Confira mais um texto escrito por uma de nossas WikiSisters:

Por Diana “NoWay” Ungaro Arnos

Você está cansado e sem dinheiro. Mas continua. Por quê? Porque você realmente gosta do que faz e sabe que é disso que quer viver.”

Eu não quero repetir o “arroz com feijão” do assunto quando as pessoas tratam desse tema: as condições no Brasil são ruins, a mídia não apoia, os instrumentos e equipamentos são muito caros, também é caro gravar, o público se importa mais com as bandas gringas que as boas bandas brasileiras que vem surgindo e bla bla bla.

Olha só, mesmo sem querer repetir já deu um parágrafo todo de reclamações. Mas como é realmente tentar sobreviver ao underground? Entre todas as dificuldades, eu prefiro começar com a grande vantagem que esses problemas trazem (é, vantagem mesmo): as bandas que insistem e continuam são compostas por músicos que realmente amam o que fazem e que já passaram por muitas dificuldades só para poder fazer música. Então você já pode esperar, no mínimo, um trabalho sincero. E, daqueles que realmente lutam na cena por um bom tempo, o trabalho é bom. Pode não ser seu estilo de música, mas você precisa admitir quando um som é bem feito.

E para não citar terceiros e evitar problemas, vou falar da minha própria experiência. E é verdade, é muito difícil continuar.

Você sabe (se não sabe, alguém já comentou com você), como é difícil ter que estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Como o cansaço é grande e a grana é curta (afinal, você praticamente trabalha só para pagar a faculdade). Acordar cedo, trabalhar o dia todo, estudar a noite toda e dormir horrivelmente tarde. Todos os dias.

Então você tem uma banda. Não uma banda de garagem só pra divertir os amigos e tocar uns covers. Uma banda com planos sérios, que pretende gravar, sustentar uma carreira. E todos os músicos sabem: a prática leva à perfeição. Logo, só um ensaio de 2h durante a semana não é o suficiente. Se você já trabalha e estuda e tem um ensaio de final de semana, qual seu horário livre? A madrugada.

Você não vai encontrar bandas de Heavy Metal brasileiras que estão lá fora só porque é “modinha” ou porque é fácil. Estão lá por mérito.”

E lá vai você, depois de um dia de trabalho e uma noite de estudos ainda encarar pelo menos 2h de ensaio. Não uma, mas duas vezes por semana. Diga “olá!” ao cansaço acumulado e bem vindo à vida de músico.

Ah sim, além dessas horas a menos de sono durante a semana, também tem os finais de semana em que você vai tocar, provavelmente de graça. Isso se conseguir tocar, porque os donos de bares querem bandas covers que atraiam público, não uma banda de um lugar qualquer que nem conseguiu lançar um álbum direito.

Carrega, monta e desmonta equipamento. E no seu final de semana você acaba também dormindo pouco. Lembrando que tem ensaio no dia seguinte.

Pra manter seu sonho musical, você já gasta mais energia do que provavelmente tem. Mas e o dinheiro? Ah, esse vai embora também.

Você precisa de equipamentos. Vai fazer um show seu? Precisa de P.A’s, retornos, mesa, potências e cabos. Muitos cabos. Toca com mais de uma afinação? Pra evitar as trocas chatas de afinação no meio do show e não ter restrições de repertório, você precisa de 2 guitarras ou baixos. Pra cantar e poder se mexer, precisa de um microfone sem fio, mas que não sofra com interferências e tenha uma captação legal pro seu tipo de vocal (não, microfone não é “qualquer um serve” e dá tanto trabalho escolher quanto uma guitarra nova. Eu, por exemplo, não gosto de cantar em alguns microfones que muita gente adora).

Sem falar no combustível, pedágios e seja lá mais o que a ida até o local do show exija. Não preciso nem tocar no assunto “gravação profissional”.

Você está cansado e sem dinheiro. Mas continua. Por quê? Porque você realmente gosta do que faz e sabe que é disso que quer viver. Esse esforço não vale só para a música, mas para qualquer sonho que uma pessoa queira realizar. E daí vem a vantagem do underground brasileiro: aquela banda com 10 anos de carreira que você vê fazendo turnê aqui ou lá fora é composta por gente que realmente merecia estar ali, porque eles lutaram e se esforçaram para ouvir cada fã cantando junto durante o show. Você não vai encontrar bandas de Heavy Metal brasileiras que estão lá só porque é “modinha” ou porque é fácil. Estão lá por mérito.

E termino aqui esse texto um tanto quanto extenso, às 2h da manhã, de um estúdio em São Caetano, finalizando a primeira parte das gravações de voz. Eu moro em Osasco, provavelmente chego em casa às 6h da manhã e saio às 7h30 para ir trabalhar e depois ir direto pra faculdade (época de TCC, inclusive), rumo à mais uma semana no modo zumbi.

Mas, no final, vale a pena. Se você é músico e quer seguir com a sua banda, não é isso que vai te fazer desistir.

*Este texto foi elaborado por um Wikimate e não necessariamente representa as opiniões dos autores do site.

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