Texto por: Ayla Pupo, do Ghost Brazil

Definir algo como “o melhor” não é tão simples quanto parece. Embora seja tentador definir o melhor de algo com base em nossos gostos pessoais, essa não é a melhor estratégia, pois não é impessoal e tem uma base muito frágil, ou até mesmo inexistente, de argumentação que sustente sua opinião. Também é importante considerar que nem sempre aquilo que mais gostamos, que temos como nosso favorito, é o melhor: com frequência nossa preferência é construída levando em conta aspectos emocionais, apego e memórias afetivas, e isso é fraco quando confrontado por argumentações racionais. 

Diante disso, me propus o desafio de definir racionalmente quem seria o melhor Papa do nosso tão amado Clero satânico, e para isso precisei definir critérios pré-estabelecidos nos quais basear a minha teoria. E já adianto: não importa qual seja o resultado final, a resposta sempre será polêmica, com pessoas concordando ou discordando veementemente dos critérios usados por mim. 

Devido à riqueza de história que o Ghost proporciona aos seus frontmen, é possível construir minha argumentação de dois pontos de vista: o primeiro é da banda em si e sua performance; o segundo é da narrativa da lore, pois estamos falando essencialmente de personagens que possuem, em menor ou maior grau, tramas e subtramas de desenvolvimento. Assim, é necessário construir minha tese com base em dez critérios divididos em duas categorias: 1) melhor frontman e 2) melhor personagem. 

1) Melhor frontman 

Essa categoria é fundamentalmente elaborada com base em performance, tanto no palco quanto na indústria musical. Cada um dos Papas foi único e deixou um legado importante ao seu sucessor. Infelizmente, em certa medida essa categoria carrega por si só uma enorme injustiça: é inegável que Papas mais recentes talvez levem vantagem em cima de outros mais antigos pelo simples fato de que, quanto mais o tempo passa, mais a banda cresce, adquire experiência e obtém mais recursos que serão investidos na melhora da performance; ainda assim, tentaremos fazer uma análise o mais objetiva possível. 

a) Alcance vocal 

Para esse critério não é muito desafiador entender que o vencedor seria o Perpetua. Ao longo de 15 anos de performances com o Ghost, é inevitável que Tobias Forge tenha evoluído sua técnica vocal e, consequentemente, o Papa com o melhor alcance vocal será sempre o mais recente. Embora quase nunca tenha usado coaches vocais nem tenha feito aulas de canto, Tobias aprendeu ao longo do tempo a respirar melhor em suas performances ao vivo e a alcançar entonações e agudos que antes não se desafiava a atingir. Além disso, Perpetua tem uma vantagem muito significativa diante de seus concorrentes: o simples fato de ter a boca livre para performar em seu potencial máximo. Se os outros Papas já tinham boas ou excelentes apresentações ao vivo, mesmo com toda a limitação que as máscaras proporcionavam, é inevitável que um frontman com a boca livre tenha um alcance vocal superior.

b) Relevância da Era 

Cada Era do Ghost foi única. Com começo e fim baseados nos ciclos de cada novo álbum lançado, todas as Eras tiveram sua importância no crescimento da banda e na construção da narrativa do lore, mas é possível também definirmos que algumas Eras tiveram mais relevância que outras. Nesse sentido, o melhor Papa foi sem dúvida Terzo e sua Era Meliora, que definitivamente foi uma divisora de águas na trajetória do Ghost. O terceiro álbum da banda encerra a “trilogia satânica” com maestria; enquanto Opus Eponymous fala sobre a espera do anti-Cristo, e Infestissumam fala sobre a presença dele na Terra, Meliora aborda a realidade de um mundo sombrio e distópico após a ascensão do anti-Cristo como governante de todos nós. A ausência de Deus e o desamparo que assola a humanidade trazem um ar de desesperança ao álbum, que se encerra basicamente com o fim da civilização como a conhecemos. 

