O último disco do Linkin Park, One More Light, completa dois anos em 19 de maio

É sempre a mesma coisa. Quando uma banda resolve tomar direções sonoras diferentes das originais, muita gente vira a cara. Muito fã esperneia, xinga e diz que a banda acabou. Foi assim com o Linkin Park durante praticamente toda a carreira pós-Meteora. Mas o estopim foi em 2017, com o lançamento do (tragicamente) último álbum da banda.

One More Light foi lançado há dois anos, no dia 19 de maio de 2017. As reações foram bem divididas. Enquanto alguns críticos e fãs consideraram o pior trabalho do Linkin Park, outros tantos elogiaram o pop melancólico do disco.

Analisando a discografia como um todo, é fácil perceber a mudança de cada obra. Hybrid Theory é um dos álbuns seminais do nu-metal, mas a partir daí, cada disco foi tomando novas camadas e influências. Meteora trouxe mais elementos da música eletrônica, Minutes To Midnight foi do hard rock às baladas ao melhor estilo U2. A Thousand Suns entrou fundo no EDM e no experimentalismo, Living Things misturou tudo e trouxe pra música radiofônica da década de 2010. O único ponto fora da curva foi Hunting Party, uma clara concessão aos fãs, que retomou o nu-metal e acrescentou algumas pitadas de hardcore.

Então chegamos a One More Light. O disco, declaradamente pop, contém pouco do que um dia foi o Linkin Park. Por mais que o guitarrista Brad Delson tenha ajudado na composição da maioria das faixas, seu trabalho com a guitarra passa pouco percebido.

O mesmo se diz de quase todos os integrantes, tirando Chester Bennington e o programador e DJ Joe Hahn. Mike Shinoda tem suas grandes contribuições aqui como tecladista, já que o poderoso rap de outrora só dá as caras em uma música do álbum, “Good Goodbye”.

No entanto, nenhuma dessas mudanças parece apenas como “a banda se vendendo”, afirmação de muitos detratores. Em todas as entrevistas, o sexteto confirmou que aquela era a direção que eles queriam naquele momento, talvez apenas mais uma experimentação no meio de tantas que construíram a carreira do Linkin Park.

Afinal, os integrantes não tinham mais 20 anos, como na fase Hybrid Theory. A raiva adolescente e a revolta espelhada no som já não combinavam com quem cada um deles se tornaram. Se musicalmente é fácil perceber a mudança, liricamente fica claro a evolução da escrita em cada novo lançamento. One More Light foi o auge da escrita de Mike Shinoda e seus companheiros.

Se em Hunting Party, a maioria das músicas eram políticas e sociais, aqui o Linkin Park voltou a olhar para dentro. Algo que faziam nos idos anos 2000. O mal do século tomou conta da obra da banda. As músicas passaram a ser sobre os filhos dos integrantes, sobre a adolescência passada, sobre as perdas e a depressão. Tudo isso fica ainda mais poderoso com a trágica morte de Bennington, voz única que marcou a história do rock.

A faixa-título, por exemplo, é uma pequena obra de arte. A balada fala sobre a perda de pessoas queridas. A dor de, de repente, não ver mais um amigo ou familiar do seu lado. Com a morte de Chris Cornell, grande amigo de Chester, a faixa mais uma vez tomou outras dimensões. As músicas de One More Light são assim, encontram reflexo em pequenas dores da vida adulta.

“Sharp Edges” tem uma das melhores composições da banda. É, ao mesmo tempo, pedido de desculpas de alguém que abusou das drogas e da intensidade da vida, e um hino que mostra que somos formados por todas as experiências que passamos. Já “Talking To Myself” narra, a partir da visão da esposa Talinda Bennington, as crises de Chester com as drogas.

Assim sucessivamente, o trabalho culmina no dueto “Heavy”, quase que um manifesto sobre o álbum. “Eu não gosto da minha mente agora”, canta Chester com uma vulnerabilidade que só ele era capaz de transmitir com a voz. “Por que tudo é tão pesado?”, pergunta. É difícil ver artistas se abrirem tanto e serem tão sinceros e puros como o Linkin Park foi em One More Light.

Sem guitarras distorcidas, berros e metal, a banda entregou o disco mais sincero da carreira. Um álbum leve na sonoridade, mas extremamente profundo em suas mensagens. Dados todos os acontecimentos, é difícil não se emocionar ao ouví-lo do começo ao fim. One More Light não é mais uma obra para adolescentes angustiados, mas para adultos na beira de uma crise. De pessoas comuns que se perguntam o porquê de ser tudo tão difícil. Um álbum para ouvir e, ao menos, sentir algum conforto sabendo que a banda que te acompanhou por tanto tempo também sente o mesmo que você.

LEIA TAMBÉM: 21st Century Breakdown, do Green Day, discute sobre lutas pessoais e sociais

Categorias: Notícias Opinião