O Heavy Metal brasileiro é original e nossos músicos são excepcionais. O que precisamos é dar condições para que esses talentos apareçam e possam viver de música”

por Nando Machado

O último sábado, 11 de maio, foi um grande dia para o Heavy Metal brasileiro.

Andre Matos conseguiu lotar uma casa de shows relativamente grande em São Paulo levando o público presente à loucura. E o motivo de minha alegria não é apenas pessoal pela minha amizade de mais de 30 anos com essa lenda do Metal brasileiro, mas sim porque uma banda nacional conseguiu fazer isso, mesmo com um concorrente internacional em outra casa de shows na mesma cidade (e diga-se de passagem, tinha mais gente pra ver o Andre). Um verdadeiro marco na história do Metal, independentemente de seu gosto pessoal ou estilo de Metal preferido.

O Heavy Metal é provavelmente o gênero de música mais injustiçado do mundo, e não digo que isso é causado apenas pelos grandes meios de comunicação. Não é só porque não estamos na TV ou nas rádios que somos injustiçados, mas é porque existe um grande preconceito do público e da sociedade em geral em torno do que é conhecido como Metal. O pior de tudo é que o próprio público de Metal também tem esse preconceito, e com o próprio Heavy Metal!?!?!?!?!?!?!?

Desde meus 10 anos de vida que frequento shows de Heavy Metal e nesses anos vi a evolução das casas de shows. Nos anos 80, os shows que eram feitos em teatros e bares passaram a ser feitos em casas noturnas como o Dama Xoc e o Aeroanta. Nessa época tinha o Sepultura bombando, o Viper detonando, o Dr. Sin destruindo, o Korzus quebrando tudo e o Angra arrebentando. Os shows passaram a ser feitos no Olímpia, no Palace e depois no Credicard Hall. Essas grandes bandas tocavam na rádio e na MTV o tempo todo mas de uma hora para outra o sonho acabou. Ninguém mais queria saber de cabeludo ou de guitarra distorcida. E não adianta culpar o grunge. O rock nacional voltou com tudo, o forró, o pagode, o axé e todas essas porcarias dominaram os meios de comunicação. As bandas de Metal perderam seus integrantes principais. O Andre saiu do Angra, o Max saiu do Sepultura, o Viper lançou um disco pop… Será que era o fim?

Precisamos mostrar que o movimento no Brasil é tão forte quanto em qualquer lugar do mundo e que nossas bandas são as melhores.”

Não! Heavy Metal nunca vai morrer. Nunca! Pode ter certeza que enquanto você lê esse texto, algum moleque de 12 ou 13 anos está descobrindo o Iron Maiden ou o Metallica por influência de um irmão ou amigo mais velho. Em algum porão escuro, um adolescente está fazendo air guitar ouvindo Slayer “no talo” ou começando a arranhar uma guitarra emprestada por algum amigo tentando fazer os riffs do Black Sabbath. E alguma menina está tentando tirar uma música no baixo e se preparando para ensaiar com sua banda.

Esses serão os próximos Andre Matos, Max Cavalera ou Andreas Kisser? Será? Isso só depende de vocês, ou melhor, de nós. Quando você receber um convite para assistir a uma banda nacional, não pense duas vezes, vá. As bandas daqui são tão boas e muitas vezes melhores que muitas bandas estrangeiras. O Heavy Metal brasileiro é original e nossos músicos são excepcionais. O que precisamos é de profissionalismo. É dar condições para que esses talentos apareçam e possam viver de música, dessa música que nós tanto amamos.

Não adianta nada termos 150 shows internacionais por ano se nossas próprias bandas têm que acabar por falta de dinheiro, se nossos músicos têm que tocar apenas por hobby, se esses artistas tão talentosos têm que escolher outras profissões e abandonar o sonho de uma carreira no Rock. Isso sim é uma grande injustiça.

Precisamos aumentar a nossa auto estima e mostrar que o movimento no Brasil é tão forte quanto em qualquer lugar do mundo e que nossas bandas são as melhores. Como fazer isso? Lotando os shows, comprando os CDs e as camisetas das bandas, comprando os MP3 pelo iTunes. É só assim que essas bandas sobreviverão.

Se os europeus ovacionaram o Shadowside o que nós brasileiros devemos fazer?”

No dia 26 de maio temos a chance de ver uma nova banda representando o melhor do Metal brasileiro em uma casa de shows de primeira. Nesse dia o Shadowside vai tocar no Via Marquês, a mesma casa que me deixou tão feliz com o Viper no ano passado e com o Andre no último sábado. Depois de 36 shows pela Europa abrindo uma grande tour do Helloween e Gamma Ray, os caras estão afiadíssimos e com sangue nos olhos, e eu garanto que vai ser um show sensacional. Se os europeus ovacionaram o Shadowside o que nós brasileiros devemos fazer? Ou vamos ter que ficar pra sempre dependendo do Andre Matos, do Andreas Kisser e do Max Cavalera para termos orgulho do Metal brasileiro?

A produção é do Wikimetal e desde o início a nossa ideia é fazer um show desses a cada 1 ou 2 meses. Dessa vez teremos o Shadowside e o SupreMa, grande banda que também está lançando seu disco novo. Nas próximas vezes poderemos ter o Almah, o Ancesttral, o Attomica, o Baranga, o Carro Bomba, o Claustrofobia, o Command 6, o Dr. Sin, o Elixir Inc, o Forka, o Fúria Inc, o Genocídio, o Hibria, o Jack Devil, o King of Bones, o Korzus, o Metalmorphose, o Project46, o Salário Mínimo, o Sceleratta, o Sepultura, o Sioux 66, o Torture Squad, o Voodoopriest e tantas outras grandes bandas de Metal do Brasil. E acreditem, todas essas bandas são excelentes. Se você não conhece, vá conhecer.

Se alguém pode pagar R$ 950 pra ir na pista VIP ou R$ 300 para ir no Black Sabbath eu não critico e nem condeno. Também tenho ídolos, grandes sonhos e adoro ver o Metallica, o Iron Maiden o Ozzy, o Judas, etc. Eu realmente adoro essas grandes bandas. Por outro lado, por um preço infimamente menor, dá para prestigiar as bandas nacionais e ajudar a criar uma verdadeira cena de Metal brasileiro. Com bandas nacionais, tocando em casas de shows que tratam o público com respeito, com som, luz e telões de primeira qualidade. Sem nenhuma diferença para um show internacional.

Prestigie o Metal brasileiro e vamos mudar essa história que banda brasileira não leva público. Espero ver todo mundo no show do SupreMa e Shadowside no dia 26 de maio no Via Marquês. Tenho certeza que você não vai se arrepender.

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