Mas a Era de Terzo é divisora de águas não apenas pela qualidade de seu álbum (que pra muita gente talvez nem seja “o melhor” álbum – eu inclusa), mas também por ter trazido uma novidade muito poderosa: calças. Como o próprio Tobias já comentou em diversas entrevistas, durante a Era Infestissumam ele sentiu que os shows estavam ficando enfadonhos, tanto para ele enquanto cantor quanto para seus fãs; o ar sombrio de Secondo e sua túnica Papal invocavam respeito, mas não entretiam o suficiente, principalmente considerando que os shows estavam ficando cada vez mais longos conforme a discografia do Ghost engordava, e manter aquela aura por mais de uma hora de show pareceu insustentável. Além disso, a roupa limitava muito os movimentos de Tobias no palco, e assim surgiu o tuxedo de Terzo, inspirado na vestimenta militar do Rei Gustav III da Suécia. Com a movimentação totalmente desimpedida no palco, a personalidade de Terzo desabrochou muito facilmente, sendo um dos Papas mais carismáticos, sensuais e conversadores com o público, o que consequentemente fez com que os shows se tornassem muito mais fluidos e divertidos. 

A Era Meliora também foi um tanto quanto turbulenta para Tobias; sendo processado pelos membros da própria banda, que alegavam estar sendo prejudicados com relação aos ganhos financeiros do Ghost, Tobias viu a necessidade de trocar toda a sua equipe e ainda enfrentar as exigências legais do processo por anos, o que o desgastou imensamente, apesar de ter sido vitorioso no final. Talvez, no entanto, a consequência mais relevante desse acontecimento tenha sido o fato de que, graças ao processo, a identidade de Tobias, até então desconhecida do público geral, foi jogada ao vento, e agora o vocalista e líder da banda não era mais um cidadão anônimo, o que automaticamente lhe conferiu mais popularidade na mídia por conta da “revelação”. 

Mais um ponto relevante nessa fase da banda foi a contratação de Klas Åhlund como produtor do álbum. Sendo a primeira vez que o Ghost trabalhava com o produtor sueco, Tobias deixa claro que a parceira foi muito benéfica pois, estando acostumado a produzir para a indústria pop, não a indústria do rock, Klas trouxe muitas novas visões e ideias na execução do novo álbum, o que talvez não tivesse acontecido se tivessem optado por trabalhar com um produtor mais acostumado ao cenário do rock e do metal. 

Enfim, é importante citar um último item que evidencia a importância e relevância dessa Era na história da banda: Terzo foi o único Papa a ganhar um Grammy Awards, em 2016, pela música “Cirice” como “Melhor performance de metal”. Como veremos no critério a seguir, outras Eras receberam indicações, mas a Era Terzo foi a única a ganhar. 

Mais uma vez, é inegável que todas as Eras tiveram seus méritos. A Era de Primo colocou a banda no mapa; a Era de Secondo consagrou-a na cena musical; ambas as Eras de Copia trouxeram um crescimento exponencial à banda, levando seus shows a arenas lotadas; a Era de Perpetua tem colocado o Ghost no topo das paradas como nunca visto antes. Mas somente a Era de Terzo transformou a banda de forma a ser possível pensar no Ghost antes de Terzo (Ghost B.T.) e no Ghost após Terzo (Ghost A.T.). 

c) Prêmios e reconhecimento da indústria musical 

Em primeira análise, poderíamos pensar que o Papa com mais indicações é o que tem melhor desempenho. No entanto, existem alguns prêmios com pesos maiores que outros, então é importante considerar que ter mais premiações ou indicações no geral não necessariamente te dará uma melhor avaliação. Como Tobias Forge mesmo já disse, o Grammy Awards, premiação anual realizada nos Estados Unidos, tem um peso muito grande na visibilidade que os artistas ganham dentro da indústria musical; assim, me parece razoável entender que uma indicação, e, principalmente, uma vitória, no Grammy tenha mais peso que várias indicações ou vitórias, por exemplo, no Grammis Awards, premiação muito parecida que acontece na Suécia. Diante disso, irei considerar, primeiramente, apenas as nomeações e vitórias que aconteceram no Grammy americano para esse critério – o que pode ser questionado por pessoas que entendem melhor sobre essa indústria e tá tudo bem. 

Assim, os únicos Papas com indicações no Grammy foram Terzo, com “Cirice” vencendo como “Melhor performance de metal”, e Copia, com nenhuma vitória, mas diversas indicações, sendo elas: Prequelle, como “Melhor álbum de rock”, “Rats”, como “Melhor música de rock”, e “Call Me Little Sunshine” e “Phantom of the Opera”, ambas como “Melhor performance de metal”. Então fica a questão: o que vale mais, uma única vitória ou quatro nomeações sem nenhuma vitória? 

