Texto por Marcelo Gomes

Anunciada em 2022 e com os ingressos praticamente esgotados, a turnê do The Music Of Jon Lord And Deep Purple com a participação do Bruce Dickinson, lendário vocalista do Iron Maiden, finalmente chegou ao Brasil e teve sua estréia ontem (15 de abril) no Vibra São Paulo.

Com 15 minutos de atraso, às 21h15, Bruce Dickinson sobe ao palco acompanhado por John O´Hara (teclados), Kaitner Z Doka (guitarra), Bernard Welz (bateria), Tanya O´Callaghan (baixo), Mario Argandonia (percussão) e a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) regida pelo condutor Paul Mann para apresentar o famoso Concerto For Group And Orchestra, do Deep Purple, e outras surpresas. 

Antes de começar, Bruce aproveita para explicar como seria o concerto dizendo que não é um show solo dele e sim uma celebração da carreira do Jon Lord. Apresenta a banda e logo sai de cena, deixando o comando para o regente iniciar o primeiro dos três movimentos da peça.

O público que acompanhava atentamente a execução do “Primeiro Movimento” pode sentir logo de cara o bom gosto do saudoso Jon Lord, que compunha com maestria fazendo a junção do erudito e o rock de forma genial. Em meio à execução, a guitarra original de Ritchie Blackmore, que foi gravada posteriormente por Steve Morse, ganha também uma ótima versão com Kaitner Z Doka.

O “Segundo Movimento”, o mais longos deles, tem um ar mais dramático e  ganhou a participação do Bruce interpretando de forma magistral as vozes do Ian Gillan. Como se não bastasse, o vocalista entregou uma performance teatral dando um tom dramático à apresentação quase que ilustrando as melodias sofisticadas da orquestra culminando com um solo blues arrastado, dando a carga emocional que o momento pedia. Simplesmente sensacional!

Para fechar essa parte, o “Terceiro Movimento”, que mais parece uma trilha sonora de filme, prendeu a atenção de todos com uma execução primorosa da orquestra . Nesta, o baterista Bernard Welz teve oportunidade de dar sua cara ao solo originalmente feito pelo Ian Paice e conquistou o público no maior momento de interação com a platei até então. Finalizada a execução, a ovacionada orquestra deixa o palco e alguém da produção avisa que haveria um intervalo de 15 minutos.

A tão aguardada segunda parte do show contou com músicas da carreira solo de Dickinson e clássicos do Deep Purple e levou quase 30 minutos para começar. A volta triunfal teve início com os belos acordes de Tears Of The Dragon” em sua versão completa, até com sua parte reggae, e nem precisa dizer que o público foi à loucura. Ao final, o coro de “olê, olê, olê … Bruce, Bruce” toma conta do Vibra São Paulo. 

Os belos arranjos orquestrais antecedem mais uma de sua carreira solo, “Jerusalem”, do álbum The Chemical Wedding (1998). Satisfeita sua legião de fãs, era hora de voltar ao Deep Purple e o que se sucedeu foram verdadeiros hinos da carreira da banda. E não poderia ser de melhor maneira: a OSESP reproduziu fielmente o interlúdio contido no álbum In Concert With The London Symphony (1999) para dar início a inconfundível introdução de bateria de “Pictures Of Home”. 

Seguem com a maravilhosa “When A Blind Man Cries”; com uma interpretação emocionante do Bruce. Como todos sabem, o vocalista é grande fã do Ian Gillan e presta sua homenagem cantando de forma sublime. O público vai ao delírio, mas não para por aí: ainda tocam “Hush”; e se despedem com a aclamada “Perfect Strangers”.

Muito aplaudidos, Bruce volta falando “Scream for Me São Paulo”, frase que é correspondida de imediato, momento em que precede um dos riffs mais famosos de todos os tempos. Claro que estamos falando de “Smoke On The Water”. No meio da música, o condutor Paul Mann passa sua batuta para que Bruce reja o refrão junto aos fãs, que cantam de maneira apaixonada. 

Se tivessem parado por aí, a noite já teria sido incrível e valido a pena, mas conseguiram surpreender a todos com “Burn”, clássico da fase Coverdale/Hughes que não estava no setlist da turnê até então. O brilho dos vocais de Dickinson é destaque em mais uma performance arrebatadora.

Foi um encerramento com chave de ouro para essa noite magnífica. Os fãs, que em sua maioria estavam lá pelo vocalista do Iron Maiden, puderam conferir parte importante da história do rock mundial. O clássico Concerto For Group And Orchestra do Deep Purple traz a sofisticação do erudito e a atitude do rock, junção que vem inspirando bandas por mais de cinco décadas e contou com uma execução impecável da Orquestra Sinfônica do Estado De São Paulo e um inspirado Bruce Dickinson. 

Definitivamente, nessa noite memorável, o legado do Jon Lord foi honrado com dignidade e certamente ainda terá impacto nas gerações futuras.

Veja as fotos da nossa colaboradora Leca Suzuki abaixo.

LEIA TAMBÉM: Moonspell não faz o show que queria no São Paulo Metal Fest, mas promete voltar