos, sabe, nós sentimos mesmo que vocês estão apoiando a banda. E por isso nós vamos trabalhar para fazer a melhor música possível. Muitas pessoas me disseram, durante a turnê “por favor, não pare de fazer música, por favor, continue” e isso é fantástico. Nos dá muita energia para continuar e ficar cada vez melhor então… Eu espero que você venha ao show no sábado, certo?
W (NM): Sim, claro. Nós estaremos lá no sábado. E antes de terminarmos, deixe-me fazer uma última pergunta.
AS: Sim.
W (NM): O que você diria para um garoto de, digamos 13, 14 anos, que está começando a tocar teclado, por exemplo, ou a estudar música, e deseja se tornar um astro do rock’ N roll ou se tornar membro de uma banda? O que você diria para esse garoto?
AS: Bom, é importante ter um objetivo para alcançar, isso com certeza. Então é ótimo se os meninos dessa idade já tiverem uma visão, sabe, quiserem alcançar alguma coisa, isso é importante. Mas eu acho que é importante, em primeiro lugar, se divertir, curtir a música que você toca, e estudar um pouco pelo menos o seu instrumento, sabe, é bom, é ótimo, é muito bom. E ter um objetivo final, sabe, e se cercar de pessoas positivas e pessoas que tenham as mesmas ideias, sabe, pessoas que falem a mesma língua que você, para que você possa crescer mesmo no futuro. E talvez em quatro, seis anos você consiga alcançar o seu objetivo. Talvez você nunca seja famoso, mas pelo menos você vai fazer algo que você gosta muito. Só não pense muito no futuro, pense no presente e se divirta no presente, isso também é importante. Não faz nenhum sentido você ficar deprimido agora, esperando ser famoso em dez ou vinte anos, é importante se divertir hoje e aproveitar o dia de hoje, sabe, curtir tocar com a sua banda, e aí, se o sucesso vier, que ótimo.
W (NM): Isso é ótimo, Mr. Alex Staropoli, muito obrigado e conte com o Wikimetal para promover e apoiar o Rhapsody of Fire. Nós estaremos lá no show, e nos vemos aqui no Brasil.
AS: Sim, obrigado, obrigado por me receber, por me dar a chance de falar com você, e para todos os fãs brasileiros: muito obrigado e nos vemos muito em breve.
W (NM): Foi um prazer, obrigado.
AS: Obrigado.
W (NM): Grazie.
AS: Até. Ciao.
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