Para encerrar o assunto dos prêmios, trago mais um dado relevante: outra premiação anual importante, que também traz bastante visibilidade às bandas, é o American Music Awards; os nomeados são escolhidos com base em sua performance de venda, e os vencedores são escolhidos com base no voto popular. E a única indicação e vitória do Ghost até hoje nessa premiação foi dada ao álbum Impera, lançado por Copia em 2022. Considerando, então, quatro indicações no Grammy e uma vitória no American Music Awards, Copia é o Papa com maior reconhecimento na indústria musical até o momento. 

Vale lembrar que esse quadro ainda pode mudar, afinal o álbum Skeletá, lançado por Perpetua em abril de 2025, com apenas 2 meses de vida ainda não teve chance de concorrer a prêmios, embora a probabilidade (e a torcida) de que isso possa acontecer seja alta, uma vez que o disco teve destaque na Billboard 200 (parada que ranqueia semanalmente os álbuns mais populares nos Estados Unidos, considerando o consumo total medido em unidades equivalentes, que combinam vendas físicas, downloads e streams). Embora Infestissumam tenha atingido a 28ª posição em 2013 e Impera tenha atingido a 2ª posição em 2022, Skeletá foi o único a atingir o primeiro lugar na parada. 

d) Performance ao vivo 

Esse critério corre o risco de ser capcioso, pois depende em grande medida do gosto pessoal de quem avalia e pouco resta para analisar racionalmente. Diante dessa encruzilhada, irei definir uma única característica de avaliação na performance ao vivo com base no que o próprio Tobias parece considerar ser fundamentalmente importante: capacidade de entreter. Em diversas entrevistas, Tobias explicita que o Ghost tem o claro intuito de entreter as pessoas e fazer com que elas saiam de seus rituais mais felizes do que quando entraram. Até mesmo em um dos recentes Chapters temos Marika, uma das funcionárias do Clero e tia/mãe de criação de Copia, dizendo que eles surgiram da indústria do entretenimento. Portanto, ser o melhor entertainer é o que definirá a melhor performance ao vivo, o que coloca, mais uma vez, Copia como o vencedor. 

Como já argumentado anteriormente, mudanças foram necessárias após a Era Infestissumam devido à baixa capacidade de entreter o público que tanto Primo quanto Secondo tinham. Terzo foi um respiro de alívio ao público e ao próprio Tobias, sendo um excelente entertainer e um frontman absolutamente cativante. Atualmente, temos Perpetua com uma excelente performance, mas cuja capacidade é muitíssimo prejudicava pelo fato de que não se pode filmar suas atividades no palco; assim, ele consegue entreter unicamente as pessoas que estão em seus shows, deixando o resto do mundo num vácuo sombrio, sem saber como é realmente sua performance. Copia, em contrapartida, é o artista perfeito: executando com maestria suas canções, é cativante, divertido, brincalhão, gentil, sensual e marcante no palco, tanto para os que o vêem ao vivo quanto para os que o admiram através das câmeras de celular ao redor do mundo. Não à toa ele se sentiu rebaixado ao ser, na verdade, promovido ao cargo de Frater Imperator; ele sente que o tiraram de um cargo que performava com excelência e colocado em um cargo administrativo que não explora com eficácia o que ele sabe fazer de melhor: entreter. 

e) Figurinos e cenários de palco 

Mais uma vez, temos aqui um critério que gera injustiças pela simples e inevitável questão do tempo. Não obrigatoriamente, mas muito provavelmente o Papa com melhores figurinos e cenários será sempre o Papa mais recente, o que coloca Perpetua como vencedor nesse critério. Como comparar a simples túnica Papal de Primo, feita com lantejoulas por uma costureira local, ou a túnica de Secondo, feita com grucifixos impressos por uma máquina de bordado também em uma costureira local, com os figurinos de Copia e Perpetua, produzidos por alfaiates de renome, como o conhecido Tom Baker em Londres (inclusive, algumas das peças de Copia podem ser adquiridas no site do Sr. Baker pelo custo aproximado de £2.000,00). Embora Terzo tenha tido uma grande evolução de figurino, não apenas com a adição do tuxedo, mas também com sua túnica Papal muito mais bem elaborada e cheia de lindos bordados, ele ainda assim tem poucas vantagens, uma vez que seu figurino se limita a apenas duas peças. 

