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“Quantos não espantaram os seus demônios escutando quietinhos no quarto ou berrando, pulando, aloprando num show ou numa festa com muitos hormônios em explosão?”

Por Luís Eduardo Tebaldi Gomes, WikiBrother

Eu nunca fui fã de Linkin Park. Quando eles estouraram, lá por 2001, do alto dos meus 15 anos, o Nu Metal já não era mais cool. Tava na vibe do Metallica, Iron Maiden. Metal sem solo? Com rap? Pff.

Como muitos “roqueiros” da minha idade, essa febre tinha me contagiado antes com Korn. Aquele clipe de “Freak on the Leash”. Aquele “IIII” de “Somebody, Someone”. O Linkin Park pegou a geração seguinte. Eu acho.

Nu Metal, pra mim, sempre foi música de pré-adolescente, de gurizadinha. Não falo pra depreciar. Mas penso que retratavam perfeitamente a angústia de quem está descobrindo os hormônios e não sabe o seu lugar no mundo. De quem quer berrar os seus demônios pra longe. A música era comercial, o som era mega produzido, era uma versão mais clean e mais ajustada ao sistema do que um Rage Against, certamente, mas a angústia era real, as letras falavam muito disso. Batia forte em quem sentia raiva, mesmo sem saber o porquê ou porque não sabia seu lugar no mundo, ou ambos. A imensidão do vazio interno. Numbness. Tava tudo nos clipes.

Mas o cool era odiar Linkin Park. O diabo é que a moda não passava, ou o lado bom, porque todo hater precisa de algo que valha a pena odiar. Já repararam que é, em números de vendas e de fãs, a maior banda de Hard Rock, Metal, Rock, como queiram chamar, do século? De longe. Parece estranho, mas é real.

Era cool odiar Linkin Park, mas muito bati pezinho e enchi o pulmão pra gritar o refrão de “Numb” e tantas outras. Acho que, hoje, se toca numa festa rock, dessas cool, muito(a)s marmanjo(a)s também o fazem. Já virou Classic Rock?

É estranho odiar uma banda. Que mal os caras fizeram? Acho que nenhuma banda obscura da Finlândia perdeu sequer um ouvinte por causa dessa banda que tinha um rapper e um DJ. Pelo contrário, certamente foi porta de entrada de coisas mais pesadas pra muita gurizadinha, inclusive pra alguns que depois “cresceram” e passaram a contar de forma blasé quantas notas por segundo teve aquele solo. Mas era cool odiar Linkin Park. Isso antes mesmo dessa rede te obrigar a amar ou odiar tudo. Pra ver como era cool.

Esse cara era um americano, milionário e eu nem gostava da banda dele. Nunca nem tive um CD. E olha que eu gastei 30 FHCs – quando isso era a minha mesada toda quase – num CD duma banda holandesa que nem cheguei a terminar de escutar uma vez. Era desse tipo.

Mas o cara tinha 41 anos. Só. Foda. Nos últimos anos, não tinha só cantado sua dor, viveu ela nas revistas, sites e outros meios. Bebida, drogas, depressão. Já tinha falado das pulsões internas. Acho que ninguém acorda um dia e decide se enforcar. Esse cara perdeu um amigo, Chris Cornell, assim recentemente. Foda.

Música também não é um troço que o cara compreende direito. É algo que tu sente. Acho que sentia a angústia do cara. Acho que era isso o meu imã. “I’m about to break”, “One step closer to the edge”, “IIII become SO numb” e tantas outras que eu nem sei diferenciar, mas sempre acho que é aquela do primeiro Transformers. Mesmo agora, depois que as guitarras, os berros e os Rap revolts já não faziam mais sentido – já não era mais gurizão, como ele mesmo disse – the pain was there (a dor estava lá) [e o hate, então, nossa…]. Heavy. Tu sentia os demônios nos berros dele. Quantos não espantaram os seus demônios escutando quietinhos no quarto ou berrando, pulando, aloprando num show ou numa festa com muitos hormônios em explosão?

Talvez o fardo da trajetória dele tenha ficado muito pesado. Foi abusado na infância. Espero que não tenha sido o ódio que não merecia sofrer, pois foi o instrumento de liberação de tanta raiva reprimida. Se foi, peço desculpas pela parte que me tocou lá atrás, antes de eu bater o pezinho e ficar cantando junto, mesmo que misturando as letras, sem constrangimento. Agora, só posso continuar fazendo isso em homenagem.

*Este texto foi elaborado por um Wikimate e não necessariamente representa as opiniões dos autores do site.

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