Texto por: Raíssa Carvalho
Conhecida por suas baixas temperaturas durante o inverno, a cidade de Vitória da Conquista, no interior da Bahia, registrou uma das noites mais quentes da estação na última quinta-feira, 24. A responsável pela mudança no clima? A terceira edição do Conquista Metal Fest, evento realizado pelo coletivo Suíça Bahiana, cujo nome faz referência a um dos apelidos mais conhecidos da cidade.
Com a missão de inserir Conquista no circuito dos grandes shows nacionais, o evento trouxe, em plena ressaca junina, a In The Other Side Tour, turnê da banda paulista de death metal Crypta, acompanhada de outros dois nomes de peso da cena: Paradise In Flames e Hatefulmurder.
O escolhido para abrir a noite foi o virtuoso baixista conquistense Filipe Moreno, que deu início ao evento com um show autoral. Ele foi o primeiro a receber o público que ainda chegava ao Moinho de Vento, espaço escolhido pela produção para sediar o festival.
Mas foi com o Paradise In Flames que a plateia começou a perder a “timidez”. Com seu black metal atmosférico e a voz melódica da vocalista Nienna Ni, a banda mineira ajudou a encurtar a distância entre o público e o palco, no volume certo e com a dose exata de escuridão.
A Hatefulmurder deu a ordem: é hora do mosh
Com formação renovada após a entrada da vocalista Giulia Roiz e do baixista Victor Magalhães, a banda carioca Hatefulmurder mostrou por que o death metal melódico continua tendo fôlego no Brasil. O show foi o equivalente sonoro a um café fortíssimo às 19h, que acordou o público para cumprir a principal demanda da noite: bater cabeça.
A banda, que parece afinar sua harmonia com os novos integrantes a cada show da tour, chamou o público para o mosh e jogou a energia lá em cima, numa crescente que suspendeu por completo qualquer cansaço de fim de expediente. Quem veio direto do trabalho esqueceu ali que o dia seguinte existia.
Crypta: a banda que merece o hype
A cena do metal tende a olhar com desconfiança e torcer o nariz para bandas “novas” (leia-se: com menos de 30 anos de estrada). É quase um senso comum. Mas, nesse sentido, a turnê da Crypta oferece aos fãs uma certeza reconfortante: elas merecem todo o reconhecimento que recebem.
Todo o barulho que a banda tem feito no Brasil e na Europa não é por acaso, é fruto de qualidade. E essa qualidade fica evidente nos primeiros minutos de show. O público precisa estar, no mínimo, com o pescoço alongado, porque começa com muita intensidade.
Em destaque absoluto, a presença colossal da vocalista e baixista Fernanda Lira. Com menos de cinco minutos no palco, parecia que todos ali estavam hipnotizados. A frente do palco ficou minúscula! Fernanda não apenas canta e toca, ela comanda. Leva a atenção do público para onde quiser com uma autoridade magnética. Uma leoa! Presente. Inteiramente presente. E quem assiste, percebe.
Mas ressaltar o protagonismo de Fernanda não diminui em nada o peso das outras integrantes. A baterista Luana Dametto e as guitarristas Tainá Bergamaschi e Helena Nagagata formam um time coeso, afiado e sincronizado. A harmonia entre elas era tão evidente que, em vários momentos, os movimentos de palco pareciam realmente coreografados, em espelho.
Final épico para uma quinta nada comum
O show da Crypta como encerramento do Conquista Metal Fest foi um presente para quem saiu do trabalho e, como se o dia seguinte não existisse, foi prestigiar a cena. Pessoas que não só curtem metal, mas também acreditam na cena nacional e querem vê-la crescer. Gente que vibra com a possibilidade de ver nossas bandas ocupando palcos do mundo inteiro.
Um show de metal, numa quinta-feira, às 19h, no final do mês? Em uma cidade do interior? Convenhamos: não parecia o cenário ideal. Isso gerou dúvidas. Será que o público ia colar? Faltou talvez uma banda local no line-up, para criar uma ponte mais direta com a cena?
Mas a verdade é que, fora do eixo Rio-SP, o rock, o metal e a música independente não funcionam sob a lógica do “cenário ideal”. Não tem glamour. Não tem grana sobrando. Tudo depende do underground e da teimosia de quem insiste em manter a cena acontecendo.
E a produção ainda encarou um desafio extra: praticar um valor de ingresso mais alto do que o habitual, pouco acessível para parte da juventude conquistense. Um obstáculo real e inevitável para qualquer proposta cultural que não esteja no molde “comercial”.
No fim das contas, o Conquista Metal Fest foi o resultado da força de vontade de quem organizou, de quem foi e de quem acredita que uma quinta-feira qualquer pode sim se tornar inesquecível.









