Tanto Copia quanto Perpetua têm uma enorme quantidade de figurinos muito bem elaborados. Jaquetas brilhantes, túnicas completas e imponentes, túnicas mais simples porém igualmente belas, vestes militares, roupas inspiradas em mafiosos, peças iguais com variação de cores, mitras novas e com design diferenciado; tudo isso compõe o guarda-roupa dos dois Papas com o figurino mais icônico do Clero, sendo bastante difícil decidir entre os dois qual é o melhor. No entanto, podemos escolher Perpetua como vencedor por um único elemento de desempate: o esqueleto nas costas de sua túnica roxa, com o rabo que balança conforme os movimentos que ele faz para caminhar. Esse item foi a adição mais impactante dos figurinos recentes do Ghost, e somente quem viu ao vivo sabe a beleza que é. 

Quanto aos cenários de palco, pouco há para se discutir: nenhum outro Papa conseguirá bater os cenários da Skeletour. Além dos painéis de fundo, que trazem projeções belíssimas e hipnotizantes que mudam praticamente a cada música, temos aquele grucifixo gigante pairando sobre nossas cabeças de maneira arrebatadora. As

labaredas que ardem em Year Zero nunca foram tão altas e quentes; a cachoeira de faíscas nunca esteve tão brilhante; as explosões de gêiseres nunca impactaram tanto. O show de Perpetua é uma obra de arte por si só sem precedentes na história da banda. 

2) Melhor personagem 

Essa categoria se baseia na narrativa que edifica toda a lore do Ghost e seus personagens, pois a banda passou a desenvolver ainda mais sua história através dos Chapters, publicados em seu canal do Youtube a partir de 2018. Assim, para que um personagem possa ser considerado complexo e palpável ao público, ele precisa preencher alguns requisitos. 

a) História própria 

Um bom personagem é claramente aquele que possui uma história própria, principalmente se ele é o protagonista de sua narrativa. Sua vida tem que possuir pano de fundo bem construído e desenvolvido, ou seja, precisamos ter acesso enquanto público a informações como: quem ele é, qual seu propósito, quais são seus objetivos de vida e sonhos, quais são seus dilemas pessoais, seus medos, seus segredos, como ele chegou onde está, qual seu relacionamento com sua família, etc. Diante desse critério, é muito óbvio que o personagem mais bem desenvolvido é o Copia

Os Chapters começaram em 2018 por causa dele: foi a maneira com que Tobias decidiu introduzir o novo frontman depois que o cargo ficou vago com a retirada forçada de Terzo do palco em 2017. Também temos o filme de 2024, Rite Here Rite Now; se os Chapters serviram para colocar Copia no papel de frontman, o filme serviu para retirá-lo de lá e encerrar seu legado como vocalista da banda de maneira muito honrosa e poética – uma narrativa muito mais profunda que simplesmente passar o microfone ao novo vocalista (como aconteceu entre Primo e Secondo e, posteriormente, entre Secondo e Terzo) ou ser retirado do palco (como já mencionado ter acontecido com Terzo). O único outro personagem com alguma profundidade de introdução ou retirada seria o Perpetua, que teve seu anúncio como novo frontman da banda em 2025 com o clipe de Satanized, mas não se pode comparar um clipe a uma sequência de 21 Chapters (lançados até o momento da elaboração deste artigo) e um filme com exibição mundial nos cinemas. 

Mas a narrativa de Copia não se encerra por aí. Com o lançamento dos 4 volumes da história em quadrinhos Sister Imperator pela Dark Horse, temos mais uma camada de desenvolvimento de personagens, que afeta tanto Nihil quanto Sister, Copia e Perpetua. Embora façam parte dessa família desajustada, Primo, Secondo e Terzo sequer são mencionados nas HQs, o que obviamente prejudica muito seu já tão parco desenvolvimento. 

Assim, com Chapters, filme e HQs, temos tido um grande desenvolvimento do ex-cardeal. Sabemos quem ele é, sua origem, seus pais, seu irmão; aprendemos o que o motiva e preenche de sonhos, quais são seus conflitos internos, principalmente com relação ao sentimento de rebaixamento que tem ao ser, na verdade, promovido a Frater Imperator; sabemos como o medo da morte o afeta e como ele ama, acima de tudo, ser o frontman da banda que o colocou no auge. Os outros Papas têm muito pouco ou quase nada disso. A Era de Secondo teve os episódios de Papaganda, que foram bem úteis para explorar sua personalidade, mas exploraram muito pouco de sua história; a Era de Terzo teve os vídeos The Summoning, mas esses nada serviram para desenvolver sua história de fundo também;

Nihil e Perpetua têm alguma história própria desenvolvida nos Chapters, clipes ou HQs, mas com pobreza de detalhes (até o momento) quando comparados com Copia. 

b) Relacionamento com outros personagens 

Mais uma vez, é muito fácil decidir aqui que Copia é o personagem cujo relacionamento com outros personagens é o mais bem explorado em todas as camadas de narrativas que enriquece o lore do Ghost. Nesse critério, é necessário que o personagem tenha envolvimento com outros personagens tanto dentro quanto fora de seu papel principal, ou seja, ele precisa se envolver com outros personagens não apenas dentro do seu papel de frontman ou, posteriormente, de Frater Imperator, mas também como indivíduo único. 

Por mais que toda a história gire, sim, em torno dos aspectos profissionais de Copia, é evidente que vemos como ele se relaciona com seus familiares enquanto pessoa. Ele sofre muito com a morte de sua mãe ao final de Rite Here Rite Now; ele sente ojeriza pelo próprio irmão, que acredita ter roubado seu sucesso e amor dos fãs; ele se ressente com o pai, que não participou de sua criação e ainda por cima não o queria como líder do Ghost desde o começo e que, mesmo depois de morto, ainda insiste em depreciar todas as conquistas do filho; ele tem uma relação estranha com Mr. Psaltarian, que foi sua única figura paterna por muitos anos e que, mesmo assim, não parece ter desenvolvido muito amor pelo menino que criou; ele vê os fantasmas de suas tias gêmeas, mortas ainda crianças, e que constantemente o atormentam. Copia é um personagem completo não apenas em sua própria narrativa, mas que também contribui com a construção de narrativa de diversos outros personagens ao seu redor. 

c) Desenvolvimento pessoal e profissional 

A argumentação desse critério está muito intimamente relacionada com os critérios anteriores. Por ter uma narrativa tão mais complexa que os outros Papas, Copia novamente é aquele com maior desenvolvimento tanto pessoal quanto profissional. Além de vermos de perto como ele constrói sua personalidade, confiança, sonhos e medos – o que lhe confere o desenvolvimento pessoal -, vemos como ele é o único em toda a lore do Ghost que cresce profissionalmente. De cardeal a Papa, e depois de Papa a Frater Imperator. Nenhum outro Papa possui nenhum dos dois desenvolvimentos. 

d) Personalidade coerente e sólida 

Ainda que todos os Papas tenham alguma característica marcante que define bem sua personalidade, é fato que muito do que associamos a eles como personalidade vem de headcanons e narrativas construídas pelos próprios fãs. Quando se trata da narrativa oficial e das atitudes em palco, mais uma vez temos que Copia é o personagem com personalidade mais coerente e sólida. É evidente que conforme a banda cresce, seus shows ficam mais longos e suas formas de narrativa se enriquecem, mais personalidade vemos em seu frontman. Primo era imponente e exalava autoridade, mas não teve nenhum espaço em nenhum formato de narrativa para desenvolver sua personalidade além do que víamos nos curtos shows de sua Era. Secondo teve mais oportunidade de desenvolvimento, principalmente com seus shows mais longos, que lhe deram a fama de ser sombrio, mas também com os episódios de Papaganda e nos vídeos The Summoning, que revelam sua

personalidade também festeira e galanteadora, ao mesmo tempo em que o descrevem como sendo um velho miserável, ferido, amargo, narcisista e cuzão. Terzo não teve capítulos nem episódios, e The Summoning nada acrescentou à sua personalidade, mas a simples troca de roupa para um tuxedo no lugar de uma túnica Papal completa durante o show inteiro lhe conferiu muita liberdade para desenvolver a própria personalidade nos rituais; muito sensual, conversador e divertido, ele tinha uma interação muito forte e significativa com os fãs. Nihil acaba tendo algum desenvolvimento também, embora menor por não ter desenvolvimento nenhum em shows e por ter muito de sua narrativa atrelada à narrativa do Copia, mas sabemos que ele é cafajeste, com péssimo senso de responsabilidade paternal, saudosista e desconfiado. Copia, por outro lado, como já dito anteriormente teve muitas oportunidades de desenvolver muito bem uma personalidade sólida; com Chapters, filme e shows longos e complexos, sabemos que ele é um tanto quanto pateta, divertido, às vezes infantil, rancoroso, sonhador, receoso da morte, sensual de uma maneira mais brincalhona que seus antecessores, distraído e jovial. Perpetua, infelizmente, acaba por quebrar essa curva crescente de desenvolvimento de personalidade dos frontmen da banda; sem participação alguma nos Chapters até o momento, e sem a possibilidade de que seus shows possam ser filmados e compartilhados pelo público, pouco sabemos sobre quem ele é e como se comporta. O que sabemos até o momento é que, embora tenha algumas semelhanças com o irmão, Perpetua é mais sério, fala bem menos e é levemente estranho. 

e) Relevância na narrativa 

Embora nem sempre focados no Copia, tendo também capítulos que desenvolvem a história de Nihil e Sister Imperator, e também capítulos que servem muito pouco como desenvolvedores da narrativa por serem, basicamente, meios de anunciar novas turnês, é inegável que o personagem principal é o Copia e ele é o personagem com maior relevância na narrativa. Até o momento, já são 21 Chapters, e em nenhum deles Perpetua aparece, mesmo ele sendo atualmente o frontman da banda; além disso, Primo, Secondo e Terzo aparecem literalmente apenas em um capítulo com o único propósito de serem assassinados pela Sister e pelo próprio irmão Nihil. Copia e Nihil são os únicos Papas a aparecerem em Rite Here Rite Now, mas a função de Nihil na história do filme é quase totalmente focada no desenvolvimento de Copia, não no próprio desenvolvimento. Nas HQs, os únicos Papas com relevância narrativa são Nihil, Copia e Perpetua, mas Nihil tem pouco desenvolvimento extra (no sentido de que as HQs recontam muita coisa já explorada nos Chapters e em alguns clipes, como Kiss the Go-goat, Mary on a Cross, The Future is a Foreign Land e Dance Macabre, e pouco acrescentam de novidade), e tanto Copia quanto Perpetua aparecem apenas no último volume. 

No entanto, mesmo diante de todos esses argumentos, o que mais demonstra com força a importância narrativa de Copia em toda a lore é o fato de que quase todos os outros personagens morreram para que ele pudesse continuar nos contando sua história. A morte dos Papas I, II e III aconteceu para que não houvesse mais nenhuma opção de sucessor e a única pessoa disponível para ocupar o cargo de frontman fosse o Copia; Nihil morreu para que o cargo de Papa ficasse vago, e assim tivemos a ascensão do Cardeal Copia ao seu tão sonhado status de Papa Emeritus IV; Sister Imperator morreu para que, ao final de seu segundo ciclo de álbuns, Copia não precisasse ser assassinado ao passar o bastão ao irmão, agora Papa V, e pudesse assumir o cargo de Frater Imperator. A qualquer

observador distraído, é totalmente evidente que há muito tempo Copia é o personagem principal dessa história que se desenrola, mesmo após deixar de ser o vocalista da banda. 

Conclusão 

A conclusão não definitiva à pergunta “Quem é o melhor Papa do Ghost?” é, com muita folga, Papa Emeritus IV, também conhecido por seu nome Copia. Dentre os dez critérios pré-estabelecidos por mim, ele pontuou em sete; seu irmão Perpetua ficou em segundo lugar, pontuando 2 vezes, e por último tivemos Terzo, com um ponto. Mais uma vez repito: essa não é uma resposta absolutamente conclusiva. Qualquer pessoa que se proponha a definir critérios totalmente diferentes dos meus pode chegar a uma conclusão completamente contrária. Talvez, para alguns, a categoria relacionada à narrativa da lore não deveria sequer existir, e o melhor Papa deveria ser definido com base exclusivamente em critérios técnicos, como “álbum com a melhor técnica musical”.

A bem da verdade é que, por mais que tentemos racionalizar essa resposta, o que mais importa para cada um de nós é como nos sentimos com relação a cada um dos Papas, seus álbuns e suas Eras, e, no final, nossa escolha é muito mais baseada em gostos pessoais que em argumentos bem elaborados e provas conclusivas. Assim, me diga: sem uma análise racional, quem é o melhor Papa do Ghost na sua opinião? E, com base em critérios pré-estabelecidos por você e uma análise racional, quem seria?

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